Fugas - Viagens

  • Dois artistas franceses. Um piano. Uma bicicleta solar. Uma odisseia pela Europa: há mais de um ano que Christophe Clavet e Lou Nils pedalam pelo continente e param onde lhes apetece. Sacam de um verdadeiro piano e a pianista começa a tocar. Sempre em locais inesperados. Durante alguns meses estiveram em Portugal. Contamos a história na Fugas de 11 de Junho. Esta é uma fotogaleria da autoria dos artistas. Um intróito para a Pianotrip que pode ser apreciada globalmente em http://www.pianotrip.com.
    Dois artistas franceses. Um piano. Uma bicicleta solar. Uma odisseia pela Europa: há mais de um ano que Christophe Clavet e Lou Nils pedalam pelo continente e param onde lhes apetece. Sacam de um verdadeiro piano e a pianista começa a tocar. Sempre em locais inesperados. Durante alguns meses estiveram em Portugal. Contamos a história na Fugas de 11 de Junho. Esta é uma fotogaleria da autoria dos artistas. Um intróito para a Pianotrip que pode ser apreciada globalmente em http://www.pianotrip.com.
  • Lisboa. Praça do Comércio. Maio 2011. Actuação onírica com piano e faixa onde se lê Substitui o medo do desconhecido por..
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  • Lisboa. Maio 2011. Miradouro das Portas do Sol
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  • Lisboa. Maio 2011. Oceanário
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  • Lisboa. Maio 2011. Oceanário
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  • Lisboa. 25 de Abril de 2011. Em frente à Estação do Rossio
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  • Lisboa. Maio 2011. No topo de um prédio em Telheiras
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  • Arez. Alentejo
    Arez. Alentejo
  • Niza
    Niza
  • Beira Baixa. Abril 2011
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  • Monsanto. Idanha-a-Nova
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  • Alentejo. Almograve. Junho 2011
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  • Bulgária. Junho 2010
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  • Eslováquia. Outubro 2010
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  • Hungria. Piscinas de Mako
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  • Nas montanhas dos Balcãs
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  • Rumo à Grécia
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  • O primeiro dia. Partida de Annecy. 27 Fevereiro 2010. Bicicleta solar
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  • Bulgária. Junho 2010
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  • Relatório em desenho do estado de saúde da bicicleta baptizada de Zorba
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  • Porto de Tarifa
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  • Cinemateca de Tânger
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  • Lisboa. Praça do Comércio
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  • Lisboa. Espaço Post em Benfica
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  • Desenho. Em Monsanto. Sempre de malas prontas
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Este piano está a atravessar a Europa por dentro

Por Luís J. Santos (texto). Fotos de Clavet/Dufouleur

Um casal francês e um piano de quase 200 quilos a viajar pela Europa numa bicicleta movida a energia solar. Em 15 meses, Lou e Chris percorreram uma dezena de países, Portugal incluído, nesta Pianotrip: o piano pára onde quer, seja aldeia, bosque ou cidade, e a pianista toca espontaneamente. Objectivo: cruzar realidades e a imaginação, tornar o impossível realisticamente possível. Uma viagem em todos os sentidos.

25 de Abril, domingo quente em Lisboa, entre a Estação do Rossio e o Teatro Nacional Dona Maria II. O desfile do Dia da Liberdade acaba de passar, deixando um rasto de festa e contestação. Chega uma bicicleta com um atrelado. É estacionada a um cantinho. Começam a surgir peças, madeiras. Subitamente, erguem-se um completo piano e uma pianista sorridente. Surge a música no meio do povo. Uns param, outros aplaudem, outros deixam até umas moedinhas; todos de olhos arregalados e sorriso de surpresa. No meio da actuação, alguém deixa um cravo vermelho sobre este piano viajante que decidiu, por mero acaso, parar no coração da cidade e no mais libertador dos dias, para dar música à imaginação.

É um momento no tempo, um dos muitos que Guillemette Dufouleur - ou Lou, pianista, escritora, actriz (não em vão, especialista em teatro em movimento) - e Christophe Clavet - ou Chris, fotógrafo e desenhador - têm vindo a semear pela Europa durante os últimos 15 meses na sua Pianotrip, um projecto de pianoviagem a dois que já passou por uma dezena de países, feita com a ajuda de uma bicicleta solar que transporta o instrumento, um real piano com uns 170 quilos. A ideia do casal francês consiste em "cruzar a realidade europeia" e na "acção espontânea de colocar um piano exactamente onde ele não seria esperado, tocando de forma efémera para as pessoas presentes", sendo que cada momento é registado em fotografia (e vídeo), a viagem vai sendo relatada na net e, no final, haverá um documentário, "um inventário aleatório do mundo que nos rodeia, feito de encontros e conexões".

Para tocar, qualquer cenário ou paisagem servem. O piano chega, é montado e Lou começa a tocar para quem quer que passe. Ouve-se Bach ou Nirvana, Rachmaninov ou Radiohead, Mozart ou Paolo Conte. Mas o mais importante é o momento de partilha e de diálogo, além da abertura súbita da imaginação. Porque "isto não é "apenas" uma viagem". "Na nossa geração, podemos ir onde queremos, quando queremos, a Europa agora não tem fronteiras, tem-las económicas, sim, mas não geográficas. Somos a primeira geração com esta oportunidade. Por isso, pomos o piano numa bicicleta e fazemo-lo viajar. Dá-nos algo mágico, que não controlamos, a disponibilidade para dar algo às pessoas e também receber, conhecer a realidade dos outros. Há algo de especial nisso", resume Lou.

É a vida, é o movimento, estamos no grande movimento de uma viagem, e usamo-lo para criar uma acção." E, sublinhe-se, levam o acaso a peito: quase não usam o telemóvel - nem para esta conversa foi fácil apanhá-los, como se não quisessem forçar estes encontros. "O mais importante do nosso projecto é concretizá-lo, não é falar sobre ele. Claro que aparecemos nos jornais, na televisão. Mas não planeamos momentos para os media. Não criamos esses momentos, são reais."

Para levar avante este continuum de instantes, contaram com o apoio de diversas instituições e empresas francesas e europeias e, depois dos últimos meses em Portugal, uma "experiência fantástica", a odisseia deve estar por esta altura a cumprir o Sul de Espanha. Deve. Porque o projecto segue o seu próprio tempo, na espuma dos dias.

Começaram a pedalar vindos de Annecy, Alpes franceses, em Setembro de 2010, deveriam ter terminado no Outono passado. Mas continuam. "Talvez" terminem no Outono, dizem. Porque é a real vivência da imaginação que os leva. E é a surpresa da imaginação que eles têm levado a cada um dos mais de 4000 km já percorridos. "Sejamos realistas, exijamos o impossível", sublinha Lou, "políticas à parte", citando um dos seus motes preferidos, assinado Che Guevara.


Missão: abrir o sonho

Lou e Chris não são músicos de rua strictu sensu nem turistas nem os normais viajantes. "Muitas vezes somos confundidos com músicos de rua. O que não tem problema. Por vezes, pomos até a caixinha para moedas. "És um pedinte ou uma estrela?". Oops... Ambos?" Uma dezena de países depois, confessam que só conhecem os sítios e paisagens por onde passam através das acções musicais e das pessoas com que se vão cruzando. 

Nada de museus ou saídas para frequentar bares. "Um piano a viajar pela Europa numa bicicleta solar é mais importante do que uma boa viagem da Lou e do Chris, compreendes?" "É um trabalho"; "um projecto", "uma missão", vinca a pianista, neste momento sem piano à frente, porém ritmando cada ideia com os dedos como se tocasse teclas imaginárias. Isto anda tudo ligado com "viajarmos para o desconhecido e deixarmos a nossa imaginação vogar", "sentindo-nos vivos de curiosidade", escreverão mais tarde numa troca de mails. Isto é tudo para "abrir o sonho nas nossas realidades modernas". São actos musicais aparentemente efémeros, mas eternos na memória de quem os vivencia.

E já são muitos milhares a guardar estes quadros-memória: de França, o casal seguiu por Itália, Grécia, Bulgária, Roménia, Hungria, Eslováquia, Eslovénia, Áustria, deu um salto a Marrocos, passou levemente por Espanha e depois chegou a Portugal - onde, graças a uma residência artística em Monsanto, Idanha-a-Nova, pôde descansar de um ano de pedais e resguardar-se do Inverno europeu.

A Primavera trouxe-os a Lisboa, onde ficaram algumas semanas e foram criando os seus momentos, portais da criatividade: o piano assentou arraiais no Miradouro das Portas do Sol e houve criação poética no Terreiro do Paço, tocou à Torre de Belém e no jardim de São Pedro de Alcântara, passou pelo Rossio e pelo Post (em Benfica, espaço cultural e dedicado à bicicleta), criou natural poesia entre os peixes dos mares do Oceanário e real poesia no topo de um edifício do moderno bairro de Telheiras. "A ideia é sempre provar diferentes paisagens da Europa contemporânea, sentir as coisas de outra maneira, ser onde quer que seja, onde se possa experimentar qualquer perspectiva", diz Lou. E Telheiras foi bom exemplo disso: "Foi muito humano, as pessoas, pelo bairro urbano e moderno que é, não devem estar habituadas a momentos destes, por isso aproximaram-se instintivamente, compreenderam que o piano estava ali para eles."


Viver é preciso

Lou e Chris, de 27 e 26 anos, não são novatos nas viagens. Lou já percorreu a América Latina, estudou no Chile, foi à descoberta da Europa de Leste. Mas é Chris o mestre dos velocípedes: além de desportista de alto nível (ciclismo ou snowboard é com ele) já fez, entre muita viagem, França-Gâmbia em bicicleta. E, juntos, também já pedalaram pela Índia. Daí, estarem licenciados em viagem e imprevisto. Confessam já terem tido "uma ou duas" más experiências durante a Pianotrip mas nem querem aprofundar o tema: "tudo se resolve". O segredo está na adaptação. Até porque, sublinham: "Não queremos impor, queremos propor." 

"Na Europa, planeamos tanto. Mas o que acontece, acontece. Definitivamente, temos que correr riscos, deixar de sobreplanear, viver. A vida não é tanto plano, não funciona assim." E será isto tudo demasiado utópico para a maioria das pessoas? Resposta sem hesitações: "Não estamos aqui para vender um sonho ou liberdade." No projecto "há técnica, burocracia, site para fazer, música para tocar, conexões, pessoas... são muitas coisas." "Não é liberdade; é escolha. Não nos queixamos. Mas não é um sonho." Resumindo: "Não tem nada de utópico darmo-nos a liberdade de vivermos momentos inesperados."

Ao longo do caminho europeu, não têm parado de fazer amigos. Muitos, mesmo "amigos-amigos". "Construímos ligações fortes por todos os países. E sabemos que voltaremos a ver-nos." "As pessoas dão-nos o que vivem, o que sentem, o que pensam, trocamos livros e música. Pessoas, música e paisagem fazem uma outra viagem." "E agora" - ri-se Chris -, "temos que comprar uma grande casa em França para receber toda a gente, todos os amigos", "uma grande tenda para todos os nómadas".

Para já, a viagem continua por terras espanholas, rumo a Inglaterra e à Escandinávia, até porque seguem, naturalmente, o clima, "tudo depende dele". Depois se verá até onde o piano os viajará.

Por contraponto ao projecto Pianotrip, falo-lhes da experiência de dois jornalistas que cruzaram a Europa de comboio (Fugas, 21.05.2011) questionando estereótipos e ideias dos europeus, onze cidades em 15 dias, enquanto eles cruzaram dez países em ano e meio. "Claro que há diferenças entre italianos, portugueses, gregos, etc. Mas o que realmente experimentamos é uma grande conexão. Este piano está a atravessar a Europa por dentro."


Como viajar com o seu piano

O projecto Pianotrip conta com apoios da região de Rhône-Alpes e de Savóia, do programa Juventude em Acção da UE, do Alto Comissariado para a Juventude de França, e, entre outras instituições e empresas, da Câmara de Paris. A viagem tem sido feita a uns 12 km/h, em duas bicicletas: uma normal (baptizada de Zorba), outra alterada (a Janot) que é, aliás, um grande triciclo e funciona a energia solar - é esta, desenvolvida especialmente pela empresa Cycle Maximus, especialista na criação deste tipo de veículos, que puxa um reboque onde se guarda o piano, um Rippen.

Ao longo da viagem, apesar dos apoios, nunca sabem onde ficam. Pode ser num albergue ou como convidados de um embaixador. "Fizemos tudo para criar uma relação europeia no projecto, com as pessoas, as instituições, a música. Mas é um pouco utópico. Quero dizer, temos fundos de toda a gente, mas a cooperação e cultura europeias têm problemas de interconexão. Quando chegamos a um sítio, já enviámos mails para todo o lado, com 90 por cento de hipóteses de não termos resposta. Então, temos que encontrar uma solução. E ela aparece", conta Lou. "Ao princípio fiquei triste por não termos instituições "a bordo". Mas não faz mal. Temos encontrado tanta gente, tantas realidades. Faz parte do projecto, torna-o mais profundo." Enquanto vão pedalando, vão mantendo na forja um documentário, fotografia e o que mais se verá: "Quando tudo terminar, veremos o que podemos fazer, não queremos andar puxados por um projecto muito fechado que nos obrigue a produzir artificialmente. Trabalhamos com a realidade."

 
A Pianotrip pode ser seguida, vista e ouvida em:

Site oficial: Pianotrip.com 

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