Especial: 10 Viagens em Família
A visita pode começar pelo estábulo, mais precisamente pela maternidade, um espaço quentinho e acolhedor onde as mães recuperam do parto e os recém-nascidos estão protegidos nos primeiros dias de vida. Lá dentro estão dois cabritos castanhos, pequeninos e ainda um pouco trôpegos e um cordeirinho, com o dobro do tamanho, branco, mas com o mesmo ar de bebé que os companheiros. As mães tomam conta deles e irritam-se quando o caseiro, o senhor Raul, abre a porta para mostrar as crias às crianças.
O balido das jovens mães sobrepõe-se aos zurros do burro que espreita os bebés, do outro lado do estábulo. Na Quinta da Montanha há um burro, um pónei, vacas, vitelas, cabras, ovelhas, porcos portugueses e vietnamitas (uma espécie anã) e já houve galinhas e patos, mas foram atacadas por um cão. Acontece.
Na Quinta da Montanha há colmeias e abelhas que voam entre o rosmaninho, o alecrim e os lírios plantados junto à entrada da casa principal. Há couves, alhos franceses, árvores de fruto, sobreiros, pinheiros e eucaliptos. E há verde, verde, verde a perder de vista.
É uma quinta pedagógica que nos últimos anos tem recebido os "meninos da cidade que nunca viram a província", resume numa frase Maria Fernanda Caine, relações públicas do espaço, que fica entre a Tapada de Mafra e o Centro de Recuperação do Lobo Ibérico.
De mãos lavadas e bem ao alto, um grupo de alunos de um colégio dos subúrbios de Lisboa caminha a compasso em direcção à cozinha. Vão aprender a fazer pão com Susana, a monitora da quinta que lhes explica tudo sobre a origem da farinha, do fermento e do sal, e dona Ana, a mulher do caseiro que, poucos minutos antes, empurrou um fardo de lenha para dentro do forno onde vai cozer-se o resultado que sair das mãos das crianças. Em cima de três mesas, no centro da cozinha, os meninos põem a mão na massa e alguns ficam com as caras brancas da farinha.
Caça ao tesouro
As actividades propostas às crianças variam conforme a idade e os pedidos das escolas. Além de fazer pão, os estudantes podem aprender a fazer doces, ver e tratar dos animais, fazer jogos como caças a tesouros onde têm de aplicar os conhecimentos que foram adquirindo ao longo do dia, fazer sacos com cheiros que os próprios colhem na quinta. Há ainda ateliers para aprender a reciclar. E algumas escolas oferecem uma aventura maior, a de dormir na Quinta da Montanha. O sótão enorme está dividido em duas camaratas e casas de banho com duche para rapazes e raparigas, em separado. Ao lado de cada camarata existe um quarto para os professores ou monitores que os acompanham. Só existe o estritamente necessário: camas e cobertores, o resto têm os meninos de levar de casa.
Por aqui se conclui que a Quinta da Montanha não é um espaço de luxo, nem sequer de grande conforto. A administração reconhece-o e por isso pondera transformar algumas salas de reuniões em quartos acolhedores, explica Maria Fernanda Caine. "Depois de termos marcado presença na Bolsa de Turismo de Lisboa, temos tido imensa procura por parte das famílias", justifica, para a necessidade de alargar a oferta a um novo mercado, o das famílias.
Semear batatas?
E ideias não faltam para essa mudança. A proposta de passar um dia no campo, em contacto com os animais e a natureza, por si só já é tentadora, acredita a responsável. Fazer um piquenique ou mesmo acampar ao ar livre, quando os dias estiverem melhores, é outra das sugestões. A quinta tem recebido grupos de escuteiros que acampam num espaço vocacionado para tal. E este também pode ser aproveitado pelas famílias, propõe Maria Fernanda Caine.
O espaço das camaratas pode ser usado por famílias alargadas com avós, pais, tios, filhos e sobrinhos ou por dois ou três casais com filhos que queiram passar um fim-de-semana no campo.
A cozinha, completamente apetrechada, pode ser utilizada como se fosse a lá de casa ou para fazer coisas completamente diferentes. Existe um forno a lenha. Porque não aquecê-lo logo pela manhã e colocar um grande tabuleiro com carne para assar, coberto com papel de alumínio, e deixá-lo ficar até à hora do jantar? A essa hora, a carne estará deliciosa e quase desfeita. Ou porque não juntar os miúdos à volta da mesa para fazer pão com chouriço? Se calhar algum dos avós lembra-se de uma receita antiga que ali pode ser confeccionada.
Na sala há um recanto todo envidraçado, ideal para todos se sentarem, de preferência à hora do lanche, a conversar ou simplesmente a apreciar a paisagem, enquanto os membros mais novos da família ajudam o senhor Raul e a dona Ana a tratar dos animais, a limpar o estábulo, a dar palha ao burro ou a ajudar na horta.
"Sabe do que é que nós precisávamos? De ajuda para semear a batata", diz dona Ana - e é agora a altura de o fazer, acrescenta. O caseiro tem outras ideias que podem ser transformadas em actividades: ajudar a arranjar as cercas ou tirar a cortiça aos sobreiros. "Que crianças é que sabem que é da cortiça que se fazem as rolhas? Não sabem!", acredita Fernanda Caine, que considera que esta pode ser uma actividade pedagógica que avós e netos podem concretizar em conjunto e divertirem-se.
Mas nenhuma destas tarefas é obrigatória. A Quinta da Montanha deixa ao critério dos seus visitantes as actividades que quiserem, ou não, fazer. A quinta pode ser usada como centro de operações para outras actividades que a família quiser fazer fora de muros.
Propostas para todos
BTT, caminhadas e observação de animais
Ocupar o tempo nas imediações da Quinta da Montanha não é uma tarefa nada complicada. Para os amantes do BTT, por exemplo, não faltam trilhos dentro e fora da quinta. De bicicleta ou de carro, a família pode ir até à Malveira, que fica a poucos quilómetros, e experimentar as Trouxas da Malveira, um doce centenário, feito à base de ovos e açúcar, com inspiração nas trouxas de roupa das lavadeiras, as mulheres popularizadas pela actriz Beatriz Costa no filme "Aldeia da Roupa Branca".
Na Malveira realiza-se semanalmente, à quinta-feira, uma feira de gado, ao ar livre, onde se podem comprar pintos, patinhos, mas também vitelos ou leitões para criar. Além de frutas, vegetais, peixe fresco, vende-se ainda o tradicional pão de Mafra.
Como a Quinta da Montanha é vizinha da Tapada Nacional de Mafra e do Centro de Recuperação do Lobo Ibérico, as famílias podem aproveitar o fim-de-semana para visitar estes dois espaços. A bicicleta pode ser um óptimo meio para se deslocar dentro da Tapada, onde podem ser vistos gamos, javalis, águias e outros animais. Mas há outras propostas, algumas bem mais excitantes, como a possibilidade de conhecer a floresta durante o crepúsculo e ao amanhecer, através de um pequeno percurso pedestre. Ao longo dessa caminhada, os visitantes poderão ouvir o recolher dos animais nocturnos e o despertar dos animais diurnos ao receber os primeiros raios de Sol. A Tapada vai fazer várias visitas especiais, abertas aos mais pequenos. Para isso, é preciso marcar com antecedência.
O mesmo conselho é dado a quem quiser conhecer o Centro de Recuperação do Lobo Ibérico, onde as alcateias vivem em cercados. Com alguma sorte, podem ser vistos os animais mais sociáveis, que chegam a aproximar-se das redes. Contudo, os lobos podem ser observados a partir de torres de vigia. Para quem gosta menos de animais, a visita a Mafra e ao grandioso palácio de estilo barroco é fundamental.
Como ir
A partir de Lisboa, seguir para a A8, sair em Malveira/Mafra; depois das portagens, sair em direcção a Malveira/Torres Vedras, seguir as setas em direcção a Tapada de Mafra. Assim que entrar na aldeia de Vale da Guarda, vire à esquerda e siga as indicações para a Quinta da Montanha. A partir do Porto, entrar na A1 e sair para a A25 em direcção a Aveiro. Tomar a saída Figueira da Foz/Ílhavo e entrar na A8. Seguir até Torres Vedras Sul, fazer a Nacional 25 em direcção a Carvalhal. Uma vez em Gradil, seguir para Vale da Guarda.
Contactos
Quinta da Montanha
Parque Temático e Pedagógico
Estrada da Tapada
Vale da Guarda
2665-418 Gradil
Telefone: 261 78 81 75 / 76
Telemóvel: 96 200 16 49
E-mail: info@quintadamontanha.pt
http://www.quintadamontanha.pt/
Preços (2009): para famílias, a Quinta da Montanha tem pacotes definidos para fins-de-semana. Uma visita de um dia (sábado), com direito a almoço-piquenique, custa €15 para adultos e metade para crianças entre os cinco e os 10 anos (as crianças até aos cinco anos não pagam). Para dois dias, com direito às duas refeições de sábado e ao almoço de domingo, custa €37,50 para adultos e metade para crianças entre os cinco e os dez anos
Tapada Nacional de Mafra
Portão do Codeçal
2640-602 Mafra
Telefone: 261 817 050 (dias úteis)
261 814 240 (Fins-de-semana e feriados)
E-mail: geral@tapadademafra.pt
informacoes@tapadademafra.pt
www.tapadademafra.pt
Centro de Recuperação do Lobo Ibérico
Vale da Guarda, Picão
Telefone: 261 785 037; 917532312