Fugas - Viagens

Kimimasa Mayama/Reuters

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Desconcerto em Tóquio, harmonia em Kamakura

Outra opção espiritual disponível nestes locais, talvez mais proactiva, passa por comprar uma pequena tábua de madeira (conhecida como ema) onde escreve o seu desejo, o que tem o inconveniente de o deixar exposto a olhares indiscretos.

"Quero uma namorada", foi o pedido expresso de um lusófono que por ali passou; em inglês lê-se "Que o pai da Yuko tenha uma vida longa e feliz".

Kamakura é exemplo da mistura religiosa entre o budismo e o xintoísmo que marca a prática espiritual de muitos japoneses. Nesta localidade são mais de 40 os templos budistas e cerca de dez os santuários xintoístas. Embora aqui prevaleça o budismo, muitos japoneses praticam rituais de ambas as religiões os casamentos são muitas vezes xintoístas e os funerais budistas.

No budismo presenciamos a influência chinesa (a religião entrou no Japão no século VI), o xintoísmo é considerado a religião indígena. A mistura das duas culturas também é visível no alfabeto que mistura o hiragana (alfabeto fonético japonês) e os caracteres chineses (kanji) .

Apesar de ser uma cidade com turismo, Kamakura serve como contraste ao bulício de Tóquio. Um comboio directo deixa-o numa espécie de mini-Kyoto, mesmo à mão de semear. Capital do Japão entre 1180 e 1333, é hoje uma pacata povoação costeira abrigada entre montes verdes. O que torna este passeio aprazível é o facto de quase não ser preciso andar de transportes (contrariamente a Tóquio) e a exploração poder fazer-se a pé.

Mesmo que seja apenas uma pequena escapadela de um dia há pelo menos dois templos imperdíveis. Subir até ao cimo Hasedera leva-o a uma construção religiosa que aproveitou as montanhas e as incorporou na sua arquitectura. São diferentes socalcos com variadas formas de adoração a Buda, desde as filas de mini-budas cinzentos com inscrições nas costas aos altares onde foram deixados brinquedos de peluche de desenhos animados japoneses como oferendas-sim, também aqui! No topo tem uma belíssima vista dos areais de areia negra vulcânica de Kamakura, que condizem com os telhados do mesmo tom. Neste dia de mar revolto o ocasional surfista tenta a sua sorte.

Outra visita que vale a pena, e que é um símbolo de Kamakura, é o templo onde um gigante Buda de bronze se impõe (Daibutsu). Construído no século XII, a estátua de 13 metros e 121 toneladas assistiu ao templo que então o circundava ser levado por um maremoto no século XVI. Resistiu e já neste século decidiram fazer-lhe adaptações para o tornar à prova de terramotos.


Um mundo para além do sushi e do sashimi

A importância da cozinha no Japão é visível num rápido zapping pelos canais de televisão, há programas gastronómicos a toda a hora. Nos restaurantes, por muito variados que sejam, há algo que é altamente valorizado: a passagem do cru ao cozinhado é um percurso a que se pode assistir e que pretende atestar a frescura inicial dos alimentos.

Senão vejamos o shabu-shabu. O prato é de carne. À frente do comensal é colocado um pote de água a ferver sobre um pequeno fogão, chega uma travessa de fatias de carne de vaca, quase translúcidas, suficientemente finas para serem cortadas com pauzinhos, fatias de couve, vários tipos de cogumelos, tofu e muitos outros vegetais. Funciona como um fondue cozido com dois molhos, um de sésamo e o tradicional de soja, a que se podem juntar pedacinhos de funcho e molho de rabanete picante a gosto. No final, a água da cozedura ainda é aproveitada para um saboroso caldo que se temperou com sal e pimento e que é bebido.

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