“Vivi 24 dias de saltimbanco, memoráveis. Levei o meu corpo a extremos que sei que ficaram longe ainda dos meus limites. Partilhei com velhos amigos histórias e quilómetros e conheci novos companheiros de corrida que foram verdadeiras molas impulsionadoras deste projecto. Conheci um país que adoro e tem paisagens e pessoas que nos surpreendem e maravilham de forma inesperada. E fui capaz”, resume Pedro Coelho à Fugas, poucas horas depois de terminar esta aventura.
A ideia de correr a costa continental portuguesa de ponta a ponta começou numa desilusão: no início do ano soube que não tinha sido sorteado para participar numa ultramaratona em Mont Blanc e, a partir daí, o professor de Educação Física decidiu que iria aproveitar a pausa escolar do Verão para se fazer à estrada e atravessar o país a correr, seguindo a linha da costa. "Nada como conhecer a ligação entre praias e zonas litorais, não por estrada, mas percorrendo percursos e trilhos próximos do mar", dizia-nos Pedro Coelho, a "dois passos" do fim da sua odisseia, quando ainda entrava em terras algarvias. As “paisagens espectaculares” acompanharam-no até ao cruzar da meta, atestando aquilo que, como escreve no seu blogue, não ser “novidade para ninguém”: “Portugal é um belíssimo país com uma costa maravilhosa”.
A partida do Projecto, baptizado de Portugal Seaside Run, foi de Caminha, a 14 de Julho. A meta, cruzada em Vila Real de Santo António, a 6 de Agosto. Ao longo de mais de 1000km, por terras de 52 concelhos, foi correndo em quase todo o tipo de terreno: areia, falésias, trilhos, canaviais, estradas alcatroadas e por vezes até lagoas e ribeiras, que teve de cruzar com água pela cintura. Perdeu a conta a subidas e descidas, teve etapas de mais de nove horas, muitas foram as vezes que não encontrou o caminho. Mas quase sempre com cenários idílicos como pano de fundo. Porque, se o objectivo era sobretudo testar limites, nada como aproveitar para também encher o olhar de "paisagens deslumbrantes" e conhecer melhor a "diversidade e beleza" do litoral português.
Na zona das serras do Risco e da Arrábida, por exemplo, encontrou "um pequeno paraíso", entre "o verde da vegetação, a imponência da pedra e o azul do mar" e a "total ausência de lixo e de presença humana ", contava-nos numa troca de e-mails entre etapas. O que até fez valer a pena os quilómetros perdidos em trilhos sem saída, que o obrigaram a voltar para trás algumas vezes. Já no percurso pedestre da Rota Vicentina, entre a Zambujeira do Mar e a praia de Odeceixe, descobriu uma "verdadeira maravilha", ideal para passeios em família. Um percurso "muito bem sinalizado, com escarpas imensas e alguns areais quase desertos", resume.
No entanto, o percurso que mais gostou de fazer foi a única etapa nocturna do projecto, uma recriação de algo que organiza em Castelo Branco desde Fevereiro: a Full Moon Run Party. A partir de conversas com colegas de corrida, Coelho decidiu organizar estas festas nocturnas, uma forma de unir as pessoas à volta da corrida, usando a lua cheia como pretexto. Após três edições de sucesso, as Full Moon Run Parties começaram a ser temáticas e mensais.