As últimas esculturas do artista Jason deCaires Taylor mergulharam ao largo da baía de Las Coloradas, em Lanzarote, no final de Dezembro e o Museu Atlântico é inaugurado oficialmente pelas autoridades locais esta terça-feira.
Três anos depois do início do projecto – e um ano depois de as primeiras peças submergirem junto àquela ilha do arquipélago das Canárias – o “primeiro museu subaquático de arte contemporânea no Oceano Atlântico e na Europa” está finalmente concluído. Inclui mais de 300 figuras humanas esculpidas em tamanho real, repartidas por 12 instalações temáticas que se distribuem por uma superfície de cerca de 2500 metros quadrados.
Entre as novas peças instaladas encontram-se os primeiros elementos arquitectónicos esculpidos em larga escala pelo artista britânico, incluindo um muro com 30 metros de comprimento, quatro metros de altura e 100 toneladas de peso. Faz parte da instalação Crossing the Rubicon, na qual 35 figuras humanas caminham em direcção à entrada do muro, “uma fronteira entre duas realidades e um portal para o Oceano Atlântico”.
A obra, descrevem, pretende “ser um monumento ao absurdo, uma barreira disfuncional no meio de um vasto espaço fluido, tridimensional, que pode ser contornado em qualquer direcção”. O objectivo é “enfatizar que as noções de propriedade e de território são irrelevantes para o mundo natural”. “Em tempos de crescente patriotismo e proteccionismo, o muro pretende lembrar-nos que não podemos segregar os nossos oceanos, o ar, o clima ou a vida selvagem como fazemos com terras e bens”, lê-se no site do museu. Atravessar o Rubicon é transpor o ponto de não retorno no que toca às alterações climáticas – “precisamos de tomar medidas urgentes antes que seja tarde de mais”.
As preocupações com o meio ambiente e com as mudanças sociais são temas transversais às diferentes instalações que compõem o Museu Atlântico. Através delas, o escultor e ambientalista Jason deCaires Taylor pretende sensibilizar os visitantes para as várias problemáticas.
Na peça Deregulated, por exemplo, homens de fato e gravata brincam num parque infantil para “demonstrar a despreocupação e a arrogância do mundo corporativo em relação ao mundo natural”. Já em Human Gyre um círculo é formado por mais de 200 figuras humanas de várias idades e camadas sociais. Os corpos despidos e vulneráveis ao poder inerente do oceano, recordando a fragilidade do ser humano diante da força e do papel determinante que a água desempenha no ciclo da vida terrestre.
Entre a colecção inicial do museu, acessível ao público desde Março de 2016, estavam já reflexões sobre a crise dos refugiados, a profusão das selfies ou o debate em redor de questões como o uso das novas tecnologias ou o voyeurismo.
Nos últimos dez anos, o britânico tem feito várias instalações subaquáticas um pouco por todo o mundo. Em 2006, a criação do primeiro parque de esculturas subaquáticas do mundo em Grenada, no mar das Caraíbas, deu-lhe notoriedade internacional. Em 2009, sucedeu-se a co-fundação do Museu Subaquático de Arte (MUSA) no México e, em 2016, o projecto The Rising Tide, no rio Tamisa, em Londres, entre outros.