Fugas - Viagens

Daniel Rocha

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Os segredos dos templários que Tomar desvenda


Do Paraíso ao inferno

Menos escondida, agora, está a Sinagoga de Tomar, depois de séculos destinada a outros fins. Está na Rua Dr. Joaquim Jacinto, antiga Rua Nova ou Rua da Judiaria. Hoje, o edifício de planta quadrangular é quase só um espaço de memória, a aguardar obras de recuperação.

Durante o seu consulado como grão-mestre da Ordem de Cristo e governador de Tomar, o Infante Dom Henrique chamou judeus para povoar a cidade e dinamizar a economia local. Deu-lhes um bairro e o direito a construir a sinagoga. Edificado entre 1430 e 1460, o lugar de oração seria desactivado décadas depois, após a expulsão dos judeus de Portugal - a Sefarad do judaísmo. Transformada em cadeia, capela e casa térrea, seria classificada como monumento nacional em 1921 e comprada, em 1923, por Samuel Schwarz, polaco e engenheiro de minas a trabalhar em Portugal, que estudou a comunidade de judeus escondidos de Belmonte. Em 1939, Schwarz doou a sinagoga ao Estado, mas para que nela fosse instalado um museu luso-hebraico.

Atravessando duas ruas, vamos descansar no Paraíso. O café completou um século a 20 de Maio. Situado na Rua Serpa Pinto (antiga Rua da Corredoura), é propriedade de Alexandra Vasconcelos, que o herdou dos pais, depois do avô e de um tio-bisavô. Um trocadilho local diz que, de manhã, o café é o paraíso, à tarde o purgatório e, à noite, o inferno. Alusão ao público predominante que o frequenta: reformados pela manhã e, progressivamente, um público cada vez mais jovem. Já mal se usam cafés assim: não há inox em sítio nenhum. Apenas madeira e ferro, espelhos, mesas em mármore, colunas e um pé direito altíssimo. Numa das paredes, recortes vários a falar do Paraíso. No tecto, duas ventoinhas. O conjunto tem, apesar da patine do tempo, um encanto especial.

Por aqui passa meia Tomar e Umberto Eco, o autor de "O Nome da Rosa", ia escrever numa das mesas, quando esteve na cidade há uns 15 anos. Com uma fachada em vidro (que transformou a fachada anterior, de quatro pórticos), o melhor do Paraíso, segundo a sua proprietária, é o facto de ser um espaço "arejado e ter um pé direito maravilhoso". "Intemporal."


Um tríptico escondido

Voltemos aos segredos que Tomar esconde. Por exemplo, o tríptico de origem flamenga, do século XVI, que está no baptistério da igreja de São João Baptista, logo à esquerda quando se entra. Tem que se pedir ao sacristão da igreja que faça o favor de abrir a porta do baptistério. Só assim se pode apreciar a obra - não haverá maneira de proteger o quadro sem ter que o esconder? Representando cenas da vida de Jesus - o baptismo no centro, as bodas de Caná e as tentações, além de São João e Santo André nas portas -, a obra é de uma delicadeza ímpar.

Há nesta igreja ainda outras sete telas a justificar a visita. São todas de Gregório Lopes, um dos nomes mais destacados do Renascimento português. Do lado direito, estão A Degolação de João Baptista, a Apresentação da Cabeça de João Baptista, Abraão e Melquisedeque, a Apanha do Maná, a Última Ceia e a Missa de S. Gregório. Na parede defronte, vemos uma Visitação. Gregório Lopes tem obra distribuída por Setúbal, Madeira e Tomar (há pinturas suas também no Convento de Cristo). Em Tomar, além de podermos pousar o olhar de cada vez que passamos junto do Nabão, ainda é possível dar um salto à ermida de Santa Iria. Destaca-se aqui um retábulo em calcário representando a paixão de Cristo, com a curiosidade de a cruz ser em T, ou Tau, representação iconográfica invulgar. Ou à igreja de Santa Maria dos Olivais, onde os templários eram armados cavaleiros.

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