Em 12 dias, 50 desconhecidos percorreram de avião, barco, autocarro e (alguns) balão 23 sítios arqueológicos do Egipto Antigo na visita de estudo anual ao Egipto do Instituto Oriental da Faculdade de Letras de Lisboa, sob orientação do professor Luís Manuel Araújo. Quarenta e nove adultos e uma criança de 12 anos (que, heróica, nunca deu sinal de enfado), entre eles sete médicos, duas geólogas, uns quantos professores universitários, uma jurista, uma educadora infantil, duas guias turísticas, além de um notável guia local, uma germanista, um antropólogo, um economista, várias donas de casa, um oficial da Marinha, dois estudantes de História, uma arquitecta paisagista, num mosaico sem tensões, nem queixumes.
A maior parte do tempo ouviam atentos o incansável professor, alguns tirando notas, fotografando, mas rumando também por sua conta e risco, findo o "expediente" do dia, até ao bazar local ou outros lugares. E no termo da viagem houve mesmo uma produção escrita colectiva bem-humorada sobre a "matéria dada". Grupo exemplar? Foi o que nos pareceu, embora nos falte o termo de comparação.
Construir para a eternidade
A entrada no Cairo, passava das onze da noite, não foi propriamente triunfal. Os 50 desconhecidos a bordo do autocarro que os levava do aeroporto para o centro olhavam em silêncio o canal aberto paralelo à estrada, e o lixo, imenso lixo, a boiar na água e acumulado nas margens. Prédios com aspecto decrépito e periclitante iam desfilando. De súbito, um lote vazio e uma cena de aldeia - chão de areia e um burro a ser desatrelado de uma carroça. Mais à frente um viaduto e junto ao seu parapeito cadeiras de plástico para apanhar o fresco nocturno. Ora ali estava uma das grandes capitais do mundo árabe, de um país famoso pelo testemunho milenar vindo do tempo dos faraós, que atrai turistas e mais turistas - vital fonte de riqueza, logo depois da exploração do Canal do Suez. Era o Egipto Antigo que nos levava até ali, mas também queríamos conhecer o Egipto do presente. Aquele começo...
Mais à frente reconciliar-nos-íamos com o Cairo e não apenas por que o Egipto Antigo também tem os seus quês. É que o que é bom para o Egipto não é nada agradável para quem vai em romaria visitar pirâmides, templos e túmulos. Dá consigo no meio de uma horda de turistas e, pior ainda, sob um calor inclemente e assédio persistente de nativos a pé, a cavalo ou em camelo cujo intuito é um só: arrancar aos visitantes os preciosos euros, dólares, libras ou o que for em troca de passeatas ou bugigangas, que as pessoas não vivem do ar. Resultado: para escapar às várias pragas do Egipto há que madrugar ou então escolher locais menos procurados mas não menos interessantes. E foi assim que o grupo rumou a Abido, onde deu consigo numa almejada solidão a 50 na visita ao templo da antiga cidade santa de Osíris.
Já a viagem ia a mais de meio, o ambiente tornara-se convivial, acumulavam-se histórias e experiências, quando partimos de Luxor em direcção a Hurgada, reduto turístico no mar Vermelho. Depois de Qena, onde do autocarro avistámos a mesquita El Ken Awi, a marcha inflectiu para ocidente. A cidade alberga duas fábricas de processamento da cana-de-açúcar, já que o seu cultivo prevalece nesta área, sendo uma herança da presença britânica, e veio substituir o cultivo cerealífero. Mais colorida e animada se mostrara Deshna, com uma extensa feira onde os locais vendem os seus produtos hortícolas. E se até muito perto do destino a estrada corria paralela a um canal do Nilo, já perto passáramos a ter a companhia do próprio Nilo.
Quando se atravessou a barragem de Nag Hammadi, paisagem de intensa beleza bucólica, os olhares convergiram todos lá para fora. Pela nossa parte não fizéramos outra coisa. E as duas horas que leva chegar a Abido passaram depressa a observar a paisagem: casas de taipa e outras em tijolo e varandas pintadas de cores claras, lugares onde se faz olaria, árvores pejadas de garças, trabalho da terra antes da mecanização, carroças puxadas por burros, homens garbosos sobre camelos, crianças a acenar, pombais (o pombo é uma iguaria local). Nalgumas fachadas de casas o seu proprietário assinala com um desenho gigante a sua ida a Meca, incluindo o meio de transporte usado, o avião, por exemplo - a comunidade é informada e o peregrino recolhe maior respeito geral.
Em Abido, onde Osíris foi venerado, há para ver os cenotáfios dos faraós Seti I e Ramsés II (século XIII a.C., XIX dinastia) muito bem conservados e com belíssimos hieróglifos nas paredes de calcário, de um traço suave como não vimos em nenhum outro sítio. A importância de Abido para Tinis, de onde é originária a primeira dinastia faraónica, era equivalente à de Sakara, junto ao Cairo, para Mênfis (capital até à XVIII dinastia), ou à de Meca hoje em dia. Reza a lenda que Osíris, despedaçado pelo irmão Set, e cujo corpo foi amorosamente refeito por Ísis, recolhida cada parte, terá a cabeça sepultada em Abido. µ
O cenotáfio de Seti I, ou falso templo funerário, já que foi local de culto com o soberano ainda em vida, visou prestar culto a Osíris, mas também ao próprio Seti I e nesse sentido afirmar e alardear o seu poder. Seti I pode ser visto a fazer oferendas a Osíris e a ser coroado pelos deuses (na chamada "sala hipostila"). À saída do santuário de Osíris há uma particularidade que são sete capelas (três à sua direita e quatro à sua esquerda) dedicadas a Hórus, Ísis e Osíris; e a Amon-Ré, Ré-Horakhti, Ptah e ao próprio Seti.
Junto à entrada da capela de Ísis surge uma imagem de terna beleza, com Ísis a segurar o queixo do seu filho Hórus. Pela esquerda destas capelas acede-se à chamada "Galeria dos Reis", onde toda uma parede, preciosa para os egiptólogos, ostenta os nomes dos faraós do Egipto até Ramsés II. Bom, mas nem todos lá figuram. Há os ausentes, tal como não há menção de derrotas nas narrativas de batalhas deixadas nas paredes de templos - donde, já no Egipto Antigo se praticava a releitura da História.
Aqui, como nos demais templos, túmulos e pirâmides do Egipto Antigo, para lá da solene beleza de uma arte pensada para perdurar e permanecer oculta (os túmulos deviam ser encerrados após ocupados por aqueles a que se destinavam; aos templos muito poucos acediam), coloca-se a questão de saber como foram erguidos, cortada e transportada a pedra que os fez.
Os especialistas avançam algumas hipóteses: o corte seria feito com recurso a estacas de madeira e água e o Nilo seria o meio de transporte. Interessante é pensar que na Europa se erguiam monumentos megalíticos, enquanto a requintada arte funerária do Egipto Antigo era pensada para o além, ou seja, para sempre. Esta civilização, que dominou a arte da pedra como nenhuma, não deixou as casas que habitava, mas é indiscutível que alcançou o seu desígnio de construir para a eternidade.
O Nilo
Voámos para Assuão ao terceiro dia da viagem em busca dos templos mais famosos e mais procurados, mas também para fazer a experiência do Nilo. Descemo-lo de barco de Assuão até Luxor.
O Nilo, alimento essencial do Egipto, é uma experiência ímpar. Nas suas margens, cor da areia do deserto, ou verdejantes, a vida decorre, como um regresso a gestos antigos, de sempre. Figuras em trajes coloridos ou em tons de terra ocupam-se na agricultura ou na pesca. O perfil de camelos congrega o olhar e para quem vem de fora é algo novo que passa a ser familiar. É na proximidade do rio que existe a terra arável, apenas cinco por cento, que possibilita o crescimento de que o país tanto necessita, sendo o restante território deserto.
Na descida do Nilo foi-se estabelecendo uma rotina que consistia em abandonar o barco-hotel em dois barcos a motor, ornamentados com bandeirolas e os mais variados símbolos de marcas de refrigerantes, para alcançar terra e ir em demanda dos templos e túmulos faraónicos.
Na ilha de Filae, localização mágica para o templo de Ísis, por sorte o grupo teve a ilha quase por sua conta. Infelizmente teve de partilhar os espantosos templos de Abu Simbel, escavados na rocha, com hordas ruidosas de outros turistas e após uma madrugada que nos levou até lá ao cabo de três horas de autocarro em estrada pelo deserto. Abul Simbel, que Ramsés II ergueu, entre outros motivos, para assinalar o seu domínio da Núbia, é um milagre de construção a que se sucedeu outro milagre nos anos 60 do século XX e que foi a sua trasladação 200m mais para cima, 64m mais para trás devido à construção da segunda barragem de Assuão. Há quem chegue a Abu Simbel de avião ou de barco, o que será sem dúvida mais suave do que a nossa viagem rodoviária, cujo momento de encanto foi o nascer do sol do chão do deserto numa bela sucessão de cor, apesar dos olhos pesados de sono. O tépido veludo da noite de Assuão, à beira Nilo, também nos compensou da canícula do dia.
Ao pôr-do-sol escapámo-nos do nosso próprio grupo e sentámo-nos a olhar o rio, a recolher interiormente alguns sinais do mundo dos templos, tão intenso quanto enigmático. A tarde tivera outro brinde: um passeio de faluca, à vela, escutando apenas o ranger das cordas, olhando os azuis, os recantos de água, pedras, pássaros e vegetação. O idílio com o rio não dura é lá muito, pois os miúdos que vivem à sua beira depressa descobrem a fonte de eventuais moedas e remam em pirogas toscas com pouco mais do que as mãos, dispostos a cantar na língua que for preciso ou exibindo colares que de falso apenas têm o desejo de adquirir bom e barato.
O recolhimento, pese embora o cenário ideal para o efeito, foi pois luxo raro nesta expedição ao Egipto tão bem organizada quanto intensa. E lá prosseguimos em direcção à foz do Nilo, rumo a Luxor.
Nos templos de Luxor e Karnak - que as autoridades egípcias estão a procurar voltar a ligar, como concebidos na origem, numa longa e morosa operação de desalojamento e realojamento dos que vivem na rota que por enquanto ainda separa os dois monumentos -, lá voltámos a dissolver-nos nas centúrias de turistas. Karnak, "O mais Perfeito dos Lugares", no auge do poder de Tebas (antigo nome de Luxor), é esmagador pelo muito que alberga e pelas suas dimensões. De resto, esmagados foi como nos sentimos ao percorrer a inóspita e extensa montanha de Tebas, ou seja, os vales dos Reis, das Rainhas e dos ditos "Nobres" (na verdade, artistas e funcionários), em visita aos túmulos. Esmagados estávamos pois pelo lugar, pela concepção e minúcia dos túmulos visitados e pelas temperaturas a rondar os 40 graus às 10h de um começo de Primavera.
No vale "dos Nobres" imaginámos como seria viver e trabalhar ali, no tempo dos faraós. Duro, no mínimo. Artistas e respectivas famílias habitavam em casas neste vale, na aldeia dos artistas, Deir-el-Medina, por detrás dos vales dos Reis e Rainhas, e ficaram registados em placas de cerâmica aspectos do seu quotidiano, como relatórios sobre ausências ao trabalho e respectiva justificação. Houve alguém que levantou suspeitas por ter usado por três vezes o mesmo motivo para não comparecer ao trabalho - morte da tia... Foram também estes trabalhadores os primeiros a fazer uma greve de que há registo. Exigiram o pagamento que consideraram ser-lhes devido e obtiveram-no.
Neste vale os túmulos são modestos na aparência, mas profusamente decorados no seu interior. Um dos túmulos mais ricos na decoração e na informação sobre os rituais de passagem para a outra vida e sobre a própria vida do defunto, logo sobre o seu tempo, é o de Sennefer, que foi governador do Egipto durante o reinado de Amenhotep II (séc. XV a. C., XVIII dinastia) e tinha sob a sua guarda três milhões de pessoas. Entre outros pormenores, no seu túmulo há o registo da peregrinação do defunto a Abido.
Perto dali uma equipa de arqueólogos franceses trabalhava à sombra sob um alpendre-tenda. Quem deles se aproximou levou uma corrida em osso. Se fossem a atender todos os turistas que por ali passam...
Já em Sakara havíamos observado uma equipa em que um arqueólogo local, ao sol, dirigia um grupo de trabalhadores que carregavam pedras à mão, enquanto um jovem erguia a bandeja com chá e copos. No tempo de Howard Carter, que no início do século XX deu finalmente com o túmulo do famosíssimo Tutankamon, não devia ser muito diferente.
Vários Cairos, uma Babilónia
E voltámos ao Cairo, onde voltámos a ser acordados pelo almuadem, que chama para a oração, como vinha acontecendo em todos os lugares, tornando familiar aquele chamamento, algo exótico de início. O único senão é a abundância de mesquitas na cidade e o caos horário que as regula. Assim, há uma chamada à oração às 4h, outra às 4h30, outra às 4h40... Decididamente, o Egipto não é lá grande sítio para dormir. Talvez isso explique a pontualidade do enorme grupo à partida para as visitas.
Em Guiza, lá voltaram também as pragas do Egipto, pois então. Chusmas de turistas e vendedores e "passeadores" - a cavalo ou de camelo querem à viva força convencer-nos que nos passeiam por um euro; uma vez que nos apanhem montados no bicho, o preço também vai por aí acima. Os polícias, nuns uniformes excessivamente quentes para o clima, contemplam aquilo tudo placidamente, talvez com uma pontinha de inveja dos "empresários". Estas figuras coloridas e imparáveis animam ou perturbam, consoante a perspectiva, o cenário poderoso que são as pirâmides - as suas dimensões e a sua construção são espantosas, sobre-humanas. Estar ali é uma experiência única.
Mas nem só de pirâmides e respectiva fotografia vive o turista, já que o Cairo lhe reserva bastantes surpresas. No Cairo há uma Babilónia - a Babilónia do Egipto. Expliquemo-nos: em 525 a.C., os persas edificaram um forte a norte de Mênfis, ao qual chamaram Babilónia no Nilo. Os romanos voltaram a conferir importância a este forte e à chamada Babilónia do Egipto, à volta da qual cresceu um importante centro do cristianismo, que em finais do império viu nascer a Igreja copta, tal como foi acolhendo uma diáspora judaica em períodos sucessivos. Os testemunhos desse tempo permanecem no bairro copta, o chamado "Cairo pré-islâmico".
Neste bairro de ruas estreitas tem-se a sensação de estar num "parque histórico", deixando do lado de fora o Cairo actual e ruidoso. Dentro dos templos cristãos há menos novidade, mas não menos beleza. Na Basílica copta de S. Sérgio - onde, reza a lenda, teria estado a Sagrada Família, era o Egipto uma província do império romano -, o altar-mor ostenta um magnífico trabalho de madeira com relevos e incrustações.
Nas paredes espalham-se ícones pintados, de um traço naif que lhes acrescenta beleza, sendo exemplo da arte cristã egípcia (os artistas eram os próprios sacerdotes). A Basílica Suspensa causou algum frisson por ter sido erigida sobre os muros da antiga fortaleza romana - o que era visível em mais de um local através de fracções de chão em vidro por onde toda a gente quis espreitar o abismo. Esta fortaleza cercava a Babilónia do Egipto e mais tarde foi recuperada pelos bizantinos.
Os traços da diáspora judaica pudemos vê-los na sinagoga de Ben Ezra, hoje edifício público, sem culto. Tem belos trabalhos em madeira, designadamente o seu tecto. No plano superior, destinado às mulheres, existem uns arcos pintados evocadores da mesquita de Córdova.
Feitas as visitas o grupo dispersou-se pelo bazar, no fundo uma grande loja, onde a novidade foi poder fazer compras sem a inevitável discussão à volta dos preços. Agora que já tínhamos a escola toda...
Mas a oportunidade de aplicar conhecimentos empíricos e umas palavrinhas em árabe não tardou. Fomos deixados à solta junto à praça Hossein e à mesquita com o mesmo nome, um dos possíveis pontos de acesso ao bazar Khan Al-Khalili, em pleno Cairo islâmico. O bazar estende-se por ruas e ruelas onde se vendem roupas, especiarias, perfumes, peças em cobre, em prata, em plástico... A mercadoria está exposta na rua à entrada de lojas, algumas com balcão de madeira pintada de cores claras, a fazer lembrar um certo Portugal anos 60.
Belíssimo é o café Fishawi, com enormes espelhos de molduras de madeira escura, onde Naguib Mahfouz, Nobel da Literatura de 1988, foi presença frequente. Vimos mulheres sentadas às mesas e não eram só estrangeiras.
Nessa noite tivemos a nossa experiência de "mil e uma noites", pois o jantar foi no restaurante Al-Azhar, evocador de um palácio do Al-Andaluz, em madeira e pedra. Fica num ponto alto, num parque com o mesmo nome, e daí avista-se um belo e extenso panorama que abrange a mesquita Mohammed Ali, também conhecida como "Mesquita de Alabastro", na Cidadela. Este parque, e continuávamos no Cairo islâmico, foi inaugurado em 2005 e resultou da recuperação de uma lixeira municipal centenária, com o apoio do Fundo Aga Khan para Programa Cultural de Cidades Históricas.
Aquilo que se designa por Cairo islâmico corresponde ao Cairo medieval, incluindo o seu cemitério, junto ao qual passámos nas diversas idas e vindas. É habitado, sendo inusitada a visão de semelhante lugar ornamentado com parabólicas ou um velhote de turbante, a acenar, sentado num sofá no passeio junto a um dos seus portões.
Há um Cairo mais cosmopolita, não longe do Museu Egípcio, e onde grandes hotéis se erguem junto aos braços largos do Nilo, nesse ponto da cidade, mas confessamos a nossa falta de entusiasmo com essa zona do Cairo. Agradável à vista, mas incaracterística.
O lendário trânsito cairota
Além das pirâmides, o Cairo é famoso pelo seu trânsito em estado de caos. O que vimos e experimentámos não desmerece a reputação. Não pára dia e noite e só lentamente flui. Nele convivem todo o tipo de meios de transporte - automóveis e autocarros mais velhos do que novos, carrinhas, camelos e burros. Há longas filas de homens e mulheres a procurar fazer parar e usar uma dessas carrinhas no regresso a casa, o que pode levar pelo menos duas horas entre descobrir a que serve o destino e tem lugar. Pode acontecer que no meio do frenesim geral um velho de turbante atravesse calmamente uma ponte escarranchado num burro e levando à garupa uma menina de totós e mochila colorida vinda da escola. Ou verem-se transeuntes a traçar com sabedoria ângulos rectos por entre os veículos quase parados que é o método local para atravessar as vias.
No interior dos carros cada um cria o seu ninho e a regra é atapetar os tabliers com pelúcia, às vezes cor de cinza, às vezes vermelha, e vestir os encostos de cabeça dos bancos com figuras como o Piu-Piu ou o Rato Mickey de nariz e orelhas salientes. Depois ainda há a buzina: num só veículo escutámos três - uma para pedir passagem, outra para agradecer e a terceira para ralhar. Todas muito festivas.
Os 18 milhões que habitam a área metropolitana da capital egípcia parecem deslocar-se sem cessar, num país que cresce à razão de um milhão e oitocentos mil por ano (87 milhões de habitantes). Não surpreende que o trânsito espelhe afinal essa pressão demográfica e que não haja seguros automóveis. Surpreende, isso sim, é que não ocorram acidentes a par e passo.