Tamára acredita que voltará com ideias mais consolidadas e mais segura do que quer e não quer. O namorado concorda e acrescenta. “Antes da faculdade é tudo muito pré-definido. O que está mal é não promoverem a diversidade das opções. É tudo urgente e depois acaba-se o curso e não há nada para fazer.”
João quer respirar outros ares. “Todos os dias, vamos viver em sítios diferentes, falar com pessoas desses locais, conhecer outras culturas. Cada dia será um desafio.” João não acredita que é uma geração, a sua por exemplo, que poderá mudar o mundo. “Não acredito em gerações, mas que toda a gente pode fazer a diferença.” Tamára chateia-se com a indiferença da sociedade, com o deixa andar, o deixa estar, o não sair do sítio.
O trabalho não os assusta. João não se importa de arregaçar as mangas. Trabalhou numa fábrica de serralharia e alumínios em São João da Madeira. Fazia de tudo um pouco. Trabalhou numa vidraria na área de escritório, também em São João da Madeira. Organizava ficheiros, tratava do que fosse necessário e vai regressar esta segunda-feira para juntar algum dinheiro antes de partir. E quando lhe diziam que o que fazia nada tinha a ver com a sua área, não se importava. “Adorei o que fiz.”
Haverá coincidências? João andava a juntar dinheiro para mais tarde viajar. Quando viu, no Facebook, o concurso Gap Year, falou com a namorada e juntos agarraram a oportunidade. “Já sentia esta necessidade de viajar durante um ano. Sentia que essa viagem poderia trazer-me respostas que não chegariam se estivesse fechado em casa ou a trabalhar num laboratório.”
Ele é brincalhão. Ela é mais séria. Ele diz o que pensa. Ela é mais cautelosa. Andaram na mesma escola em São João da Madeira, conheceram-se mais tarde. A irmã mais nova de João, de oito anos, não parava de falar de Tamára, a monitora do campo de férias. Conheceram-se numa festa. Namoram há um ano e estão prestes a iniciar aquela que poderá ser a maior aventura das suas vidas. Têm página no Facebook (Follow The Sun — Gap Year), que prometem actualizar durante a viagem com fotos, vídeos e textos. O diário de bordo, que ainda não está comprado, será escrito pela Tamára. “Vale a pena sair e ver outras coisas. Vamos aproveitar tudo o que nos aparecer no caminho.” Palavra de “gappers”.