Um projecto algarvio quer estabelecer uma nova geração de latoeiros e reactivar um ofício praticamente extinto, iniciativa cujos primeiros resultados são apresentados esta quarta-feira em Silves através de uma mostra com doze peças que aliam a tradição ao design.
Durante dois meses, dois mestres latoeiros transmitiram a cinco aprendizes a técnica secular de produção de artefactos em metal, que hoje em dia são mais usados como artigos decorativos do que no dia-a-dia, explicou à Lusa Graça Palma, da entidade gestora do projecto TASA (Técnicas Atuais, Soluções Ancestrais).
Um latoeiro produz desde regadores a algerozes (para escoamento de águas dos telhados), cântaros, baldes, cintas para o fabrico do queijo fresco, recipientes para o azeite e vinagre, peças que, na sua maioria, já mal se encontram à venda e, das que existem, muito poucas são feitas artesanalmente.
"As peças que ainda existem actualmente são mais num registo de memória ou usadas para decoração, não tanto em regime utilitário, são produtos que circulam mais nos mercados de velharias ou lojas de antiguidades porque já nem mesmo as drogarias vendem, é tudo industrializado, em alumínio", explicou Graça Palma.
Aquela responsável acredita que há "novas condições para retomar a actividade", não só porque os materiais usados - chapa galvanizada e folha de flandres - são mais sustentáveis ambientalmente, como pelo facto de haver cada vez mais pessoas a apreciarem peças artesanais e personalizadas.
"Enquanto peças utilitárias têm que estar adaptadas aos novos usos, novos gostos e novas preocupações ambientais", referiu Graça Palma, da Proactivetur, entidade gestora do projecto, sublinhando que há margem para crescer, não só no mercado geral de consumo, como no mercado de luxo.
Deste projecto nasceram doze protótipos de candeeiros e jarros, criados na cultura do design de maneira a garantir a permanência da tradição adaptada aos gostos e necessidades do mercado actual, o que representa a linha orientadora das iniciativas que o projecto TASA tem vindo a desenvolver.
"Não vamos parar por aqui e, na medida do possível, queremos dar apoio à instalação dos novos latoeiros e dar continuidade à formação", concluiu aquela responsável.
Um dos últimos latoeiros no Algarve foi Raul Nascimento, que desenvolvia o seu ofício em São Bartolomeu de Messines e que doou todo o seu espólio, ferramentas e equipamento diverso, à Câmara de Silves. Aproveitando o espólio, a Proactivetur aliou-se à Câmara de Silves e à Junta de Freguesia de São Bartolomeu de Messines e desenvolveu o projecto "A arte do latoeiro", iniciado em Março e cuja duração é de um ano.
No Algarve, actualmente, há registo da existência de apenas um latoeiro, mas já de idade muito avançada. O projecto beneficia do apoio da EDP e foi um dos nove projectos de cultura popular portuguesa vencedores da 2.ª edição do Programa Tradições.