Após a busca d' "A Geografia da Felicidade", o jornalista dedica-se a "aventuras com o divino". Agora lançado em Portugal, o seu novo livro segue um turismo diferente, numa bem-humorada "Viagem pelo Mundo à Procura de Deus".
Durante anos, o jornalista norte-americano Eric Weiner viajou pelo mundo de reportagem em reportagem. Antigo repórter do New York Times, foi correspondente na Índia e percorreu dezenas de países, acompanhando os mais diversos acontecimentos, de reformas económicas a guerras. Este deambular levá-lo-ia à genese do seu "bestseller" mundial lançado em 2008, "A Geografia da Felicidade", onde, ao contrário dos muitos dramas que acompanhou pelo planeta, relatava a sua viagem de um ano pelos países que figuravam no "ranking" dos mais felizes do mundo.
Agora, a sua mais recente demanda segue outros caminhos: em "Uma Viagem pelo Mundo à Procura de Deus", livro publicado em edição portuguesa pela Lua de Papel em Fevereiro, Weiner relata as suas "aventuras com o divino". É uma jornada bem-humorada, já definida como uma "autobiografia espiritual", que leva o autor pelos caminhos de diversas religiões.
A obra ("Man Seeks God" no original - Homem Procura Deus), leva-nos à Turquia onde Weiner aprende a rodopiar com os dervixes sufis, ao Nepal onde aprende a meditar com os monges tibetanos, a Israel onde se inicia na Cabala ou à China onde tenta ("a custo"...) libertar o seu chi. Mas também nos leva a momentos únicos sem sequer sair dos EUA, como a passagem por Las Vegas e pelo movimento raeliano cuja crença assenta na existência de extra-terrestres, pela experiência xamânica em Washington ou os franciscanos de Nova Iorque.
É uma viagem de cerca de 350 páginas, que inclui mais paragens profundas, iniciada, não tão surpreendentemente assim, na sala de urgências de um hospital. Durante uns exames, uma enfermeira lançou-lhe uma pergunta que deixaria Weiner em estado de inquietação e que seria o espoletar desta viagem divina: "Já encontrou o seu Deus?". "Foi um daqueles momentos em que a mente demora muito tempo, mais do que o habitual, a descodificar o que entrou pelos ouvidos. Se já encontrei o meu Deus?", escreve. Não em vão, o hospital chamava-se Santa Cruz...
E é após esse momento da "grande pergunta" no Santa Cruz que o jornalista se começa a indagar até decidir-se partir mundo fora numa "demanda espiritual" em que, quase mais importantes os locais que visita, são as pessoas que o "guiam", entre gurus e sábios, gentes fervorosas, carismáticas ou simplesmente surpreendentes.
Entre comparações ao "melhor estilo de Bill Bryson", O livro tem sido recebido com elogios em diversas geografias. É "como se o Woody Allen estivesse 'possuído' pela Karen Armstrong [uma conceituada especialista em religiões]”, resumiam no New York Times.
No seu site oficial, Weiner debate todas as estas viagens e até existe um espaço para cada leitor partilhar "as suas aventuras com o Divino".
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No Nepal
"Finalmente chegamos a Boudhanath e logo me apaixono. Boudhanath, percebo-o, é um «local fino». Os locais finos são aqueles sítios raros em que a distância entre o Céu e a Terra está comprimida e conseguimos sentir o divino (o transcendente, diriam os budistas) com mais intensidade. Apesar de ter sido engolida por Katmandu, Boudhanath (Boudha, para encurtar) mantém o aconchego e autonomia de uma aldeia. A vida aqui gira, literalmente, à volta de um marshmallow gigante. Bom, é o que me parece a mim, um marshmallow branco gigante, apertado no topo por uma criança gigante, e com dois olhos gigantes pintados nele. Na verdade, é uma stupa, um santuário budista, e esses olhos são os Olhos Que Tudo Veem do Buda. Há um mito elaborado em torno da história da stupa, mas não consigo percebê-lo. No entanto, todas as stupas representam a Mente do Buda e diz-se que andar à volta delas nos aproxima mais da iluminação.”