Todos os anos, por alturas da Primavera, o ex-ciclista profissional João Correia viaja até à Toscânia, em Itália, para ser o guia de um grupo de ciclistas amadores em voltas de bicicleta que têm subidas árduas e descidas técnicas.
Só que aqui, mesmo nunca esquecendo o desporto turístico, esquecem-se, e bem, as dietas. A agência InGamba, criada por João Correia, de 38 anos, dedica-se a levar os turistas a pedalar mas também a mostrar as paisagens e dar a provar outras das atracções mais características da região: a comida e o vinho. Entre cada volta a pedal, há refeições que podem demorar três horas e provas de vários vinhos pelas quintas da região toscana, célebre pelo seu chianti.
No ano em que Correia correu profissionalmente pela equipa de elite da Cérvelo, a maior parte dos campos de treino eram realizados nesta região. “A ideia do InGamba nasceu numa volta em bicicleta, em 2010, quando me apercebi que o que eu pretendia era ter uma ligação à zona onde estava a viver”, explica. Era “um local de que gostava muito”. “Ali, tudo era simples”, resume.
“Queria ter um sítio onde pudesse pedalar em estradas magníficas sem olhar para números de potência [um dos métodos de treino mais usados no ciclismo]. Gostava de comer nos meus restaurantes favoritos e nas casas dos meus melhores amigos sem olhar para a balança. E pretendia beber os vinhos que mais apreciava à garrafa e não apenas um copo”, conta Correia.
Cada destino da InGamba faz lembrar uma Volta à França — prova que arranca a 29 de Junho e pode ser seguida no PÚBLICO — dos pequeninos, mas, sublinhe-se, as bicicletas usadas são topo de gama e até se tem um massagista e um mecânico portugueses à disposição. Todos os dias, pela manhã, os comensais saem à rua para pedalar entre 60 a 120km pelos encantos da Toscânia.
Contudo, estas voltas de bicicleta são só para abrir o apetite. Durante esse tempo, oito dias, Correia mostra aos interessados os seus lugares favoritos. Depois das etapas de bicicleta, o português organiza almoços num restaurante local e jantares/visitas a sítios como a quinta de vinhos Castello di Ama, onde se pode provar um chianti clássico, vinho tinto da região da Toscânia. Por isso, as voltas de bicicleta são despreocupadas e a comida, bebida e a cultura são um caso sério. “É partilhar com as pessoas uma coisa que normalmente não conseguem encontrar: descobrir um sítio com uma pessoa que conhece bem os cantos”, refere.
A primeira viagem InGamba surgiu de um desafio do ex-ciclista profissional, que é um grande utilizador das redes sociais. O português lançou um repto aos seguidores no Twitter para o seguirem pela Itália, onde andariam de bicicleta da parte da manhã e à tarde teriam tempo para conhecer a zona. Na primeira vez, em 2011, quatro pessoas alinharam; na Primavera desse ano, o número duplicou. A partir de 2012, a InGamba passou a ter várias viagens, onde até se inclui uma viagem pela região do chianti inteiramente dedicada às mulheres, a realizar em Maio.
Em Outubro de cada ano, a InGamba volta a realizar-se em Itália com o objectivo dos aventureiros participarem na prova história L’Eroica. Esta prova pela região da Toscânia não tem este nome por mero acaso. Todos os participantes têm de correr com bicicletas antes de 1987 e são encorajados a vestirem roupas vintage. É um regresso ao passado do ciclismo, num percurso de 205 quilómetros (trata-se da prova mais longa), por subidas desafiantes e estradas de gravilha, num cenário de cortar a respiração.