Fugas - Viagens

  • Está constituída a Rede de Judiarias Portuguesas. Paulo Pimenta leva-nos a descobrir as judiarias e sua cultura através da fotografia
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Rede de Judiarias Portuguesas: À procura de Sefarad em Portugal

Por António Marujo

Está constituída a Rede de Judiarias Portuguesas. Centros de interpretação, casas de memória, museus, publicações, comunidades de resistentes, bairros cheios de marcas - de tudo isso se faz a rota Sefarad, que a Fugas foi descobrir

Esta rota é muito plural: tem a mais antiga sinagoga do país, um bairro crescido à sombra de uma fonte, uma comunidade viva que resistiu à perseguição e à clandestinidade, um jogo de quebra-cabeças em dezenas de portas, uma casa da memória que já se adivinha, um museu onde nomes e objectos contam uma história de luta e sobrevivência.

A Rede de Judiarias Portuguesas Rotas Sefarad, já constituída formalmente e cujos órgãos sociais foram eleitos a 5 de Abril, incluirá ainda centros de interpretação de cultura judaica, a edição de obras de pessoas que foram perseguidas, centros históricos recuperados. Faltam ainda restaurantes e hotéis com comida casher para aproveitar o que já se produz em Portugal segundo as regras religiosas do judaísmo (ver texto nas páginas seguintes), mas também há vários projectos a caminho.

Para já, integram a rede os municípios de Belmonte (onde ficará a sede), Castelo de Vide, Freixo de Espada à Cinta, Guarda, Lamego, Penamacor, Tomar, Torres Vedras e Trancoso, além das entidades regionais de turismo da serra da Estrela, Douro, Oeste, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve, e ainda a Comunidade Judaica de Belmonte. A Fugas foi à procura de alguns dos vestígios da presença judaica em Portugal.

Belmonte: Uma comunidade de sobreviventes

À ré Brites Rodrigues, natural da Covilhã e residente no Fundão, foi levantado o cárcere e tirado o hábito penitencial em 12 de Dezembro de 1567. O auto-de-fé tinha sido dois meses antes, a 5 de Outubro, com a ré sentenciada em abjuração em forma e cárcere em hábito penitencial a arbítrio. Com 30 anos, Brites foi presa em 15 de Junho de 1567 acusada de judaísmo, heresia e apostasia. Casada com o mercador António Dinis, Brites e a sua história judicial constam do processo 1280 da inquisição de Lisboa.

O resumo do caso de Brites Rodrigues é um dos que constam do Museu Judaico de Belmonte, que completou seis anos no passado domingo e foi visitado por mais de 20 mil pessoas em 2010. A estrutura merece, pela qualidade visual, arquitectónica e artística das peças ali guardadas.

No Memorial das Vítimas da Inquisição, registam-se 210 nomes da Beira Interior (45 dos quais de Belmonte) que foram condenados por aquele tribunal. Mas o museu inclui ainda esculturas, objectos do quotidiano ou peças ligadas ao culto religioso.

A importância do nome e da memória no judaísmo adquire em Belmonte ainda mais significado: aqui, uma comunidade de judeus sobreviveu durante séculos, escondida de tudo e de todos. Vivendo aparentemente conformes ao catolicismo dominante - e ao qual tinham sido forçados a converter-se -, os judeus de Belmonte continuavam, secretamente, a judaizar. Com a abolição da Inquisição, em 1821, os judeus continuaram a viver sob uma monarquia liberal mas oficialmente católica.

Foram redescobertos já em pleno século XX pelo engenheiro de minas polaco, Samuel Schwarz, que veio trabalhar para a região. Mesmo assim, permaneceram receosos, facto agravado pelo Estado Novo, que não olhava com bons olhos as minorias religiosas em Portugal.

Só há poucos anos a pequena comunidade - umas 150 pessoas, diz o seu presidente, António Mendes - começou a sair da clandestinidade. A tal ponto que, finalmente, voltou a ter uma sinagoga. Ao entusiasmo do actual rabino, Elisha Salas, não será alheio o facto de a comunidade ter começado a contratar com empresas da região a produção de alimentos casher - vinho, azeite, pão, sumos. Para breve, já se fala em projectos de hotéis e restaurantes com comida casher, preparada segundo as regras judaicas.

O rabino é também o animador de um curso de hebraico, frequentado por 18 pessoas - ligadas ao turismo, na maior parte dos casos. Na comunidade, as pessoas sabem pelo menos o hebraico para ler a Tora e fazer as orações bíblicas.

Estes são os sinais visíveis da presença de judeus - já que, em Belmonte, ela teve que ser dissimulada o mais possível. "Seria difícil sobreviver se houvesse sinais exteriores", diz António Mendes, presidente da Comunidade Judaica, agente da GNR aposentado.

A sinagoga Beth Eliahu (ou Casa de Eliahu), inaugurada em Kislev de 5757 (como quem diz, Dezembro de 1996) foi construída pela dádiva de um judeu marroquino.

Edificada numa ponta da vila, num promontório que desce a pique sobre um vale, tem no centro da sala de culto uma candeia. É o símbolo dos judeus de Belmonte, acesa de sexta ao final da tarde até ao pôr do sol de sábado. Mas sagrado não é o espaço, afirma António Mendes. "Sagradas são as escrituras." E, em epígrafe, uma frase de Barros Basto, que tentou apoiar o desenvolvimento da comunidade de Belmonte na primeira metade do século XX: "Adonai [Deus] está no seu templo sagrado. Na sua presença toda a terra permanece em silêncio."

Guarda: Ruas e casas da memória de exílios

É no Largo de São Vicente, onde mercadores judeus e cristãos se encontravam, que começava a judiaria da Guarda. Terá sido, diz Vítor Pereira, 36 anos, arqueólogo e funcionário municipal, uma das mais importantes da Beira Interior, referida já no século XIII, pouco após a fundação da cidade. Mais importância teve ainda depois da expulsão dos judeus de Espanha, decretada em 1492. Trinta mil judeus terão passado para Portugal só pela fronteira da Guarda.

Séculos depois, a fuga e o exílio voltaram a passar pela Guarda: graças a Aristides de Sousa Mendes, o cônsul português em Bordéus na época da II Guerra Mundial, muitos judeus entraram de novo em Portugal pela fronteira de Vilar Formoso, ali perto.

Para recordar essas histórias de exílios, a Câmara Municipal prepara-se para reconverter o antigo edifício dos paços do concelho, do século XVIII, que já albergou uma mediateca, numa Casa da Memória dedicada ao cônsul.

"Aristides Sousa Mendes é importante na Guarda, porque ele fecha um ciclo, depois da expulsão do século XVI", diz Elsa Fernandes, vereadora do executivo municipal.

O projecto pretende dotar a cidade de um centro de investigação, mas também desenvolver a relação das pessoas com a memória judaica da urbe, envolvendo-as na preservação de ruas e casas.

As perseguições não foram alheias à própria localização da judiaria da Guarda, que estaria perto da saída da cidade. Dentro do bairro judeu, onde muitas casas eram propriedade do rei, havia uma sinagoga, um mercado, a atafona (moagem do pão) e poços de abastecimento de água, além de um cemitério próprio.

Antes da ocupação da zona de São Vicente, descreve Maria José Ferro Tavares, teria sido ocupada a judiaria velha, acima da Porta d'El Rei. Entre os ofícios mais frequentes entre os judeus estavam os sapateiros, ferreiros, tecelões, alfaiates, mercadores e físicos.

Hoje mais cuidada do que há alguns anos, a judiaria da cidade já não guarda esses vestígios. Mas muitas casas e as ruas mantêm ainda o traço do bairro do final da Idade Média - pelo menos nas fachadas. "Os judeus não deixavam uma marca específica no urbanismo nem na arquitectura", explica Vítor Pereira.

Há, no entanto, uma elevada concentração de cruciformes - sinais nas ombreiras das portas. Uma forma de assinalar que quem ali morava eram cristãos-novos? Uma provocação dos cristãos velhos? Ou uma forma de cristianizar ou sacralizar o espaço, depois de os judeus terem saído? Não se sabe.

Outras memórias coleccionou Telmo Cunha, engenheiro electrotécnico. Com uma casa em plena judiaria - que na realidade corresponderá a três casas antigas -, foi-a preenchendo de objectos, peças de arte, livros e mobiliário relacionados com a presença do judaísmo na cidade e no país. Pensou em fazer um hotel de charme, não avançou por falta de coragem para lutar contra a burocracia. Mas diz que agora talvez. O impulso da Rede de Judiarias pode ajudar.

Trancoso: Um jogo de pista

Vamos a um jogo de pista? É Maria Rosa Pinto que, espreitando à janela, pergunta, apontando para a ombreira da porta em frente: "Já encontraram além a cruzinha?" Confirma, a seguir, que a casa antiga ao lado da sua será recuperada. Foi ela que a comprou e as pedras irão ser lavadas, ficando com a traça original.

Estamos na Rua da Alegria, junto da primeira muralha. Seria uma das principais vias da judiaria de Trancoso. E a cruzinha que Rosa Pinto nos pede para descobrir é apenas uma das muitas dezenas que se podem ver na vila. Em diferentes tonalidades, consoante a luz do sol e a hora do dia.

São marcas judaicas ou supostamente relacionadas com o judaísmo. Uma outra, reproduzindo quatro caracteres hebraicos, em forma de dois i e dois l voltados ao contrário, pode querer dizer "horror".

"Já se pode afirmar hoje com alguma segurança que não terão sido cristãos-velhos a gravar estes caracteres", diz Carla Santos, historiadora, que está a trabalhar na identificação do património judaico de Trancoso. Um levantamento feito já por Carmen Ballesteros identifi cou que quase todas as marcas são cruciformes.

Coloca-se, aqui, por isso, a mesma questão que na Guarda: marcas feitas por judeus para atestar a sua suposta conversão? Marcas de cristãos para humilhar judeus? Ou para afirmar a cristianização das casas, uma vez expulsos os seus anteriores proprietários?

Nada se sabe sobre a propriedade das casas dos judeus de Trancoso, explica Maria José Ferro Tavares. Ao contrário do que acontecia na Guarda, aqui as casas não eram da Coroa. Sabe-se, no entanto, que um quinto da população (150 em 800 moradores) era judaico em 1496, pouco antes do édito de expulsão. Uma comunidade importante. A tal ponto, conta Carla Santos, que, em 1481, os judeus pediram ao rei a ampliação da sinagoga.

Marcas misteriosas são as da chamada "casa do gato preto" ou "casa do rabino", por supostamente ter sido sinagoga - que, também já se sabe, não corresponde à realidade. Na fachada do palacete, datado da transição do século XIX para o XX, há quatro mísulas em forma de cabeças, um imponente leão de Judá, uma pomba e uma fi gura de um judeu inclinado com a mão na cabeça.

Marcas há para todos os gostos: um IHS, acrónimo para Jesus, ou um AM, abreviatura de Ave-Maria. Descobre-se ainda um círculo com um pentagrama - até ao início do século XX, a estrela de Salomão poderia ter sido usada por judeus ou por adeptos da cabala. E também uma cruz grega numa outra porta.

Enigmas destes pedem um roteiro das marcas judaicas, cuja edição está a ser preparada. E também um Centro de Interpretação da Cultura Judaica. Que irá nascer até final do ano, diz o presidente da câmara, Júlio Sarmento. E que homenageará o nome de Isaac Cardoso, médico, filósofo e escritor polémico que nasceu na região e foi morrer no exílio. O edifício, que será construído a partir da recuperação de uma ruína segundo um projecto de Gonçalo Byrne, está numa esquina junto da Rua do Poço do Mestre. O mestre que, entre os judeus, seria o rabino.

Tomar: A mais antiga sinagoga

Onde hoje está a Igreja da Conceição, em Lisboa, teria estado a Grande Sinagoga da capital. Uma lápide na Sinagoga de Tomar, do início do século XIV, recorda, em caracteres hebraicos, o lugar de culto judaico em Lisboa: "Esta é a porta do Senhor pela qual os justos entrarão. Entrai pelas suas portas com graças e em seus átrios com louvor."

A Sinagoga de Tomar é, hoje, quase só um repositório de memórias. De quem por lá passou (mais de 28 mil visitantes em 2010), mas também do tempo que já passou pelo edifício e que deixou marcas. Obras de recuperação já pensadas tardam em começar e o aspecto não é o mais cuidado.

Luís Vasco, 73 anos, guardião do edifício desde há 27 anos, tem pena que ninguém vele melhor por esta memória da presença judaica em Portugal. A sinagoga terá sido construída entre 1430 e 1460, mas serviu os seus fi ns durante pouco tempo: no fi nal desse século, os judeus já não podiam ser judeus em Portugal, por ordem de D. Manuel.

A sinagoga foi mais tarde cadeia, capela e casa térrea. Classifi cada em 1921 como monumento nacional, foi comprada em 1923 por Samuel Schwarz, engenheiro de minas que veio trabalhar para Portugal e acabaria por trazer à luz do dia os judeus escondidos de Belmonte. Schwarz doaria em 1939 a sinagoga ao Estado português, com a condição de ali ser instalado um museu luso-hebraico. Mas, não fosse o zelo de Luís Vasco e da mais recente Associação dos Amigos da Sinagoga de Tomar, e o museu estaria hoje ainda em piores condições.

O que se vê na sinagoga são doações de judeus que por lá passam. A Arca Sagrada, onde são guardados os rimorin onde são enrolados os textos bíblicos, foi oferecida por Moses Meir, em 1992. Quando vem um grupo de judeus, normalmente rezam na sinagoga. A sala tem no meio quatro colunas que honram as quatro matriarcas do judaísmo: Sara, Rebeca, Lia e Raquel.

Situada na Rua da Judiaria, a sinagoga é apenas uma das memórias da presença judaica em Tomar. No restaurante Alminhas, ali a poucos metros, a parede guarda os vestígios de uma porta que servia para as diferentes casas de judeus comunicarem entre si. Quando, à noite, a judiaria era fechada, os judeus podiam continuar a circular de umas casas para as outras através dessas portas.

Castelo de Vide: Um bairro à volta da fonte

É no largo da Fonte da Vila que se descobre o centro do que foi a judiaria de Castelo de Vide - um emaranhado de pequenas ruas, que em muitos casos mantêm a toponímia judaica, voltado para Espanha e com pouca exposição solar, tendo em conta a estreiteza das ruas.

Disposto em concha, sobre o vale defronte de Castelo de Vide, em volta da fonte, o bairro judeu é hoje uma memória física. Várias casas guardam ainda a ranhura para colocar a mezuza - o pequeno rolo onde os judeus tinham a oração do Shemah Isarel, a profissão de fé judaica: "Escuta, Israel, o Senhor é o teu Deus, o Senhor é um." Essas ranhuras nas portas mostram, diz Maria José Ferro Tavares, que havia judeus a viver entre os cristãos.

O bairro não terá sido muito grande, mas ele contém aquela que será a maior colecção de portas ogivais da Península Ibérica, diz António Pita, vice-presidente da câmara. Notável é também o número de portas duplas em cada casa: a porta estreita para a casa, a larga para a loja ou o armazém.

Berço de gente célebre - Garcia d'Orta nasceu em Castelo de Vide -, a judiaria era o lugar onde se concentravam os artesãos. No final do século XV, a vila terá ganho mais alguns judeus que por ali fugiram para Portugal, depois de expulsos de Espanha.

O Museu da Sinagoga, único edifício de um só piso na judiaria, é um achado na arte de guardar memórias. Apesar de algumas das salas serem pequenas, a arquitectura conseguiu criar espaços intensos de relação com a memória. Desde os objectos - um lava-mãos do século XV, mezuzas, hanukiás (candelabros da Festa das Luzes), panelas, almofarizes, púcaros, louça, botões, moedas... - ou os nomes dos judeus de Castelo de Vide que foram alvo de processos da Inquisição. Mais de 27 mil visitantes no ano passado confirmam o sucesso deste museu aberto em 2009.

Castelo de Vide guarda também a memória cultural do judaísmo. A Páscoa é, aqui, uma mescla de tradições cristãs e judaicas. Desde a Bênção dos Cordeiros, que decorre hoje mesmo, na manhã de Sábado Santo, até à "chocalhada", que no sábado à noite põe toda a vila a tocar centenas de sinos e chocalhos.

O que ler: Uma minibiblioteca do judaísmo português

Apesar de não abundar a literatura sobre o judaísmo português, é já possível construir uma pequena biblioteca sobre os trajectos do sefardismo e do marranismo. Destacam-se alguns títulos, sem preocupação exaustiva.

Dois dicionários condensam nomes, biografias e temas: "Dicionário do Judaísmo Português" (coordenado por Lúcia Liba Mucznik e outros) e "Dicionário Histórico dos Sefarditas Portugueses - Mercadores e Gente de Trato" (dirigido por A.A. Marques de Almeida).

Jorge Martins publicou em três volumes a obra "Portugal e os Judeus", que depois sintetizou na "Breve História dos Judeus em Portugal". No mesmo registo, pode ler-se o texto fundamental de Carsten L. Wilke, "História dos Judeus Portugueses".

Ainda no domínio da história do judaísmo português, podem ler-se "A Herança Judaica em Portugal" e "As Judiarias de Portugal", ambos de Maria José Ferro Tavares.

Sobre trajectos mais específicos, foi agora reeditada a obra já clássica de Samuel Schwarz sobre os judeus de Belmonte, "Os Cristãos-Novos em Portugal no Século XX". Maria Antonieta Garcia estudou o "Judaísmo no Feminino" e "Os Judeus de Belmonte", também investigados por David Augusto Canelo em "Os Últimos Criptojudeus em Portugal". António Carlos Carvalho contou a história d' 2Os Judeus do Desterro de Portugal", Avraham Milgram publicou um ensaio sobre "Portugal, Salazar e os Judeus" e Fátima Sequeira Dias estudou os judeus dos Açores nos séculos XIX e XX em "Indiferentes à Diferença". Em tempo de centenário republicano, Jorge Martins estudou ainda as relações mútuas entre "A República e os Judeus".

Não sendo judeu, Aristides de Sousa Mendes salvou milhares de vidas de hebreus e o seu retrato foi escrito por Rui Afonso em "Um Homem Bom". Outros perfis biográficos são os de "Gracia Nasi", a mais importante judia sefardita portuguesa, contada por Esther Mucznik, e "Jacob de Castro Sarmento", de António Júlio de Andrade e Maria Fernanda Guimarães. Estes mesmos autores recuperaram uma saga familiar em "A Tormenta dos Mogadouro na Inquisição de Lisboa". Elvira de Azevedo Mea e Inácio Steinhardt contam a história do capitão Barros Basto, ou Ben Rosh, que procurou resgatar do esquecimento os marranos de Belmonte. E João Vila-Chã conta, em inglês, a vida e obra de Judah Abravanel: "Amor Intellectualis? Judah Abravanel and the Intelligibility of Love".

Texto clássico de um judeu português, a "Consolação às Tribulações de Israel", de Samuel Usque, está também disponível. E Ana Bela Santos cruza registos históricos com a ficção em "Fala Yael Castelo de Vide, os Judeus e a Inquisição".

Onde comer

Tomar

Restaurante Chico Elias
Rua Principal 70
Algarvias
Tel.: 249 311 067

Restaurante Alminhas
R. Dr. Joaquim Jacinto, 48 A
Tel. : 249 346 594
restaurante.alminhas@gmail.com

Castelo de Vide

Restaurante D. Pedro V
Praça D. Pedro V, 10 R/C Esq
Tel.: 245 901 236
www.dpedrov.com.pt/

Casa do Parque
Avenida da Aramenha, 37
http://www.casadoparque.net/

Belmonte

Casa do Castelo
Largo de S. Tiago
Tel.: 275 181 675
http://www.casadocastelo.net/

Restaurante O Grelhador
R. Rosas, 184 R/C
Tel.: 275 913 194

Guarda

Restaurante Aquarius
Av. Cidade Salamanca 3 A-B
Tel.: 271 230 157
aquarius@efeitodigital.com

Restaurante Casas do Bragal
João Bragal de Baixo
Tel.: 271 963 896/ 271 963 825
www.casasdobragal.com/

Trancoso

Restaurante Típico Rota dos Cavaleiros
Av. Sá Carneiro, 6
Tel.: 271 812 668

Restaurante Venâncios
Av. Comunidade Europeia
Tel.: 271 812 456

Onde dormir

Tomar

Hotel dos Templários
Largo Cândido dos Reis, 1
Tel.: 249 310 100
www.hoteldostemplarios.com/

Estalagem Santa Iria
Tel. : 249 313 326
www.estalagemsantairia.com/

Castelo de Vide

Hotel Castelo de Vide
Av. Europa
Tel.: 245 908 210
http://www.hotelcastelodevide.com/

Hotel Sol e Serra
Av. da Europa
Tel.: 245 900 000
http://www.grupofbarata.com/

Belmonte Hotel Belsol
Quinta do Rio - Belmonte
Tel.: 275 912 206
www.hotelbelsol.com/

Pousada Convento de Belmonte
Serra da Esperança - Belmonte
Tel.: 275 910 300
www.conventodebelmonte.pt/

Guarda

Hotel Vanguarda
Av. Monsenhor Mendes do Carmo
Tel.: 271 208 390
http://www.naturaimbhotels.com/

Hotel Pombeira
Lugar da Pombeira, Estrada N16
Tel.: 271 230 260
www.hotelpombeira.com/

Trancoso

Hotel Turismo de Trancoso
R. Professora Irene Avillez
Tel.: 271 829 200
www.hotel-trancoso.com/

Residencial Dom Dinis
Av. República, 10
Tel.: 271 811 525
http://www.domdinis.net/

MAIS

O pão casher é muito mais que pão

Fotogaleria "A Rede de Judiarias Portuguesas"

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