Fugas - Viagens

Adriano Miranda

Praias de Omã, oásis à beira-mar

Por Andreia Marques Pereira

Nas costas do Golfo Pérsico, Omã continua a ser um segredo bem guardado. Porém, os seus recifes de coral já começaram a tornar o país um pólo de atracção para mergulhadores. Um passeio por praias que se abrem em baías entre desfiladeiros. Umas, parecem ser mesmo quase secretas. Outras, poiso de resorts.

O operador do serviço ao cliente da companhia de telemóveis pediu para soletrar - Mas-ca-te, O-mã. A impaciência levou a ensaiar um m-a-s-c... Porém, um mea culpainterrompeu-nos - tinha finalmente surgido Omã, o país, Mascate, a sua capital, e uma série de operadoras com convénio com esta empresa portuguesa: "Nunca tinha ouvido falar". Não conhecia e como ele muitos: este país da Península Arábica é ainda um grande desconhecido e quando ali desembarcámos também não sabíamos bem o que esperar. Aos viajantes, os sites da Internet aconselham todos os cuidados para um país muçulmano, nomeadamente no vestuário - desembarcámos com um grupo de turistas, cada qual com a sua moda, e não vimos dois olhares para saias curtas, calções, camisolas de alças, que podem ser desconfortáveis apenas pelo sol que manhã a romper já queima (é início de Abril). Cobrir os cabelos e os ombros, só na Grande Mosque o exigem - e tudo isto sem cara de censura, num país que se abre em sorrisos facéis. 

Se durante muitos anos Omã esteve fechada ao mundo, o mundo começa agora a descobrir o sultanato - sobretudo as suas águas. De há alguns anos para cá, Omã tornou-se um spot de referência para o mergulho e só podemos imaginar que Omã subaquático seja o negativo de Omã terrestre. As suas flora e fauna marinhas são afamadas pela diversidade e quantidade (perde um pouco quanto à limpidez para Sharm El Sheik, por exemplo); em terra circulamos por uma paisagem quase lunar, de pedras e pó, desfiladeiros e montes rapados. E circulamos em grande, por estradas e auto-estradas modernas, que a insistência do homem ladeou de palmeiras em alguns troços - e até de canteiros de flores e árvores também floridas, quedas de água artificiais contra paredes de rocha, e aqui estamos a sair da "cidade velha" de Mascate em direcção a uma das praias que lhe dão fama, Bandar Al-Jissah. 

Está a oito quilómetros - para trás ficam o palácio do sultão a que obras recentes emprestaram um ar mais majestoso, e a herança portuguesa. Se há quem diga que em Omã só há para ver fortes e fortalezas (e essa é uma sentença redutora), esses são os resquícios da passagem do império português (o Al Jalali e o Al Mirani cunham indelevelmente a arquitectura de Mascate velha), que por estas paragens assentou desde o início do século XVI até meados do seguinte, controlando sobretudo a costa (o Estreito de Ormuz faz parte do sultanato) e deixando as fortalezas que são, na verdade, o aspecto mais marcante do horizonte de Mascate antigo, onde cada elevação - e são muitas - está coroada por torres. Estas já não estão no horizonte quando avançamos pela via rápida, passando baías e marinas que se abrem quase em desfiladeiros.

Bandar Al-Jissah é também ela uma baía, mas não se vê da estrada principal, é um quase segredo, portanto: chegamos a ela por um caminho de terra, rodeado de montes que vão passando do ocre ao laranja. Estacionamos junto a um bar de praia de aspecto meio arruinado - mas a funcionar - entre vegetação rasteira de aspecto sedento. Ainda não vimos o mar, que afinal está logo ali e o cenário é de postal. A baía abraça um pedaço de mar de várias tonalidades de turquesa, salpicado por formações rochosas mais ou menos caprichosas, rodeado de íngremes montanhas rochosas alaranjadas. A areia não é propriamente dourada mas é fina q.b. e estende-se por cerca de 500 metros que o mar tranquilamente lambe sob o olhar atento de algumas palmeiras (pela areia e palmeiras, considera-na mais semelhante a um oásis do que propriamente uma praia). Tranquilidade é o que define este pedaço de praia - há um grupo de rapazes abrigados num guarda-sol de madeira e folhas de palmeira (o único em todo o areal), sobre tapetes, que parecem não ter qualquer interesse no mar que ali baloiça ao ritmo de uns poucos barcos. Somos nós, eles e alguns outros homens que vão surgindo caminhando à beira-mar, calças arregaçadas e pés timidamente no mar.

É, dizem-nos, uma das menos congestionadas das "grandes" praias de Mascate (Qurum e As-Sawadi completam o trio - mas entre estas, e para além destas, há uma série de baías secretas onde o isolamento pode ser total) e é entre sexta-feira e domingo que mais se enche de locais - nessa altura, o parque infantil deixa de parecer abandonado. Durante a semana é uma praia escondida e parece nossa.

Na baía seguinte - e o melhor é regresar à estrada ou então enfrentar uma subida livre pelos penhascos - a praia é mais pequena, menos dramática e privada. Do Oman Dive Center. Há bilheteira na entrada, parque de estacionamento com jipes e táxis, um edificio térreo, arquitectura árabe alvíssima a reflectir os raios de sol. Transposto este obstáculo, vemos novamente as águas turquesas desta vez atravessadas por um longo passadiço que conduz a vários barcos. 

Aqui, o areal tem um cenário de palmeiras cuidadosamente alinhadas por detrás - numa das pontas entrevêem-se os barasti, cabanas de canas e telhados de folha de palmeira que servem de alojamentos mais informais (do outro lado da irregular baía vêem-se as urbanizações modernas) - com espreguiçadeiras à sombra, onde são estrangeiros, muitas famílias com carros de bebé incluídas, que se instalam. Alguns estão ainda no terraço do grande edificio, esplanada inexpugnável pelos raios de sol e piscina ao lado. O campo de voleibol mais ou menos improvisado entre arbustos floridos e poucas palmeiras está deserto, como está uma tenda de praia ao estilo árabe: tecto de folhas de palmeiras, colunas que são panos brancos e balcão redondo a dominar o espaço de mobiliário de madeira escura rasante ao chão, sofás, grandes almofadas, candeeiros de vários devaneios arabescos.

Há gente na água, gente que percorre o passadiço carregando barbatanas e óculos de mergulho - afinal, o mundo subaquático é a razão de ser desta praia privada. As saídas são constantes, para mergulho, snorkeling e observação de golfinhos e baleias.

Uma praia dividida, mas unida pelas mesmas águas serenas e quentes que escondem todo um mundo que se quer dar a conhecer. 

Omã tem sido apontado como uma das novas mecas do mergulho mundial e não se tem poupado a esforços para bem receber os mergulhadores e turistas em geral. A modernização das últimas décadas - o responsável é o sultão Qaboos, cujo nome vemos repetido até à exaustão em ruas, praças, edificios e monumentos - vê-se por todo o lado, seja circulando pela parte velha de Mascate ou pelas auto-estradas que ligam a cidade, algo tentacular; no que ao turismo diz respeito, não faltam hotéis eresorts capazes de agradar ao mais viajado turista. No mergulho, recentemente até se afundou um navio para criar corais artificiais. As praias, esas, são abundantes - e se há as cosmopolitas enquadradas pelos hotéis e resorts, há as desertas: só sol, mar transparente e areia nas costas do Golfo Pérsico.

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