O arquitecto não era, no entanto, inexperiente nas viagens. Antes do projecto De Cabo a Cabo, já tinha visitado a Polónia, a Hungria, a República Checa, a Roménia, a Bulgária, a Finlândia e os países do Báltico, percorrido o Sud Express por Espanha e corrido Marrocos, sozinho, por três semanas. Sempre teve o bichinho das viagens, principalmente de comboio – uma paixão de criança -, mas “depois de uma viagem destas é difícil ficar parado”. “É mesmo muito difícil”, confessava-nos este Verão, acusando “muitas saudades de estar na estrada”.
Portugal a pé, mano a mano
Ainda nem tinha habituado o corpo à rotina da casa dos pais e já partia outra vez. Agora com o irmão mais novo, Cristóvão, para percorrer Portugal Continental a pé. Cevide (Melgaço), Paradela (Miranda do Douro), Torre (Serra da Estrela), Cabo da Roca (Sintra) e Cabo de Santa Maria (Faro). Mais uma vez, o objectivo era percorrer o mapa de cabo em cabo, agora unindo os pontos mais extremos do país: o mais a norte, o mais oriental, o mais alto, o mais ocidental e o mais a sul.
Ao longo de doze semanas, entre o final de Setembro e o início de Dezembro de 2012, os irmãos Brandão calcorrearam o país lés-a-lés, para redescobrir um “povo acolhedor e hospitaleiro, mas também muito desconfiado”. “Primeiro há sempre uma desconfiança muito grande. Senti muitas vezes que é um país triste, muito ensimesmado e já sem grande expectativa”, conta o irmão mais velho. Mas, ainda assim, uma viagem que “superou tudo”. Novamente “porque o contacto com as pessoas foi interessante e muito melhor do que esperavam”. Muitos convites para almoços, boleias generosas, estadias oferecidas em casa de famílias, em corporações de bombeiros.
Para Cristóvão Brandão, a viagem - mais do que apenas um longo passeio pedestre pelo país - era também uma forma activa de procurar emprego, com a entrega de currículos pelo caminho. O esforço ainda não compensou, mas para o irmão mais velho a luta pelo sonho de ser viajante profissional – materializada nas últimas viagens – já começa a dar frutos. No início do ano integrou a equipa de guias da Papa-Léguas e no final de Maio lidera a primeira viagem: 11 dias de comboio entre Berlim e Moscovo; já com novas datas e “muito possivelmente um novo destino: Bangkok – Singapura”.
Enquanto isso, está quase a chegar às livrarias uma outra grande viagem, desta feita em formato livro: a sua primeira obra, “Destino: SUL”, deverá ser lançado no final de Junho, sob a chancela de uma nova editora, Parsifal, e com prefácio do viajante Tiago Salazar.
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