Fugas - Viagens

Miguel Madeira

Las Vegas, a fogueira das vaidades

Por Joana Amado

Las Vegas, um calor sufocante, horas a (ver) jogar poker, a passear pelo Strip, a comer como se não houvesse amanhã... Um gigantesco parque de diversões sob a égide do dólar, que, por casualidade, até parece ser melhor sítio do mundo para esquecer o problema do défice... Aos nossos viajantes, até lhes sobrou tempo para a panorâmica cinematográfica: guiarem um Mustang até ao Grand Canyon

Esta cidade não nos quer lá fora. Quando se abrem as portas automáticas da zona de chegadas do aeroporto de Las Vegas levamos com um bafo sufocante na cara. Estão 41 graus, não corre uma aragem neste fim de tarde, fim de viagem. Só queremos fumar um cigarro, depois de tantas horas passadas em aviões e aeroportos.

Na rua só estão mesmo outros estóicos, a alimentar o vício e a suportar o calor. De resto, quem sai do aeroporto sustém a respiração e entra directamente nas limusines climatizadas e parte a caminho do Strip.

Os néons começaram agora a ligar-se enquanto o sol se põe no deserto do Nevada. Uma paisagem plana e árida dá rapidamente lugar a uma cacofonia urbana, estranha ao lugar, irreal. Vislumbramos a Torre Eiffel, a Estátua da Liberdade, a torre da piazza San Marco, uma esfinge de Luxor, um castelo da Disney, ... Já passámos o famoso sinal Welcome to Fabulous Las Vegas e a fachada dourada do impecável Wynn leva com os últimos raios de sol e parece estar a arder.

A cidade dá-nos as boas-vindas e engole-nos. É possível passar dias inteiros sem pôr um pé na rua. Os hotéis têm ligações entre eles, escadas rolantes, galerias de lojas, pontes para peões. Os casinos estão dentro dos hotéis, os restaurantes também, os espectáculos, as discotecas, os cinemas, os cabeleireiros, as farmácias, as piscinas, os bancos, as agências de viagem, tudo ou quase tudo nesta cidade está dentro dos hotéis, climatizados 24 horas por dia. E, porque estamos em Las Vegas, podemos fumar nos casinos.

Não é preciso enfrentar a canícula. O nosso destino é o tropicalíssimo Rio - hotel e casino - onde a partir do próximo dia 27 (e até 17 de Julho) se joga a 41.ª edição das World Series of Poker (WSOP), tido como o campeonato mundial do jogo mais in do momento, e à cidade do pecado já começaram a chegar milhares de pessoas vindas de todos os cantos do mundo. Muitos serão portugueses em busca de glória, e, claro, de muito dinheiro.

Como em todos os outros megacasinos-megahotéis de Vegas, são as slot machines que nos recebem, muito antes de percebermos onde é a recepção.

E é serpenteando por entre as mesas de Black Jack que vamos conseguir chegar ao elevador que nos levará ao 107.º andar, onde está o nosso megaquarto, silencioso, climatizado e com umas enormes janelas que não se podem abrir (reza a história mal contada que em Las Vegas as janelas não abrem para evitar os suicídios desesperados de quem perdeu tudo no jogo, mas a explicação mais plausível é que se trata de uma medida para poupar energia).

Lá em baixo há jogos para todos os gostos e para todas as carteiras. Podemos pagar 10 mil dólares para jogar poker, ou esbanjar 50 cêntimos nas slot machines. Há música em todos os cantos, há televisões ligadas por todo o lado, há dançarinas que se esforçam para fazer a sua melhor versão karaoke de Maddona em cima de pequenos palcos ao pé das mesas de jogo. Ninguém precisa de deixar de jogar para comer, porque há ecrãs de poker electrónico encrustrados nos balcões dos bares e dos restaurantes de fast-food e nas mesas de jantar é sempre possível fazer umas apostas de kino (uma espécie de loto omnipresente em todos os casinos de Vegas).

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