O sol derrama-se de laranjas sobre o horizonte para logo se transformar num breu pontilhado de estrelas, ali de forma intensa a formar a Via Láctea, acolá numa chuva de Perseidas. São três minutos onde só há estrelas no céu. O timelapse chama-se, por isso, “Portugal Night Skies” (céus nocturnos de Portugal) e foi sendo captado ao longo dos últimos três anos em locais do país com “pouca poluição luminosa”.
Estão lá as noites estreladas do parques naturais da Peneda-Gerês, do Alvão e de Noudar, assim como os céus que cobrem as ruínas romanas da cidade de Ammaia, perto de Marvão, ou a serra do Marão. O último plano foi captado em Agosto, no Penedo Durão (Parque Natural do Douro Internacional), “aquando da observação do fenómeno Perseidas”, conta à Fugas por email.
Paulo Ferreira é técnico de desenho e informática por profissão, mas grande parte dos tempos livres são dedicados à técnica do “timelapse”, que explora “há cerca de dez anos”, nos últimos cinco com “a qualidade expectável”, defende. Através do seus vídeos, já passeámos pelo Parque de Natureza de Noudar, pelo Parque Natural do Alvão (premiado no Festival de Cinema Finisterra em Sesimbra, na categoria de Turismo de Montanha), pela vila de Marvão ou pelo Porto, onde já fez vários destes projectos, inclusive um retrato das Festas de São João. “É a minha cidade, a cidade onde nasci e a cidade que mais me motiva para fotografar”, confessa o português de 44 anos.
Não há Porto no novo timelapse, mas há um fascínio antigo sobre os temas do espaço e a intenção de que quem veja “seja capaz de imaginar a dimensão do universo”, lê-se na legenda do vídeo, seguida de uma citação de Carl Sagan – de quem, diz-nos, leu “quase toda a obra publicada”: “Se não existe vida fora da Terra, então o universo é um grande desperdício”.
O vídeo é também uma chamada de atenção para a necessidade de “salvaguardar” a escuridão destes lugares. “Portugal ainda possui alguns locais do seu território onde a poluição luminosa é baixa ou quase nula e isso é motivo para se investir fortemente, nomeadamente ao nível do turismo neste sector”, defende. “Tenho receio que no futuro não seja possível admirar o universo tal como o vejo ainda hoje.”