Fugas - Viagens

Miguel Madeira

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Las Vegas, a fogueira das vaidades

Fremont Street (e era tudo o que havia de Las Vegas nessa altura) nasceu com a construção dos caminhos-de-ferro no deserto do Nevada e para satisfazer os apetites de uma clientela dura de roer. Saloons e bordéis. Bordéis e saloons. E pouco mais. O que deixou em estado de choque os mormons, que até então eram os únicos habitantes da região, depois de terem corrido com as tribos índias que ali se instalaram para aproveitar as nascentes de água, raras naquele ambiente desértico.

A rua cresceu apesar de os mormons terem conseguido ilegalizar o jogo em 1910 sem grandes efeitos práticos, já que todo um submundo do jogo floresceu de ano para ano (seria definitivamente legalizado em 1931). As fotografias dos anos 1920-1930 mostram uma terreola no meio do deserto que lentamente vai evoluindo para uma cidade.

A construção da Barragem Boulder (depois baptizada como Barragem Hoover) atraiu milhares de trabalhadores e as suas famílias que se foram instalando em Vegas.

Depois vieram os turistas para ver a barragem mas também para jogarem e aproveitarem as leis de casamento rápido e divórcio à la minute. A prostituição era legal e mesmo nos anos da Lei Seca nunca faltou o que beber na cidade do pecado.


Parque de diversões para adultos

Mas de pecado já resta pouco a Las Vegas. Os guias de viagem chamam-lhe um gigantesco parque de diversões para adultos.

Fremont Street é hoje uma rua com ar condicionado, com uma cobertura onde são projectados shows de laser e onde a música não pára de tocar. Longe do Strip, aqui pode-se jogar com moedas de um cêntimo nas slot machines, beber margaritas manhosas e com cores fluorescentes por um dólar e gastar os últimos trocos que os casinos não conseguiram apanhar numa t-shirt a dizer I survived Sin City ou Elvis lives! Longe vão os tempos dos gangsters e da máfia que nos anos 1940 chegaram e venceram, construindo os primeiros megacasinos-hotéis-resorts na deserta Autoestrada 91 (o futuro Strip).

Aquele que ficaria para a história como o mais emblemático de todos os novos empreendimentos luxuosos de Vegas foi o Flamingo, inaugurado em 1946 pelo gangster Bugsy Siegal.

Nos anos 50 Las Vegas explode (literalmente). Não só porque os casinos se multiplicaram, mas também porque o mundo poderia acabar amanhã. No deserto do Nevada testavam-se bombas atómicas que estilhaçavam as janelas dos hotéis e deixavam no céu gigantescos cogumelos de fumo. Inconsciente sobre o perigo das radiações, Las Vegas fez aquilo que melhor sabe fazer: lucrar com a situação. Os casinos organizaram festas nas suas suites de cinco estrelas para quem desejasse assistir a uma explosão atómica de flute de champanhe na mão.

A cidade passou a coroar a sua Miss Atomic Bomb e a ter os seus atomburgers. E Elvis passou a ser o Rei "atómico".

Da Europa chegam bailarinas de cancan, de Los Angeles e Nova Iorque aterram Frank Sinatra, Liberace e Sammy Davis Jr. De toda a América chegam a Vegas jogadores à procura de fortuna.

Nesses tempos, batoteiros e caloteiros acabavam com as pernas partidas ou enterrados no deserto do Nevada com um tiro na testa.

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