Especial: 10 Viagens em Família
Aviso: esta exposição não é para famílias que defendem que os jovens devem esperar pelo casamento para iniciar a sua vida sexual e que os melhores meios contraceptivos são os métodos naturais. Provavelmente, essas famílias vão sentir-se incomodadas com a visita a Sexo... e então?, onde se podem deitar numa cama em forma de coração para ver casais do cinema a beijarem-se - está lá Charlie Chaplin e também Hugh Grant; pôr as mãos por detrás da cabeça de dois bonecos e ajudálos a dar um linguado; onde há escovas com íman para colocar num corpo de um rapaz ou de uma rapariga desenhados, de maneira a identificar as zonas em que, na adolescência, começam a surgir os primeiros pêlos.
Sexo... e então? - O amor e a sexualidade numa exposição sem tabus é isso mesmo, uma exposição sem segredos e sem proibições, a pensar nos pré-adolescentes e adolescentes, dos nove aos 14 anos.
E também nos pais, que muitas vezes não sabem bem como falar do tema com os filhos. E nos pais e nos filhos que podem entrar nesta aventura juntos e divertir-se, sem complexos, nem vergonhas. Mas é só para esses, as famílias que afinam com as associações pró-vida não vão gostar, garantem as mesmas.
Como se trata de uma exposição com a chancela da Cité des Sciences et de L’Industrie de la Vilette - se, entretanto, a família for a Paris, além da Disney não deve esquecer a ida a la Vilette, onde a ciência é mesmo divertida num museu pensado para crianças e jovens - , as personagens que acolhem as famílias e as acompanham nesta aventura são de origem francófona.
Chamam-se Titeuf, um rapazinho com um enorme penacho louro, e Nadia, a sua paixão “quase secreta”, dois pré-adolescentes famosos da banda desenhada, com as mesmas dúvidas que os pré-adolescentes e adolescentes de carne e osso.
Se os pais não estão familiarizados com Titeuf e Nadia, os filhos que vêem desenhados animados na RTP2 já os conhecem.
A exposição está dividida em cinco partes - Estar apaixonado, Puberdade, Fazer sexo, Abre a pestana e Escola - e termina com um jogo de perguntas e respostas; por isso, é bom ir com atenção, há muito para ler, jogar, pensar e rir.
“No escurinho do cinema”
Logo à entrada, pais e filhos podem experimentar o que é isso de beijar. Numa espécie de “escurinho do cinema” - o espaço chama-se Hollywood Lover -, os miúdos sentam-se num banco, de frente para um écran onde Titeuf ou Nadia, a escolha é dos visitantes, dão beijos repenicados ou mesmo de boca aberta a quem se sentou no banco. Calma! Ninguém sente nada, só vê na televisão, a sua imagem e a de Titeuf com os olhinhos fechados e boquinha em feitio de coração a dar beijos sonoros e todos se riem, perdidos.
Há pais e bebés que recebem beijinhos. São algumas as crianças de dois, três anos, que passeiam pela exposição, que brincam e fazem as actividades, que carregam em botões e sentem os cheiros - a chulé ou a suor, típicos de quem tem as glândulas aos saltos.
Uma das áreas de Sexo... e então?! é sobre a puberdade, mais concretamente sobre o corpo a mudar, os pêlos, as borbulhas a voz - não se esqueçam de entrar no duche, cantar I will survive, de Gloria Gaynor, e perceber por que é que os rapazes deixam de poder cantar no coro da escola e por que é que começam a dar fífias (esta é uma informação importante para o jogo final). Gaynor aparece aqui como uma esperança para os adolescentes: sim, vocês hãode sobreviver às borbulhas, às dúvidas, aos complexos. Hão-de transformar-se em cisnes! Mas voltemos ao início.
No quarto de Titeuf, os adolescentes ficam a saber que não interessa ver filmes pornográficos porque não é assim que as pessoas fazem sexo; e também lhes é explicado o que é um pedófilo. No quarto de Nadia, há uma cama com o feitio de um enorme coração, onde é possível ficar confortavelmente deitado e ver cenas de filmes, onde os sentimentos relacionados com o amor e o enamoramento vão passando, das cenas mais divertidas e alegres às mais sérias, como o terminar de uma relação.
Para eles, a maior dificuldade é reconhecer os actores, não têm cultura cinematográfica que chegue. Além disso, esta é uma exposição de origem francófona - como se confirma pela música que soa depois de se apertar, com quanta força se tem, um enorme coração para perceber se se está ou não apaixonado. Há quem consiga ouvir sons mais familiares como o Me gustas tú, de Manu Chao, mas a maioria das canções são francesas e desconhecidas.
O grande coração vermelho e fofinho está ladeado por duas máquinas mágicas onde se podem escrever cartas de amor e levá-las para casa.
Pais não entram
Depois de sair dos quartos de Titeuf e de Nadia, onde se descobre o que é isso de se estar apaixonado - “de repente, há uma pessoa que achamos diferente das outras: mais bonita, mais simpática, mais tudo” -, e de se saber que “há vários tipos de beijo: com ou sem língua, com ou sem chupões ou mordiscos nos lábios”, que “o melhor truque para beijar alguém é ter vontade” e que “quanto mais vontade temos, melhor o fazemos” -, pais e filhos seguem para a casa de banho, local onde se percebe o que é a puberdade.
Os miúdos podem pôr a cabeça num espaço a partir do qual se vêem reflectidos no espelho da casa de banho, como se estivessem no duche. O seu rosto completa um corpo de desenho animado, e ouvem um diálogo divertido entre um rapaz e uma rapariga sobre as alterações que se processam no corpo durante esses anos.
Segue-se uma zona interdita a adultos. A Fugas respeitou e ficou do lado de fora, a folhear o dossier destinado aos pais - ali se explica o que os mais novos podem ver lá dentro. Este espaço foi criado para que as duas gerações, pais e filhos, compreendam o que é isso da privacidade. Naquela espera, os pais percebem que os filhos começam a ter as suas vidas e que nem sempre tudo é partilhável, por mais difícil que isso seja para os adultos. Eles compreendem que podem ter espaço para si e, ali, lêem sobre o que é uma erecção, o que é o período - enfim, questões que, por vezes, têm dificuldade em perguntar aos mais velhos.
No dossier existem alguns diálogos - como este sobre o porquê de a adolescência ser a idade da parvoeira. Titeuf constata: “Ainda não tenho pêlos”, um amigo responde-lhe: “Se calhar ainda não és suficientemente parvo!”.
A família volta a reunir-se no espaço Fazer sexo. De novo, Titeuf e os amigos conversam sobre o tema. Há jogos e curiosidades: sabia que Luís XIII não conseguiu, durante anos, ter sexo com a mulher? É natural, ambos tinham 14 anos quando casaram e não sabiam como fazê-lo... Ali também se fala de pudor e da possibilidade de se “guardar a nossa intimidade, como se fosse um presente, para a pessoa que amamos”, porque “o amor é uma coisa muito íntima”. Mais: “Não se deve fazer sexo se não se tiver vontade”.
A reprodução é a última etapa da exposição. Neste espaço há uma espécie de flipper que permite perceber que não é fácil fazer um bebé. Apesar de serem 500 milhões os espermatozóides que viajam em direcção ao útero, só uma centena chega e só um termina a viagem, conquistando o óvulo. Mas “quando duas pessoas desejam fazer sexo juntas não querem necessariamente fazer um bebé”. Existe a contracepção e aqui são referidos apenas dois meios contraceptivos, o preservativo - alguns, bastante coloridos, estão dentro de um expositor, é só carregar num botão e vê-los insuflar - e a pílula, (a pílula do dia seguinte também consta).
Por fim, na Escola, os adolescentes descobrem que gerar um ser é maravilhoso. Existe um filme de cinco minutos que todos vêem extasiados: é um bebé que cresce no interior da barriga da mãe e que, apesar de estar lá dentro, sente o mundo cá fora, a luz, o som e tudo isso os deixa maravilhados, aos pais e aos filhos. Todos se revêem e se reconhecem naqueles minutos mágicos.
Como ir
Em Lisboa, o Parque das Nações é sobejamente conhecido. Pode chegar de carro, de comboio, de metropolitano... Nestes dois últimos, o nome da estação é comum: Oriente. O Pavilhão de Conhecimento fica bem perto do Oceanário, na zona sul do Parque das Nações. Aliás, para quem não conhece esta área da capital, o melhor é ir com tempo e com sapatos bons para caminhadas, para passear, ver os pássaros, o rio, os barcos, os vulcões que esguicham água e a arquitectura que ficou do tempo da Expo98, bem como a mais recente.
Quando ir
Em qualquer dia, excepto à segunda-feira, dia em que o Pavilhão do Conhecimento encerra, assim como nos dias 24, 25 e 31 de Dezembro e dia 1 de Janeiro. Durante a semana, o horário é das 10h00 às 18h00. Ao fim-desemana e feriados, o pavilhão abre e fecha uma hora mais tarde. “Sexo… e então?!” pode ser visitada até 28 de Agosto de 2011.
Preços (2011)
Os preços dos bilhetes variam mas existe um bilhete de família para dois adultos com filhos até aos 17 anos, a 15 euros. Há descontos para estudantes, reformados e outros. Se quiser entrar gratuitamente tem que esperar pelo Dia Nacional da Cultura Científica, que se celebra a 24 de Novembro. Aproveite para ver as outras exposições, as de carácter permanente. Adulto (+18) 7€. Criança/jovem (7-17) e sénior (+65) 4€ | Criança (3-6) 3€.