Fugas - Viagens

  • A cruzar a Quinta do Lago, já na estapa 22
    A cruzar a Quinta do Lago, já na estapa 22 DR
  • Passagem por Matosinhos
    Passagem por Matosinhos DR
  • S. Pedro de Moel com o companheiro de etapas Eduardo Santos
    S. Pedro de Moel com o companheiro de etapas Eduardo Santos DR
  • Um grupo na partida da Ribeira, Porto
    Um grupo na partida da Ribeira, Porto DR
  • Da Foz do Arelho à Consolação
    Da Foz do Arelho à Consolação DR
  • Ericeira - Cascais
    Ericeira - Cascais DR
  • Eduardo Santos cruzando a Lagoa de Albufeira, Fonte da Telha - Sesimbra
    Eduardo Santos cruzando a Lagoa de Albufeira, Fonte da Telha - Sesimbra DR
  • Da Comporta a Sines
    Da Comporta a Sines DR
  • Da Comporta a Sines
    Da Comporta a Sines DR
  • Nas areias da Comporta
    Nas areias da Comporta DR
  • Rumo a VN Milfontes
    Rumo a VN Milfontes DR
  • Entre Aljezur e a Arrifana
    Entre Aljezur e a Arrifana DR
  • Perto de Vila do Bispo
    Perto de Vila do Bispo DR
  • Início da etapa de Sagres
    Início da etapa de Sagres DR
  • A entrar em Lagos
    A entrar em Lagos DR
  • Após cruzar a meta, em Vila Real de Santo António, com companheiros de corrida
    Após cruzar a meta, em Vila Real de Santo António, com companheiros de corrida DR
  • Pedro Coelho baptizou o seu projecto de Portugal Seaside Run
    Pedro Coelho baptizou o seu projecto de Portugal Seaside Run DR

Correr a costa portuguesa de ponta a ponta em 24 dias

Por Mara Gonçalves

Pedro Coelho decidiu unir o país em passo de corrida, do Minho ao Guadiana. Uma maratona de 24 dias, por cerca de 1000km da costa continental, que terminou a 6 de Agosto em Vila Real de Santo António.

“Vivi 24 dias de saltimbanco, memoráveis. Levei o meu corpo a extremos que sei que ficaram longe ainda dos meus limites. Partilhei com velhos amigos histórias e quilómetros e conheci novos companheiros de corrida que foram verdadeiras molas impulsionadoras deste projecto. Conheci um país que adoro e tem paisagens e pessoas que nos surpreendem e maravilham de forma inesperada. E fui capaz”, resume Pedro Coelho à Fugas, poucas horas depois de terminar esta aventura.

A ideia de correr a costa continental portuguesa de ponta a ponta começou numa desilusão: no início do ano soube que não tinha sido sorteado para participar numa ultramaratona em Mont Blanc e, a partir daí, o professor de Educação Física decidiu que iria aproveitar a pausa escolar do Verão para se fazer à estrada e atravessar o país a correr, seguindo a linha da costa. "Nada como conhecer a ligação entre praias e zonas litorais, não por estrada, mas percorrendo percursos e trilhos próximos do mar", dizia-nos Pedro Coelho, a "dois passos" do fim da sua odisseia, quando ainda entrava em terras algarvias. As “paisagens espectaculares” acompanharam-no até ao cruzar da meta, atestando aquilo que, como escreve no seu blogue, não ser “novidade para ninguém”: “Portugal é um belíssimo país com uma costa maravilhosa”.

A partida do Projecto, baptizado de Portugal Seaside Run, foi de Caminha, a 14 de Julho. A meta, cruzada em Vila Real de Santo António, a 6 de Agosto. Ao longo de mais de 1000km, por terras de 52 concelhos, foi correndo em quase todo o tipo de terreno: areia, falésias, trilhos, canaviais, estradas alcatroadas e por vezes até lagoas e ribeiras, que teve de cruzar com água pela cintura. Perdeu a conta a subidas e descidas, teve etapas de mais de nove horas, muitas foram as vezes que não encontrou o caminho. Mas quase sempre com cenários idílicos como pano de fundo. Porque, se o objectivo era sobretudo testar limites, nada como aproveitar para também encher o olhar de "paisagens deslumbrantes" e conhecer melhor a "diversidade e beleza" do litoral português.

Na zona das serras do Risco e da Arrábida, por exemplo, encontrou "um pequeno paraíso", entre "o verde da vegetação, a imponência da pedra e o azul do mar" e a "total ausência de lixo e de presença humana ", contava-nos numa troca de e-mails entre etapas. O que até fez valer a pena os quilómetros perdidos em trilhos sem saída, que o obrigaram a voltar para trás algumas vezes. Já no percurso pedestre da Rota Vicentina, entre a Zambujeira do Mar e a praia de Odeceixe, descobriu uma "verdadeira maravilha", ideal para passeios em família. Um percurso "muito bem sinalizado, com escarpas imensas e alguns areais quase desertos", resume.

No entanto, o percurso que mais gostou de fazer foi a única etapa nocturna do projecto, uma recriação de algo que organiza em Castelo Branco desde Fevereiro: a Full Moon Run Party. A partir de conversas com colegas de corrida, Coelho decidiu organizar estas festas nocturnas, uma forma de unir as pessoas à volta da corrida, usando a lua cheia como pretexto. Após três edições de sucesso, as Full Moon Run Parties começaram a ser temáticas e mensais.

Desta vez a festa passou para o litoral, numa corrida entre a praia do Bom Sucesso, na Foz do Arelho, e a Consolação. "Pelo número de pessoas envolvidas, pelos locais percorridos e pelo ambiente gerado entre todos, foi sem dúvida um marco muito importante neste desafio", afirma o professor de 45 anos. O mesmo já não poderá dizer da etapa seguinte, que o levou da Consolação à Ericeira. Foram 56,50 km, feitos em 09h06min, entre "falésias, trilhos, praias, canaviais imensos quase intransponíveis, subidas e descidas perigosas".

Ao longo dos quilómetros percorridos, Pedro Coelho passou por aventuras várias, entre perder-se, terrenos complicados ou dificuldades de logística com o transporte. Uma vez até acabou inadvertidamente por "invadir" um parque de campismo. Porém, diz-nos, contou sempre com "a solidariedade e entreajuda de amigos" e "principalmente de pessoas que não conhecia de lado nenhum". Além de Eduardo Santos, que o acompanhou em 21 das 24 etapas, foram muitos os companheiros de viagem, que se juntaram para partilhar um par de quilómetros, ajudar na logística ou oferecer comida e guarida.

Pelo menos desde 2004 que Pedro Coelho anda nisto das corridas. Já atravessou a meta de 16 meias-maratonas, 6 maratonas e várias provas de trail e ultra trail. Há dois anos começou a somar pontos em competições para poder participar no radical Ultra Trail do Mont Blanc. Alcançou a pontuação necessária, mas o acesso é feito por sorteio e a sorte não lhe sorriu. "Em Janeiro de 2013 não fui sorteado e disse à minha família que, sendo assim, faria o país de norte a sul pela costa litoral durante as férias de verão de 2013", conta o professor de educação física.

E foi assim que uma desilusão deu lugar a um novo e mais pessoal projecto que se revelaria cheio de emoções. Na terça-feira, a meta era cortada na companhia de dez colegas de corrida, muitos deles repetentes no apoio à odisseia. Na praça Marquês de Pombal, em Vila Real de Santo António, aguardavam família e amigos. “As pernas levaram-me devagar, mas os amigos e a família ajudaram-me a chegar longe", conclui Pedro Coelho.

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(07.08.2013: artigo actualizado com dados e citações sobre o final do projecto)
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