Fugas - Viagens

Lituânia, no centro do centro da Europa

Por Inês Nadais (texto, Paulo Pimenta (fotos)

Nem demasiado a Sul nem demasiado a Norte, nem demasiado a Ocidente nem demasiado a Oriente: desde 1989, a Lituânia está no sítio certo, o centro da Europa. Parece ser o lugar natural deste país onde sem grandes acidentes se vai de um copo de vinho francês em Vílnius a uma sauna russa num dos quatro mil lagos escondidos atrás da floresta.

Estamos para lá da Hungria, da Eslováquia, da Polónia e até da ameaça de misséis em Kaliningrado nesta noite de Verão em que não há uma mesa vaga na esplanada do Centro de Arte Contemporânea de Vílnius (CAC). O voo fez escala em Frankfurt, talvez tenhamos sobrevoado uma esquina da Bielorússia, ou uma praia do Báltico, à direita o antigo palácio do KGB, à esquerda a praça que um Lenine gigante vigiou durante quase 40 anos, mas apesar de tudo o que nos empurra para Leste (a começar por uma imagem mental do mapa da Europa que ainda é do tempo da Guerra Fria), os copos de vinho francês e os sacos de pano suecos respectivamente em cima e por baixo das mesas da esplanada do CAC apontam convictamente para outro lugar, um ponto no centro do centro da Europa.

Há mais de duas décadas que Vílnius é esse ponto. Em 1989 - um ano antes de a Lituânia se ter desvinculado da Rússia, o país que a vampirizou quase ininterruptamente desde meados do século XVII -, um investigador do Instituto Geográfico Nacional francês, Jean-Georges Affholder, declarou que o centro da Europa ficava ali, a menos de 16 quilómetros de distância da capital: latitude 54º 54º, longitude 25º 19º. O anúncio não mudou a maneira como a Europa olha para a Lituânia, mas mudou a maneira como a Lituânia olha para a Europa - e a maneira como Vílnius se senta à esplanada do CAC numa noite de Verão para afirmar que a Lituânia não é só o país do pão escuro e dos Invernos intermináveis, mas também o ponto equidistante entre um copo de vinho francês e uma sauna russa.

Do centro do centro de Vílnius nesta noite luminosa, avista-se uma cidade que janta na esplanada do CAC e dança no bar do Instituto Francês (instalado na casa onde Stendhal se alojou quando por ali passou com as tropas napoleónicas, que acabavam de bater em retirada da Rússia), mas que continua tão longe de Paris e de Moscovo como de perder a alma. Apesar de todo o dinheiro investido no restauro - impecável - das extraordinárias residências barrocas do centro histórico, um restauro que devolveu à cidade o vermelho vivo dos telhados e o pastel fantasioso das fachadas, liquidados por décadas de agressões e negligência soviética, Vílnius ainda é a pequena cidade quase provinciana, ainda muito próxima da agricultura e da terra, onde as mulheres ficam a rezar de joelhos nas escadas de capelas minúsculas, indiferentes ao vaivém dos turistas junto à Porta da Aurora, e onde os últimos judeus varrem a entrada da Sinagoga Coral depois do pouco concorrido serviço da manhã.

Por trás do papel de parede lustroso que cobre o centro histórico de Vílnius, nos pátios que se deixam desvendar pelos portões entreabertos, a vida lituana continua. Apesar da gentrificação de algumas zonas, e em particular do antigo gueto onde o metro quadrado atingiu preços inimagináveis há alguns anos, é aqui que vivem 10 por cento dos habitantes da cidade, a poucos minutos da universidade, da enorme catedral neoclássica e da atmosfera bastante beat de Uzupis, o bairro de artistas que em 1997 declarou a independência e que desde então tem levado a sério esse teatro - tem o seu próprio presidente (cuja residência oficial é o café lendário que fica logo a seguir à ponte, mesmo em cima do rio Vinele), a sua própria Constituição de 41 pontos, xerife, hino, bandeira e 16 representações diplomáticas no estrangeiro. O restauro está cada vez mais próximo, mas ainda não chegou a este bairro onde continuam visíveis as cicatrizes da Segunda Guerra Mundial e da indiferença comunista - há grandes edifícios abandonados onde os artistas se vão instalando, e uma verdadeira vida de pequena cidade, entre lojas com tabuletas dos anos 1950 e casas com velhas cortinas de renda queimada pelo sol de Verão. Parece que se está no campo, e está - dez minutos dentro de um autocarro e estamos no país da floresta e dos lagos.


Um castelo no lago

Continuamos no centro do centro da Europa, mas perdemos de vista a malha apertada do núcleo histórico de Vílnius, as avenidas largas das colinas para onde a capital se expandiu, a cintura industrial a toda a volta. O que temos agora são prados a perder de vista, rasgados por lagos de todos os tamanhos, ao fundo a floresta densa, aparentemente impenetrável.

Vinte e oito quilómetros de estrada e estamos em Trakai, que a esta hora do meio da tarde, já com a maioria dos visitantes em retirada, é o paraíso em lituano: uma península, três lagos, um número incalculado de pequenas ilhas onde se pode fazer praia quase secretamente, um castelo de tijolos vermelhos, e um mistério, o dos caraítas (ver texto nestas páginas), para deslindar.

É o programa perfeito há décadas, o típico passeio de domingo para meia Lituânia; para quem não é daqui, pelo contrário, é a ideia acabada de fuga às agruras do mundo. As casas são de madeira pintada de fresco - verdes, lilás, azuis-turquesa, como brinquedos -, os jardins a rebentar de tulipas e amores-perfeitos milimetricamente plantados à face da estrada, e nos restaurantes os pastéis de carne fumegam e pedem cerveja, mesmo a quem jurou nunca mais beber uma cerveja.

Do outro lado do lago, o castelo reconstruído a partir do original do século XV volta a sinalizar que estamos no centro do centro: o celebrado Grão-Duque Gediminas, que expandiu as fronteiras da Lituânia para Sul e para Leste, fez de Trakai a sua capital transitória em 1320, o filho Kestutis instalou a sua corte num primeiro castelo, e em 1400 Vytautas ordenou a construção da estrutura actual, numa ilha do lago Galve. Quando morreu, 30 anos depois, a Lituânia era um dos maiores impérios da Europa: estendia-se para lá de Kursk, a Leste, e quase até ao Mar Negro, a Sul. Nos séculos que se seguiram, sucessivamente engolida pela Polónia, pela Rússia, pela Alemanha e pela União Soviética, a Lituânia nunca mais voltou a ser o centro do centro e construiu a sua reputação de país invisível. Até àquele ano de 1989.


De Lenine a Dennis Oppenheim

Anos antes da proclamação oficial do centro da Europa num ponto a menos de 16 quilómetros de Vílnius, um jovem escultor lituano, Gintaras Karosas, começou a alimentar a ideia de um parque de escultura ao ar livre. Procurou o lugar ideal longe da poluição arquitectónica da capital, ao volante do Opel dos anos 1930 que tinha sido do pai. Em 1987, encontrado o terreno de 55 hectares numa floresta a menos de 20 minutos de carro de Vílnius, inaugurou o Europos Parkas; dois anos depois, o francês Jean-Georges Affholder confirmava a localização que um velho livro de geografia lituano do entre-guerras apontara como centro da Europa - exactamente a sete quilómetros do parque de Gintaras Karosas.

Cinco anos depois, o Instituto Geográfico Nacional francês corrigia os primeiros cálculos, aproximando o parque do centro da Europa (a distância oficial é agora de apenas 2,5 quilómetros). Parece um pormenor, mas não para Karosas, que acredita em milagres - milagres como o de ter esculturas de Dennis Oppenheim, Sol LeWitt ou Magdalena Abakanowicz no parque com que sonhou quando era miúdo.

Quando ali chegou para começar a instalar o Europos Parkas, "não havia estrada, a floresta estava muito maltratada, os caminhos estavam por desbravar", conta à Fugas enquanto se encaminha para uma das mais impressionantes esculturas do parque, a sua LNK Infomedis, que construiu como epitáfio do comunismo a partir dos milhares de televisores de fabrico soviético que lhe fizeram chegar de todos os pontos do país. Por trás da barragem de televisões - tradução visual da barragem ideológica que a propaganda do regime despejou durante décadas em todos os lares da União Soviética -, uma estátua de Lenine, caído por terra, derrotado pelo musgo.

Mais à frente, já está posta a mesa ao ar livre onde Karosas nos convida a almoçar com vista para algumas das mais de 100 esculturas que já conseguiu instalar no parque. Não há melhor maneira de resumir a Lituânia: um piquenique na floresta, no centro do centro da Europa.

 

Gruto Parkas:  Estaline is watching you

Em 2001, um self-made-man lituano que fez fortuna a enlatar cogumelos ganhou a concessão de uma colecção de estátuas malditas na posse do Ministério da Cultura e transformou uma parte da sua quinta no Sul do país, a escassos quilómetros da estância termal de Druskininkai, num parque temático dos dias da ocupação soviética. Como noutros países do antigo bloco de Leste que assim reciclaram a sua pesada memorabilia comunista, a operação foi controversa: Viliumas Malinauskas, ele próprio filho de um lituano que passou dez anos na Sibéria, foi acusado de trivializar a barbárie do estalinismo na "Disneylândia diabólica" que criou junto ao cenário idílico de um dos quatro mil lagos da Lituânia. Com o tempo, os lituanos habituaram-se à ideia de haver um lugar no país (apenas um) onde tudo é como nos tempos em que Estaline, o big brother de um regime pior do que orwelliano, estava watching you - absolutamente tudo, incluindo a comida (ver fichas).

À entrada, o dispositivo de um antigo posto fronteiriço entre a União Soviética e a Polónia faz de portão - um posto fronteiriço controlado do alto de uma cabine de vigia de um gulag, e delimitado pelo arame farpado de campos de trabalho da Sibéria; antes das primeiras estátuas, um vagão usado nas deportações em massa organizadas pela URSS entre 1944 e 1953, que deslocaram cerca de 350 mil lituanos.  E assim, de murro no estômago em murro no estômago (apesar do chilrear dos pássaros e dos casais de namorados), se entra no não tão admirável mundo velho da Lituânia pré-independência. Ao todo, são 86 monumentos - incluindo 13 Lenines, dois Estalines e seis Kapsukas, disseminados por uma área de 20 hectares - que reconstituem um país extinto, um país rigorosamente vigiado pelas estátuas titânicas dos grandes heróis comunistas que até 1990 dominavam as principais praças de todas as localidades dignas desse nome (quanto mais importante a localidade, maior a estátua).

Como nos velhos tempos, os altifalantes debitam hinos oficiais; como nos velhos tempos, comem-se salsichas com ketchup em maus tabuleiros de alumínio; como nos velhos tempos, o "clube de leitura" disponibiliza literatura autorizada.

Livros, cartazes, bandeiras, bustos, jornais, medalhas, condecorações, o carro da lotaria, o posto da propaganda - o acervo do Gruto Parkas é infindável e muito sovieticamente desorganizado. É um parque temático, não um museu, ainda que Viliumas Malinauskas tenha consciência do poder do seu empreendimento: "Este lugar reflecte o doloroso passado da nossa nação - um passado de sofrimento, tortura e perda. Não podemos esquecer ou rasurar a história - qualquer que ela seja".

Na Lituânia pós-independência, há um lugar onde essa história é levada ainda mais a sério do que no parque de Viliumas Malinauskas: o Museu das Vítimas do Genocídio, instalado no antigo quartel-general do KGB, em Vílnius. São os próprios locais a admitir que têm alguma autoridade para discutir o assunto: consta que por serem espertos e muito dotados para línguas estrangeiras, os lituanos eram a nacionalidade mais requisitada no KGB.

 

Judeus e caraítas: uma história de morte, outra de sobrevivência

Parecem criaturas vivas, as florestas lituanas - e são. Tardiamente exposta à influência do Catolicismo (foi o último país da Europa a cristianizar-se, em 1413), a Lituânia ainda é em parte território pagão - e as suas florestas cerradas, verdíssimas, têm a aparência de um mundo à parte, guardado pelos misteriosos totens de madeira do folclore local.

Mas nem sempre foi benigna, a interminável mancha verde que cobre 33 por cento do país e que os lituanos respigam religiosamente na Primavera e no Verão, nas campanhas de caça aos frutos silvestres e aos cogumelos que são de lei em todo o Norte do mundo. Durante os anos da ocupação nazi, entre 1941 e 1944, as florestas lituanas foram animais ferozes - ali perderam a vida, de um minuto para o outro, milhares de judeus, ali se extinguiu, de um minuto para o outro, um modo de vida.

É uma história de fulgor e morte, a do judaísmo asquenazita na Lituânia. Quando os nazis chegaram, a 24 de Junho de 1941, Vílnius ainda era um dos mais importantes centros judaicos da Europa, a Jerusalém do Norte - 75 mil judeus num total de 160 mil habitantes, cem sinagogas, seis jornais diários, e uma língua viva, o iídiche, que ali tinha o seu principal núcleo de investigação a nível mundial. Logo nos três primeiros meses da ocupação, 35 mil judeus foram executados na Floresta de Paneriai, a dez quilómetros da capital, às mãos do Einsatzkommando 9, uma unidade de elite das SS. O primeiro gueto, entretanto estabelecido numa pequena área do centro de Vílnius - o Pequeno Gueto, como ficou para a História -, teve vida curta: foi liquidado apenas 46 dias depois da sua criação, para dar lugar, a 6 de Setembro, ao Grande Gueto, extinto em 1943, altura em que mais 26 mil judeus foram abatidos na floresta e outros dez mil foram deportados para campos de concentração e extermínio. No final da Segunda Guerra Mundial, a comunidade judaica de Vílnius estava reduzida a seis mil habitantes.

Em Kaunas, a segunda cidade do país, a história não foi muito diferente: a sua proeminente comunidade judaica (cerca de metade da população, maioritariamente concentrada no subúrbio de Slobodka, onde se erguia "a mãe de todas as yeshivas") praticamente desapareceu do mapa entre 1941 e 1944. O Nono Forte, uma estrutura construída no final do século XIX numa colina sobranceira à cidade, para reforçar a fronteira ocidental do império czarista, transformou-se num campo de morte onde 80 mil pessoas foram executadas - judeus lituanos, mas também de toda a Europa Central e mesmo Ocidental. Ali terminou a sua marcha, por razões que ainda estão por esclarecer, o misterioso "comboio 73" que a 15 de Maio de 1944 partiu de Drancy, nos arredores de Paris, com 878 judeus franceses a bordo.

Hoje, o Nono Forte é o que resta de uma ferida num campo esplendoroso, pelo menos em manhãs de Primavera - há senhoras de tulipas na mão e judeus americanos de kippa de olhar fixo no enorme memorial de estilo soviético, evitando o fosso onde tanta gente caiu com uma bala na nuca.

Mas se a história dos judeus lituanos é uma história de morte - representam hoje apenas 0,1 por cento da população: 5000 pessoas, no total, a esmagadora maioria das quais em Vílnius -, há uma história paralela de sobrevivência que se conta à mesa, em Trakai, onde 12 famílias (cerca de 60 pessoas) asseguram a continuidade da minúscula minoria caraíta, ou pelo menos dos fumegantes pastéis de carne que para a maioria dos visitantes, lituanos incluídos, constituem o único contacto com um mundo desconhecido. Lá muito atrás no tempo, os caraítas lituanos - um braço particularíssimo da comunidade de judeus caraítas - saíram do Iraque com destino à Crimeia, onde em 1397 o Grão-Duque Vytautas foi recrutar várias centenas de homens para trabalharem como guarda-costas em Trakai, defendendo os dois castelos num dos períodos mais conturbados da expansão do território. Ficaram até hoje (e entretanto tiveram direito a um museu etnográfico).

Ao longo dos séculos, os caraítas lituanos puderam conservar, mesmo sob ocupação, a sua língua agora reduzida a cerca de 500 falantes em todo o mundo, a sua gastronomia (os kybynlar, pastéis em forma de meia-lua que são recheados e depois vão ao forno, são obrigatórios em Trakai - ver fichas), as suas casas com três janelas (uma para Deus, uma para a família, uma para o Grão-Duque Vytautas), e a sua religião, uma forma especial de judaísmo que não reconhece outra expressão da lei divina a não ser os dez mandamentos tal como revelados a Moisés, e que ainda hoje é praticada na Kenessa do início do século XIX (aberta a visitantes, ainda que não oficialmente).

É uma história de sobrevivência, repetimos, mas ninguém sabe até quando: a mais pequena minoria étnica da lituana está em retracção há décadas, e segundo as últimas estatísticas disponíveis não há hoje mais de 280 caraítas na Lituânia. O museu já existe - por enquanto, ainda é um museu vivo.

 

Guia prático

Quando ir
Há uma razão para estarmos a escrever sobre a Lituânia em Setembro: chove bastante menos do que em Agosto mas ainda não começou a nevar, o tempo continua quente mas há menos mosquitos a atrapalhar a aproximação aos lagos (para não dizermos a imersão nos lagos), e como tecnicamente esta já não é a época alta os preços dos hotéis desceram, os lituanos estão de regresso e cidades como Vílnius e Kaunas retomaram a sua vida social (boa altura para frequentar cafés e teatros, portanto - e a Lituânia é todo um caso à parte na paisagem teatral europeia, com pelo menos dois fenómenos de culto, os gigantes Oskaras Korsunovas e Eimuntas Nekrosius). O longo Inverno que se estende de Novembro a Março, com nevões furiosos e temperaturas quase sempre abaixo de zero, é um período a evitar, mesmo por quem anda à procura de férias de esqui. Com a abertura da enorme Snow Arena de Druskininkai (www.snowarena.lt), a Lituânia passou a dispor de três pistas (duas cobertas, uma ao ar livre) com neve todo o ano e uma vista indescritível sobre a densa floresta da região - uma vista que, garantimos, se torna ainda mais indescritível nos meses em que a luz do dia demora tanto a apagar-se que parece que vai durar para sempre. Já que falamos de florestas, outro bónus do mês em curso: Setembro é a época alta da apanha de cogumelos, um dos mais praticados desportos nacionais, e portanto a altura certa para ver a Lituânia em ebulição em qualquer um dos seus verdíssimos parques naturais.


Como ir
A Ryanair voa para Kaunas nas não há voos directos de Portugal (via Porto e Faro, arriscando interligar voos low cost na companhia, as melhores ligações parecem ser via Milão-Bérgamo, Paris-Beauvais e Birmingham, dependendo das combinações). Com alguma pontaria e muita paciência para fazer contas de cabeça e a navette entre várias janelas da Internet, a viagem de ida e volta pode ficar bem abaixo dos 150 euros.
Das companhias tradicionais, a Lufthansa parece ser a opção mais conveniente tanto para partidas de Lisboa como do Porto, sempre via Frankfurt: no primeiro caso, a tarifa pode rondar os 400 euros, no segundo pode ficar abaixo dos 300.


Onde ficar
Os lituanos continuam a usar os aeroportos mais para sair do que para entrar ( no espaço de uma década, mais de um milhão de lituanos emigraram do país), mas o turismo - e o braço muito particular do turismo de negócios - recuperou nos últimos anos da quebra acentuada entre 2003 e 2006. Em Vílnius e na região termal de Druskininkai, sobretudo, a febre da remodelação de hotéis está para durar e vale a pena ir fazendo refresh para ficar a par das últimas novidades (e das campanhas vantajosas de reabertura). Para as primeiras impressões antes de uma procura tailor-made nos sites especializados, a Fugas sugere três sítios para dormir na capital lituana, por ordem crescente de preços: as celas do Domus Maria (http://www.domusmaria.lt/), um antigo convento carmelita estrategicamente colado à Igreja de Santa Teresa (os quartos 207 e 307, com vista para a Porta da Aurora, têm de ser reservados com meses de antecedência) que continua a servir os pequenos-almoços no refeitório abobadado do século XVIII; o Europa Royale (http://www.groupeuropa.com/),), alguns metros abaixo, com quartos de dimensões muito generosas e uma recepção deliciosamente fora do tempo mas completamente no centro da acção; e, já  no coração do antigo bairro judeu, o Stikliai (www.stikliaihotel.lt/), um hotel de charme instalado numa residência barroca do século XVII que faz parte da rede Relais & Châteaux.

A apenas 28 quilómetros de distância, Trakai é normalmente vendida como um bom programa para fazer entre o pequeno-almoço e o jantar em Vílnius - e está mal. A Fugas deixou-se ficar para jantar e teve pena de não se deixar ficar para dormir, porque é justamente quando a multidão de daytrippers se enfia no autocarro que Trakai se torna mais impressionante. O parque de campismo Slenis (www.camptrakai.lt/) , uma instituição centenária, é o melhor sítio para pernoitar, mesmo para quem não anda com a mochila (e a tenda) às costas: há vários tipos de cabinas disponíveis, incluindo umas irresistíveis casinhas de madeira com alpendre. Para cozinhar, basta ir buscar um barbecue com rodinhas à recepção, onde também é possível pedir informações acerca dos vários tipos de banhos disponíveis, todos com vista para o lago (sauna finlandesa, banya russa, onsen japonês, jacuzzi  e banho de vapor lituano).

Mais a Sul, em Druskininkai, multiplicam-se os hotéis termais. O Grand Spa Lietuva (www.grandspalietuva.eu/), com todo o tipo de tratamentos (ao todo são 108, incluindo banhos de lama para fortalecimento das gengivas), um bar de infusões e um rebuscado parque aquático inspirado em motivos Arte Nova, é um dos mais recentes - os preços variam em função da localização dos quartos (há uma ala de três e outra de quatro estrelas). Mais simples, o novíssimo Hotel Central (www.centralhotel.eu/), da cadeia Best Western, ocupa a casa com mansarda onde em 1909 abriu o primeiro hotel da estância - apesar de ter feito tábua-rasa da decoração original, um delito comum na hotelaria, a remodelação não arruinou a pose de grande hotel do início do século XX (e, admitimos, deu-lhe algum conforto extra). Uma última viagem no tempo, ainda em Druskininkai: uma noite no Hotel Pusynas (www.pusynas.lt/) é actividade de carácter obrigatório para qualquer interessado nas questões da arquitectura, e em particular nas excentricidades do estilo soviético. Já lhe chamaram caixa de bolachas, mas são calúnias: juntamente com a Igreja Ortodoxa Russa da cidade, uma pequena preciosidade de madeira azul-forte e cúpulas douradas, é o edifício mais fotogénico de Druskininkai.


Onde comer

Todas as capitais do Báltico têm o seu restaurante temático e em Vílnius esse restaurante é o Lokys (www.lokys.lt/), um labirinto de salas a servir refeições desde 1972 numa taberna do século XV. Os pratos de caça são a grande atracção - com descrições imbatíveis como "assado de javali gabado pelo Grão-Duque Gediminas com bagas silvestres e pêra doce", "codornizes adoradas pelas gentis damas lituanas" ou "guisado rústico de carne de castor com cogumelos, pimentos doces marinados e puré de batatas" -, mas também há pratos vegetarianos, incluindo as retemperadoras sopas lituanas de beterraba e boletos. Não há que enganar: nenhum outro restaurante em Vílnius tem um urso à porta. Outra instituição incontornável da cidade é o Neringa (www.restoranasneringa.lt/), um restaurante aberto desde 1959 que mantém a glória do período soviético e continua a juntar artistas e membros da intelligentsia à volta de clássicos como o prato de arenque fumado com natas ácidas, o fígado frito e os cepelinai (raviolis de batata com recheio de carne). Para refeições mais ligeiras, a Fugas recomenda a esplanada do Centro de Arte Contemporânea (http://cac.lt/), aberta diariamente das 11h à meia-noite, e o balcão do Café de Paris (www.cafedeparis.lt/), no Instituto Francês, que é também um dos melhores lugares da cidade para ouvir música.

Outra experiência "temática", mas já perto de Druskininkai, é um almoço no Gruto Parkas (www.grutoparkas.lt/), onde,  além dos cogumelos que fizeram a fortuna do dono do empreendimento (ver caixa) são servidos, em tabuleiros de alumínio iguais aos que havia nos gulags e com os mesmos talheres de fabrico soviético de má qualidade, peixinhos de rio com cebola e vodka e almôndegas "com mais farinha do que carne" (sic). Há quem venha de longe para matar saudades - palavra.

Em Trakai, a minoria caraíta (ver caixa) continua a ter uma cozinha à parte e há dois restaurantes que se especializaram nos típicos pastéis de vitela, borrego ou vegetais que são o centro dessa singular dieta local: o Kibinine e o Kybynlar (www.kybynlar.lt). Num caso como noutro, mesas ao ar livre, bancos corridos e vista para o lago - ou para a cozinha, onde se organizam cursos de culinária por marcação.

Em Kaunas, a segunda cidade da Lituânia, a Fugas só se sentou num restaurante, o Sadute (http://sadute.lt), onde comeu a refeição mais surpreendente da estadia - flores comestíveis, bacalhau, e um gelado de pão de centeio antes da conta.

A Fugas viajou a convite da Embaixada da Lituânia

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