A montanha
Joanesburgo pode não ser uma boa cidade para descansar, mas é uma das cidades mais interessantes do mundo. O contrário pode ser dito da Cidade do Cabo: pode não ser a cidade mais interessante do mundo, mas é uma boa cidade para descansar.
Em suma, se o leitor quer montanhas da pré-história, flora e fauna únicas, património histórico português, um mar que é o encontro de dois oceanos, praias de areia branca com dunas e pinguins, e ainda uma grande cidade onde se dorme, come e bebe bem, então a Cidade do Cabo & Tudo À Volta é um destino pródigo.
Quem vem de táxi do aeroporto, vai ver bairros de lata de um lado e do outro, um chapão de realidade a lembrar que o futuro da África do Sul ainda tem este presente. Depois a Table Mountain aparece em toda a majestade, ocre contra um céu azul como se fosse Verão, embora já seja Outono. E apanhando o céu assim, o melhor que o leitor tem a fazer é subir, porque quando está mau tempo ou apenas vento o teleférico, todo redondo e em vidro, não sobe. Como a Fugas tinha pouco tempo, subiu quando já eram 17h.
A partir do centro da cidade, o teleférico demora cinco minutos a içar dezenas de pessoas de boca aberta, enquanto o chão roda debaixo dos pés. A baía abre-se à nossa frente, os picos das montanhas multiplicam-se, e quando olhamos para trás estamos no cimo da Table Mountain.
Nem uma brisa. Os muros estão mornos. As pessoas andam de calções e alças. Pares de namorados de todas as idades, famílias em piquenique, bandos de adolescentes tostados do sol. Os calhaus de granito são polidos como na serra da Estrela, as encostas são verdes como nos Açores, o mar cega de tanta luz a bater no azul, e lá ao fundo, cercado por nuvens, o cabo a que Bartolomeu Dias chamou das Tormentas, antes de El Rei lhe mudar o nome para Boa Esperança e as naus de Vasco da Gama passarem a caminho da Índia.
É então que percebemos como vale mesmo a pena vir mais cedo para andar a passear nestes trilhos e depois esperar pelo poente à hora do último teleférico para baixo, às 18h. Há trilhos de 15, 30 e 45 minutos, mas qualquer um deles parece pouco, e é possível andar fora dos trilhos. O mato é rasteiro, a caminhada é fácil, existem 1500 espécies de plantas e o último leão foi avistado há 200 anos.
Coincidindo com o Mundial, os responsáveis do Parque Natural da Table Mountain anunciaram uma novidade: o trilho de seis dias Hoerikwaggo, o que significa “montanhas no ar”, desde a cidade à Ponta do Cabo. São 97 quilómetros de percurso, com cinco paragens nocturnas, mas é possível fazer só etapas de um, dois ou três dias (Atenção que em 2010, de 23 a 27 de Agosto, o teleférico fechava para manutenção - a única alternativa: subir a pé. Três quilómetros duros, que levam entre uma a três horas).
No topo da Table Mountain, além de tudo o mais, os fãs de futebol podem procurar a silhueta lunar do belo estádio da Cidade do Cabo, lá em baixo, à beira-mar.
Os pinguins
Para quem não vai fazer o tal trilho de seis dias, a melhor maneira de chegar à Ponta do Cabo é ir de carro desde a cidade. Há dois caminhos, mas um passa pelos pinguins. Portanto o melhor é ir por esse e voltar, já depois do poente, pelo outro.
Os pinguins ficam a meio caminho, em Simon’s Town, mais concretamente na colónia de Boulders. Estaciona-se o carro num parque, e a partir daí os visitantes têm o Willis Walk, um passadiço de madeira pelo meio da natureza que bordeja pequenas baías cheias de calhaus e refúgios. E cá estão os primeiros pinguins, com aquele andar de pé chato, para a direita e para a esquerda. Caminham entre o que parecem botijas de gás enterradas na areia com números, mas na verdade são ninhos. E mais adiante, no fim do passadiço, cá estão eles, agora às dezenas, em cima das rochas, curvados para o mar, e a mergulhar. São Pinguins Africanos. Distinguem-se por terem uma lista negra em curva no peito.
Aqui em Boulders somam nada menos que 2500. Parecem uns cavalheiros encantadores, mas não deixam de ser pássaros marinhos contemporâneos dos dinossauros. Têm um bico afiado como uma lâmina, e por isso os visitantes são aconselhados a não lhes tocar.
Este passadiço foi feito para os separar um pouco das confortáveis casas de férias que existem ao longo das baías. Eles andavam pelos jardins e punham-se debaixo dos carros.
O Cabo
Prosseguindo viagem, sempre para sul, o visitante entra então no Parque Natural da Ponta do Cabo. Não é como a Table Mountain. Há animais grandes: antílopes, zebras, avestruzes e babuínos. Ao longo da estrada repetem-se os avisos para os visitantes não se aproximarem dos babuínos, e trancarem o carro se os avistarem: “Os babuínos são perigosos!” A Fugas não avistou nenhum babuíno, mas cruzou-se com várias avestruzes, maiores que um homem. Também há avisos sobre patadas de avestruz. Não se recomendam.
De resto, os antílopes são lindos, e talvez nenhum outro sítio da Cidade do Cabo pareça tanto África como este último pedaço de terra. A certa altura o caminho bifurca e se o visitante escolher a placa que diz Cabo da Boa Esperança segue sempre entre mato rasteiro até ao mar. Aí, umas placas indicam que está no ponto mais a sudoeste de África. A luz é cor de ouro, porque o sol está a pôr-se, e a montanha ficou incandescente. Se as naus portuguesas chegaram ao poente, foi isto que viram. E hoje há um padrão em memória do Padrão de Vasco da Gama, 1497.
Subindo um pequeno trilho pela montanha, avista-se a reunião das duas águas, as frias do Oceano Atlântico e as quentes do Oceano Índico. Cheira a algas. Para oriente, um novo funicular chamado O Holandês Voador permite poupar a subida a pé à Ponta do Cabo.
E de volta à cidade, há praias desertas como Noordhoek, com areia branca e dunas a despontarem do verde.
Onde ficar
A Fugas dormiu numa das várias guest-houses do bairro de De Waterkant, um bom sítio se a opção for ficar mesmo na Cidade do Cabo: numa colina, a distância a pé da Baixa, com vista para a baía nos terraços. O bairro, gay friendly, foi recentemente recuperado e tem casinhas realmente coloridas (roxos, vermelhos, verdes) e plátanos ao longo dos passeios.
Há restaurantes, cafés, lojas, e um novo centro comercial. A guest-house onde ficámos chama-se 17 On Loader, e é uma casa de três pisos, com lençóis de bom algodão, e um pequeno-almoço entregue num cesto à porta do quarto. Pagámos 50 euros antes do Mundial por dois singles simpáticos. O site tem preços entre 45 euros por um pequeno single no rés-do-chão com casa de banho fora do quarto e 120 euros por um duplo.
Loader Street, 17
De Waterkant
Tel.: +27(0)21-418 3417
Fax: +27(0)21-425 6726
Móvel: +27(0)82 675 8193
www.17loader.za.net
Onde comer
Em De Waterkant, a Fugas experimentou um restaurante tailandês, o Soho. (Napier Street, 49). Tanto aqui como na esplanada ao lado há excelentes sumos de morango. Para duas pessoas, uma refeição fica por 25 euros.
No bairro boémio Observatory, há pizzas, saladas e bifes no Obs Café (Lower Main Street, 115). Uma refeição para duas pessoas fica por menos de 20 euros.
Em Waterfront, a concorrida marina, há dezenas de restaurantes cheios, e procurando bem, há bom peixe. A Fugas comeu um excelente bife de atum em crosta de sésamo.
Em Stellenbosch, a cidade a 50 quilómetros célebre pelas suas vinhas, há dezenas de quintas com provas de vinho, incluindo chocolate, e excelentes restaurantes. Os preços sobem para 75 euros para duas pessoas.
O que comprar
Livros em segunda mão na Obz Books (Lower Main Road, 76) ou livros novos na cadeia Exclusive Books (por exemplo a de Waterfront). Frutos secos (por exemplo, sacos de manga, mas também granola fantástica) da Komati Foods , uma das lojas da rua principal do bairro Observatory (Lower Main Road, 78, info@komatifoods.co.za). Vinhos e chocolates em Stellenbosch.