Um dos topos do Pavilhão da Bienal do Ibirapuera em São Paulo (Brasil) tornou-se, por estes dias, um canto português: há bancos e mesas que são “rolhas”, há pranchas de surf, há bicicleta, há um quiosque e “esplanada”, com café Delta e pastéis de Belém em miniatura, há fotografias a comporem um mosaico, e do tecto pendem guarda-chuvas coloridos – e é um pouco de Águeda (onde se realiza o festival Umbrella Sky Project) aqui instalada, enquanto lá fora até chove neste Outono paulista. “Portugal é para se sentir”, lê-se numa das paredes. É, pelo menos, impossível de não se ver – o lounge do Turismo de Portugal é o maior desta Travelweek São Paulo, feira de turismo de luxo, onde se fazem representar, até dia 28 de Abril, 35 marcas portuguesas, incluindo seis das sete regiões do país.
A inauguração, no dia 25 de Abril, não podia ter tido melhor cenário: o Palácio Tangará, a jóia da coroa da hotelaria de São Paulo (alguma imprensa brasileira atribui-lhe seis estrelas - um superlativo, claro, já que cinco são o máximo) que abre ao público no próximo dia 10 de Maio. Mas o trabalho a sério começou dia 26, já, então, no Pavilhão da Bienal: numa feira apenas para profissionais – fornecedores, por um lado (hotéis, cadeias ou boutique em maioria esmagadora, alguns turismos nacionais, companhias aéreas e de cruzeiros, por exemplo, representando mais de 30 países e o que de mais luxuoso se oferece na área do turismo) e agências de viagem de elite por outro – espera-se que até 28 de Abril, último dia, se realizem 25 mil reuniões de negócios.
E num evento onde 450 expositores disputam a atenção dos compradores, o director do Conselho Directivo do Turismo de Portugal, Filipe Silva, veio apresentar aos jornalistas um país ao qual não se pode escapar, que não se pode ignorar: “#cantskipportugal”. E porquê? Pois os motivos são vários e a sua enumeração começou “pela localização estratégica” de Portugal e pelo “aumento dos voos da TAP para a América do Norte e do Sul, Europa, também África e, em breve, China” – no caso do Brasil, “há ligações aéreas entre 11 cidades brasileiras e Lisboa e Porto”.
Transportes e TAP aparte, o que é que Portugal oferece, então, ao turista de luxo da América Latina e do Brasil em particular? A oferta vai desde as novas atracções como o MAAT – Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia, não só pelas três áreas que aborda como pela própria arquitectura do edifício, à tradicional dicotomia vinho e gastronomia, com a mais-valia, sublinhou Filipe Silva, de Portugal ter neste momento 21 restaurantes no Guia Michelin, contabilizando no total 26 estrelas, e de a qualidade dos vinhos ter vindo a aumentar significativamente. Porém, também não se pode ignorar a cultura (novo tema, nova hashtag – a mesma base “can’t skip”) e aqui os exemplos foram a Casa da Música (Porto) e, “porque a cultura não é só nas cidades”, a “marca” 365 Algarve que aglutina a programação cultural de uma região “mais conhecida pelas praias” e que tenta, desta forma, “combater a sazonalidade”.
O desenvolvimento de trilhos para caminhadas e ciclismo foram outro dos pontos abordados, não só porque já não são nichos de mercado mas actividades cada vez mais procuradas, como também porque são outra forma de combater a sazonalidade. Os festivais de música (referências ao Primavera Sound, ao Nos Alive e ao Meo Sudoeste pela “variedade” que oferecem) e o golfe, com campos de “grande qualidade”, que tornaram Portugal o Melhor Destino de Golfe do Mundo na última edição dos World Travel Awards, também se intrometeram numa apresentação que seguiu por eventos tão recentes como o Web Summit, para mostrar Portugal como um destino tecnológico, e a Arco Lisboa, que colocou a capital portuguesa na rota da arte contemporânea. As ondas gigantes da Nazaré fizeram a sua aparição para apelar a todos os surfistas e, em ano de centenário, Fátima foi também chamada ao altar do Portugal “de luxo” (e de destino de turismo religioso).
Falou-se de investimentos – “não só internacionais, de cadeias de hotéis”, mas também do programa Revive com o seu objectivo de, juntamente com investidores privados, recuperar património histórico (“castelos, fortes, fortalezas, mosteiros”) para os transformar em hotéis – e de estudantes. “Esta é uma nova área”, afirmou Filipe Silva, “atrair mais estudantes estrangeiros". "Se têm uma boa experiência o impacto na família, nos amigos é enorme." Contudo, o final, após o visionamento de um vídeo promocional, foi uma volta ao início: as pessoas. A simpatia dos portugueses foi apresentada como um dos motivos para regressos e um “boca-a-boca” favorável.
Este é o segundo ano em que o Turismo de Portugal participa na Travelweek São Paulo, seguindo o caminho incialmente trilhado pelos privados, como reconhece Filipe Silva. O investimento público no mercado brasileiro é justificado, diz, desde logo pelas boas acessibilidades (e voltamos às ligações aéreas). Depois porque os brasileiros estão no “top 5 do ranking nacional de visitantes”, representando 1,5 milhões de dormidas e 650 mil hóspedes – “um crescimento de 13% em 2016, que fez entrar 400 milhões de euros no país.
E numa feira dedicada à América Latina, Filipe Silva assumiu a necessidade de aumentar a notoriedade de Portugal noutros países trabalhando com operadores com capacidade de promoção mas sempre numa lógica de Península Ibérica. Ou seja, em pacotes de viagens que acrescentem Portugal à mais natural, nos restantes mercados da América Latina, Espanha. “O ideal seriam os monotours, mas estamos conscientes da dificuldade. E não havendo alternativas é o melhor caminho a seguir."
A Fugas viajou a convite da Travelweek São Paulo by ILTM