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Portugueses viram-se para as compras de viagens com desconto online

Por Ana Rute Silva, Raquel Almeida Correia

Quase 60% das transacções diárias feitas nos sites de compra colectiva em Portugal destinam-se à aquisição de viagens, estadias em hotéis, cruzeiros ou spas. Os portugueses são dos europeus que mais dinheiro gastam nas ofertas na área do turismo.

Sites como a Groupon, a LetsBonus ou Goodlife oferecem diariamente dezenas de propostas com descontos que chegam aos 60 ou 70%. De tratamentos de limpeza, a refeições em restaurantes, os serviços ficam disponíveis por um período de tempo e os descontos só são possíveis quando um número mínimo de utilizadores formaliza a compra. Este modelo de negócio, que nasceu pela mão da Groupon em 2008 nos EUA, pulverizou-se. Não só há cada vez mais sites de compras colectivas, como proliferam páginas que agregam todas as ofertas num único portal.

Foi a partir de uma base de 20 mil utilizadores que a espanhola Yunait traçou o perfil de consumo dos portugueses que, todos os dias, não resistem aos descontos colectivos. "Mesmo descontando o efeito de sazonalidade, a procura de promoções e descontos em viagens em Portugal tem-se revelado superior ao que encontrámos noutros países onde já operamos, como Espanha, Itália, Inglaterra ou Brasil", diz Dalber Candido, director de marketing global da Yunait. Em Espanha "há uma procura muito expressiva de artigos de beleza e moda. Em Itália é curioso o interesse por gadgets e informática", acrescenta.

Um ano depois de ter lançado uma unidade dedicada em exclusiva ao turismo, a LetsBonus vendeu 50 mil viagens, de um simples fim-de-semana ao pacote de férias nas Caraíbas. Ricardo Mesquita, responsável em Portugal desta empresa fundada em Espanha, garante que há um equilíbrio em todas as áreas de negócio, mas devido à sazonalidade as viagens podem atingir 30% das vendas. Já Boris Hageney, presidente da Groupon para a Europa do Sul, diz que em Portugal a venda de refeições em restaurantes e os serviços de beleza são os mais procurados ao longo de todo o ano pelos subscritores do site (jovens adultos, urbanos, entre os 24 e os 44 anos). 

Os operadores turísticos têm vindo a tirar partido da propensão dos portugueses para comprar viagens através destas plataformas, que, em alguns casos, assumiram o papel de verdadeiras agências online. Para a Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo esta tendência é um sinal dos tempos. Trata-se de "mais um canal de distribuição do produto e de mais uma possibilidade de escolha para o consumidor", que surge num momento em que as empresas "têm adequado as suas operações e o seu marketing ao contexto económico actual, destacando as ofertas mais apelativas e mais económicas". Este mercado tenderá a crescer no futuro, mas a associação alerta para a necessidade de os clientes se certificarem de que os operadores estão inscritos no registo nacional (RNAVT), para o caso de quererem apresentar uma queixa.


Comerciantes sem lucro

Para os hoteleiros, a compra colectiva é uma ferramenta de marketing. A primeira experiência da Hospedaria do Convento (turismo de habitação em Figueira de Castelo Rodrigo) nestes portais aconteceu apenas no início deste ano. Foi, no entender de Hugo Santos, administrador, uma forma de "divulgar o estabelecimento a um público mais vasto". Algo que dificilmente conseguiriam fazer sozinhos, mesmo tendo um site e estando associados a outras plataformas de venda ou promoção online. O preço a pagar é elevado. Três noites de estadia estão a ser comercializadas com um desconto de 54%. Mas, mesmo assim, compensa.

"O nosso objectivo não é financeiro, nem de aumento de ocupação. É uma estratégia de marketing. É a esse orçamento que imputamos os custos do dinheiro que perdemos nestes portais face ao valor real que praticamos", explicou o responsável. A Hospedaria do Convento, inaugurada em 1998, é uma unidade pequena (dez quartos e um apartamento) que vivia do turismo nacional, afectado pela crise que o país atravessa. A febre dos descontos colectivos acaba, assim, por ajudar pequenas empresas a chegarem a mais consumidores. É um investimento em publicidade, não um negócio lucrativo. "Não fazemos para ganhar dinheiro. Assumimos como campanhas promocionais. Quando conhecem o serviço, os clientes voltam", diz Andreia Pinto, responsável de marketing do Cinema City, com salas na região de Lisboa e em Leiria. 

Manter e captar novos clientes em tempos de crise é também uma das preocupações de Jorge Simões, dono da Auto Bocage Lisbonense. Apesar de conceder grandes descontos em serviços de lavagem, check-up completo e deslocação à inspecção automóvel (tudo por 15 euros, em vez de 55 euros, por exemplo), não tem prejuízo e mantém "o pessoal ocupado". "Tenho custos fixos, que tenho de pagar sempre. Os cupões trazem-me dezenas e dezenas de clientes novos e muitos repetem, compram outros serviços e fidelizam-se", diz. Em três campanhas que fez na Groupon, conseguiu vender 1600 vouchers.


O novo mercado da troca de cupões

Nos descontos colectivos, os sites recebem uma comissão por cupão vendido. Se os vales não forem utilizados o valor reverte na totalidade para o portal. Ou seja, o comerciante não recebe a sua parte. Boris Hageney, da Groupon, garante que a percentagem é "bastante baixa" e a empresa dá um prazo de utilização de seis meses. Também a LetsBonus afirma que "o número de vouchers não redimidos é marginal, não chegando aos dois dígitos". Dalber Candido, da Yunait, diz que nos EUA, estima-se que 20% dos cupões nunca são utilizados e, por isso, há um mercado em crescimento de revenda de vouchers.

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