Fugas - Viagens

  • Praia do Torel, 2014
    Praia do Torel, 2014 Miguel Manso
  • Praia do Torel, 2014
    Praia do Torel, 2014 Miguel Manso
  • Praia do Torel, 2014
    Praia do Torel, 2014 Miguel Manso
  • Praia do Torel, 2014
    Praia do Torel, 2014 Miguel Manso
  • Praia do Torel, 2014
    Praia do Torel, 2014 Miguel Manso
  • Praia do Torel, 2014
    Praia do Torel, 2014 Miguel Manso
  • Praia do Torel, 2014
    Praia do Torel, 2014 Rui Gaudêncio
  • Praia do Torel, 2014
    Praia do Torel, 2014 Rui Gaudêncio
  • Praia do Torel, 2014
    Praia do Torel, 2014 Rui Gaudêncio

A praia vai à cidade

Por Mara Gonçalves

Sejamos sinceros: a praia do Torel está longe de ser uma praia — é antes uma larga fonte rodeada de areia num jardim de Lisboa — mas isso pouco interessa. É fácil de lá chegar, gratuita, diferente e faz as delícias da criançada (e não só). É um sucesso, o que pode ser o seu principal problema...

“Está quieto! Não vês que estás a mandar areia às pessoas?”, ralha uma avó de mão estendida no ar, enquanto o neto escava um buraco como se a areia aqui acumulada tivesse mais de 20 centímetros de altura. Chegámos pouco depois da hora do almoço e o areal — mais pequeno que a fonte de pedra agora feita piscina — está completamente lotado. Há até quem partilhe o chapéu-de-sol com vizinhos alheios, outros refugiam-se no terraço lateral, apesar de o chão aí ser de tijolo. A maioria são pais e avós esquecidos à sombra, a água dominada por dezenas de frenéticas crianças e grupos de pré-adolescentes. O barulho é ensurdecedor.

Em menos de cinco dias, mais de 12 mil pessoas terão passado pela praia do Torel, estima Vasco Morgado, presidente da Junta de Freguesia de Santo António, em Lisboa, responsável pela iniciativa. O que é o mesmo que dizer que a praia urbana instalada durante Agosto naquele jardim lisboeta já é pequena de mais para tanta gente. No lago, por exemplo, há muito que a lotação máxima de 30 pessoas foi esquecida, assim como a proibição de saltos e mergulhos. A água, outrora transparente, está opaca e esbranquiçada, não se vislumbra o fundo logo ali a 80 centímetros de profundidade, nem mesmo o quadrado com 1,5m de altura que existe no centro, onde as fitas que o sinalizavam já saltaram. “Há miúdos que são pequeninos e não sabem nadar, chegam ali, de repente ficam sem pé e entram em pânico”, conta Gonçalo, o nadador-salvador de serviço durante as tardes. Numa praia onde não há ondas nem marés e a água nos dá pela cintura, este é o único tipo de “salvamentos” que tem feito, acrescenta.

Ainda assim, entrar no lago é entrar num campo de batalha. Quer se desça pela rampa colocada num dos lados ou directamente pela orla da fonte, o resultado é o mesmo: saímos completamente molhados, quer se queira quer não. “Há muita falta de civismo”, queixa-se Andreia Santos, de 33 anos, enquanto se vai tentando desviar e protegendo a filha, de seis anos, da água que voa em todas as direcções. “No outro dia estivemos cá de manhã e fiquei sempre na areia a vê-la dentro de água, mas hoje ela até queria ir buscar uma coisa e sozinha nem pensar”, confessa. Uma das sobrinhas com quem veio também “foi logo embora porque era muita confusão”.

Andreia vive na Zona J, em Chelas, e costumava levar a filha à piscina de Carnide. Este mês trocou-a pelo Torel porque a entrada é gratuita. No entanto, defende que “até deviam cobrar qualquer coisa, nem que fosse um valor irrisório de dois ou três euros”, para evitar tamanha confusão. Já para a filha Carolina, alheia ou até contagiada pelas brincadeiras dos mais velhos, a matemática é simples: esta é “mais gira” porque “é maior e tem areia”. Quer voltar. Assim como Luísa, de 10 anos, que veio com os avós e o irmão, que esperam por ela na esplanada. “Estou a gostar porque há sempre muita gente aqui e a piscina não é muito funda, podia ser só um bocadinho mais para dar saltos e cambalhotas”.

Praia num jardim miradouro

Até ao final do mês (a hipótese de alargar por Setembro ainda está a ser estudada, diz Vasco Morgado), aquele recanto do Jardim do Torel, localizado entre o Campo Mártires da Pátria e o Elevador do Lavra, está transformado numa praia urbana e nenhum pormenor foi esquecido. A fonte oval setecentista de Viana da Mota, onde se destaca a estátua de um tritão, faz as vezes de mar de água doce. Em frente, o terraço foi preenchido com areia fluvial vinda do Sado. Há nadador-salvador, bandeira verde hasteada, duche, chapéus-de-sol, espreguiçadeiras e até wi-fi e parque infantil. Nem faltam as bolas de Berlim: com creme, sem creme e agora também com chocolate, “porque os miúdos pediam sempre”. Têm vendido uma média de 200 por dia, conta Inês. Ao fim-de-semana, há ainda várias actividades: às 18h são as aulas de desporto no terraço contíguo (também decorrem durante a semana, conforme a disponibilidade dos monitores), às 19h começam as sunset parties e até às 20h há parede de escalada para os mais novos. Todos os sábados, às 21h30, a fonte anima-se para uma sessão de cinema (o filme de hoje é o Sahara).

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