Fugas - Viagens

São Paulo, melodia a régua e esquadro

Por Ricardo Rezende (vídeo), Luís J. Santos (guia), Duda Oliveira (foto)

Ricardo Rezende ondulou por São Paulo e escolheu seis construções incontornáveis desta metrópole brasileira, consideradas obras-primas da arquitectura moderna. Um passeio pela melodia arquitectónica da cidade que constrói um puzzle quase jazzy ao tempo que acompanha os ritmos do quotidiano, da vida e das pessoas que moldam (e são moldadas por) estas peças de arte. Subitamente, um intervalo nas obras construídas pelos homens. Nos céus paulistas, arquitecta-se um relâmpago. Porque a cidade não pára, a cidade é eléctrica.

1. Edifício Copan, Oscar Niemeyer
Ícone da São Paulo modernista, assinado pelo mestre Oscar Niemeyer, este colossal "S", que marca a face do coração paulista (na Ipiranga) - e é dito inspirado no nova-iorquino Rockefeller Center -, está quase a completar meio século: foi projectado (e iniciado) na década de 1950 e concluído já em 1966. O Copan, a maior estrutura de betão armado do país, ondula em 115m de altura (32 andares), mais de mil apartamentos e cerca de 70 espaços comerciais.
Edifício Copan. Avenida Ipiranga, 200 - Bloco S - Sobreloja - Bela Vista (Metrô República). Visitas grátis, com reserva, de segunda a sexta. www.copansp.com.br


2. Praça do Patriarca, Paulo Mendes da Rocha

Um grande nome da arquitectura modernista e contemporânea surge a assinar uma renovada praça que marcou (e, literalmente, marca) uma passagem do velho para o novo centro paulista. Paulo Mendes da Rocha redesenhou a praça, sob a qual está o local conhecido como Galeria Prestes Maia, um histórico espaço de três pisos de salas de exposições - e que deverá voltar a acolhê-las em breve após alguns anos de pausa - e uma passagem subterrânea para o Vale do Anhangabaú. A praça, devolvida aos cidadãos em 2002, após anos a ser usada como terminal de autocarros, é marcada por um pórtico metálico de uma imponência colossal com a sua cobertura central a medir forças com a vizinha igreja de Santo António (o piso inclui mosaico português recuperado).
Praça do Patriarca - Centro. Metro Sé ou São Bento


3. Conjunto Nacional, David Libeskind

Uma obra de arte vivida por muitos milhares: quer nos apartamentos do bloco residencial (vertical), quer no bloco comercial (horizontal). A partir do plano do empresário José Tjurs de erigir um quarteirão moderno à avenida Paulista (esquina com Augusta), nos anos de 1950, o arquitecto David Libeskind - hoje uma celebridade, na altura um jovem promissor de 26 anos - criou um conjunto arquitectónico que se tornou o Conjunto Nacional, marco da arquitectura moderna, obra de gigantismo em linhas minimais que se cruzam numa rede matriz, com um terraço-jardim a servir de cobertura à área comercial. Lá dentro, cinema, teatro ou a meca Livraria Cultura.
Avenida Paulista, 2073 - Cerqueira César - Centro (Metro Consolação). Espaço comercial funciona de segunda a sexta-feira, das 7h às 22h; Sábado, domingo e feriado, das 10h às 22h. www.ccn.com.br


4. Museu de Arte de São Paulo, Lina Bo Bardi
Uma caixa industrial que eleva a arte que contém aos céus (e os reflecte). O MASP, de seu nome completo Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, nasceu graças à figura que lhe dá nome (e que foi político, escritor, advogado, etc.) e a Pietro Maria Bardi, jornalista e crítico de arte italiano. Seria a mulher deste último a assinar o carismático e marcante edifício, inaugurado em 1968. A obra da modernista Lina Bo Bardi repousa sobre quatro pilares, para que transpareça a cidade e arredores, com um vão livre de 74m. Além da solidez desta riqueza exterior, o interior alberga a maior colecção de arte da América Latina, com um acervo que inclui de Renoir a Monet, de Cézanne a Toulouse-Lautrec, de Van Gogh a Gauguin, Goya, Velázquez, Rembrandt ou Picasso.
Av. Paulista, 1578.  Metro Trianon-MASP. www.masp.art.br


5. Instituto Tomie Ohtake, Rui Ohtake

Ao princípio, surpreende. Depois, continua a surpreender. Quase parecendo um brinquedo gigante, com peças que ondulam coloridas num caos controlado, dir-se-ia um imenso silo feito de peças de um quase lego que parecerem esperar outras peças para a brincadeira continuar, arranha-céus acima. É, na verdade, uma obra de amor em várias camadas: o edifício foi desenhado por Rui Ohtake, arquitecto paulistano apaixonado pela sua cidade e que tem marcado a face contemporânea da urbe, e alberga o instituto que homenageia Tomie Ohtake, mãe do arquitecto e considerada "dama das artes plásticas brasileira". Inaugurado em 2001, alberga um centro cultural dedicado a apresentar novas tendências da arte brasileira e internacional, além de referências do período de Tomie Ohtake.
Avenida Faria Lima, 201 - entrada pela Rua Coropés, 80. Pinheiros. Horário: Terça a domingo, das 11h às 20h. www.institutotomieohtake.org.br


6. Parque do Ibirapuera, Oscar Niemeyer
O maior parque de São Paulo há quase seis décadas que recreia os paulistas. Inaugurado em 1954, o plano do complexo arquitectónico tem ordem do mestre Oscar Niemeyer, com um projecto paisagista assinado por outra sumidade, Roberto Burle Marx. O Central Park de São Paulo tem mais de 150ha e chega a receber mais de 20 mil pessoas nos dias úteis, 70 mil ao sábados e quase o dobro aos domingos. O que é natural: são inúmeras as atracções e eventos. Além do espaço natural (e lagos artificiais), há lugar para todo o tipo de actividades. Entre as atracções que acolhe, contam-se os edifícios originais (chamados de palácios) projectados sob a mão de Niemeyer, cinco obras que formam um conjunto monumental e que hoje são o Museu de Arte Moderna (mais de quatro mil obras) e o Pavilhão da Bienal (cenário central de grandes eventos como a São Paulo Fashion Week ou bienais das Arte ou Arquitectura), Oca (especializado em megaexposições; o nome advém da inspiração em casa indígena), o Museu Afro-Brasil ou o Auditório do Ibirapuera (que embora parte do projecto original só foi concluído em 2005). Outras atracções incluem um obelisco que recorda a revolução de 1932, o monumento aos bandeirantes (os exploradores do sertão brasileiro), o Pavilhão Japonês (réplica de um palácio de Quioto, doado pelo Japão e precisamente dedicado à cultura japonesa), o Planetário e o Viveiro.
Avenida Pedro Álvares Cabral, s/n - Vila Mariana - Zona Sul (Metro Santa Cruz a 5km). www.parquedoibirapuera.com


{Vídeo - Música: "Choro N.º1", de Heitor Villa-Lobos}

(Actualização a 19.06.2012 (12h11): correcção da dimensão do Parque de Ibirapuera)

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