Fugas - Viagens

  • A Boavista, ilha cabo-verdiana de afamadas praias, oferece mais de 50km de areais, ainda a permitir recantos íntimos. As águas quentes, a preservação da hospitalidade e o investimento turístico têm funcionado como chamarizes para cada vez mais turistas. Mas a ilha permanece um paraíso à parte. Uma visita fotográfica, repleta de boas vistas. Fotogaleria de Paulo Barata
    A Boavista, ilha cabo-verdiana de afamadas praias, oferece mais de 50km de areais, ainda a permitir recantos íntimos. As águas quentes, a preservação da hospitalidade e o investimento turístico têm funcionado como chamarizes para cada vez mais turistas. Mas a ilha permanece um paraíso à parte. Uma visita fotográfica, repleta de boas vistas. Fotogaleria de Paulo Barata
  • A Boavista, ilha cabo-verdiana de afamadas praias, oferece mais de 50km de areais, grande parte deles ainda isolados. As águas quentes, a preservação da hospitalidade e o investimento turístico têm funcionado como chamarizes para cada vez mais turistas. Mas a ilha permanece um paraíso à parte. Uma visita fotográfica, repleta de boas vistas.
    A Boavista, ilha cabo-verdiana de afamadas praias, oferece mais de 50km de areais, grande parte deles ainda isolados. As águas quentes, a preservação da hospitalidade e o investimento turístico têm funcionado como chamarizes para cada vez mais turistas. Mas a ilha permanece um paraíso à parte. Uma visita fotográfica, repleta de boas vistas.

Em Cabo Verde há uma Boa Vista genuína

Por Victor Ferreira

O DJ veste uma camisola do Benfica mas não estamos em Lisboa. A ilha chama-se Boa Vista e isto não é o Porto. Cabo Verde tem uma nova coqueluche, com aeroporto em ampliação. A Fugas viu por lá quem queira mais turismo - e a terra merece-o, porque na Boa Vista ainda há muita coisa intacta e autêntica.

A ilha da Boa Vista é a menos povoada das dez que compõem o arquipélago de Cabo Verde, apesar de ser a terceira maior em área. Parte deste território é deserto, mas a ilha tem uma mão cheia de atributos para quem é adepto dos destinos de sol e praia no Verão. Há 55 quilómetros de praia - a maior extensão de areal em Cabo Verde - banhadas por água cristalina, azul-turquesa, cuja temperatura varia entre os 21 e os 25 graus.

O aeroporto internacional de Rabil é um dos mais pequenos deste país de expressão portuguesa. Na última Páscoa, passaram por ali mais de 10.000 passageiros numa semana. O número de habitantes ronda os 5000/6000.

Quando o sol começa a cair deixa de haver movimento porque a única pista não permite descolagens ou aterragens nocturnas. Mas esse cenário também vai mudar, a partir do próximo ano, se não houver mudança de planos. O aeroporto da Boa Vista está neste momento em obras, de ampliação da pista e colocação de iluminação, para responder a uma procura crescente que impõe uma visita quanto antes a esta ilha que quer transformar-se num centro de turismo e, desde 2007, tenta fazer sombra à ilha do Sal, até aqui o principal centro turístico do país.

Desde Portugal é possível voar para Cabo Verde a partir de Lisboa ou do Porto, cidades que têm voos directos tanto para a Boa Vista como para a vizinha ilha do Sal. Foi para aqui que voámos, no início de Julho, seguindo depois em novo voo de 15 minutos até à Boa Vista. Demoram mais tempo as formalidades de embarque do que propriamente o voo, mas o plano de viagem pretendia satisfazer a vontade de conhecer o mais possível das ilhas vizinhas do Sal e da Boa Vista, no Barlavento de Cabo. A perspectiva de entrar no turismo de massas pode ser arrepiante para os mais acérrimos defensores dos valores naturais que são importantes para a Boa Vista, que é a terra mais a leste do arquipélago, ficando a uns "míseros" 450 quilómetros da costa de África continental.

Essa proximidade impõe-se ao olhar dos visitantes logo no ar. Pela janela do avião, o que se avista quando se olha lá de cima é um naco de terra que parece um deserto - a paisagem é fortemente influenciada pela origem vulcânica da ilha, o que permitiu a formação de rochas sob as quais se desenvolvem largos quadrantes de dunas junto à costa, dunas essas que mudam de aspecto a todo o momento, graças ao vento quente que sopra do continente africano. Nos piores momentos, este vento saariano presenteia a Boa Vista com uma desagradável bruma seca, uma tempestade de areia que obriga a redefinir tudo, que interfere com a circulação de aviões e barcos e que limita a visibilidade em terra a uns quantos palmos à frente do nariz. Esse é, porém, um preço que ninguém se deve importar de pagar porque, uma vez instalado, o visitante tem largas razões para se dar por feliz.

A aposta no turismo é recente aqui. Os hotéis e resorts ainda são poucos, a Natureza continua basicamente intacta, em especial as apetitosas praias, visitadas no Verão por tartarugas que ali vão desovar em terra ou por pequenos tubarões que, em dias de sorte, até permitem a partilha das águas com humanos. Quem gosta de praticar mergulho irá encontrar aqui condições excepcionais, seja pela temperatura da água - que nunca baixa dos 20 graus - seja pelas águas límpidas que são também o local de trabalho ou de lazer de muitos pescadores.

Tal como no resto do país, a população local vive com dificuldades na Boa Vista. Os residentes de Sal Rei, capital da ilha e única povoação que se divide em duas freguesias, não têm direito a salário mínimo - a introdução deste é uma promessa política -, vivem em casas onde as quebras de energia eléctrica são constantes e o abastecimento de água e de saneamento é mínimo e de má qualidade. Há gente que chega a usar a água do mar dentro de casa, quando a falta deste líquido se agudiza. Por razões meteorológicas, nunca seria fácil viver aqui segundo os cânones urbanísticos europeus, quanto mais não seja porque chuva é coisa que não abunda por aqui. Dada a falta de estradas alcatroadas, a maneira mais fácil de circular é em veículos todo-o-terreno, que se podem alugar (jipes e moto 4) em Sal Rei, por exemplo. Se a preferência recair sobre as moto 4, então há outras hipóteses de aluguer junto a hotéis e resorts.

A viagem entre o pequeno aeroporto e o hotel é curta e permite uma pequena antevisão do que por ali se encontra. O tom amarelo ocre que faz lembrar o deserto é pontuado aqui e ali por uns riscos verdes, um oásis com palmeiras, umas acácias ou umas tamareiras. A Floresta Clotilde, para leste, é um ponto a descobrir. Se prefere não conduzir, alugue um táxi - que aqui são carrinhas pick up e carros todo-o-terreno - e deixe-se guiar pelo motorista. Quando se avista o hotel, dá a sensação de que se está algures em Marrocos. A arquitectura do Iberostar, um hotel de quatro estrelas que vai passar a cinco estrelas em Novembro, activa a memória fotográfica guardada no Norte da África continental. Ainda longe, já se avistam campos de jogos, para futebol, basquetebol ou ténis, e também um auditório ao ar livre, equipamentos que fazem parte desta unidade que convidou a Fugas para esta escapadela de fim-de-semana.

Da recepção do hotel avista-se a piscina de água salgada. Na verdade são três tanques distintos, um para crianças, outro para toda a gente e um outro que parece ser a continuação da linha do horizonte que se vê ao fundo, azul-céu por cima, azul-turquesa do mar por baixo. A vista é idílica, ideal para quem vem de um país afogado em dívida e que acabou de pedir aos seus trabalhadores o pagamento de um imposto extraordinário. Ali sim, vê-se algo por que vale a pena pagar.

A maior parte dos funcionários são locais, falam português e crioulo. A administração do hotel é hispânica e entre os clientes há muitos portugueses, mas também gente alourada, provavelmente do Norte da Europa, onde a oferta turística de Cabo Verde já ganhou muita popularidade. A caminho dos quartos, ouve-se um pouco de italiano, ouve-se ainda menos espanhol - apesar da proximidade do arquipélago das Canárias, o mercado espanhol ainda não percebeu que pode ter mais e melhor a curta distância, com menos gente.

Isto deve ser pecado

Claro que a ampliação do aeroporto com uma nova pista e os muitos compromissos assumidos tanto pelo Governo cabo-verdiano como pela autarquia de Sal Rei significam que a Boa Vista irá, no futuro, encher-se com mais turistas. O que significa que a terra enfrentará em breve um dilema: como crescer sem matar a autenticidade? Esta é a questão central para destinos como a Boa Vista, cujo encanto resulta sobretudo do facto de a ilha estar praticamente intacta. Sendo a terceira maior em termos de área, a Boa Vista tem poucos habitantes; um dia na praia é um dia sem vizinhos; pode-se palmilhar quilómetros de areia sem ver mais ninguém a não ser pequenas cabras ou até burros que ficam por ali a mastigar debaixo de um sol por vezes impiedoso. Não há melhor que isto para quem procura sossego, e as alternativas de praia são variadas.

Depois de instalados no hotel, o dia segue com um passeio de moto 4 pelas dunas. Estamos a poucas centenas de metros da praia de Chaves, uma delícia de fronteira entre a terra e o mar. O grupo é vasto, maioritariamente estrangeiros: espanhóis e franceses seguem atrás da primeira moto, e o resto do grupo vai em fila indiana imitando o percurso do guia que vai olhando para trás a ver se ninguém ficou enterrado na areia. Além disso, tem a preocupação de verificar que todos lhe seguem a roda, porque não há nada mais traiçoeiro do que andar pelas dunas, cuja configuração pode mudar em pouco tempo, o que é um risco acrescido para quem anda num veículo motorizado por terras desconhecidas.

"Os portugueses são muito ousados" quando andam por aqui de moto 4, confidencia a directora do Iberostar, que também embarcou nesta viagem de duas horas e meia. Desta vez, os lusos que ali estavam portaram-se bem, sem desvios ao trajecto nem grandes velocidades. A meio do percurso, chega-se ao Morro de Areia, a sul de Sal Rei. Para trás ficaram uns bons quilómetros de dunas e de terreno árido e plano que poderia ser uma paisagem lunar. A vista do cimo do morro é deslumbrante, um descanso para a alma, um carrossel de cores para os olhos.

O guia aponta para o mar, para as águas mais próximas da praia, onde se vêem tubarões. Sentado em cima de uma moto 4 que cruza desavergonhadamente aquele território quase virginal, é impossível não pensar no que será a Boa Vista daqui a uns anos, quando houver mais pistas no aeroporto, mais turistas a chegar, mais motos a circular. Porém, mesmo com sabor a pecado, a viagem prossegue, os remorsos são atirados para trás das costas e a cabeça começa a pensar na melhor maneira de pôr fim a isto: um banho no mar. Seguimos para norte, passa-se ao lado de outro dos grandes resorts, inaugurados em Maio passado, cruzamo-nos com gente que cavalga pela praia e, perto de um pequeno bar na praia, tira-se a roupa e os chinelos e vai tudo parar ao mar. A água está quente. É assim que as batatas se devem sentir quando estão a cozer dentro da panela. Não podia ser melhor.

Puro engano. O momento de relaxamento não era aquele mergulho. No regresso ao hotel, um long drink torna-se a antecâmara de uma massagem de relaxamento no spa. Antes disso, há ainda que experimentar os tanques da piscina. De novo, a água parece um caldo salgado. Os músculos das pernas e dos braços, que saíram tão agitados daquele passeio pelas dunas, estão a bombar. É preciso guardar energia porque é noite de sexta-feira, e todas as noites de sexta-feira e de sábado são noites de discoteca em Sal Rei, que fica no extremo noroeste da Boa Vista. Antes da grande noite, o jantar no hotel, onde já tinha sido servido um almoço buffet, horas antes. A cozinha está a cargo de um chef basco, Marcelino González Quintas, de 49 anos. A lagosta, petisco abundante nesta ilha, vem grelhada, acompanhada de vinhos locais como o Vinho do Fogo, cujo sabor não é fácil de definir para um leigo. Há quem diga que tem um travo de enxofre, há quem diga que sabe a carne. A aposta nos produtos locais é constante, o pão e toda a pastelaria é feita ali, com ingredientes de Cabo Verde sempre que possível. Vocacionados para um turismo de massas que compra pacotes tudo incluído, certos hotéis perdem o contacto com a realidade local, com a autenticidade que os envolve. Não é, felizmente, este o caso, até porque havendo por ali tanto a desenvolver, não é possível trabalhar nas costas do resto do povo.

Regressar é preciso

À noitinha, seguimos de carro rumo à discoteca que funciona melhor às sextas-feiras. Chama-se Boa Vista Social Club. O DJ enverga uma camisola do Benfica e dá o litro na mesa de mistura. O espaço, junto à praia, vai-se enchendo devagar. O som é familiar. Isto podia ser em Lisboa, ou no Porto, ou no Algarve. Ouvem-se, no meio de outras coisas, bandas portuguesas. Mas o ambiente é bem diferente. O dono do espaço é actualmente um belga. No dia seguinte, cumprirá um ano na gestão do Boa Vista Social Club. A outra casa de animação nocturna funciona bem aos sábados, dizem-nos. É uma proposta sonora bem diferente, menos "europeia", mais ligada à música local, ao funaná, à batucada e às mornas e coladeras.

Pela noite dentro, acaba-se de gastar os últimos impulsos de energia e regressa-se ao hotel, onde nos espera um quarto moderno e espaçoso, com ar condicionado e todas as comodidades típicas de um hotel de luxo. Os responsáveis desta unidade pretendem subir de nível e estão por isso a trabalhar na melhoria de alguns serviços. Sentimos falta de Internet nos quartos - há wifi gratuito mas só na recepção - mas nenhuma página virtual pode substituir-se àquele lugar.

Ao segundo dia, chega o momento de regressar à mais movimentada ilha do Sal, onde estão à vista muitos erros urbanísticos cometidos provavelmente em nome do desenvolvimento turístico. Abundam as construções abandonadas a meio - Arlindo, motorista e guia, diz-nos que houve investidores que ficaram sem dinheiro por causa da crise. Em Santa Maria, na ilha do Sal, as casas típicas de um só piso térreo desaparecem na sombra de muitas casas com traça europeia, ao pior estilo. Será isto o futuro da Boa Vista? Só podemos desejar que não.

Para trás ficaram outros pontos de interesse da ilha da Boa Vista - o que acaba por inculcar a certeza de que temos de voltar ali. É preciso mais tempo para explorar os caminhos de terra batida e os outros, mais ou menos arranjados, que ainda descendem do tempo da colonização portuguesa, e que nos levam a sítios como a Praia de Viana ou o Cabo de Santa Maria, na parte norte da ilha. Neste último ponto, jaz o esqueleto parcialmente à mostra de um navio espanhol que se afundou ali na década de 1960. Há mais de 100 navios naufragados em redor da Boa Vista, um alerta para os visitantes de que não se devem deixar enganar com o ar manso e pacífico do oceano naquele quadrante. É preciso regressar à Boa Vista para seguir o trilho que atravessa o oásis de Santo Tirso, onde ainda é possível praticar alguma agricultura. E para tudo isso é preciso tempo, porque, apesar de a ilha ser pequena, os maus acessos tornam as viagens mais demoradas. Por mais que se demore, não se pode porém perder o espectáculo a que se assiste, todos os Verões, na praia do Ervatão, sudeste da ilha, escolhida pelas tartarugas marinhas Caretta Caretta, também chamadas tartarugas amarelas, para dar à luz a sua descendência. Entre os meses de Maio e Setembro, é preciso levantar cedo, ainda de noite, e rumar àquelas paragens para assistir a esta peregrinação costeira que também é muito exaltada pela pequena população local. O mesmo cenário repete-se naquela que se diz ser a praia mais bonita da Boa Vista, a de Santa Mónica, no sul, assim chamada por causa das suas semelhanças físicas com a praia homónima da Califórnia, na costa oeste dos Estados Unidos da América.

Ao todo, Santa Mónica oferece 18 quilómetros de praia. Foi aqui que desembarcaram os primeiros portugueses que chegaram a esta ilha. É considerada zona protegida porque também aqui há tartarugas a cuidar da prole. Mais para ocidente, encontramos a Praia da Varandinha, conhecida pelo seu areal intacto, pela gruta, pelas suas características que atraem os praticantes de desportos náuticos como o surf e o windsurf ou o mergulho, que é uma actividade muito procurada devido ao anel de corais que envolve a Boa Vista e propicia uma fauna marinha muito variada. Não muito longe, seguindo para dentro da ilha, é possível encontrar uma aldeia abandonada, o Curral Velho, uma povoação que ficou sem gente porque Cabo Verde foi, é e continua a ser um país de emigrantes: actualmente, há mais cabo-verdianos a viverem fora do que no arquipélago. No Curral Velho ficaram casas e estruturas de apoio que testemunham as formas de vida em comunidade num passado já distante.

Esta debandada da população tem também o seu lado positivo. As remessas de emigrantes são muito importantes para a economia nacional e continuam a subir. Segundo o Banco de Cabo Verde, as remessas de emigrantes no segundo trimestre deste ano continuaram a subir, cerca de 34 por cento. Mas este país de emigrantes também está a descobrir que tem uma outra face, a de um país que também recebe trabalhadores estrangeiros e já não manda apenas mão-de-obra para fora. Aliás, para quem defende o turismo como mola de desenvolvimento local, acaba por ser pouco tranquilizador perceber que na principal estância turística do país, a ilha do Sal, o negócio turístico enche mais os bolsos dos estrangeiros do que da população local. As salinas, por exemplo, estão na mão de um italiano que é figura de proa na ilha, dada a quantidade de investimentos que tem em curso.

A população, que se debate com uma taxa de analfabetismo que ronda os 15/20 por cento e que ganha mal quando tem emprego, bem agradeceria uma alavanca modernizadora, mas se a Boa Vista seguir o exemplo do Sal, talvez o futuro que está aí ao virar da esquina não seja tão interessante assim. E talvez devêssemos deixar a Boa Vista intacta, em paz, com um aeroporto melhorado mas longe das grandes massas. Pelo menos até ao dia em que todos pudermos experimentar a Boa Vista tal como ela é hoje: crua, quente, bonita, como a música cabo-verdiana.

Se tudo correr mal no futuro, talvez a culpa deva ser repartida pelos jornalistas. Há dez anos, em Maio de 2001, neste mesmo suplemento de viagens, alguém escrevia um texto sobre a Boa Vista e os seus valores, pedindo em título que se visitasse a ilha mas não se contasse a ninguém. Palavras como paraíso, sonho, idílio foram usadas noutras reportagens sobre esta ilha, a que chamam também ilha das dunas, e que foram publicadas ao longo dos últimos anos na imprensa portuguesa.

Dentro em breve, Sal Rei irá ter um centro cultural, construído pela câmara local - gerida pelo Movimento para a Democracia (MdP) - e com ajuda financeira oriunda de França. O antigo cinema situado à entrada de Sal Rei vai ser transformado ainda este ano num Centro de Arte e Cultura, com lotação para 300 pessoas. Destina-se sobretudo à gente local, que actualmente não tem nenhuma infra-estrutura do género, e terá certamente interesse turístico, servindo como montra da cultura local, espaço de convívio e diversificação da oferta de actividades.

Descoberta por portugueses, explorada por ingleses e holandeses, rodeada por piratas e saqueadores que não deram descanso aos que seguiam pelas rotas comerciais, a Boa Vista acabou por ficar isolada do resto do mundo durante 150 anos, nos séculos XVII e XVIII. Ironicamente, foi isso que permitiu que a ilha se mantivesse como um pequeno refúgio paradisíaco. É de aproveitar, antes que o cenário mude.

A Fugas viajou a convite do Iberostar Clube Boa Vista

Quando ir

Qualquer altura do ano é boa para visitar a Boa Vista, mas a época alta pode tornar-se muito movimentada. Se quer evitar grandes confusões, então risque do calendário a época da Páscoa e de Natal, e antecipe ou adie as férias de Verão. A temperatura do ar e do mar serão sempre convidativas. A época de chuvas (que são pouco frequentes e nada intensas) ocorre em Agosto. A parte mais desagradável é o vento que causa a famosa bruma seca, uma tempestade de areia que chega desde o Saara.

Como ir

Há ligações aéreas directas de Lisboa e do Porto para chegar à Boa Vista. Outra alternativa é seguir para o Sal, fazer escala e rumar à Boa Vista nos aviões da TACV. São 50 quilómetros de distância, feitos em 15 minutos. Para se movimentar dentro da ilha, alugue um jipe ou um táxi todo-o-terreno, porque os acessos não são fáceis. O aeroporto fica a seis quilómetros a sul da capital - perto da vila de Rabil. O autocarro entre o aeroporto e Sal Rei custa 200 escudos cabo-verdianos.
Não se preocupe com os câmbios. O euro é aceite em todo o lado para pagamentos. O porto de Sal Rei pode ser uma alternativa para quem se desloca, por exemplo, num iate, mas as condições ali não são boas. Há três operadores (Soltrópio, Solférias e Agência Abreu) a comercializar pacotes de férias em Portugal. O preço, dependendo da época e do hotel escolhido, pode andar entre os 800 e os 1000 euros, para um adulto, tudo incluído (viagens, sete dias de estadia e pensão completa). Informe-se junto da sua agência de viagens porque é possível encontrar orçamentos ainda mais baixos.

O que comer

A tradicional cachupa é imperdível, mas se gosta de peixe e marisco então reserve algum espaço no seu estômago. A lagosta e o peixe-serra estão no top das preferências. Fora dos hotéis, não há muita oferta, centrada sobretudo em Sal Rei, pelo que não será difícil encontrá-la. Experimente também o queijo de cabra.

O que comprar

Em Sal Rei existem lojas de artesanato que vendem artigos de casca de coco, ou feitos com búzios e conchas. Em Rabil há sobretudo produtos de olaria e a cestaria é típica da Baforeira.

O que visitar

Para os que gostam de ter tudo programado antes da partida, deixamos algumas sugestões de roteiros.

Hipótese 1

Siga pela Via Pitersca en direcção à Floresta Clotilde até chegar ao Cabo de Santa Maria, onde irá encontrar o que resta de um navio espanhol naufragado em 1968. Continue pelas dunas até à Praia David, passando pelas ruínas da Capela de Fátima. Prossiga rumo a Sal Rei, com paragem no cemitério dos Judeus e depois siga para o centro desta vila na Pracinha, dê uma vista de olhos às casas típicas da Rua Amílcar Cabral, visite ainda o mercado e o porto.

Hipótese 2

Dirija-se a sul, à Povoação Velha, passando pela Capela de Santo António, Praia de Santa Mónica e Varandinha. No regresso, tome o rumo do deserto de Viana.

Hipótese 3

Vá para o Oásis Agrícola de Santo Tirso, Fonte Vicente, Deserto Negro até à praia de Curral Velho. Aproveite para visitar João Barroso até chegar a Ervatão, onde desovam as tartarugas mais conhecidas. Continue por Cabeça de Tarafes, Fundo Figueiras e João Galego, onde a agricultura e a pecuária é o ganha-pão da população. Segue-se Campo da Serra, Espingueira (onde há turismo rural), Porto de Derrubado e Rabil, onde fica a Escola de Olaria.

Hipótese 4

Rume a sul, em direcção à Povoação Velha, continuando até às Tapas Agrícolas, Curral Velho e Lacacão.

Onde ficar

A sugestão que fazemos é o Iberostar Clube Boa Vista, onde ficámos instalados, mas há diversas opções na ilha. No Iberostar há 276 quartos, muitos com vista de mar, spa, jacuzzi, banho turco e massagens, piscinas, discoteca, auditório e campos desportivos. Na praia pode contar com os apoios do costume e uma barraca onde se podem alugar as moto 4 (90 euros por mota, para duas pessoas, para um passeio de meio dia). Outras opções: Aparthotel Cá Nicola, Hotel Marine, Dunas Hotel & Resort, Hotel Estoril Beach Resort, Hotel Riu Karamboa, Pousada Boa Vista e Ventaclub.

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