Fugas - Viagens

Pedro Cunha

Do Islão dos poetas ao Algarve tradicional, eis Cacela Velha

Por Carlos Filipe

Cacela Velha, aldeia quase intocada, pitoresca e ao mesmo tempo selvagem, tem uma das mais belas paisagens do Sotavento algarvio, sobre a ria, os viveiros de bivalves e a muito apreciada praia.

Em Cacela, povoado cuja origem se perde nos tempos e que foi ponto de passagem de gregos e fenícios, romanos e árabes, cada rua é um poema, de Ibn Darraj Al-Qastalli (dali natural) a Eugénio de Andrade, de Abu Al-Abdar a Sophia de Mello Breyner Andresen ou a Teresa Pinto Lopes. Desde a entrada da terra à muralha, sobranceira, sobre a costa, à igreja, à casa do prior. Os passantes ignoram-na muitas vezes, precipitando-se sobre o largo, ávidos de vistas largas.

A arquitectura tradicional conservada e as ruínas islâmicas constituem património em constante preservação. Não há espalhafato, tudo se mantém simples. É um sítio quase mágico onde é costume dizer-se poesia na rua, como aconteceu na semana passada, por iniciativa da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António. Ontem ali se ensaiava teatro.

Todos os dias, ao fim da tarde, encontra-se algo para petiscar junto à igreja, em mesas e bancos corridos de madeira. Sem nome para recordar, o melhor é mesmo visitar e experimentar.

Também uma força da GNR ali está instalada com um posto de controlo e vigilância que, na quietude nocturna, vai acompanhando amplas movimentações costeiras.

Chegada a hora de a terra devolver o calor do Sol, quando mais apetece uma bebida fresca, é o que se obtém na Casa Azul. Um ícone do local, como o restaurante no sítio da Fábrica, lá em baixo.

Na maré vazia atravessa-se a vau a ria e descobre-se um outro azul. Mantenhamo-lo assim…

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