Fugas - Viagens

Enric Vives-Rubio

Pelos caminhos da guerra civil e da memória histórica

Por Carlos Pessoa

Há uma Estremadura espanhola que escapa aos clichés turísticos e não aparece nos guias. São as cidades e as serras, os campos e os vales onde a guerra civil foi travada e deixou sinais e testemunhos, quase todos em acentuado estado de degradação. Contam uma história e registam uma memória.

A curta viagem, por um caminho de terra batida em bom estado, termina na quinta, onde não há vivalma. Pablo Caballero é o primeiro a sair do carro e segue com passo firme até à cancela. Abre-a e passa, continuando a andar sem se preocupar se é seguido. O terreno despido de vegetação, com sinais de ter sido pisado por animais e máquinas, estende-se por mais algumas dezenas de metros, até terminar num declive acentuado que morre no fundo do vale. Mas antes de chegar ao fim do seu caminho, o velho homem de 72 anos pára e vira-se, apontando para o chão. "Foi aqui que mataram o meu pai", limita-se a dizer sem mágoa aparente.

A quinta onde nos encontramos, a pouca distância da aldeia de Valle de La Serena, na região estremenha de La Serena, foi o palco de uma tragédia, em Setembro de 1938: nove homens e uma mulher foram retirados da prisão da aldeia e levados até ali, onde os executaram e enterraram. Um deles era o pai de Pablo, então com 10 anos de idade.

Para os habitantes de Valle de La Serena, a guerra civil tinha acabado há poucos dias, quando a ofensiva franquista nesta área da Estremadura espanhola levou à sua frente o exército republicano em retirada. Mas o pior ainda estava para vir, pois os falangistas empreenderam de imediato uma repressão implacável sobre os seus inimigos. Qual foi o crime destes homens - serem republicanos, socialistas ou comunistas? Terem-se oposto ao pronunciamento militar de 18 de Julho de 1936? Combaterem de armas na mão as tropas franquistas nas trincheiras erguidas a pouca distância da aldeia? Pablo Caballero encolhe os ombros e limita-se a dizer: "Mataram-no por nada. O meu pai não era republicano, estava sempre a trabalhar..." E lembra-se, claro, dos tempos difíceis que se seguiram ao fim da guerra, quando houve muita repressão, medo e fome, e cada um ganhava a vida como podia, trabalhando nos campos ou no que aparecia.

Assim se passaram os 40 anos seguintes até que, em 1979, na fase de transição para a democracia, a aldeia decidiu recuperar os corpos dos seus mortos, muito tempo antes de a sociedade civil espanhola ter desencadeado o actual movimento de recuperação da memória histórica. "Pablo Caballero andou de casa em casa mobilizando os vecinos para exumarem os corpos", diz Antonio López, historiador e membro da Associação Memorial Campo de Concentración de Castuera, nosso guia nesta viagem. Foram todos enterrados juntos sem identificação científica, mas Caballero reconheceu os restos mortais do seu pai. As marcas da dor causada por esse fim violento não desapareceram, mas talvez o gesto de 1979 tenha facilitado o acerto de contas com o passado que faz de Pablo Caballero, hoje, um homem sereno e apaziguado quando conta o que viveu. As vítimas da repressão franquista daqueles anos na aldeia estão no jazigo memorial construído à entrada do cemitério da aldeia.


Vestígios do conflito

Na paisagem estremenha, há outros monumentos, mais antigos, que assinalam o conflito sangrento que devastou a sociedade espanhola nos anos de 1936-1939. Os vestígios físicos da guerra civil continuam a resistir à passagem do tempo, mas evidenciam uma acentuada degradação com que ninguém parece importar-se. Os bunkers, casamatas, refúgios antibombas e postos de observação espalhados pelo território são testemunhos solitários do esforço de guerra dos dois lados beligerantes. Foram construídos em inúmeros lugares onde tropas franquistas e milicianos republicanos se enfrentaram duramente e, por vezes, tiveram de coexistir durante meses numa linha de frente mais ou menos estabilizada. A guerra acabou há muito e perderam a importância fugaz que tiveram. Esquecidos de quase todos, só não desapareceram porque a sua demolição dava muito trabalho e custava demasiado dinheiro. Recuperá-los é coisa em que ninguém pensa e nem sequer são considerados monumentos militares pelo Ministério da Defesa espanhol.

Nas imediações de Valle de la Serena, sem indicação de acesso ou identificação, ainda se vêem as trincheiras construídas pelos combatentes republicanos (Lat. 38º42.508"N; Long. 005º49.182"W). Estendiam-se ao longo de quilómetro e meio e faziam parte de um dispositivo de defesa que incluía outras linhas para protecção dos combatentes. A localização da aldeia num ponto estratégico, dominando a região e o vale atravessado pelo rio Ortigas, explica a construção das trincheiras. As tropas franquistas estavam do outro lado da serra, em área não directamente visível a partir daqui, mas qualquer movimentação de tropas seria sempre detectada.

Não muito longe deste lugar, integrados no mesmo perímetro defensivo, é possível encontrar os muretes de uma casamata republicana, sobranceira ao rio Guadaméz (Lat. 38º42.531"N; Long. 005º49.206"W). Alguns metros mais abaixo, na encosta, há os rastos de uma trincheira. Uma terceira casamata permitia controlar a estrada para Don Benito. Este núcleo resistiu até ao Verão de 1938, quando foi encerrada pelas tropas franquistas a chamada bolsa de La Serena.

Na época, esta região era mais habitada, mas a paisagem não sofreu grandes alterações. É uma zona rochosa, escassamente arborizada, agreste e quase sem sinais de intervenção agrícola onde, ontem como hoje, é difícil viver. Pode imaginar-se como seria dura a vida dos soldados e milicianos destacados nestes lugares, muitas vezes situados a razoável distância da aldeia mais próxima, suportando temperaturas muito baixas no Inverno e um calor ardente durante os meses de Verão, a braços com a inactividade decorrente da estabilização da frente durante meses. Hoje, porém, são só restos de construções - mais sólidas as construídas pelos franquistas, mais rudimentares as do lado republicano - que nada dizem sobre quem as habitou e defendeu, o que pensavam e como viviam, com o inimigo à vista e perante a iminência de um ataque ou de um assalto...

Casamatas, refúgios e bunkers

Sobressaindo na monotonia da paisagem escanzelada, nas proximidades de um maciço rochoso e à vista da linha férrea que vem de Castuera, duas casamatas franquistas nas proximidades de Puerto Mejoral (Lat. 38º42.046"N; Long. 005º27.665"W) são notas dissonantes entre a vegetação rasteira. Uma delas ainda exibe o símbolo da arma de artilharia do exército franquista, inscrito no betão num gesto de orgulhosa marcação de território que a passagem do tempo se encarregou de tornar ridículo e inútil.

As três casamatas franquistas de Puebla de Alcocer (Lat. 38º57.780"N; Long. 005º18.475"W) ficam ao lado da estrada que liga Castuera a Orellana La Vieja, mais a norte. Há que andar a pé por uma vereda mal talhada no mato, pois não são visíveis da estrada. Em contrapartida, das duas posições de metralhadora de uma delas alcança-se perfeitamente um troço da estrada antes desta desaparecer numa curva larga. A localização é perfeita, abrangendo o território até à longínqua linha do horizonte, tornando impossível qualquer aproximação de surpresa.

No vale sobranceiro a Benquerencia de La Serena, a estrada para Puerto Hurraco atravessa o montado em longas rectas a perder de vista. Um desses troços serviu, até 1938, como pista de um aeródromo republicano (Lat. 38º40.078N, Long. 005º30.244W). A casa onde os pilotos estavam instalados, mais tarde ampliada, ainda lá está, mas encontra-se em mau estado. A pouca distância, existem dois acessos a um refúgio antibombas, separados por uma depressão de terreno onde caiu uma bomba, diz o nosso guia.

Os últimos locais onde nos leva Antonio López, que há oito anos se dedica ao inventário de todos os monumentos militares da guerra civil em La Serena, são dois bunkers franquistas. Na estrada entre Castuera e Orellana La Vieja, na margem do rio Júzar, fica um dos mais completos e preservados da região (Lat. 38º57"5.02""N; Long. 5º.35"31.21""W). Com oito posições de tiro de artilharia, foi construído e ocupado pelas tropas nacionalistas para controlar a passagem do curso de água, um afluente do Guadiana. Fica ao lado de uma ponte da qual ainda existem hoje os respectivos pilares e esteve ocupado até 1940. De morada de soldados passou a habitat de andorinhas que reagem com nervosismo à presença humana, entrando e saindo pelas aberturas em voos rasantes.

Para chegar ao bunker de Campanário (Lat. 38º50.319"N; Long. 005º33.951"W) há que sair da localidade pelo camiño de los rojos, assim conhecido por ter sido feito no tempo da II República espanhola. A construção, ainda iluminada pela luz crepuscular que confere uma estranha uniformidade acastanhada à terra, começa a ver-se de bastante longe. Já só restam os redutos e as posições de fogo, pois a cobertura desapareceu há muito, mas pela área vê-se que era uma construção grande e importante. É um dos poucos locais que está identificado e uma placa informa que este bunker, controlado pelas forças da 122ª Divisão do Exército do Sul, esteve no epicentro da ofensiva franquista e da contra-ofensiva republicana de 1938, que viria a estabilizar a frente quase até ao final da guerra.


Castuera e Montijo, as prisões

Castuera é uma pequena localidade com 10 mil habitantes, os mesmos que tinha no tempo da guerra civil. Vive sobretudo da agricultura e da produção de queijo de ovelha, mel e torrão, que é uma especialidade local. Depois da ocupação de Mérida, Cáceres e Badajoz pelos franquistas no Verão de 1936, a capital da Estremadura foi transferida para aqui. Caiu em Julho de 1938.

A rota histórica propõe ao visitante seguir os passos do poeta Miguel Hernández, que esteve em Castuera durante a Primavera e o Verão de 1937. O Frente Extremenho, jornal em que colaborou com os seus poemas, já não existe, mas o local onde funcionava a redacção está identificado. Outro ponto relevante é o actual edifício do casino, sede do governo civil republicano. A pedido, os responsáveis permitem o acesso à Central do Estado Maior, uma divisão protegida de onde se controlavam as transmissões civis e militares, e que ainda ostenta inscrições de época nas paredes.

No entanto, o maior motivo de interesse é o local onde existiu um campo de concentração entre a Primavera e 1939 e Março do ano seguinte (Lat. 38,722846N); Long. 5,51245W). Fica apenas a dois quilómetros de distância de Castuera, mas sem ajuda é quase impossível encontrá-lo, pois nada assinala a sua existência.

Neste lugar, o novo poder franquista construiu o campo - sete hectares de terra por onde passaram mais de dez mil homens. Rodeados por fosso e cercados por arame farpado, havia 80 barracões sobrelotados, latrinas rudimentares, zona sanitária e área de incomunicáveis para os mais "perigosos". À dureza do clima tanto no Verão como no Inverno, juntava-se a repressão sobre os detidos, sujeitos a uma brutal disciplina que incluía humilhações, castigos, agressões físicas e coacção psicológica, lembra Antonio López. A comida era pouca e má, a higiene pessoal quase não existia e a roupa tinha de ser usada por tempo indefinido. Com estas condições de insalubridade vieram as doenças - sarna, tifo e mesmo um surto de varíola. Havia ratos por todo o lado e a actividade diária dominante consistia em catar piolhos.

Do que existiu há 70 anos já não há quase nada que o testemunhe - os restos de um pedestal de cimento onde antes estava a cruz do campo, as valas de uma fossa sanitária rudimentar e, fora do recinto, o que sobra da antiga torre da mina de La Gamonita, abandonada no final do século XIX.

Outro local esquecido é a colónia penitenciária de Montijo (Lat. 38º55"2.08""N; Long. 6º35"36.92""W), a cerca de 35 quilómetros de Badajoz. Depois de passar a localidade, numa área isolada e cercado por um mar de papoilas na Primavera, fica o que resta do campo-prisão criado pelo regime para "recuperar" os adversários políticos pelo trabalho. Abriu em 1940 e esteve em funcionamento até 1947, quando acabou a construção do sistema de irrigação da região, com um canal de 30 quilómetros que faz chegar a água do Guadiana a estas terras férteis.

Submetidos às regras da disciplina militar, por aqui passaram pelo menos 1500 presos, na sua maioria estremenhos e andaluzes. Estavam alojados em seis barracões, viviam em condições sanitárias más e a alimentação era escassa.

"Os detidos eram organizados em brigadas de 40 elementos e saíam para o campo. Oficialmente, trabalhavam oito horas, mas na prática era de sol a sol, sem direito a dias livres", conta Candela Chaves, bolseira de um projecto sobre a repressão policial na província de Badajoz. Quando foi fechada, calcula-se que ainda haveria cerca de 330 detidos, transferidos depois para prisões comuns.

A colónia deu lugar a uma exploração agrícola privada. Dois dos velhos barracões estão muito degradados e o terceiro, recuperado, é a residência dos actuais proprietários. A Associação para a Recuperação da Memória Histórica da Estremadura (ARMHEX) abriu há pouco um processo para levar o Governo autonómico da Estremadura a declarar este complexo um bem de interesse cultural.


Badajoz, ontem e hoje

Junto à fronteira portuguesa, a cidade de Badajoz viveu no Verão de 1936 um dos episódios mais sangrentos dos primeiros tempos da guerra civil. Dentro das muralhas, cerca de 3500 homens, entre milicianos e apenas meio milhar de soldados, opuseram-se às tropas franquistas comandadas pelo tenente-coronel Juan Yagüe. A cidade foi duramente bombardeada pela artilharia e aviação nacionalistas antes do assalto final, que começou na tarde de 13 de Agosto pela Puerta Pilar e pela Puerta Trinidad. As tropas franquistas foram rechaçadas mas voltaram à carga às primeiras horas da manhã do dia seguinte.

Sob um sol abrasador e repetidos bombardeamentos, a resistência republicana foi adiando o inevitável. A meio da tarde, é aberta uma brecha na Porta Trinidad (ficou conhecida como Brecha da Morte) e os nacionalistas penetram também na cidade muralhada pela Puerta de Carros e Puerta Pilar. O Cuartel de Menacho, demolido nos anos 1980 para dar lugar ao actual El Corte Inglés, foi neutralizado.

Na progressão, os nacionalistas encontraram uma resistência desesperada e os combates corpo-a-corpo sucederam-se. Na Plaza de Cervantes foram realizados pelos falangistas os primeiros fuzilamentos, que também ocorreram junto ao muro da Torre da Catedral, na Plaza de España (na altura Plaza de la Republica). Na Calle de Vicente Barrantes (Calle de la Sangra, na memória popular), na Calle Ramón Albarrán e na Plaza de la Soledad, onde existe uma réplica da Giralda de Sevilha, correu sangue e na Plaza Lopes de Ayala, onde estava instalado o comando militar, também se encontravam cadáveres. Os que se tinham refugiado no Teatro López de Ayala, na Plaza Minayo, foram desalojados e o edifício incendiado. Nos pontos mais altos da cidade, Plaza Alta, Alcazaba e Torre de Espantaperros, travaram-se os últimos combates contra milicianos entrincheirados. Nesse mesmo dia 14, Yagüe mandou meter os prisioneiros na praça de touros - demolida em 2002 e substituída em 2006 pelo Palácio de Congressos de Badajoz -, onde as execuções se prolongaram pelos dias seguintes. As estimativas mais fundamentadas falam em cerca de dois mil mortos.

Tudo isto aconteceu num passado já longínquo. A cidade foi reconstruída, cresceu e modernizou-se, mas não há nela uma só referência pública a esses sangrentos acontecimentos. Uma obra da escultora Blanca Muñoz instalada no largo fronteiro ao Palácio de Congressos evoca as vítimas de 1936, mas sem qualquer placa identificativa ou explicativa. E em 2009, ignorando os protestos internos e internacionais e as propostas ARMHEX para salvar mais um símbolo da repressão franquista, o ayuntamento tapou o muro do cemitério de S. Juan junto ao qual houve execuções e foram incinerados cadáveres - as marcas das balas nas paredes nunca tinham sido eliminadas. "O muro velho foi tapado por um novo para ocultar a memória e esconder o impacto emocional das marcas de balas", diz José Manuel Corbacho, presidente da ARMHEX. Dentro do cemitério, existe apenas um memorial, sempre com flores, lembrando a vala comum onde tantos corpos foram empilhados e queimados.

Como ir
O automóvel é o melhor meio de transporte para quem se desloca a partir de Portugal e o acesso aconselhado é pela auto-estrada Lisboa-Caia. Os cerca de 200 quilómetros até Badajoz levam à volta de duas horas a percorrer. A ligação dessa cidade espanhola a Castuera, na comarca de La Serena, não é tão boa, mas não envergonha ninguém: apanhar a autovia da Estremadura no sentido Badajoz-Mérida e sair na direcção Don Benito-Villanueva, seguindo desta última para Castuera.

Onde ficar
Se estabelecer base em território português, Campo Maior ou Elvas são as escolhas mais aconselháveis, pois situam-se a poucos quilómetros da fronteira, estão servidas por estradas aceitáveis e são terras sossegadas.
Na primeira localidade, a melhor opção é o Hotel Santa Beatriz (Avenida Combatentes da Grande Guerra, 18; tel. 268680040; hotel.s.beatriz@mail.telepac.pt).
Em Elvas, a Pousada de Santa Luzia (Pousadas de Portugal), embora envelhecida e a precisar de uma intervenção global, justifica a eleição (Avenida de Badajoz-Assunção; tel. 268637470; recepção.staluzia@pousadas.pt).

Se preferir instalar-se em território espanhol, Badajoz é a escolha óbvia. A oferta hoteleira é diversificada, com destaque para o Hotel NH Gran Casino Extremadura (Adolfo Díaz Ambrona, 11; tel. 34-924284402; nhgrancasinoextremadura@nh-hotels.com).
Também há opções mais económicas, como o Hotel AC Badajoz (Avda. de Elvas, Urbanización Jardines del Guadiana; tel. 34-924286247; acbdajoz@hoteles.com) ou o Hotel Zurbarán (Paseo de Castelar; tel. 34-924001400; hotelzurbaran@husa.es).

Para fazer o circuito dos monumentos militares da guerra civil na frente estremenha de La Serena, o melhor é dormir em Castuera. O Hotel Barón del Pozo (C/ Santa Ana, 15; tel. 34-924760148; hotelbaron@grupohchoteles.com) fica situado a dois quilómetros da cidade, na estrada que liga a Villanueva de la Serena.
Outro local possível é o Hostal Los Naranjos (Estrada Villanueva de La Serena-Andujar, km. 38,5; tel. 34-924760888).
É também de considerar a oferta de turismo rural na região, sobretudo unidades situadas junto à barragem do rio Zújar.

Onde comer
Em Campo Maior, o restaurante ApertAzeite (Estrada dos Celeiros; tel. 268699090) é o melhor (não falhar os pratos de bacalhau com azeite), embora haja outros sítios mais económicos a considerar. Em Elvas, come-se bem no restaurante da Pousada de Santa Luzia (Avenida de Badajoz-Assunção; tel. 268637470).

Do outro lado da fronteira, Badajoz é um destino incontornável. A melhor escolha é o restaurante Aldebarán (Avenida de Elvas, Urbanización Guadiana; tel. 34-924274261). Outras sugestões: restaurante Hebe (Calle Júlio Cienfuegos Linares, 17; tel. 924271700) e, mesmo no centro da cidade, o restaurante Dosca II (Avda. Colón, 3; tel. 34-924220240).

Em Castuera, a oferta é mais modesta e limitada. Ainda assim, pode experimentar o restaurante La Piscina, no complexo desportivo das piscinas municipais, logo à entrada da cidade (C/ Carretera EX 104; tel. 34-924761426) ou o La Parrilla (C/ Ronda de Castuera; tel. 34-924760753). Outra hipótese é o restaurante Plaza (Plaza de España, 5; tel. 34-924772270) e as suas migas ou, em alternativa, a caldeirada de cordeiro.

O que fazer à noite
A noite de Badajoz apresenta alguns argumentos a ter em conta. Pontos a considerar, todos no centro histórico da cidade: El Café - Concierto Mercantil (C/ Zurbarán, 10; tel. 34-924220691; aberto até às 5h30), um dos locais com maior tradição de música ao vivo da Estremadura; Blues Center (C/ San Juan, 8; tel, 34-9242428689; aberto até às 5h00); e Sala Aftasí (C/ Alonso Céspedes, 9; tel. 34-924249249). Situado na margem direita do Guadiana, há ainda o Café & Kopas (Avda. de Elvas. Terrazas del Guadiana, 37; tel. 34-924 273 118).

O que ver
Há em Badajoz alguns locais culturalmente incontornáveis. O principal é o Museu Estremenho e Iberoamericano de Arte Contemporânea (MEIAC, C/ del Museu, 2; tel. 34-924013082), com as suas colecções de pintura, escultura, fotografia, audiovisuais, etc., integrando uma colecção relevante de artistas portugueses. Outro polo é o Museu de Belas Artes de Badajoz (C/ Duque de San Germán, 3; tel. 34-924212469), cujos fundos de colecção são na sua maioria dos séculos XIX e XX. Vale a pena ir também ao Museu Arqueológico Provincial de Badajoz (Plaza José Alvarez y Saén de Buruaga, Alcazaba; tel. 34-924001912) e ver a mostra dos vestígios arqueológicos da província de Badajoz. Por fim, mas não menos importante, o Palácio de Congressos de Badajoz Manuel Rojas (Ronda del Pilar; tel. 34-924939000), desenhado pelos arquitectos madrilenos José Selgas e Lucia Cano.

Quem gosta de livros não pode falhar uma visita à livraria Universitas (Avda. Ramón y Cajal, 11; tel. 34-924245856). A secção de história espanhola contemporânea tem muitas obras sobre o tema da guerra civil.

As rotas da memória
O Centro de Desenvolvimento Rural La Serena (http://www.laserena.org), com sede em Castuera, identificou e assinalou os testemunhos bélicos relacionados com a guerra civil espanhola nesta região da Estremadura.

Rota 1
A frente estremenha no vale do Guadalefra
O percurso coincide com a antiga estrada para Cabeza del Buey. Atravessando a paisagem pseudo-estepária, atinge-se o vale do rio Guadalefra. Durante o conflito, as tropas franquistas reconstruíram parcialmente o caminho para permitir a ligação com o sector fortificado da frente do mesmo vale, ocupado pela 122ª Divisão. Na outra margem encontravam-se as linhas republicanas da 107ª Brigada Mista, com um sistema de fortificações mais ligeiras e com funções defensivas, orientados para recolher informação sobre possíveis movimentos de tropas.

Rota 2
Entre as linhas da frente franquista (Novembro 1938-Março 1939)
É um itinerário que atravessa as linhas defensivas da frente franquista, fixada em La Serena após o fecho da chamada Bolsa de La Serena (finais de Julho e princípio de Agosto de 1938) e a contra-ofensiva republicana de 22 de Agosto do mesmo ano. Há três pontos de interesse a reter. O primeiro é o que resta do plano de fortificações desenhado pela 21ª Divisão e pela Companhia de Sapadores nº 14, cujos trabalhos se centraram nos arredores do Castelo de Almorchón (imediações da serra Buitrera) e na estrada de Navalpino, entre Castuera e Puebla de Alcocer. O outro ponto a visitar é a chamada Casa de los Elias, ao lado do caminho atrás referido, e que serviu de quartel e enfermaria durante e depois da guerra. O terceiro ponto é a posição de onde se obtém uma visão panorâmica dos restos do campo de concentração de Castuera. As suas instalações foram erguidas pela 21ª Divisão franquista no final da guerra.

Rota 3
Ermida de Belém-Sítio? da Sorianilla
O ponto de partida é a Ermida de Nossa Senhora de Belém. Este monumento, originalmente um convento templário (séc. XIII), foi saqueado e a imagem da Virgem destruída por milicianos republicanos logo a seguir ao golpe franquista de Julho de 1936. O caminho a percorrer é paralelo à via-férrea Badajoz-Ciudad Real. O ponto mais afastado do percurso rodeia uma saliência próxima da quinta La Sorianilla. A partir de Setembro de 1938, este enclave teve uma grande importância na estrutura defensiva das posições franquistas nas imediações de Almorchón. Existe ali uma cruz em memória dos habitantes de Castuera de direita mortos por milicianos republicanos no Verão de 1936.

Rota 4
Castuera, Miguel Hernández, 1937
É um percurso urbano que procura reconstituir o momento histórico vivido pelo poeta Miguel Hernández quando esteve em Castuera, na Primavera-Verão de 1937. A visita passa pelos locais que foram utilizados pelas autoridades republicanas na altura em que a cidade era capital da Estremadura, na sequência da tomada de Badajoz, Cáceres e Mérida pelas tropas franquistas. Um dos locais mais relevantes é a casa onde estava instalado o diário Frente Extremenho, no qual Hernández publicou alguns dos seus poemas.

Rota 5
Cabeza del Buey durante a guerra civil (1936-39)
Percurso urbano que dá a conhecer os espaços ocupados pelas autoridades militares e civis republicanas em Cabeza del Buey. A importância estratégica desta cidade cresceu imenso durante todo o ano de 1938 e manteve-se até ter caído nas mãos dos franquistas nos primeiros dias de Agosto desse ano. Tal como em Castuera, esta rota histórica percorre uma parte substancial dos lugares em que estiveram instalados organismos governamentais republicanos e a estrutura organizativa dos partidos políticos mais relevantes da região.

Para saber mais
Extremadura: la Guerra Civil, de Justo Vila Izquierdo - Universitas Editorial, 2002
Las Heridas Abiertas de la Guerra Civil, de Jason Webster - Los Libros del Lince, 2008
Cruz, Bandera y Caudillo - El Campo de Concentración de Castuera -CEDER-La Serena, 2009

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