A ilha da Boa Vista é a menos povoada das dez que compõem o arquipélago de Cabo Verde, apesar de ser a terceira maior em área. Parte deste território é deserto, mas a ilha tem uma mão cheia de atributos para quem é adepto dos destinos de sol e praia no Verão. Há 55 quilómetros de praia - a maior extensão de areal em Cabo Verde - banhadas por água cristalina, azul-turquesa, cuja temperatura varia entre os 21 e os 25 graus.
O aeroporto internacional de Rabil é um dos mais pequenos deste país de expressão portuguesa. Na última Páscoa, passaram por ali mais de 10.000 passageiros numa semana. O número de habitantes ronda os 5000/6000.
Quando o sol começa a cair deixa de haver movimento porque a única pista não permite descolagens ou aterragens nocturnas. Mas esse cenário também vai mudar, a partir do próximo ano, se não houver mudança de planos. O aeroporto da Boa Vista está neste momento em obras, de ampliação da pista e colocação de iluminação, para responder a uma procura crescente que impõe uma visita quanto antes a esta ilha que quer transformar-se num centro de turismo e, desde 2007, tenta fazer sombra à ilha do Sal, até aqui o principal centro turístico do país.
Desde Portugal é possível voar para Cabo Verde a partir de Lisboa ou do Porto, cidades que têm voos directos tanto para a Boa Vista como para a vizinha ilha do Sal. Foi para aqui que voámos, no início de Julho, seguindo depois em novo voo de 15 minutos até à Boa Vista. Demoram mais tempo as formalidades de embarque do que propriamente o voo, mas o plano de viagem pretendia satisfazer a vontade de conhecer o mais possível das ilhas vizinhas do Sal e da Boa Vista, no Barlavento de Cabo. A perspectiva de entrar no turismo de massas pode ser arrepiante para os mais acérrimos defensores dos valores naturais que são importantes para a Boa Vista, que é a terra mais a leste do arquipélago, ficando a uns "míseros" 450 quilómetros da costa de África continental.
Essa proximidade impõe-se ao olhar dos visitantes logo no ar. Pela janela do avião, o que se avista quando se olha lá de cima é um naco de terra que parece um deserto - a paisagem é fortemente influenciada pela origem vulcânica da ilha, o que permitiu a formação de rochas sob as quais se desenvolvem largos quadrantes de dunas junto à costa, dunas essas que mudam de aspecto a todo o momento, graças ao vento quente que sopra do continente africano. Nos piores momentos, este vento saariano presenteia a Boa Vista com uma desagradável bruma seca, uma tempestade de areia que obriga a redefinir tudo, que interfere com a circulação de aviões e barcos e que limita a visibilidade em terra a uns quantos palmos à frente do nariz. Esse é, porém, um preço que ninguém se deve importar de pagar porque, uma vez instalado, o visitante tem largas razões para se dar por feliz.
A aposta no turismo é recente aqui. Os hotéis e resorts ainda são poucos, a Natureza continua basicamente intacta, em especial as apetitosas praias, visitadas no Verão por tartarugas que ali vão desovar em terra ou por pequenos tubarões que, em dias de sorte, até permitem a partilha das águas com humanos. Quem gosta de praticar mergulho irá encontrar aqui condições excepcionais, seja pela temperatura da água - que nunca baixa dos 20 graus - seja pelas águas límpidas que são também o local de trabalho ou de lazer de muitos pescadores.