Já realizado em 2012 e com data marcada para Setembro deste ano, Correia vem a Portugal e durante oito dias mostrará os cantos da cultura e da gastronomia portuguesas, numa viagem onde os ciclistas ficam, em cada noite, numa das Pousadas de Portugal, ficam a conhecer alguns dos restaurantes mais característicos do país (não turísticos) e vão provar e visitar os vinhos da região do Douro e do Porto. A viagem, entretanto, já tem mesmo lotação esgotada.
Trocar o ciclismo pela comida e vice-versa
Na vida de Correia, a ligação entre ciclismo e comida tem mais que se lhe diga. Correia foi ciclista profissional até aos 21 anos, tendo então trocado o desporto por um trabalho de secretária. Acabaria por engordar até ficar com o peso de dois ciclistas profissionais... Mas, com 34 anos, idade em que muitos ciclistas se retiram, voltou ao ciclismo profissional para a equipa da Cérvelo Test Team.
O regresso de Correia não foi uma pequena conquista já que na maior parte da sua vida adulta o apetite por pasta foi ultrapassado pelo apetite da vitória. “A comida era como treinar”, recordou Correia dos dias em que os jantares demoravam algumas horas e tinham seis a oito pratos. “Entrava num restaurante, alongava um pouco e até usava umas calças mais confortáveis.”
Tendo começado no ciclismo em criança, em Portugal, Correia continuaria a subir nos “rankings” amadores depois da família se ter mudado para Sleepy Hollow, Nova Iorque, quando tinha 11 anos. Durante a adolescência, Correia conciliava a escola com o ciclismo em equipas em França e na Holanda. Depois de resultados promissores nos Campeonatos do Mundo de Juniores, assinou por uma equipa de ciclismo profissional em Portugal, em 1995, e entrou na Universidade de Fordham em Nova Iorque. A necessária dedicação à vida académica levou-o a deixar o ciclismo de lado. Depois de se ter licenciado, começou a trabalhar na “Esquire Magazine” e a lidar com clientes.
“A minha forma de negociar era através da criação de relações e consegui vários negócios à mesa”, diz-nos Correia. Mas à mesa com os clientes não se poupava nas refeições. “Começava com um queijo mozzarella, pedia um prato de esparguete a bolonhesa, depois um coelho, vinho e terminava com grappa [aguardente à italiana]. Isto era uma refeição light.”
A vida sedentária levou-o a atingir os 93kgs. Quando passou a trabalhar na revista “Bicycling”, em 2004, tinha de pedalar com os clientes ao fim-de-semana e era “humilhado”. As pessoas que o conheceram quando corria profissionalmente não queriam acreditar que era a mesma pessoa. “As pessoas perguntavam: João Pequeno, és mesmo tu?”, recorda, referindo-se à alcunha de criança. “Eu era enorme”.
Em 2006, Correia estava a pedalar numa corrida recreativa, em Itália, com um cliente, que reparou na técnica forte do português e perguntou se ele já tinha corrido profissionalmente. Depois de Correia lhe ter contado as suas glórias passadas, o cliente motivou-o a tentar o ciclismo mais uma vez.
Foi este momento que o levou a procurar um treinador em Salt Lake City, Massimo Testa, para o ajudar a voltar à forma física a tempo dos Campeonatos Nacionais de Ciclismo de Portugal, em menos de um ano. Testa duvidou que os resultados chegassem tão rápido, uma vez que a percentagem de massa gorda de João Correia era de 23% (a maioria dos ciclistas ronda os 6%-8%). Com a ajuda de um nutricionista, que lhe indicou uma dieta baixa em gorduras e rica em proteínas e sessões de treino contínuas, Correia voltou, em 2007, aos Nacionais de Portugal: ficou em 12º lugar no contra-relógio individual – nada mau considerando que estava a competir com profissionais que não tinham tirado quase uma década para comer. No ano seguinte, o corredor assinou pela equipa americana Bissel Pro Cycling e no final de 2009 foi convidado pela Cérvelo, equipa patrocinada pela marca canadiana de bicicletas, que na altura era n.º1 nos rankings mundiais da União Ciclista Internacional (UCI).