O acesso do público à torre de menagem do castelo de Beja voltou a ser possível após as obras de recuperação realizadas no varandim que contorna a estrutura, danificado na sequência de uma derrocada que ocorreu no dia 13 de Novembro de 2014.
Apesar das garantias de segurança assumidas pela empresa especializada em intervenções neste tipo de património, a STAP - Reparação, Consolidação e Modificação de Estruturas, S.A., “as cobaias” que subiram, nesta terça-feira, os 184 degraus no interior da torre de menagem para chegar ao topo, tentaram disfarçar o medo atravessando em passo apressado a parte do varandim que sofrera a derrocada.
Foi necessário desmontar toda a estrutura, pedra a pedra, para ser de novo montada. Antes da colocação dos blocos de mármore, que no total representarão uma carga de 160 toneladas, foi necessário furar 36 cachorros (pedras que suportam o balcão) numa extensão de três metros e penetrar na alvenaria da torre de menagem 1,5 metros para colocar tubos de aço inox de alta resistência ao esforço e à corrosão.
A vistoria que o geólogo Delgado Rodrigues, investigador-coordenador do LNEC, efectuou à zona afectada pela derrocada, no final de 2014, veio confirmar que “o colapso terá tido como causa remota a instalação de elementos em ferro no interior da construção”. A corrosão que se verificou nestes elementos provocou deformações em todo o varandim e a derrocada de parte da estrutura que agora foi reinstalada com pedras novas.
Para além das obras realizadas no varandim que contorna a torre de menagem, também foi necessário intervir nos 184 degraus da escada em caracol, localizada no interior da estrutura, que passou a beneficiar de iluminação eléctrica.
Na parte superior da torre, uma vedação metálica impede que os visitantes se abeirem para o exterior da torre que tem uma altura de 40 metros.
O presidente da Câmara de Beja, João Rocha, salientou a importância de colocar a torre de menagem mais alta da Península Ibérica, à disposição das pessoas por ser um elemento decisivo na promoção turística da cidade.
A directora Regional da Cultura do Alentejo, Ana Paula Amendoeira, explicou ao PÚBLICO a importância do castelo no contexto regional. “É um monumento fora do comum pelo seu simbolismo”, acentua, explicando que do alto da torre se pode observar a “maior extensão de planície do Alentejo”. Acresce ainda a sua “elegância e beleza”, assinala.
Apesar das limitações orçamentais e dos constrangimentos que impedem resposta rápidas, foi possível “actuar a tempo” de evitar novas derrocadas numa estrutura que apresentava fissuras por todo o lado e que obrigou a desmontar todo o varandim, recorda Paula Amendoeira, realçando a disponibilidade e o contributo dado pela Câmara de Beja, entidade que teve de suportar os custos da obra de recuperação, orçados em 500 mil euros.
A partir de agora a torre de menagem do castelo de Beja pode ser utilizada sem receios de novos aluimentos. João Paulo, um dos técnicos da empresa a quem foi adjudicada a recuperação da estrutura, garante que desta vez se fizeram as “burradas que foram cometidas ao longo dos séculos” nos trabalhos de manutenção realizados na torre de menagem.
Para além da substituição das pedras fracturadas, a superfície exterior da torre de menagem recebeu um tratamento com biocida e herbicida.
Segue-se agora a recuperação de parte dos 16 quilómetros da muralha medieval que circunda o centro histórico de Beja. João Rocha apontou, a dedo, do alto da torre de menagem, os pontos negros do património da cidade. “Está tudo a cair”, denuncia o autarca, que se diz disposto a conseguir as verbas necessárias para a recuperação dos monumentos da urbe.