Fugas - Viagens

Em Macau, a noite será sempre uma criança

Por Nuno Sousa

Há uma outra cidade que emerge quando a luz natural se apaga. Cá fora, as ruas reforçam o poder de atracção. Lá dentro, entre quatro paredes, há uma indústria que acelera

Um pôr do sol é sempre um pôr do sol. Para o bem e para o mal, é uma espécie de render da guarda, de fim de um ciclo que não tarda a renovar-se. É o outro lado de uma moeda que, em Macau, tem o condão de continuar a reluzir, mesmo fora de horas.

Adeus luz natural, olá néons ofuscantes. No campeonato do encandeamento, provavelmente o Hotel Grand Lisboa ocuparia o primeiro lugar da tabela, mas no exercício "viver Macau by night" não é propriamente a intensidade que mais conta. É o que ela anuncia. O skyline da cidade ganha vida própria, os restaurantes e os bares engalanam-se para a ocasião, os casinos entram em ritmo de cruzeiro.

Como num tabuleiro de Monopólio, voltamos sempre à casa de partida: há vida para além do jogo, em Macau? Sim, há. Nos pequenos bairros residenciais, na história das ruínas de São Paulo, na imponência da Fortaleza do Monte, na centralidade do largo do Senado, no recato do templo de A-Má. Mas quando a noite é metida ao barulho, não há como esconder atrás das costas a mão que lança os dados da sorte.

Os números não mentem: as visitas à região administrativa especial da China têm crescido de forma sustentada e os dados de 2012 estão aí para o provar. Durante o ano passado, 28.082.000 turistas acorreram ao território, perfazendo um aumento de 0,3% face a 2011, impulsionado sobretudo pela comunidade chinesa, com 25.055.000 presenças.

Onde é que entra o jogo nesta equação? Em todo o lado, se tivermos em conta que os casinos são o principal íman turístico da cidade. Basta olhar para as maiores fontes de receitas da região para perceber onde tudo desemboca - dos 21,9 mil milhões de euros gastos pelos visitantes no ano passado, 19,2 foram absorvidos pela indústria do jogo.

Não espanta. As salas estão abertas all night long, 24 horas non stop, e o apelo visual é permanente. Até porque a oferta (35 casinos para 538 mil habitantes) ultrapassa largamente as necessidades da região e só com recurso à importação de clientes (e a uma estratégia de marketing agressiva) é possível levar o negócio de vento em popa.

O tapete rolante da economia local não pára de encaminhar os visitantes para as slot machines, mas há vias de escape. Os 233m de altitude da Torre de Macau causam-lhe vertigens? De noite (aos fins-de-semana, o "desafio" encerra às 21h) talvez seja mais fácil, então, arriscar uma sessão de bungee jumping e confiar a sua vida a um cabo de 50 metros que o deixará a outros 30 de distância do solo.

Se tiver um perfil menos radical, poderá sempre passear-se junto ao cais dos pescadores ou deixar-se surpreender pelo movimento das ruas. Que tal uma noiva em sessão fotográfica nocturna, por exemplo? Estranho? Com o lançamento do Plano de Incentivo ao Turismo de Casamentos, no final de 2012, é muito provável que, rapidamente, esta imagem passe de excentricidade a tradição. 

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A Fugas viajou a convite do Turismo de Macau e da Air France

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