As mãos de uma velha senhora sentada no chão de um mercado de Udaipur, na Índia, valeram ao português Carlos Esteves uma menção honrosa, na secção Best Single Image in a Portfolio - Journeys (Melhor imagem isolada em portefólio - Viagens) da competição internacional Travel Photographer of the Year 2012 (TPOTY), que no seu painel de jurados inclui diversos fotógrafos de renome ou editores de publicações especializadas, caso da influente "Condé Nast Traveller".
Segundo a organização da competição, o júri elogiou a composição cromática da imagem e a forma como os pormenores atraem o observador. Para Esteves, de 38 anos, a fotografia, embora não seja a sua área profissional - é gestor de projectos de tecnologias de informação -, "mais do que um hobby é uma paixão", disse à Fugas, considerando o prémio "um reconhecimento" do trabalho que tem vindo a desenvolver. "Para além disso, dado o prestígio desta competição, possibilita aumentar a exposição e visibilidade da minha fotografia", sublinha.
A "paixão" pela fotografia foi-se ligando directamente a outra, a de "viajar e descobrir a autenticidade dos lugares" que visita, sempre, conforme descreve, à procura de "captar a próxima imagem poderosa". É um "privilégio", diz-nos, "descobrir novos mundos". "Para mim é irresistível registar a experiência desses momentos". A fotografia de viagem, considera, "é bastante singular porque não existem segundas oportunidades". "Em geral, estamos num local que não conhecemos, num meio e cultura porventura bastante distintos do nosso, com condições de luz que não determinamos (nem muitas vezes antecipamos) e com uma permanência tipicamente mais curta do que a desejada". Mas as dificuldades aguçam o engenho. "Temos de trabalhar sempre muito rápido e bem, pelo que um fotográfo de viagem tem uma actividade particularmente exigente e desafiante".
De uma viagem à Índia resultou uma grande quantidade de imagens (que podem ser vistas no seu site). Aliás, além da imagem distinguida no TPOTY 2012, outra foto sua registada na Índia mereceu, em Setembro, destaque na competição internacional de retratos Shoot the Face, encontrando-se entre as finalistas; antes disso, já tinha sido seleccionado para uma exposição colectiva. A menção honrosa agora recebida veio mesmo a tempo, já que lançou há dois meses o seu site oficial para dar a conhecer mais e melhor a sua "paixão". Agora, o objectivo é continuar o seu "processo evolutivo" e a "captar momentos e emoções que se traduzam em imagens com cada vez mais impacto e utilidade para a sociedade".
Entre brumas e silhuetas
A vitória na edição 2012 do TPOTY coube ao britânico Craig Easton: o Cutty Sark Award dá-lhe direito a ostentar a divisa de Fotógrafo de Viagens do Ano. Profissional na matéria, Easton - elogiado pelos seus portefólios de brumas escocesas e silhuetas em Paris contrastadas com a Torre Eiffel, além de fotografar para publicações de viagens, já colaborou com a VisitBritain - o Turismo oficial britânico e foi das Olimpíadas de Londres.
O júri - composto por fotógrafos profissionais como Eamonn McCabe, Jason Hawkes, Ami Vitale, Steve Bloom, Nick Meers e Chris Weston, editores das revistas de fotografia "Hotshoe International", "Foto Magazin" (Alemanha) e "Outdoor Photography", além do editor de fotografia da "bíblia" mundial das viagens "Condé Nast Traveller" - considerou que o trabalho de Easton vale pela "criatividade, diversidade de estilos e a elegância e natureza gráfica" dos seus portefólios.
Além do grande prémio, a competição anual, criada em 2003 por dois fotógrafos profissionais, Chris Coe e Karen Coe, distribui prémios por temas (ou mesmo idade). Os distinguidos têm direito a vários prémios, entre viagens pelo mundo a máquinas e material e serviços profissionais, ou mesmo dinheiro, oferecido pelos patrocinadores e parceiros (incluindo Fujifilm, Adobe, “Condé Nast Traveller”, Explore ou Tribes Travel).Em 2013, a Royal Geographical Society de Londres, também parceira da competição, receberá a mostra com o melhor da edição 2012. A exposição decorrerá entre 12 de Julho e 18 de Agosto.
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Os melhores do ano
O Condé Nast Traveller Award (Celebration) foi para o espanhol Enrique López-Tapia: o seu portefólio retrata um tradicional festival galego, Rapa das Bestas, dedicado aos cavalos selvagens da região. O prémio: um trabalho remunerado que será publicado na revista.
Já o prémio para melhor portefólio na secção "People Watching" foi para o britânico Philip Lee Harvey, que fotografou uma colheita em Bagan, na Birmânia. Nesta secção, o prémio para uma imagem isolada coube a Timothy Allen, mais uma vez um britânico.
O vencedor do melhor portefólio sob o mote "Wild Planet" tem autoria holandesa: é assinado por Marsel van Oosten, com uma série de imagens que fazem resplandecer árvores do deserto da Namíbia. A distinção para melhor imagem isolada na temática de "Planeta Selvagem" coube a uma curiosa coreografia de gaivotas captada pelo polaco Michal Jastrzebski.
Na categoria geral de "Journeys", venceu o portefólio de Lung Liu, sedeado no Canadá, dedicado ao vanguardista e sempre impactante festival artístico Burning Man, que se realiza anualmente nos EUA. A melhor imagem isolada nesta secção de jornadas - a mesma em que o português Carlos Esteves obteve uma menção honrosa - pertence a Andrew Newey (Reino Unido), que fotografou o vegetal momento de descanso de dois xamanes numa ilha indonésia.
Já a suíça Alessandra Meniconzi apresentou um portefólio sobre os nómadas Nenet, da Sibéria, o que lhe valeu o prémio para Novo Talento (Another World), e a norueguesa Hilde Foss conquistou o primeiro prémio na categoria One Shot - Water, com uma ultradinâmica composição captada num rio durante uma competição de desportos radicais.
E "como se resume uma grande cidade a uma só imagem"? É a pergunta que se faz na categoria "First Shot - Big City". A melhor resposta foi dada pela vencedora, Anka Sliwa (Reino Unido), com a imagem de um caminhante solitário entre os gritos de dois rostos de graffitti.
A complementar o concurso de fotografia, o TPOTY engloba ainda uma categoria para curtas metragens de viagens (em HD). Venceram, ex-aequo, James Morgan (Reino Unido) - "Bem-vindo a Londres", uma "viagem pela Índia, Turquia, Espanha e Japão sem sair de Londres" - e Marsel van Oosten (Holanda) - que documenta em "time-lapse" o trabalho fotográfico com que venceu a categoria "Wild Planet".
Jovens (e muito jovens) fotógrafos
A competição apela também à arte dos mais novos. O mais jovem dos "artistas" premiados tem apenas 10 anos: chama-se Michael Theodric e está na Indonésia - venceu na categoria de fotógrafo com menos de 14 anos (Lugares e Rostos) enviando um trabalho sobre pescadores no lago de Bagendit. Já o fotógrafo até 15 anos é Samuel Fisch, dos EUA, com cowboys e o seu mundo no Wyoming. Ainda na juventude, o prémio para talento emergente foi para Chase Guttman, 16 anos, também dos EUA e, curiosamente, também com um portefólio sobre um evento equestre. Outro americano, Matthew Gillooley, de 18 anos, venceu a secção dos 15 aos 18 anos (Lugares e Rostos), mas noutras geografias: captou o quotidiano de Kilgoris, no Quénia.
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Travel Photographer of the Year: Site | Facebook
Carlos Esteves: Site | Facebook | Flickr
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(artigo actualizado a 14.12.2012 com declarações de Carlos Esteves)