Fugas - Viagens

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Atrás da praia há um pinhal cheio de flores

Por Ana Rute Silva

O Monte da Vilarinha criou três percursos pedestres para os seus hóspedes em parceria com a Walking’Sagres. Para mostrar que a vila da Carrapateira, em Aljezur, não é só praia.

O cheiro a esteva começa logo quando se vira na direcção de Monte Ruivo, estrada fora rodeada de vegetação e com as hélices gigantes do parque eólico a marcarem a paisagem. Este ano a chuva ajudou e os campos estão cheios de água, verdes e brilhantes. No Verão, o cenário já será diferente, castanho e seco, com os carros a rumarem à praia. A estrada segue sinuosa, passamos a Bordeira e as suas casas brancas e silenciosas, e a Carrapateira, aldeia do concelho de Aljezur, aproxima-se. Além da esteva há rosmaninho no ar. São cheiros fortes que compõem o cenário numa Primavera que tardou, mas chegou.

No fundo do Vale do Paraíso e em pleno Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, uma manada de vacas atravessa lentamente a estrada de terra batida, gingando os badalos ao seu ritmo. Escondido entre a vegetação, está o Monte da Vilarinha, uma unidade de turismo em espaço rural que João Pedro Cunha, dono do Restaurante Azenhas do Mar, em Sintra, não descansou enquanto não pôs de pé. Foram dez anos de papéis e burocracias até obter o licenciamento de que precisava para construir as casas pintadas de branco, seguindo o método tradicional da taipa, com tecto em cana. Nos 34 hectares de terreno que comprou, queria semear um alojamento de turismo em família, perto da Carrapateira.

“A escolha da localização teve a ver com o surf e a caça submarina e a minha adolescência passada aqui. Era tudo selvagem, uma aventura, e eu não descansei enquanto não vendi uma casa na Praia Grande, em Sintra, para comprar um terreno. Já cá estavam os estrangeiros a valorizar a Carrapateira”, conta João Pedro, enquanto faz uma visita guiada à Fugas. Os jardins, bem cuidados, integram-se na vegetação autóctone. Os javalis que, por vezes, à noite se passeiam nas imediações não foram afugentados. “Colocámos câmaras com infra-vermelhos para os filmar”, revela.

O monte está dividido em três zonas: a Casa do Forno, a Casa da Ribeira (composta por quatro casas T0) e as Casas de Cima (3 casas T1). A Fugas ficou num dos T0 da Casa da Ribeira, próximos da piscina e localizados na zona mais baixa da unidade, perto da ribeira. Todos os quartos têm um pequeno pátio com vista para o vale.

Lá dentro, o espaço é amplo e sem portas (a não ser a da casa de banho). Há uma pequena zona de refeições com uma cozinha equipada com tudo o que é necessário para cozinhar. E uma zona de estar. O mobiliário foi feito à medida. Há mesas-de-cabeceira forradas com cortiça, paredes de pedra à vista que contrastam com outras pintadas de branco, uma cama de casal coberta de branco.

Na encosta, fica a Casa do Forno. São três quartos com cama de casal e casa de banho privativa, sendo que dois deles têm uma sala comum com lareira. Nas Casas de Cima, há uma cama no terraço para aproveitar a vista. A sala de estar também tem lareira e zona de refeições e a cozinha está equipada, incluindo com máquina de lavar a roupa. A decoração é simples. Uma mistura de praia e campo que se reflecte nos tons terra, brancos e cinzentos, e nas telas com referências ao mar que povoam as paredes.

Os estrangeiros ocupam grande parte das casas e marcam dias de férias quando o tempo está bom, chegando de Faro nos voos low-cost. “Os nossos hóspedes são na maioria ingleses, holandeses e alemães”, diz João Pedro. Na época alta, o monte está quase sempre esgotado e, por isso, o proprietário quer mostrar que há mais do que praia na Vilarinha. Na Primavera, Outono e Inverno também há atracções que valem uma viagem de três horas, a partir de Lisboa. As caminhadas são uma delas.

“Agosto está reservado de ano para ano. Os clientes mantêm-se. É o Inverno que temos de trabalhar [em termos de ocupação]”, conta. Foi com isso em mente que nasceu a Walking’Carrapateira, uma parceria com a Walking’Sagres, empresa fundada pela guia de natureza Ana Carla Cabrita e que quer levar os hóspedes a descobrirem a paisagem natural e rica que envolve a zona. Mas já lá iremos.

A abertura oficial deste espaço de turismo rural aconteceu em 2007. “Não fiz publicidade nenhuma. Mas convidámos os amigos e isso ajudou a dinamizar. Foi o passa a palavra, a melhor forma de fazer publicidade. Hoje dá-se mais importância à opinião dos amigos e aos comentários na Internet”, diz João Pedro.

Aqui, respira-se tranquilidade. Os montes verdes que rodeiam as casas parecem aconchegar-nos. E à noite são os sons da natureza que nos fazem companhia.

No dia em que a Fugas ficou no Monte da Vilarinha, João Pedro convidou dois amigos para o jantar. António Rosa e Rui Rodrigues trouxeram grande parte dos ingredientes e vamos encontrá-los na cozinha, atarefados, à volta dos tachos. António produz batata-doce em Aljezur e é dele a célebre Alcagoita, a manteiga de amendoim portuguesa, de sabor forte, granulada e natural.

Os produtos da terra serão as estrelas. “Cheire lá estes morangos”, diz, enquanto segura uma caixa cheia de fruta. Coze-se o feijão carito, “tradicional de Aljezur”, que não precisa de ser demolhado na véspera e “era a comida dos pobres” - como diz António – tiram-se as folhas dos cardos, acabados de colher, corta-se o alho verde em rodelas finas. Rui, que deixou uma carreira no mundo da publicidade para se dedicar à agricultura biológica, prepara os cardos com ovos. Na ementa há polvo à lagareiro, favas com morcela e toucinho frito. Salada com alface, acelga e flores comestíveis. E um bolo de chocolate, com os morangos, para rematar. Lá fora, só se ouve o coaxar das rãs.

Pela estrada fora

João Pedro quer mostrar o outro lado da Carrapateira. Por isso, a manhã começa cedo, com uma caminhada guiada por Ana Carla Cabrita. Para conhecer a vila a pé, Carla concebeu três percursos para os hóspedes do Monte da Vilarinha, com graus de dificuldade distintos, entre os 3,5 quilómetros e os 18 quilómetros.

Com o pequeno-almoço tomado (pão fresco e caseiro, doces, sumo de laranja “verdadeiro”), rumamos de carro à aldeia da Bordeira, ainda adormecida pelo sol e caiada de branco. A caminhada começa aqui. Observamos a capela manuelina, e seguimos rumo ao campo. Carla aponta para umas flores roxas e vai descrevendo as características da vegetação. Há ranúnculos, a planta do linho, funcho, papoilas que regressam aos campos. “Estes pássaros são abelharucos”, diz, apontando para o céu.

No Pinhal de Bordalete, o chão é de areia e a caminhada fica mais exigente. Mas o tempo não custa a passar. Há árvores centenárias, com troncos que se enrolam entre si, e flores características que Carla nos vai mostrando com entusiasmo. Ficamos a conhecer a camarinha, a planta mais comum nestes terrenos, e a vegetação transforma-se à medida que nos aproximamos da zona costeira. O Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina é, aliás, o troço de litoral europeu mais bem conservado, com espécies de fauna e flora únicas.“Esta é a biscutella vicentina e há quem venha de propósito aqui para ver esta planta”, conta Carla, apontando para a flor amarela e verde, de folhas achatadas. Também se avista a arméria, símbolo do parque, acrescenta.

O mar aparece no horizonte e domina, de repente, a paisagem. Paramos para beber um chá frio e bolos de alfarroba com amêndoa que Carla transportou, firmemente, na mochila ao longo de todo o percurso. “É isto que quero mostrar. Há natureza, há gastronomia”, repete João Pedro, olhando para a paisagem.

Carla caminha sem pressas, respeitando o ritmo de cada um, dos mais aos menos experientes. Criou a Walking’Sagres para despertar os sentidos aos que visitam a região e dar a conhecer o potencial natural que a envolve, com mais de 100 espécies florais identificadas como endémicas (ou seja, específicas da zona) e raras. Além de Sagres, agora também caminha na Carrapateira, respondendo ao desafio que João Pedro lhe colocou.

Descemos a arriba em direcção à praia da Bordeira e a manhã passou a correr. Depois do pinhal, o areal branco estende-se à nossa frente. Caminhamos em direcção ao Sítio do Rio, o restaurante onde vamos recuperar as forças e provar o peixe grelhado.

“E agora, continuamos a caminhar até ao Monte ou pedimos transporte?”, questiona Carla, já depois de almoço. A ideia de entrar num carro não ganha adeptos. Afinal, quem já caminhou até ali, consegue terminar a etapa.

À chegada ao Monte da Vilarinha, a piscina convida a um mergulho. Não interessa quantos quilómetros se percorreram. A caminhada foi feita sem pressas e o sol já se está a pôr no horizonte. A Carrapateira não é só praia.

A Fugas esteve alojada a convite do Monte da Vilarinha

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Informações


Onde dormir

Monte da Vilarinha
Tel.: 916192119
www.montedavilarinha.com
GPS: 37º10’08.28”N 8º51’30.85”W
Preços: entre 100 euros (época baixa) e 190 (época alta), consoante a tipologia

Como ir

Seguir pela A2 em direcção ao Algarve. Entrar na Via do Infante (A22) na direcção de Lagos/Portimão e sair na última saída (Aljezur/Sines). Na rotunda de Bensafrim seguir pela N120 em direcção a Aljezur. Ao avistar o parque eólico seguir à esquerda na direcção de Monte Ruivo. No cruzamento com a N268, virar à esquerda para Sagres/Vila do Bispo. Seguir até à Carrapateira, depois da vila virar à esquerda seguindo a indicação Vilarinha.

Onde comer

Sítio do Rio
Praia da Carrapateira
Tel.: 282973119

Sítio do Forno
Carrapateira
Tel.: 282973914

A Praia
Arrifana
Tel.: 282998527

A visitar

Museu do Mar e da Terra da Carrapateira
Exposição permanente O oceano, a nossa terra
Rua do Pescador, Carrapateira, Tel.:282970000
Horário: Terça a sábado, das 10h às 17h (Inverno) e das 11h às 18h (Verão)

Caminhadas
Contactar o Monte da Vilarinha ou a Walkin’Sagres (925545515)

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