Fugas - Viagens

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    Lisboa, Jardim Botânico da Ajuda Rita Baleia
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    Porto, Jardins do Palácio de Cristal Paulo Pimenta
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    Porto, Jardins do Palácio de Cristal Paulo Pimenta
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    Porto, Parque Urbano da Pasteleira Paulo Pimenta
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    Porto, Parque Urbano da Pasteleira Paulo Pimenta
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    Porto, Jardim de São Lázaro Fernando Veludo/nFactos
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    Porto, Jardim de São Lázaro Fernando Veludo/nFactos
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    Porto, Parque de Serralves Paulo Pimenta
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    Porto, Jardim Botânico Paulo Pimenta

Seis jardins únicos do Porto

Por Andreia Marques Pereira

Do Jardim Botânico ao Parque Urbano da Pasteleira, de Serralves ao maior parque urbano do país, passando pelos Jardins do Palácio de Cristal e com paragem no jardim mais antigo da cidade. Passo a passo por seis oásis da Invicta.

Jardim Botânico do Porto
Refúgio literário

Está com rosto diferente. Não é de hoje, nem de ontem, é da exposição A Evolução de Darwin. Para quem sempre conheceu o palacete branco, ainda choca este vermelho sangue de boi que agora refulge entre os bosquetes que flanqueiam a entrada. "Uma questão de hábito", reflecte Manuel Martins, que mais à frente há-de recordar "vir aqui às canas quando era miúdo, para a pesca". E, afinal, a opção por esta cor não foi um capricho, foi um regresso às origens, supõe-se. Origens que são "caseiras", que é como quem diz, este jardim era o jardim de uma residência (que na sua génese terá sido um armazém ou uma fábrica) e desde 1951 é o Jardim Botânico do Porto, agora sob a alçada da universidade. Não era, portanto, um jardim qualquer - as suas plantas tinham evidente interesse botânico e, além disso, revestia-se, reveste-se, de importância histórica (herdeiro das quintas de recreio do século XIX) e literária (Sophia de Mello Breyner Andresen e o primo Ruben A. ancoraram aqui - na casa dos avós - memórias de infância que depois transbordaram para os seus livros).

Neste sábado à tarde, o palacete está fechado - aberto apenas o Bar Góshò, nas traseiras, com poucas mesas ocupadas - e na sua escadaria um grupo de adultos e crianças espera o início da "caça de anfíbios", iniciativa no âmbito do Ciência Viva no Verão, à sombra de araucárias centenárias e tílias. Nós vamos com um pequeno grupo das Rotas Verdes, promovidas pela Junta de Freguesia de Lordelo do Ouro, e cruzamo-nos com pouca gente: parece quase novamente o jardim de uma casa e não um jardim público de entrada gratuita.

Um jardim com um liquidâmbar centenário, enorme, e um Jardim das Suculentas, "erradamente conhecido por jardim dos cactos", de forte impacto visual - e de temperatura: aqui estamos irreparavelmente ao sol com cactos impressionantes e o mar a brilhar ao longe. A sombra está no arboreto, no que muitos consideram o mais "exótico" do jardim, as suas árvores: biscófias, sequóias, salgueiro-chorão e tília-chorona, magnólias, bétulas e faias, sobreiros e carvalhos, entre fetos e arbustos e quase parece A Floresta, de Sophia.

Os jardins históricos são três e delimitados com muros de camélias (aos quais Ruben A. já não faz "esquadrias tangentes" de bicicleta), que por estes dias estão discretos. O Jardim dos Jotas tem buxo a desenhar a letra (de João e Joana Andresen, os avós dos escritores) mas não se ouve a sua voz, "pequenina, húmida e verde", como escreveu Sophia; o Roseiral abre directamente para as traseiras da casa e foi desenhado à imagem de um tapete que estava no salão de baile - por estes dias estão secas as rosas; o Jardim do Peixe, ganhou o nome pelo desenho do canteiro central.

O Jardim do Xisto, modernista e aquático (nenúfares e papiros como esconderijo de rãs), é um dos da autoria de Franz Koepp, responsável pela reconversão da quinta em jardim botânico na década de 50. Também ele recuperou os que podem ser considerados os "jardins literários" (depois designados de Jardim dos Anões e do Rapaz de Bronze), que mantiveram a traça original e, portanto, as memórias que Sophia ficcionou curiosamente mais ou menos na mesma altura (irresistível tocar na meleleuca, a árvore do papel, cujas cascas eram utilizadas pelas crianças da casa para fazer as casas dos anões).

Jardim Botânico do Porto
Rua do Campo Alegre, 1191
Porto
Tel.: 93 30 86 492
http://jardimbotanico.up.pt/
Horário: De Abril a Setembro das 9h00 às 20h00; de Outubro a Março das 9h00 às 18h00.

Parque de Serralves
18 hectares para explorar

A entrada faz-se contemplando a parte mais recente do jardim, a rodear o edifício projectado por Siza Vieira. Porém, a visita a sério começa quando chegamos ao que já foi a entrada principal da Casa de Serralves, imagem icónica ou não exibisse desde 2001 a Colher de Jardineiro (cinza e vermelha, "enterrada" na terra laranja), de Claes Oldenburg e Coosje Van Bruggen, alvo constante de fotos dos visitantes. É a mais emblemática das esculturas que, em diálogo constante entre natureza e arte, povoam o Parque de Serralves, 18 hectares de área reunidos em meados da década de 30, a que lhe deu uma configuração próxima da que hoje nos preparamos para explorar (encomenda do Conde de Vizela ao arquitecto Jacques Gréber): vários níveis de jardins (de diversos estilos, romântico, francês e português contemporâneo), bosques, prados, terrenos agrícolas.

Há um bosque que se abre já aqui, se não seguirmos pela alameda principal que vai até à casa sob liquidambares que são como ogivas de catedral gótica. Azevinhos, medronheiros, faias, carvalhos americanos, araucária de Norfolk, castanheiros (com ouriços e castanhas já espalhados pelo chão) são a nossa iniciação às cerca de 200 espécies arbóreas e arbustivas, entre autóctones e exóticas, num total de quatro mil exemplares, que constituem o espólio deste parque. Já com a fachada rosa da casa que constitui o mais imponente exemplar português de Art Déco à vista, entramos no parterre lateral, que é um jardim francês, traçado geométrico desenhado a buxo em harmonia total com as linhas da casa - a "funcionar como extensão" desta. O mesmo com a parterre central, que desce em cascata das traseiras da casa e é um mosaico de cores e padrões, entre espelhos de água. Sigamos então a alameda totalmente simétrica com a casa, com relvados em talhões e gente a desfrutá-los, até ao fundo, até ao miradouro (desnível acentuado) sobre a parte mais antiga do parque, oitocentista. O lago, água verde-garrafa com direito a ilha, patos-reais e cágados, é o centro de confluência de anfíbios, salamandras, libélulas, em cenário de jardim romântico, com grutas artificiais e bancos escondidos.

Já cá em baixo, o olhar perde-se pela antiga Quinta do Mata-Sete (com hortas pedagógicas, animais, casa rural, prados), que se abre para lá do arvoredo. E continuando esta espécie de caminho circular, passamos a mata de eucaliptos, alguns velhos de mais de cem anos.

Entre ulmeiros, carvalhos americanos, pinheiros (um manso perde-se no céu), já estamos a fazer uma tangente ao museu - aqui num relvado em que os teixos lembram cipestres, que lembram colunas dispersas. O campo de ténis e a casa de chá antecipam uma das mais recentes adições do parque - uma oliveira com quase 1500 anos que veio do Alentejo. O roseiral está num socalco acima: centenas de variedades de rosas, já murchas, entre canteiros de buxo, sob o olhar de um castanheiro de 150 anos e da alameda de liquidambares a passar lá em cima.

A visita termina rente ao museu, na ala "portuguesa", recente, entre bétulas (as "noivas das florestas"), tulipeiros, gingkos. E um jovem que entra: guia do Porto na mão e ar de deslumbramento no rosto - e ainda não viu nada.

Parque de Serralves
Rua D. João de Castro, 210
Porto
Tel.: 22 615 65 88
Fax: 22 615 65 94
http://www.serralves.pt/
Horário: De Abril a Setembro: de terça a quinta-feira das 10h00 às 19h00; sexta e sábado das 10h00 às 22h00; domingos e feriados das 10h00 às 20h00; De Outubro a Março: de terça a quinta das 10h00 às 19h00; sexta e sábado das 10h00 às 22h00; domingos e feriados das 10h00 às 19h00.
Entrada: €3 (com visita à casa); gratuito até aos 12 anos; ao domingo, entrada gratuita até às 14h30; 50 por cento de desconto para maiores de 65 anos, estudantes e cartão jovem.

Parque Urbano da Pasteleira
Cheiro a pinheiros e mar

Quase todos os dias passa por ali, prefere a ir pela rua. Entra na porta sul e segue para a porta norte ou para a porta mais a poente. Corta a cidade pela natureza. Agora que está reformada, já se imagina a passar ali algumas horas, a ler ou apenas descansar, ou até a fazer companhia à irmã que, soube-o há pouco tempo, almoça ali num dos bancos. A filha já ali fez o seu percurso de jogging, mas isto foi antes de ir estudar para fora. Hoje estão as duas a passear pelo parque, que está praticamente do outro lado da rua da sua casa.

Estamos no Parque da Pasteleira, onde até há cerca de 20 anos morava uma série de barracas, com os esgotos a céu aberto, contam-nos, que deixaram sequelas: no largo da entrada vemos algum "raquitismo" nos pinheiros que ali fazem a sombra aos bancos vermelhos espalhados (e onde um homem dorme a sesta numa réstia de sol). Há algazarra nos dois parques infantis, um de cada lado desta meia-lua por onde se precipita o parque; no parque desportivo, salta langorosa uma bola de basquetebol; há adolescentes a namorar; a zona de piqueniques está à espera de comensais; na ciclovia, uma adição recente que rasga o parque em piso avermelhado, passam bicicletas.

São sete hectares, fechados por um muro e a atravessar a rua em três pontes, os que constituem este parque, reminiscente dos chamados "Pinhais da Foz" - não surpreende que os pinheiros, bravos, sobretudo, constituam presença forte, acompanhados de muitos sobreiros. Quando cruzamos as pontes para o lado poente do parque, o arvoredo deixa gradualmente de ser tão denso. Ao fundo, o lago, mas seguimos por cima, ao lado do relvado imenso que se abre solar em suaves ondulações - e, debaixo de uma árvore, cadeiras e sacos "abandonados" mostram que há quem não desperdice tardes ao sol aqui. Perto da entrada poente, surge o antigo reservatório de água, edifício neo-clássico amarelo-torrado agora com vidros partidos e ar de nobreza falida, flanqueado por antigos chafarizes, o verde escuro algo corroído. Há outros que seguem alameda abaixo, alinhados por maquinaria antiga exibida quase como num museu industrial ao ar livre.

O lago: de um lado, empedrado une-o ao pavilhão que foi construído para cafetaria, quase encaixado ali no desnível do terreno, que nunca funcionou e está entaipada com tábuas que cobrem vidros partidos; do outro, é erva que se vê com patos que por ali passeiam entrando e saindo da água - com espuma duvidosa. Um senão num parque com cheiro de pinheiros, rio e mar.

Parque Urbano da Pasteleira
Rua Diogo Botelho
Porto
Tel.: 225 323 431
Horário: Verão das 6h00 às 24h00; Inverno das 7h 00às 22h00.

Jardins do Palácio de Cristal
Miradouro sobre o rio

Já o vimos como aldeia do teatro e dos livros, palco de comícios, de concertos (ontem a série Big Bands at the Palace), de festas de São João. Mas vemo-lo mais assim, como o verdadeiro passeio público do Porto, sala de visitas para quem vem de fora e para quem é daqui. Hoje que é domingo chegamos aos portões de ferro verde e temos de ter cuidado para não nos intrometermos nas fotografias: da família brasileira que sai e da dupla francesa que entra. Cenário: os portões verdes a enquadrar a cúpula-ovni do Pavilhão Rosa Mota.

Ainda se chamam Jardins do Palácio de Cristal embora este, construção tipicamente oitocentista, tenha dado lugar ao pavilhão nos anos 50 do século XX. O jardim, esse, ainda mantém parte do traçado que o arquitecto Émile David lhe deu no século XIX, o mais relevante do qual os miradouros sobre o Douro. E o jardim da entrada, geométrico - ao centro, relvado oval debruado a buxo, pontilhado de flores e enquadrado lateralmente por chafarizes. Os bancos vermelhos estão ocupados - tiram-se fotos, dorme-se, lê-se o jornal, observa-se - e estamos na parte mais soalheira do jardim. O arvoredo estende-se a partir das alas - a entrada dos carros é uma alameda de plátanos, do lado oposto está a alameda das tílias, para lá da qual se ergue a Biblioteca Almeida Garret, em cuja órbita se abrem portáteis a usufruir do wi-fi. É por aqui que mais circulam os visitantes, com triciclos e bicicletas incluídos, passando a concha acústica, com vestígios de palco desmontado (e o cartaz "Oportonity City" a servir de canário de fotos), em direcção às varandas com várias panorâmicas sobre o Douro. A poente, a Ponte da Arrábida, elegante, no horizonte, que desce em vários andares para o Museu Romântico e Solar do Vinho do Porto em arvoredo cerrado e sombra eterna; a sul, para lá da esplanada em torno do lago e no meio dos pavões (quem nunca teve um encontro inesperado com eles nunca se sentou no jardim), passando a Capela do Rei Carlos Alberto, serena e austera, o rio desdobra-se em curvas com a marginal de Gaia ali tão perto.

Hoje, o Douro até parece correr de costas para a Foz, como comentam Christiane e Tanneke, belgas, ali junto da escultura Viagens, de Rui Anahory, espécie de canoa, com o Jardim das Virtudes em frente e a Alfândega a impor-se à beira-rio. O jardim aqui desce em degraus-terraços até ao Jardim dos Sentimentos (fechado), com relva e gente estendida, bancos e gente a mirar, caminhos empedrados, escadarias cobertas de hera, fontes.

Caminha-se calmamente em espiral descendente, com fugas pelo meio do arvoredo por escadas de pedra apertadas, recantos com leituras imprevistas (Enxaqueca é algo que não se imagina por ali), uma minitorre acastelada onde adolescentes madrilenas se acotovelam pela melhor foto, grutas, mesas e bancos de pedra. Quando o arvoredo novamente se abre em pequeno jardim formal com varanda para a paisagem - e já temos novamente a Foz à vista -, dramas adolescentes desenrolam-se entre a alegre barulheira que vem do parque infantil, um pouco acima. Retalhos da vida portuense.

Jardim do Palácio de Cristal
Rua D. Manuel II
Porto
Tel.: 22 207 13 40
Fax: 22 207 13 41
Horário: De Abril a Setembro das 8h00 às 21h00; de Outubro a Março das 8h00 às 19h00.

Parque da Cidade
O maior do país

Temos de parar à entrada para deixar sair as camionetas: uma, duas, três. A tarde de domingo ainda não vai a meio e o Parque da Cidade já viveu os dias de muita gente, portanto. Visita ao parque, talvez piquenique e regresso a casa. É parque da cidade e ponto de peregrinação do país, este que é o maior parque urbano português - mais de 80 hectares de área, que se unem à praia a poente, onde a vegetação é mais "rasteira", relvados e arbustos a entrar terra dentro até se perder em pequenos bosques e mais relvados, lagos e espelhos de água. Nós entramos pela Circunvalação e podemos dizer que entramos mais ou menos a meio caminho entre os extremos poente e nascente do parque.

Em poucos minutos, estamos longe da cidade - e esta é a maior virtude deste parque durante tantos anos desejado pela cidade. Concretizou-se em duas fases na década de 90, com projecto de Sidónio Pardal, e agora já está entranhado no Porto: para passeios e para desporto, para namoros e para leituras, para piqueniques e para contemplações. Rituais diários, ao domingo mais intensos. Não é um parque para visitar, é um parque para se usufruir - há quem o descubra tarde de mais: Aurora veio de Santo Tirso, com o marido, a filha, o genro e a neta de sapatos de salto. "Aqui, só de sapatilhas" - sobretudo depois de noite chuvosa, que torna mesmo os chinelos desadequados. Não que a água incomode o grupo de amigas que, de biquíni, apanham sol perto bar Box in the Park e de uma enorme poça.

O sol é bastante querido por aqui - os relvados que forram os desníveis do terreno em suaves cenários bucólicos polvilhados de árvores ornamentais são as "toalhas" preferidas, para preguiçar e para os piqueniques, que ocupam também as mesas e bancos espalhados nos bosques (aqui, as abelhas podem ser perigosas, ouvimos a uma família), cheiro intenso a eucalipto e a pinhal. No grande relvado que se abre perto da casa cor-de-rosa da recepção, as bolas rolam por todo o lado, entre pais e filhos, e as cadeiras e toalhas abrem-se apenas nas margens - para ver desporto mais "profissional", o melhor é ir aos campos explorados pelo Sport Club do Porto (a marcação e pagamento faz-se no bar): no campo de futebol de cinco, são miúdos, com equipamentos de várias "nações", que fazem a festa, no campo de futebol de nove prepara-se um jogo de hóquei em campo (há ainda, grátis, à sombra de pinheiros, campos de voleibol, ocupados, e mesas de pingue-pongue, ali ao lado, vazias) - e frustra-se a esperança de Isaías Fernandes, bola na mão, de poder aproveitar um pouco o campo ("Às vezes é possível, sem pagar"): resta-lhe ir juntar-se ao resto da família, que foi com os miúdos para o lago.

Não sabemos a qual dos lagos se refere, grandes e caprichosos, com bordos de vegetação aquática ou com relvados a lambê-los, mas sempre com patos-reais, galinhas de água, gansos e cisnes, por exemplo, a deslizar e a concentrar as atenções dos visitantes que se aglomeram em algumas zonas - deixando muita margem "deserta". Do lado da Rua da Vilarinha, o núcleo rural e o restaurante atraem muitos visitantes, o que não acontece com o Pavilhão da Água, fechado. Muita gente percorre os trilhos, a caminhar, a correr, de bicicleta, muitos se instalam nos relvados, mas é tão grande este parque que a solidão e o silêncio estão sempre à distância de alguma árvore - entre as 74 espécies (mais 42 arbustivas, 15 de árvores de fruto e 10 aquáticas) que aqui se encontram, lê-se no site da autarquia.

Parque da Cidade
Circunvalação, 15443 (mais duas entradas)
Porto
Tel.: 22 207 13 40
Fax: 22 207 13 41
Horário: Verão das 7h00 às 21h00; Inverno das 8h00 às 20h00

Jardim de São Lázaro
O mais antigo da cidade

É o mais antigo jardim do Porto e só por isso mereceria uma visita. Não que tenha muitas - o Jardim de São Lázaro que foi inaugurado em 1834, depois de D. Pedro I ter mandado ajardinar o antigo Campo de São Lázaro, durante o Cerco do Porto, foi durante muitas décadas o passeio preferido dos portuenses, como lemos na placa numa das entradas, mas actualmente é mais um jardim de bairro, com "habitantes" quase fixos, que entretêm as horas da reforma (quantas vezes com um baralho de cartas) - e que quando o jardim fecha (por estes dias estivais às 20h00) ainda se deixam estar nos bancos exteriores, no Passeio de São Lázaro - ou fazem horas (e desenhos) entre as aulas da vizinha Faculdade de Belas Artes ("e as prostitutas de domingo", ironiza uma vizinha). Um jardim de bairro com um charme do passado, que começa no exterior, com os muros brancos e de granitos encimados pelo elegante gradeamento verde escuro, interrompido quatro vezes, por quatro portões pesados em cada esquina do rectângulo ajardinado.

É um oásis de árvores ali, rodeado de carros por todos os lados menos um, com frente para a Biblioteca Municipal do Porto e para a fachada barroca do antigo Convento de São Lázaro, com uma certa aura de província, acentuada pelo coreto, corado a ferro. É pequeno, este jardim desenhado a esquadria rigorosa por João José Gomes, primeiro jardineiro municipal, em canteiros delimitados por sebes cuidadosamente aparadas, relvados e recheados de flores. Tudo desemboca num largo central, preenchido por um pequeno lago, rodeado de bancos. Sendo o mais antigo jardim público da cidade, possui algumas das árvores mais antigas do Porto entre as magnólias centrais, que sobressaem sobretudo quando abrem em flor (o que não se passa por estes dias), as tílias, os cedros, as japoneiras...

Por influência ou não das "Belas Artes" ali na vizinhança, várias esculturas espalham-se por ali - entre elas, a de Barata Feyo sobre Silva Porto e a de Soares de Reis sobre Marques Oliveira, o pintor que, aliás, dá oficialmente o nome ao jardim, que mantém uma aura irredutivelmente romântica bem no centro da cidade.

Jardim de Marques de Oliveira -São Lázaro
Avenida Rodrigues de Freitas
Porto
Horário: De Abril a Setembro das 9h00 às 20h00; de Outubro a Março das 9h00 às 19h00.

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