Ratos e cozinhas não combinam. Ratazanas e gastronomia, ainda menos. Mas a magia da Disney consegue pôr tudo ao contrário. E Rémy não é o primeiro roedor a ser transformado numa personagem simpática. Agora, o pequeno chef tem na Disneyland europeia uma praça e um restaurante com o seu nome: La Place de Rémy e Bistrot Chez Rémy. A cidade de Paris chega à Disneyland Paris. Com glamour e sabores requintados.
Num decalque do filme Ratatui (Pixar), realizado por Brad Bird e que ganhou o Óscar de Melhor Longa-Metragem de Animação relativa a 2007, a atracção Ratatouille: L’Aventure Totalement Toqueé de Rémy (nome original e completo) é a 60.ª a integrar o parque francês e, por algum tempo, será exclusiva desta Disneyland.
Breve resumo do filme mais francês da Disney/Pixar: Rémy é um apaixonado por cozinha e tem o sonho de ser um chef famoso. O que ele gostava mesmo era de dirigir a equipa do restaurante Gusteau, em cujos esgotos subterrâneos habita. (É uma ratazana, não esquecer. Ou melhor…) Mesmo contrariando a família, Rémy há-de conseguir levar por diante o seu projecto, contando com a ajuda do desajeitado Linguini, um humano com pouca vocação para culinária. Pelo meio, há desconfianças de outros chefs, perseguições e uma história de enamoramento — ou não se tratasse de Paris. Fim do resumo.
Antes de se entrar na atracção propriamente dita, aquela que levará os visitantes, em veículos-ratos (ratmobiles), a conhecer a cozinha, a despensa e até o frigorífico do restaurante Gusteau, faça-se um passeio pela bela Place de Rémy. De imediato se reconhece a cidade que o filme retrata e cujos cenários se inspiraram em bairros icónicos de Paris, como La Place Dauphine e o Boulevard Haussman. A arquitectura dos edifícios, as cores das fachadas, os pormenores do mobiliário urbano, como os bancos e os candeeiros de rua, reenviam-nos para o ambiente que a longa-metragem tão bem recriou. Não há dúvida: ça c’est Paris!
Na apresentação à imprensa, no primeiro dia deste Verão, a Disney encheu o novo recinto com figurantes e animadores, numa encenação das actividades típicas das ruas parisienses. Caricaturistas, vendedores de gelados, acrobatas, músicos de rua, Pierrots, ardinas e madames deram ainda mais cor e vida ao espaço. E não faltou o champanhe.
A bicicleta do Linguini, a moto da enérgica chef Colette e a Vespa que o maldisposto Skinner roubou para perseguir Rémy também por ali andavam. Não se espere, no entanto, que um dia comum no parque contemple todas estas “atracções” extra de que beneficiaram mais de mil jornalistas.
É obrigatório observar com atenção a fonte, inspirada na que se encontra na Place des Vosges, e que, segundo a Disney, foi adaptada pelo desenhador Harley Jessup. “O toque final é dado por alguns roedores com garrafas de champanhe das quais brotam jorros de água.” É muito engraçada.
Embarquemos então no ratmobile que começará por circular nos esgotos do famoso restaurante de Auguste Gusteau, o autor do livro Toda a Gente Pode Cozinhar. O ambiente é escuro e a atmosfera húmida. Põem-se os óculos 3D e a viagem começa. Poderemos ver a cidade a partir de um terraço com uma vista ampla, mas depressa seremos encaminhados para a cozinha onde Rémy finalmente praticou os seus dotes de confecção de ratatui. Só que teremos de fugir por baixo das mesas, de nos encostar à parede e de nos esconder na despensa ou debaixo do chapéu de Linguini. (Somos ratazanas, não esquecer. Ou melhor…)
Os visitantes vivem tudo isto estando sentados em veículos com um sistema inovador de tracção, sem carris. Como se deslizassem no gelo. A pensar nas famílias, a lotação de cada ratmobile é de seis pessoas. Deslocando-se em grupos de três veículos, cada um deles fará um percurso diferente. Assim, pode repetir-se a viagem e ser-se surpreendido por novas circunstâncias. (Dica: os lugares do meio são os que proporcionam emoções mais fortes.)
Sem querer desvendar tudo o que se lhe pode deparar, fique atento aos cheiros, às mudanças de temperatura e à abertura de garrafas de champanhe… Não se admire se sentir frio quando encontrar um frigorífico aberto ou calor junto ao fogão. É tudo muito rápido, mas intenso.
Num ratmobile que deslizava por perto, duas crianças de seis, sete anos espantavam-se, encolhiam-se, assustavam-se e riam-se divertidas. Uma alegria contagiante. Chegaram ao fim bastante animadas e logo deram a volta ao recinto para outro embarque e nova aventura multissensorial.
Quem não ficou muito entusiasmada foi a pequena Alice, com quase três anos e um discurso claro. “Tive medo” e “molharam-me as bochechas”, disse à Fugas quando já estava mais tranquila. Foi a sua primeira experiência com óculos 3D e apanhou um grande susto. Pouco depois, o assunto estava esquecido e no dia seguinte parecia nada ter-se passado, até porque a aventura maior tinha entretanto acontecido: andar no Faísca, a atracção do Walt Disney Studios a partir do filme Carros.
“Ele andava muito depressa e às voltas e não tive medo. O Faísca é vermelho”, foi dizendo a menina, enquanto provava deliciada o que pai lhe ia pondo pacientemente no prato: salada, legumes, peixe, carne, queijo ou azeitonas. Uma genuína gourmande, sempre com um laço na cabeça e vontade de conversar. Identificava, certeira, muitas das personagens dos cartazes dispersos pelo parque e chegou a perguntar pelos Marretas! Mais uns aninhos e irá adorar a atracção Ratatui.
É preciso alguma “maturidade” para não se estremecer perante um presunto com mais de seis metros de comprimento ou frente a um peixe com 7,5m de altura. Adereços gigantes que pesam, respectivamente, 1,2 toneladas e 750kg. Já para não falar no que tem de sinistro perceber que se está a ser observado a todo o momento não se sabe bem por quem. São “apenas” 49 pares de olhos de ratos escondidos na atracção.
O que pode ser mágico, encantador e divertido em certas idades pode não resultar noutros níveis etários. Difícil, difícil será esta atracção não agradar a adultos, sobretudo aos apreciadores de gastronomia e aos curiosos sobre o que aos bastidores de um restaurante diz respeito.
Sigamos então para um dos 370 lugares à mesa do Bistrot Chez Rémy. Quem diz mesa diz tampa de pote de marmelada gigante, rodeado por cadeiras construídas com base nas protecções metálicas das rolhas das garrafas de champanhe e com os pés a imitar aquele “açaime” que não permite que a rolha salte. Também há bancos enormes de cortiça com a forma arredondada das rolhas.
Isto porque o restaurante de Rémy continua a brincar com a nossa noção de escala, já posta à prova na viagem em ratmobile. Tudo é descomunal na decoração da sala, dos chapéus de cocktail em tamanho XXL aos enormes pratos e talheres que separam as mesas e decoram as paredes, ou do frasco de pimenta que ultrapassa quem mede 1,72m aos livros de culinária que parecem torres. Definitivamente, os clientes são reduzidos à condição de ratos (não é metáfora, é escala).
Grande será também o prazer de saborear a cozinha francesa num parque onde a oferta gastronómica não se diferenciava até aqui da de outras geografias. Também por esta via, França chega à Disneyland Paris. Por isso se aconselha o ratatui e o famoso queijo local Brie de Meaux. Criaram-se dois vinhos especialmente para o Bistrot Chez Rémy, informa o gabinete de comunicação da Disney: “Um champanhe e um Saint Emilion Cuvée.” Também se fica a saber que “o resort deu ao chef Rémy a sua própria horta, não muito longe da atracção”, e que “Louis Albert de Broglie, bem conhecido como jardineiro francês, providenciou o resort com cem das suas preciosas plantas de tomate.” Talvez por isso o ratatui fosse tão delicioso. A pequena Alice que o diga.
Mais informações: Ratatouille - Disneyland Paris
A Fugas viajou a convite da Disneyland Paris