México
Chegámos à Cidade do México com olheiras fundas e um certo mau humor.
É verdade que não queríamos ter chegado já. E o céu carregado não ajuda. Em meia hora estaremos a caminho da Colónia de Anzures, para a Rua
Shakespeare, que está entre a Darwin e a Victor Hugo, de frente para a Allan
Poe. Dormiremos numa cama larga, no décimo andar do amigo Tiago.
Viva México! – a Alexandra Lucas Coelho é nosso guia. É através dela que
unimos os cabelos em desalinho deste México de nuances e fricções.
Juntam-se os tempos, passado, futuro, raiz, vanguarda, saias floridas,
mezcal. Cruzam-se nas ruas largas da calçada os sombreros e as palhinhas,
as camisolas bordadas, as janelas abertas, os parapeitos gradeados. Oaxaca
amarelo torrado, Oaxaca queijo entrelaçado, Oaxaca no alto do Monte Alban.
Noites às voltas na tórrida Juchitán. A subida de todas as escalas até San
Cristobal de las Casas. Os amigos de San Cristobal de las Casas, o amor a
San Cristobal de las Casas, o salto ao Yucatán, o retorno a San Cristobal de
las Casas, a dor de deixar San Cristobal de las Casas, e enfim, o adeus ao
México.
Perú
Estaríamos em Paris, se as grandes rotundas não tivessem vendedores
ambulantes, nem autocarros a descamar. Era Viena se as portadas dos
teatros e dos hotéis não estivessem tão comidas, as paredes tão
sarrabiscadas, as esquinas tão cheias de buracos. Seria Florença, se em
frente às grandes igrejas não houvesse indígenas de filhos às costas e
chapéus na cabeça. Mas é Lima, a eterna capital deste lado da América
Latina e uma boa metáfora do país. Os dias passados com o Nuno foram um
capricho, um estrago na mimalhice das meninas que, claro, estavam
felicíssimas. Mas não foi este o Perú que tivemos pela frente. Seguimos as
linhas do deserto de Nazca, caminhámos cinco dias, 75Km em altitude, para
chegarmos a Machu Picchu, atravessámos aldeias flutuantes, pisámos terra
firme no Lago Titicaca, e atravessámos, enfim, para a Bolívia.
Brasil
Depois de 11 meses a falar inglês e espanhol, com sotaque diferente a cada
país, chegamos ao Brasil, e a primeira coisa que nos perguntam é se somos
espanholas. Mas o Brasil é tão especial que não o podemos encaixar em
meia dúzia de linhas e de lugares comuns. É sim um lugar bem comum a
todos nós, portugueses, que afinal, de alguma maneira, com tanta novela,
tanta música, poesia, jeitinho de anca, faz parte do nosso imaginário. A
sensação é a de um estranho reconhecimento e a do total deslumbre. O
nosso Brasil teve amigos de sul a norte, grandes rodas de samba, de choro e
muito forrobodó.
Nunca a ideia de viajar de amigo e amigo foi tão bem
recebida e animada como no Brasil, e depois de um ano na procura de
amigos, ouvimos desta gente adocicada um reconfortante “podemos ser
vossos amigos?”.
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Este é apenas um resumo de algumas das viagens do projecto. Para todos os detalhes do dia-a-dia de 13 meses a viajar pelo mundo siga para o site oficial e Facebook