Para lá o barco segue à beira da margem sul, cruzando o tão famoso quanto polémico Millenium Dome, os blocos de apartamentos complementares, também com assinatura de Sir Richard Rodgers, o estranhíssimo Clube de Iate (semelhante a uma cabana palafita em versão pós-moderna) e as belíssimas esculturas no meio do rio que são a Nuvem Quantum de Antony Gormley e a fatia de cargueiro de Richard Wilson. Para cá o ferry segue mais próximo da margem norte e oferece aquelas que são provavelmente as melhores vistas de conjunto sobre a Ilha dos Cães, em particular sobre Canary Wharf.
O fantástico escudo fluvial da capital britânica
E se subitamente Londres fosse inundada por uma onda gigante? Será uma hipótese retórica para quem vive noutro lado, mas um perigo levado muito a sério para quem habita à beira do Tamisa. A última vez que ocorreu foi em 1953, quando as inundações provocaram 300 mortes por afogamento e a perda de 160 mil acres de culturas, cobertas de água salgada em Canvey Island, nas proximidades da foz do rio. Um desastre tão ou mais catastrófico esteve para acontecer recentemente, em Novembro de 2007, mas pôde ser evitado sem grandes sobressaltos, graças ao encerramento da chamada Barreira do Tamisa.
É uma obra impressionante, a segunda maior barreira de protecção contra inundações do mundo (logo a seguir a Oosterscheldekering, na Holanda), que marca o limite oriental de Londres, a jusante da Ilha dos Cães e a dois passos do Millenium Dome. A ameaça de inundações em Londres resulta das vagas de maré produzidas no Atlântico Norte, que usualmente passam ao largo das Ilhas Britânicas. Mudanças ocasionais na orientação dos ventos fazem, no entanto, esses vagalhões serem redireccionados, levando milhões de toneladas de água suplementares a entrarem de rompante, Tamisa acima.
Na sequência do acidente de 1953, o governo britânico criou um comité para a construção de uma estrutura de defesa fluvial de Londres, que só avançou nos anos 70, quando o trânsito de cargueiros foi de uma vez por todas desviado das Docklands para a desembocadura do rio.
Isso permitiu construir uma barreira mais pequena e mais próxima do centro de Londres, cobrindo 520 metros de largura do rio, divididos em quatro grandes troços navegáveis de 61 metros e outros dois de 30 metros, mais quatro pequenos canais não navegáveis. Funciona através de um sistema de comportas rotativas, que desde a inauguração em 1984, já foram encerradas mais de uma centena de vezes.
A London Barrier é o prodígio de engenharia, mas é também a majestade das gigantescas capas de zinco que albergam as comportas (1500 e 750 toneladas), emprestando uma imagem futurista à paisagem ribeirinha da capital inglesa. Não será um segredo bem guardado, mas também não é dos sítios mais visitados de Londres, acabando a deslocação por funcionar como um excelente pretexto para descobrir os limites orientais da grande cidade. Há pontos de observação estratégica à beira rio: o Centro de Visitantes está instalado na margem sul com a função de informar e contar a história da barreira, enquanto na margem oposta se desenha o parque de Thames Barrier, uma das novas e mais inovadoras áreas verdes da área metropolitana.