Fugas - Viagens

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Esta praia é rodeada de montes por todos os lados

Por Andreia Marques Pereira

Com 800 quilómetros de costa, Portugal tem agora uma praia bem longe dela. Em Mangualde, fomos à Live Beach, pusemos os pés na areia, mas não entrámos na água - salgada.

"Pensei que ia encontrar um arzinho de mar e pensava "como vão trazer o mar para aqui?" A areia sei que veio em camiões...", brinca Maria Otália Garcia. Não há ar de mar, porque há limite para simulações: Mangualde continua a cem quilómetros da costa e, quem vem de Coimbra, como Maria Otália, até fica mais distante do mar. Na Live Beach de Mangualde o mar é uma piscina salgada e o areal uma encomenda.

Falta pouco para as onze da manhã, é feriado, o sol já queima e há fila para entrar na Live Beach. Entra-se na praia como se entra num recinto de festival, com os seguranças, a gravilha e as tendas que ladeiam a "avenida" principal - esta a querer dar ares de "cidade à beira-mar, ao Sul". Mas mais à noite: por enquanto estão quase todas fechadas (brancas, de tecido e inspiração árabe), quando abrirem estarão cheias de artesanato, sobretudo, mas isto já é Rui Braga, administrador da Live It Well Events, a empresa responsável pela primeira praia artificial do país, quem conta. A única já aberta é a Concha, que é a loja oficial. As tasquinhas também ainda não despertaram, mas mais à frente, as food boxes já mexem - oferecem à vez sopas, pizzas, hambúrgueres, baguetes e saladas (entre €2,50 e €5,50, incluindo menus) - e o restaurante à carta espera clientes (menu do dia a €7,50).

"Isto é um bar, para mais logo", ouve-se. "Isto" é a praça da restauração - com uma semana de funcionamento quando a Fugas passou por lá (abriu a 15 de Junho), a Live Beach de Mangualde é ainda uma área por explorar. Quando damos de caras com uma fila de toalhas alinhadas para o bronzeado, mesmo ao lado da cadeira do nadador salvador (há dois), percebemos que parte do grupo foi em busca de local para almoçar. Os homens. "É a primeira vez aqui", diz Daniela Félix, 40 anos, uma de entre as 17 pessoas (quatro famílias) vindas de Tarouca. "São bons momentos de água, praia, areia, música", afirma a amiga, Isabela Pinho, 39 anos. "Boa vida", resume.

Chegaram "pelas notícias na televisão", contam, e como elas quase todos. "Nós colocámos Mangualde no mapa", afirma Rui Braga. Não foi à toa, a escolha de Mangualde. Está no distrito de Viseu, que é o mais populoso do interior. Esta praia não está, aliás, na capital de distrito porque a autarquia não respondeu em tempo útil. Mangualde fica no distrito e as negociações foram céleres. "O que pedimos, em traços largos, foi a cedência do espaço, o saneamento básico, o fornecimento de água e electricidade e a limpeza", explica Rui Braga, "as infra-estruturas construídas por nós ficam na posse autarquia e criámos 67 postos de trabalho sazonais". Nos próximos seis anos, o tempo de duração do contrato, "a Live Beach é inquilina da câmara de Mangualde".

Em três meses, o espaço feito de pedras no sopé da Nossa Senhora do Castelo foi revolvido para nascer como uma espécie de oásis (menos as palmeiras, que existem mas são poucas), entre horizonte de montes verde-seco a perder de vista e uma intromissão de azul-turquesa que acaba logo ali, embora queira dar ideia que se prolonga. Este último é o "cenário" do mar - ambos artificiais: um é pintura, o outro é piscina - e para se chegar aí, pés na areia, finíssima, com instruções à entrada do areal, junto de escorregas: proibido escavar na areia (45 centímetros de altura), mergulhar, lixo no chão e menores de 12 anos sem acompanhamento.

Atravessa-se o areal por entre dois bares de apoio e guarda-sóis e toalhas que vão mesmo quase até à borda da água: entra-se só a molhar os pés e ainda se anda assim alguns metros, o chão branco a brilhar. Viviana Costa está aí, ainda de calções e t-shirt, acabada de chegar à praia e vinda directa à água com Bia, 18 meses, ao colo. "Vamos ver como ela se porta", diz, "já esteve na Figueira e não gostou da água nem da areia". A irmã, de 15 anos, já está lá mais à frente, na parte em que a água se torna quase turquesa pela profundidade; Bia faz força para ir para o chão e parece que gosta desta água, os pais foram buscar os guarda-sóis e restante parafernália. "Como não sabíamos o que íamos encontrar, deixámos tudo no carro". O que Viviana encontrou é "mais pequeno e mais sossegado do que uma praia", avalia. "É mais parecido com uma piscina com areia". "Mas é bonito", considera, "e como não há praia aqui é uma coisa boa". Mas "é um bocadinho longe e caro" para vir de Penacova - hoje é ocasião especial, o aniversário do pai, que até calhou num feriado.

Por ser feriado, os dois irmãos e respectivas mulheres vieram da Covilhã. Duas horas de caminho, "nas calmas". "Por curiosidade", conta Alcina Conceição. Estão todos vestidos (quem está de calças fez bermudas, as camisas foram abertas) em cima de uma toalha e uma manta ("andam sempre no carro"), que estenderam junto à vedação que divide o areal do relvado da zona VIP (edifício que fará as vezes de discoteca - ou vice-versa - e que tem do lado oposto do relvado um palco gigantesco). Só vieram conhecer, daí ausência de fatos de banho - mas já molharam os pés. "A água é um bocadinho salgada, não é?"

"Aquilo não é o mar"

São 10 gramas de sal por litro (pode aumentar para 15 gramas) que não convencem. "Vamos antes à Figueira ou ficamos na piscina da Covilhã", diz Vergílio Conceição, "só não tem areia, tem relva". "Isto é mais para quem vive aqui perto", considera a cunhada, Anabela Castanheira. Um protesto: os cartões de consumo (não circula dinheiro na praia, só cartões recarregáveis com múltiplos de cinco). "Tem de gastar-se no mínimo cinco euros. Está muito mal."

Mesmo ao lado, Maria Otália e o marido, José Carvalho, estão instalados numa das camas de aluguer. Ele ainda está vestido, ela, de biquini, já vem da água ("a piscina escorrega na parte mais baixa", informa). "Importa-se que me deite? Tenho de usufruir dos 20 euros", diz. Esse é o preço do aluguer da cama, em dossel com colchão laranja e dois almofadões negros, que vem com serviço próprio. "É carito", avalia, mas o marido não gosta de sol. Não vão voltar. "Isto é bom para quem tem crianças", afirma Maria Otália, "o que não é o meu caso".

Bem longe da água e longe da multidão que não pára de aumentar, estão Olga Simão, 33 anos, a mãe, Maria Silveira, 55 anos, e a filha, Mariana, prestes a completar um ano e pela primeira vez na praia. Por isso, permanece debaixo do guarda-sol à beira das geleiras com o almoço, enquanto o irmão, André, oito anos, chega, molhado, para buscar a bola, que vai jogar com o pai e o tio - "Aquilo não é o mar", dispara à laia de queixume. "Ele está habituado ao mar", explica a mãe, "isto é mais piscina. Mas para nós é mais descansado, porque tem sempre pé e água morna". "Só faltam umas ondas", diz Olga. "E mais profundidade", acrescenta Maria Silveira, "o meu filho queixa-se que quer nadar e dá logo com os pés no fundo".

As ondas chegam em 2012, adianta Rui Braga, e a piscina já foi construída para ter ondulação até 70 centímetros. "É estratégia pura", reconhece, "para termos alguma novidade no próximo ano". Contudo, é também é uma questão de aprendizagem. "Estamos a estudar o comportamento da piscina para manter a qualidade da água", explica (a manutenção não é a normal porque combina o cloro, o sal e a areia).

A profundidade máxima é de um metro e meio, atingida mais ou menos aos 15 metros dentro da piscina, com um espelho de água de 1300 metros quadrados. E começa-se com a cota zero, durante cinco metros - para crianças. "Fizemos um levantamento e percebemos que a maioria das mortes ocorrem nas piscinas de 1,80 metros", nota Rui Braga. Aqui, "toda a gente tem pé".

Mesmo quem não quer. "Para as crianças é óptimo, para mim, tem pouca profundidade", declara Cláudia Silva, 34 anos, visitante de primeira vez com duas amigas. Vêm da Guarda trazidas pela televisão e Internet - a água salgada como chamariz principal. "Cheirava a cloro, quanto ao sal, não sei". Todas concordam com Cristina Bastos, 36 anos: "A água é, se calhar, a parte que cria maiores expectativas e é a que mais desilude." "Mas a parte do areal é bonita, não está suja", concede.

As equipas de limpeza, a cargo da autarquia, são presença constante e pairam na zona dos sanitários - homens e mulheres, casas-de-banho e balneários -, escondidos por detrás das tendas em edifícios pré-fabricados. Foi nessa zona que Olga Simão viu camiões "a entrar e a sair", como "se a praia não estivesse acabada". Na verdade, com uma semana de vida, a Live Beach "ainda está a afinar pormenores", reconhece Rui Braga. Enquanto se vai enchendo de curiosos e veraneantes que descobrem agora o sol de Mangualde.

Laranja e azul, praia e música

Mais do que uma infra-estrutura, a Live Beach é um evento, repete Rui Braga. Um evento que dura três meses por ano e tem duas imagens promocionais: uma laranja, diurna, e uma azul, nocturna. Durante o dia oferece a experiência de praia; à noite de animação musical, com programação a cargo do produtor Luís Jardim. Aliás, "depois da curiosidade da praia", no futuro a Live Beach quer "posicionar-se como evento musical", revela Rui Braga. Para tal, prepara-se cartaz de nível internacional. Este ano ficou-se pelos nacionais - Tony Carreira já veio, seguem-se João Pedro Pais, Rui Veloso, The Gift, Mikael Carreira, André Sardet e Toy. A animação fica a cargo do DJ Serginho, o "residente" da Live Beach - o segundo palco é dele.

LiveBeach

Av. Nossa Senhora do Castelo
3530-117 Mangualde
Tel: 232 622 048
www.livebeach.pt
Horários
Do recinto: De domingo a quinta das 9h00 às 2h00; sextas e sábados das 9h00 às 4h00/6h00
Da piscina: Todos os dias das 9h00 às 19h00
Preços
5€ (na compra de dois, o terceiro é grátis); €2,50 depois das 16h30. Grátis até cinco anos. Pode entrar-se e sair-se do recinto até duas vezes. Depois das 19h00 a entrada no recinto é grátis.

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