Fugas - Viagens

Paulo Ricca

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Santa Maria da Feira viaja para a Idade Média durante onze dias

Prata da casa

Voltemos ao ensaio. Alguém tira as dúvidas: "Posso usar este bastão?". João Maia é ferido e há um jovem, o narrador da história, que desespera no meio da batalha. A recriação tem de ser o mais fiel possível. Os templários eram homens tolerantes e não há gargalhadas no acampamento. O espectáculo tem uma forte carga emotiva, mas é uma mensagem de paz que se pretende transmitir. João Maia destaca o espírito e o empenho do povo da Feira como ingredientes essenciais para que a Viagem Medieval seja uma referência no país. "É a festa de referência, é uma terra muito dedicada a esta causa".

A prata da casa também trabalha na iniciativa: dos 55 grupos de animação, 35 são do concelho, e as tabernas e restaurantes são geridos por associações feirenses. A companhia de artes cénicas Persona está a construir um dragão de 12 metros de comprimento que diariamente sairá do castelo em direcção à envolvente das piscinas municipais. O bicho fará o que se espera dele: deitará fumo, cuspirá fogo e assustará as pessoas. A cabeça já está pronta, é a estrutura mais sofisticada feita em fibra de vidro, com olhos que acendem e apagam. O corpo parece uma armadura. "É um dragão orgânico, um dragão guerreiro", descreve Lígia Lebreiro, directora artística do grupo. O conceito tem meses, o trabalho começou em Junho. "Criámos uma história que pudesse fazer parte do imaginário das pessoas da época". Assim é. O Grito do Dragão é o nome do espectáculo que sai do castelo às 23h45.

Sandra Sousa já foi voluntária na Viagem Medieval. Foi figurante, cambista, segurança, fez um pouco de tudo. O que era preciso. Hoje coordena essa área, o trabalho aperta e quando a Viagem começar estará ao serviço das oito da manhã às três da madrugada. Nada que a perturbe. "Temos imenso gosto pelo projecto", confessa. A seu lado estão Liliana Sousa e Marco Carvalho para coordenar os 400 voluntários da próxima recriação histórica.

Gente dos 16 aos 70 anos, de várias zonas do país, que ganhará dois euros à hora. Os 621 inscritos foram entrevistados em pequenos grupos, para agilizar a selecção. Conhecer o projecto, dominar várias línguas, ter participado em experiências semelhantes são critérios que a organização privilegia nos seus voluntários que dão o rosto pela iniciativa. A formação começou há uma semana com uma reunião para explicar tudo como deve ser: o enquadramento histórico, as novidades, os espectáculos por área, a correcta utilização do traje medieval. "De ano para ano, queremos fazer a melhor Viagem de sempre", adianta a responsável.

A Viagem Medieval começa na próxima quinta-feira às 22h00 na escadaria da igreja matriz. A chave das portas do reino será transportada por um falcão e depositada nas mãos do alcaide.

Entradas
Pela primeira vez, a Viagem Medieval tem entrada paga. Os visitantes têm de comprar uma pulseira intransmissível que custa dois euros e dá acesso ao recinto durante dez dias, de 29 de Julho a 7 de Agosto - o primeiro dia é gratuito. As pulseiras estão já à venda no Posto de Turismo da Feira, nas juntas de freguesia do concelho feirense, sedes de algumas associações, biblioteca municipal, no Centro de Informação Turística da Praça D. João I, no Porto, entre outros locais. Na envolvente do perímetro do evento, haverá 50 pontos de venda. Crianças com menos de 1,30 metros de altura não pagam entrada.

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