Fugas - Viagens

Nelson Garrido

Granja do Tedo: Entre lendas

Por Andreia Marques Pereira

Não é exactamente um segredo, mas também não caiu na boca do mundo. E todos agradecem. No Café D. Tedon, Manuel Fernandes explica: "Vêm amigo de amigos, de conterrâneos". E assim a praia fluvial de Granja do Tedo (Tabuaço) permanece coutada de uns poucos forasteiros e de muitos locais - que é como quem diz, de uma vizinhança alargada: não é que Moimenta da Beira seja alargada (na verdade, é já ali), mas há duas décadas esta praia era o segredo para um Verão refrescante, asseguram-nos.

Entretanto, a praia da Granja do Tedo sofreu obras de beneficiação e até perdeu alguma água - já não acontecem as romarias dos primeiros anos de abertura "oficial", mas este ano, dizem, o nível de água está muito bom, novamente.

Requalificada, sim, ainda que neste sábado de final de Maio permaneça deserta (de qualquer forma, "os domingos são os dias de enchente", assegura Manuel Fernandes). O que não significa (totalmente) abandonada: a relva está aparada e verdejante, as sebes geométricas; mas a areia ainda está escura das intempéries invernais e o bar, edifício de madeira rodeado de alpendres, permanece encerrado - e é um passadiço de madeira escura que divide as duas áreas, tal qual uma risca ao meio. E o pequeno rio Tedo só não é uma risca, porque serpenteia aqui, faz uma curva para se desfazer em mini cascatas que seguem povoação fora, alargando-se e estreitando-se ao sabor dos caprichos topográficos. Porém, divide: e na outra margem há um jardim formal e um parque de merendas - um pouco mais retirado, um parque de jogos.

É aqui ao lado que espreitamos primeiro o rio, o leito não muito cheio mas ainda assim disciplinado por uma pequena represa, que antecede a zona de banhos. Quem o vê assim tão plácido quase não acredita que há 50 anos, mais ano menos ano, levou uma série de casas à frente, conta Maria Conceição Oliveira. Não é difícil trocar ideias sobre a Granja do Tedo com os seus habitantes, há um orgulho indisfarçável nas suas palavras quando apontam os sabugueiros em flor, a explosão de brancos que Maio traz, e quando contam estórias da história. Afinal, esta não é mais uma típica idílica aldeia no fundo de vale, com praia fluvial e ponte imponente e vetusta (seiscentista, no caso, arco perfeito realçado em guias) disponível a todos os postais que queiramos fotografar. É isso tudo, pressente-se o Douro e é também um território de lenda(s).

Sim, sabíamos que Tabuaço tem necrópoles e menires, arte rupestre, citânias, vias romanas; Granja do Tedo tem D. Tedon, o "mito fundador": diz-se ter sido um neto do rei de Leão, outros do El Cid, que construiu aqui a sua residência - há quem aponte como lugar desta "granja" o Monte Rei, banhado pelo rio Tedinho e onde terá morrido um rei mouro. Porém, no café D. Tedon, as histórias que ouvimos são de amor: amor de D. Tedon por uma princesa moura, Ardínia (há alguma terra em Portugal sem uma moura mais ou menos encantada?). Ouvimos ainda da boca de Maria Conceição e de Manuel Fernandes a história (por vezes contraditória) da mulher-homem (mulher que no século XIX se vestiu de homem e se juntou ao exército) e lemos sobre a cisma da Granja do Tedo (também em oitocentos) e percebemos o quão especial é a pequena localidade de pouco mais de 200 habitantes, povoada de solares, casas brasonadas e azenhas à beira-rio.

Uma delas está recuperada, junto à praia fluvial "oficial". Porque nestas coisas há sempre segredos: e na Granja do Tedo chama-se Poço de Ferro. Maria Conceição tomou lá banho na sua juventude, décadas depois Isabella Sousa ficava-se pelas rochas, a apanhar sol. "Tinha medo", confessa, "mas os meus amigos iam todos". Medo do poço circular, escavado na rocha pela cascata que o ribeiro Leomil ali forma - estamos a descrever o que ouvimos, não conseguimos chegar lá. Um oásis no meio de monte, no fundo de uma ribanceira pedregosa, águas "não frias, geladas", onde "os rapazes da serra iam enrijecer os músculos", recorda Isabella Sousa. Já não vai lá há anos, confessa, mas não tem dúvidas: "É um tesouro".

Como ir

É em Tabuaço que se encontra Granja do Tedo: a 153 quilómetros do Porto e a 415 quilómetros de Lisboa. Do Porto, o melhor é seguir o IP4 em direcção a Vila Real e continuar na A24 até Armamar/ Valdigem. Aí, seguir para Parada do Bispo, atravessar Travanca e Lapinha - depois, Granja do Tedo. De Lisboa, seguir a A1 até Albergaria-a-Velha. Depois tomar a A25 em direcção a Viseu. Apanhar a A25 até Armamar/Valdigem e seguir o percurso do Porto.

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