Fugas - Viagens

Daniel Rocha

Constância, poesia entre dois rios

Por Andreia Marques Pereira

Como que erguida da água, na confluência do Zêzere e Tejo, vai buscar o seu espírito a Camões. Passeio por Constância, manto alvo ribeirinho, desdobrado por ruelas.

É incontornável: Constância vive sob o signo camoniano, ainda que o seu nome contrarie algumas das palavras mais famosas do poeta - "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades".

Mas, na verdade, o próprio nome até as prova: quando, diz a lenda, Camões aqui viveu (entre 1548 e 1550, exilado da corte por amor a Catarina Ataíde, uma das aias da rainha), a vila chamava-se Punhete (do romano Pugna Tagi), denominação alterada em 1836 por D. Maria II, em agradecimento à "constância" do apoio da vila à causa liberal.

E outras designações teve esta terra (por onde passaram iberos, romanos, visigodos e mouros), que se ergue da água: na confluência dos rios Zêzere e Tejo, Constância está edificada numa espécie de península, trepando uma colina.

Um manto alvo, que se desdobra em várias ruelas, coloridas por flores absorvendo tranquilamente o verde da lezíria que anda à solta por todo o lado - e para além dos rios.

Os rios que alimentaram a vida de Constância ao longo dos séculos - da travessia, do transporte fluvial, da construção e reparação naval, da pesca (agora recordados no Museu dos Rios e das Artes Marítimas e na Festa de Nossa Senhora da Boa Viagem, na Páscoa) - e agora são pólos de lazer - a pequena praia fluvial que abraça com um pequeno areal o Zêzere, as canoas e caiaques que rasgam as suas águas.

Em terra, percorrem-se os pontos principais de Constância, com as suas igrejas e capelas, a Torre do Relógio ("Miradouro do Tempo" e miradouro sobre a paisagem), a ponte com assinatura do gabinete de Gustave Eiffel, e descobrem-se as memórias dos poetas que aqui fizeram a sua casa.

Alexandre O'Neill dá o nome à biblioteca municipal onde está depositado o seu espólio e Camões ainda marca o ritmo. Dos passos dos visitantes - a sua Casa Memória; o Jardim-Horto Camões, que apresenta toda a flora referida pelo poeta na sua obra (52 espécies), viaja com ele de Lisboa a Macau num painel de azulejos, guarda o Jardim de Macau e o Planetário Ptolomeu; e a estátua do poeta, da autoria de Lagoa Henriques, que continua a vigiar as águas nervosas do rio Zêzere; e das festividades da terra - as Pomonas Camonianas (a 10 de Junho).

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