Açores
O ano de 2015 anuncia-se grande para os Açores: acaba de ser declarado o destino turístico mais sustentável do mundo e no final de Março começam a receber voos de companhias low cost – a easyJet, primeiro, e logo em Abril a Ryanair, vão ligar o continente (a primeira desde Lisboa, a segunda também do Porto) a Ponta Delgada. Outras companhias dizem-se interessadas em entrar nessa rota e os Açores ficam mais perto do mundo — e, mais importante, dos portugueses, que nunca se conformaram com o custo dos voos de e para o arquipélago a meio caminho entre a Europa e os EUA. Se calhar, agora o grande desafio açoriano será preservar essa sustentabilidade que lhe mereceu a distinção, preservando o “verde” que o garantiu e que lhe vale o fascínio que exerce em quem vai ou apenas vê fotografias — o de um mundo perdido que, afinal, existe.
São Miguel continuará a ser a principal porta de entrada no arquipélago, onde cada ilha conjura a sua individualidade, nunca fugindo muito à matriz principal concedida pela natureza generosa, que a dotou de vegetação luxuriante ou vastos prados que a intervenção humana bordou de pedra, de lagos e lagoas verdes e azuis, quedas de água inesperadas. Cenários idílicos nutridos num coração vulcânico que nos dá geisers e crateras feitas espelhos de água e que sobe marcando as paisagens, bênção e maldição. E subir, subir, é mesmo o Pico, o ponto mais alto de Portugal, na ilha que Raúl Brandão considerou ser “a mais bela, a mais extraordinária” dos Açores. Mas, utilizando as suas palavras, cada uma das ilhas tem uma beleza que só a elas pertence — e são nove para descobrir, todas verdes, à sua maneira.
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São Tomé e Príncipe
É o país das mil frutas e sete variedades de banana, do cacau e das roças, da gente sorridente e das galinhas à solta diante do palácio presidencial. É um dos países mais pobres do mundo, mas sobra-lhe felicidade no leve-leve que é o seu ritmo oficial. São Tomé e Príncipe é um paraíso, diz quem lá vai — e quem lá vive, no fundo, não obstante todas as dificuldades, não foge muito dessa ideia.
O cenário é luxuriante: duas ilhas e alguns ilhéus que ancoraram na costa ocidental africana, sobre a linha do equador — tropical é a sua natureza, literal e metafórica. Não se esperem grandes cidades — nem a capital, São Tomé, chega perto — ou acessibilidades fáceis ou mesmo grandes resorts — o turismo ainda é incipiente e percebe-se alguma aposta no crescimento sustentável com projectos de vertente ecológica mais ou menos marcada.
Esperem-se, sim, florestas virgens e praias desertas com colares de palmeiras, vales escondidos e montanhas abruptas, rios e riachos à solta, avifauna única e flora endémica às centenas — tudo sobre um verde de mil matizes (e carros calejados para enfrentar os acidentes geográficos destas paragens ou pernas bem treinadas em caminhadas húmidas).
No ilhéu das Rolas pisa-se o equador, no Príncipe perdemo-nos em floresta virgem nesta reserva da biodiversidade mundial, em São Tomé descobrimos nas roças a herança lusa e, mais uma vez, somos brindados com a generosidade são-tomense. E já falamos da alegria? A natureza é pródiga em São Tomé e Príncipe mas as pessoas também - esbanjam alegria.
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Cuba
Não é novidade e já se sentia entre as gentes de Cuba — algo estava para mudar. Não se sabia quando, alguns temiam que estivesse longe, outros que estivesse perto. O restabelecimento das relações diplomáticas com os EUA, depois de mais de meio século de costas voltadas, num volte-face inesperado, pode ter sido o clique que faltava para essa mudança. É certo que o embargo económico que pesa sobre o país das Caraíbas (ainda) não foi levantado, mas se os ventos da mudança já se sentiam em Cuba, agora aguarda-se o furacão que lhe poderá alterar o rosto (e a alma).
Por isso, quem quer conhecer a Cuba velha senhora e herdeira revolucionária, poderá ter nestes próximos anos a última oportunidade de espreitar pelas suas janelas, antes que elas se escancarem estrepitosamente e deixem de guardar os antigos pergaminhos. Numa altura em que Cuba assumiu o turismo como motor de desenvolvimento (abrindo, inclusivamente, a porta a investimento estrangeiro, ainda que controlado) e lançou uma nova campanha de “turismo de circuitos” para ajudar os visitantes a deslocarem-se, este é o momento para descobrir a “Cuba mais autêntica”, o novo slogan turístico. A Cuba das cidades históricas — algumas comemoraram em 2014 cinco séculos vida, outras cumprirão em breve, o que significa a requalificação do património histórico (visível, por todo o lado, em Havana, que cumpre 500 anos em 2019) —, da natureza, do café e, claro, das praias. E, não sendo oficial, pelo menos por agora, a Cuba revolucionária.
Colômbia
É um país singular na América Latina, desde logo pela geografia — é o único com litoral no Atlântico e no Pacífico, guarda uma parte da floresta amazónica e é atravessado pelos Andes, que na Serra Nevada de Santa Marta se transforma na cadeia montanhosa costeira mais alta do mundo, o que permite esquiar e mergulhar no mar Caraíbas no mesmo dia. Tal compõe uma tapeçaria única de paisagens e experiências — que vão da adrenalina da “selvagem” costa do Pacífico e das alturas dos Andes à dolce vita das paradisíacas ilhas nas Caraíbas, da natureza em estado puro da selva à domesticada da zona cafeeira — que deram espaço ao desenvolvimento de uma miríade de culturas que hoje se reflectem nas gentes e na herança histórica visível em sítios arqueológicos milenares, memórias do que foi o El Dorado dos conquistadores espanhóis.
Este país singular, então, esteve escondido dos olhos dos viajantes por culpa da instabilidade interna que lhe mereceu a reputação de país perigoso, mas agora a situação parece estar a ser ultrapassada e a Colômbia desenvencilha-se dos seus fantasmas para começar a revelar os seus segredos — tanto que a TAP tem voos directos para Bogotá. E é precisamente na surpreendente e cosmopolita capital que começam a desvendar-se os segredos do país, que passam incontornavelmente pela inesperada Medellín, onde o “realismo perigoso” dos cartéis de droga deu lugar a uma cidade sofisticada, de arquitectura moderna, que se tornou na capital da moda sul-americana — sem esquecer Cartagena das Índias, que continua a ser a cidade de todos os realismos mágicos. E no mosaico colombiano, como não falar da vibração do povo, que sacode os problemas nas suas rumbas nocturnas, alimentadas por cumbias, vallenatos e a omnipresente salsa?
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Filipinas
Se há alguém que nunca tenha pensado nas Filipinas como destino de férias — na verdade, as notícias que vêm de lá são mais de catástrofes naturais do que propriamente loas à suas belezas naturais —, o governo do país asiático vai assegurar-se de que tal não se repetirá. 2015 é, oficialmente, o ano de visitar as Filipinas (“Visit the Philipines Year”, assim mesmo, em inglês); mas as Filipinas não precisam de decretos ministeriais para se revelarem como são — um paraíso de milhares de ilhas e cenários cinematográficos, povoados de gente acolhedora e que nunca diz que não a uma festa. E se 2015 vai estar cheio de festividades no calendário, entre as habituais, de cariz mais popular e bem enraizadas na cultura filipina, e as de ambição mais cosmopolita, eventos únicos para este ano (como a primeira edição do Madrid Fusión fora de Espanha), a verdade é que as Filipinas são uma festa tal como são.
E são um país de 7100 ilhas — logo, o litoral é (várias vezes) incontornável. As praias são de areia branca, abrigadas por palmeiras ou limitadas por penhascos desalinhados, alimentadas por um mar povoado de barreiras de coral e tubarões-baleia que se deixam “acompanhar” nas suas andanças — e, nada negligenciável, são pouco povoadas de resorts gigantes à laia de parque de diversões tudo incluído. Mesmo El Nido, o segredo mais mal guardado das Filipinas, na ilha de Palawan, que dizem ter inspirado o livro-feito-filme A Praia (filmado na Tailândia), continua a guardar a magia das águas cristalinas que beijam mais de 50 praias encaixadas no fundo de falésias quase verticais, das lagoas que são impossivelmente azuis. A natureza pródiga também se revela em formações geológicas caprichosas, como os “Montes de Chocolate”, na ilha de Bohol, 1200 pequenas montanhas como formigueiros gigantes feitos de coral, ou o rio subterrâneo de Puerto Princesa — parque nacional, Património da Humanidade e uma das Novas Maravilhas Naturais do Mundo —, que desemboca no mar; e em verdadeiros tratados do engenho humano, como os arrozais em degraus de Banaue. Mais do que nunca, em 2015 as Filipinas estão de braços abertos à espera de serem descobertas.
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Inglaterra
Poucos, se é que alguém, poderiam ter imaginado que a Magna Carta, que o rei inglês João (Sem Terra) foi forçado a assinar em 1215 para apaziguar uma nobreza terra-tenente descontente com o seu poder absoluto, haveria de ser a primeira pedra dos estados de direito tal como os conhecemos hoje — estados que prestam contas aos parlamentos e que têm na justiça um dos pilares do poder. Pelo seu papel precursor do estado moderno, a Magna Carta inglesa fez-se referência mundial e 2015 não vai deixar passar o seu oitavo centenário em branco.
As celebrações vão concentrar-se sobretudo em Inglaterra, onde a Magna Carta é o pretexto para percorrer parte do país onde alguns dos direitos e liberdades de que hoje usufruímos foram forjados. E leva-se de tal forma a sério este aniversário que, além dos eventos que vão acontecer entre Fevereiro e Novembro, foi criada uma rota turística — sete percursos, de dois a quatro dias — que visita cidades e aldeias, entra em castelos e catedrais, de alguma forma ligadas a este período da história inglesa.
De Londres, o centro da dissidência, a Worcester, onde está enterrado o rei João, passando por Windsor, o seu castelo preferido, York, Oxford, Canterbury, Saint Alban, Norwich e Oxford, por exemplo, serão muitas as iniciativas a recordar a Magna Carta e os tempos em que surgiu, desde festivais e música a conferências, de exposições de documentos medievos ao fabrico de cerveja à maneira medieval. Claro que as estrelas destas exposições são os exemplares da Magna Carta, entre eles os quatro únicos sobreviventes de 1215: dois destes estão em Londres, outro no castelo de Lincoln (também nos roteiros), mas o que se destaca, pelo seu estado de preservação, encontra-se na catedral de Salisbury, cidade medieval por excelência, a meio caminho de Stonehenge.
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Milão, Itália
O velho adágio diz que “em Roma sê romano” e Milão decidiu voltar aos tempos em que era Mediolanum e chegou a ser capital do Império Romano do Ocidente. Um piscar de olho ao passado enquanto propõe pistas para o futuro da comida, o tema central da Expo 2015 de que é anfitriã (pela segunda vez na história da exposição universal, depois da estreia em 1906). Esta feira mundial, que terá a participação de 144 países e vai decorrer durante meio ano a partir de Maio, vai apresentar-se na forma de uma cidade romana, com largas avenidas, um canal e até um lago artificial, com os pavilhões (entre estes, trabalhos de Norman Foster ou Daniel Libeskind) a alinharem-se e a comporem, por exemplo, um bairro de “comida do futuro”, com show cookings que pelas noites serão acompanhados por provas de vinho.
Paralelamente, reflectir-se-á sobre a agricultura sustentável e a nutrição global, quem sabe desvendando caminhos para acabar com a fome no mundo, numa cidade que é mais conhecida pela aura de riqueza que a enforma como um dos centros industriais e financeiros de Itália. E, claro, a capital da moda (passarela principal na Via della Spiga), que não passa indiferente à Expo 2015 — em Setembro, integrado na semana da moda, vai decorrer o evento “Milão, 100 anos de moda”, para o qual os mais consagrados estilistas milaneses vão criar colecções étnicas relacionadas com o tema da exposição universal.
Entre os mais de sete mil eventos previstos, destaque para os realizados em colaboração com a Trienal de Milão — entre estes a exposição Leonardo em Milão, que se debruçará sobre os 25 anos que Leonardo Da Vinci passou na cidade (onde a sua Última Ceia é um ponto de visita incontornável) e estará patente no castelo dos Sforza (Sforzesco), onde dividirá o espaço com a Pietà Rondanini de Miguel Ângelo; e a “reposição” da mostra, inaugurada em 2010, sobre Caravaggio. Nota ainda para o La Scala, que pela primeira vez na sua história não vai fechar no Verão, acompanhando a Expo 2015 com ópera, ballet e concertos (incluindo com o maestro Zubin Mehta) e para o novo centro de arte, desenhado por Rem Koolhaas, que será inaugurado com exposições de Anish Kapoor e Laurie Anderson.
Na cidade que tem na sua catedral, o duomo, a quinta maior do mundo, um dos seus símbolos máximos, sublinhe-se a reabertura do seu museu depois de oito anos de obras — acompanhada pelo jardim botânico que vai ser montado na sua praça, onde as Galerias Victor Emanuel, as mais antigas do mundo (1877), são outra atracção turística, em tributo ao tema da Expo 2015. E esta não é só Milão, é também a Lombardia, a região de que é capital e que tem nove locais que são património da humanidade, muita arte e cultura para oferecer a todos os que busquem o futuro sem esquecer o passado.
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Svalbard, Noruega
No ano que a ONU proclamou ser da luz, porque não buscar a mais incessante (e, quem sabe, brilhante)? O arquipélago norueguês Svalbard, a meio caminho entre a Noruega e o Círculo Polar Árctico, pode ser luz a seguir. Desde logo pelos quatro meses de dias inteiros-inteiros; quatro meses em que o sol nunca se põe no horizonte. Verdadeiras noites brancas que compensam os longos, escuros e frios invernos que, contudo, não deixam de ter o seu encanto — as auroras boreais chamam muitos “caçadores” de luzes bruxuleantes, que passam noites em branco na esperança de ver luzes multicoloridas a bailar nos céus. No próximo ano, o sol da meia-noite que rouba as trevas aos dias entre meados de Abril e meados de Agosto terá a sua Némesis a 20 de Março, com um eclipse solar total, para o qual as ilhas Svalbard são uma janela privilegiada.
E, então, quatro meses de dia para aproveitar a partir de Longyearbyen, a capital deste arquipélago polar acessível apenas por avião (de Oslo). Daqui, quando o oceano está transitável, saem cruzeiros “nocturnos” que permitem aproveitar até à saciedade a luz e vê-la reflectida na natureza agreste de planícies geladas (quem sabe patrulhadas por ursos polares) e fiordes majestosos e chegar até ao glaciar Bore — e, com sorte, ver colónias de focas sobre o gelo a apanhar banhos desse sol teimoso que se recusa a partir. Passeios de moto de neve nos glaciares e esquiar são também uma possibilidade no Verão destas paragens, onde as actividades ao ar livre incluem, por exemplo, passeios em trenós de rodas puxados por cães, de caiaque, a cavalo: para os mais aventureiros, podem ser expedições de vários dias, misturando diferentes experiências.
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Viena, Áustria
O ano de 2014 termina em grande para Viena, que conquistou o primeiro lugar no ranking de cidades com melhor qualidade de vida; e 2015 anuncia-se ainda maior para a capital austríaca, que celebra os 150 anos do seu Ringstrasse, o boulevard que abraça o seu centro histórico e permanece, até hoje, o caminho de todos os caminhos na cidade.
Mandado abrir pelo imperador Francisco José numa altura em que o império austro-húngaro parecia ser eterno, o Ringstrasse tornou-se no símbolo de uma cidade que se abria à modernidade, destruindo as suas fortalezas para se expandir no futuro. Hoje, continua a ser um eixo fundamental no trânsito citadino e é sobretudo uma passarela para uma sucessão de edifícios grandiosos e parques, numa glorificação, por um lado, do poder imperial, por outro do poder da democracia em torno do qual continua a desenvolver-se muita da vida social e cultural da cidade. O parlamento e a câmara municipal, os museus da história da arte e da história natural, a ópera, o teatro nacional, parte do palácio imperial são alguns dos edifícios que se alinham em torno dos mais de cinco quilómetros de comprimento do Ringstrasse, o anel com que o imperador selou o compromisso eterno com a sua capital, e que abrilhantou com jardins e parques como o Stadtpark, Volksgarten, Burggarten — o estado, o povo e o império.
Em 2015, o Ringstrasse vai emanar todo o brilho acumulado ao longo dos anos, conduzindo os visitantes por rotas menos óbvias — por exemplo, pelos seus telhados —, revelando os segredos arquitecturais que lhe deram origem em várias exposições, exibindo os trabalhos dos artistas que tornaram Viena na capital cultural da Europa no final do século XIX, berço do modernismo arquitectónico e artístico. Tudo isto a juntar-se ao conto de fadas que Viena sempre foi — não por acaso, a figura mais omnipresente na cidade é a imperatriz Isabel, Sissi, a mulher de Francisco José que, diz-se, a amava perdidamente; e à cidade de vanguardas que, por debaixo do manto de um certo provincianismo elegante, ainda consegue, a tempos, ser.
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Zermatt, Suíça
É a “montanha das montanhas”, forma de dente lascado, porte majestático, erguendo-se solitária no horizonte. Dizem que tem as proporções perfeitas; algo terá para ter feito, e continuar a fazer, parte do imaginário de gerações que tentaram conquistar os seus 4478 metros de altitude. Aconteceu, pela primeira vez, há 150 anos: um grupo liderado pelo inglês Edward Whymper (partiram sete, mas quatro encontraram a morte no abismo de 1200 metros da parede norte, já na descida) alcançou finalmente o topo do Matterhorn, a sombra que se projecta, hipnotizante, sobre a cidade suíça de Zermatt. Com as pistas mais altas da cordilheira, o teleférico mais alto da Europa (chega aos 3883 metros) e mais uma série de outros recordes de altitude, Zermatt, com os seus cenários intocados, tem a adrenalina a correr-lhe nas veias mas também a pura contemplação da natureza que se oferece em redor — 38 picos de montanha que ultrapassam os quatro mil metros de altitude, 14 glaciares…
Em 2015, Zermatt terá um pouco mais de Matterhorn — se isso é possível neste canto dos Alpes que é um íman para esquiadores, montanhistas e caminhantes. A subida histórica vai ser recriada durante o Verão, no teatro ao ar livre, numa peça musical, e o mítico Hörnlihütte, o primeiro albergue destas paragens (em 1880) construído na base do Matterhorn, a 3260 metros de altitude, vai reabrir depois de obras de renovação. Festivais de música e de folclore, eventos desportivos e cerimónias mais ou menos solenes acompanharão a comemoração dos 150 anos menos solitários do Matterhorn.
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Gallipoli, Turquia
Encruzilhada de povos, a Península de Gallipoli é chão de impérios e mitos que preenchem milénios. Aqui encontrava-se a lendária Tróia, a cidade que deu nome a uma guerra que terá começado por causa de uma mulher: não uma qualquer, Helena, a mais bela do mundo, que terá sido raptada por Páris, príncipe de Tróia. Homero contou as últimas semanas da guerra de dez anos na sua Ilíada e, verdade ou mito (a guerra), a verdade é que as ruínas de Tróia foram encontradas no século XIX pelo alemão Heinrich Schliemann e são um íman para todos os que se interessam por História.
Em 2015, o Parque Arqueológico de Tróia abrirá um novo museu, mas este não será o único apelo histórico deste território no noroeste da Turquia, no Estreito dos Dardanelos, que separa a Europa da Ásia e liga o mar Egeu ao mar de Mármara. O próximo ano marca o centenário da Campanha de Gallipoli (ou Dardanelos), o ataque desastroso dos Aliados (sobretudo, australianos e neo-zelandeses) durante a I Guerra Mundial, que ajudou a forjar a Turquia, depois da queda do Império Otomano: os aliados foram contrariados por um comandante turco, que desobedeceu às suas ordens — Mustafa Kemal, que viria a chamar-se Kemal Atatürk e foi o fundador do país moderno.
Por isso, este será o ano de muitas peregrinações — turcas, australianas, neo-zelandesas, britânicas — aos campos de batalha, cemitérios, memoriais, mas também será um bom pretexto para conhecer uma região turca menos habituada aos roteiros turísticos. A sua proximidade ao mar Egeu significa uma porta para uma miríade de ilhas — e para quem gosta de mergulho, um mar recheado de navios de guerra naufragados — e para a luminosidade mediterrânica.
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Mons, Bélgica
De capital cultural da Valónia, uma das três regiões federadas da Bélgica, a Capital Europeia da Cultura em 2015 (em conjunto com Plzen) — talvez não fosse de todo imprevisível este destino de Mons, a cidade belga que tem num macaco, uma estatueta de bronze que habita a fachada da câmara municipal, a sua mascote (diz a lenda que se a afagamos com a mão esquerda, teremos boa sorte). Mas agora a cidade da cultura pretende aproveitar 2015 para afirmar-se como “vale criativo”, num movimento de “metamorfose”, que parece ser a palavra de ordem da cidade para o próximo ano.
Não que a criatividade ande longe de Mons — na verdade, tem sido um porto de abrigo para artistas e criadores desde há anos, servidos por teatros, museus, salas de exposições; contudo, o slogan da capital europeia da cultura resume essa tal metamorfose: “Onde a tecnologia encontra a cultura”.
Assim, entre cinco novos museus, será inaugurado um novo centro de congressos com assinatura de Daniel Libeskind — a nova estação de comboios, de Santiago Calatrava, não será terminada a tempo de 2015 — que certamente competirá com o único campanário barroco da Europa (uma das três inscrições de Mons na lista de Património Mundial da UNESCP), que foi alvo de renovação e reabrirá no próximo ano. E os dois artistas “residentes” mais destacados de Mons serão alvo de duas das mais esperadas exposições da capital europeia da cultura: Van Gogh, que vivia numa aldeia de Mons quando decidiu abandonar a vida de missionário para assumir-se como artista, e Paul Verlaine, que esteve preso em Mons depois de se ter envolvido numa briga com Rimbaud. Com cultura, tecnologia e a participação activa dos cidadãos, Mons 2015 abre oficialmente a 24 de Janeiro.
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Plzen, República Checa
Se o destino de Mons podia ser previsível, o de Plzen seria mais enigmático — afinal, a cidade checa mais depressa se associaria à cerveja (Pilsen) a que empresta o nome do que propriamente à cultura. Mas em 2015 será esta quem mais ordena, quando Plzen assumir o título de Capital Europeia da Cultura — não estará a voltar as costas à sua herança industrial, estará sim a abrir mais uma porta no desenvolvimento da cidade, no qual, esperam os organizadores, a cultura tenha um papel central. Para tal, não se pouparam esforços nesta cidade de quatro rios, a meio caminho entre o leste e o oeste, antiga encruzilhada de mercadores, e até antigas fábricas e outros equipamentos industriais foram reconvertidos e colocados à disposição do futuro cultural da cidade — por exemplo, uma fábrica de papel é agora um centro cultural, dedicado sobretudo à música, teatro e artes plásticas, e o centro de transportes é o DEPO 2015, uma “zona criativa” que seguirá como incubadora de novos projectos artísticos.
Durante 2015 serão 600 os eventos que marcarão a capital europeia da cultura em Plzen. Destaque, por exemplo, para a exposição biográfica dedicada a Jirí Trnka, nativo da cidade e conhecido como “Walt Disney do Leste”, e cujo estúdio estará ainda representado por exposições do seu filho e neto, para a reabertura de obras emblemáticas do arquitecto checo Adolf Loos, um dos precursores da arquitectura europeia moderna, que terão os interiores renovados e para o “regresso” aos monumentos barrocos da região que serão animados por música da época, teatro e gastronomia. O Festival de Luz e Arte em Espaços Públicos será um dos pontos altos do ano, assim como a temporada de Novo Circo, que levará à cidade companhias nacionais e estrangeiras. Dança, design, teatro e música enformarão grande parte da programação que arranca a 17 de Janeiro.
Monte Saint-Michel, França
É conhecido como “a maravilha da Europa ocidental”, erguendo-se numa ilhota rochosa de uma baía que recebe as maiores (e mais velozes: como um cavalo a galope) marés do continente. Na Normandia já à vista da Bretanha, o Monte de Saint-Michel é um solene guardador dos séculos que se transformou na terceira atracção turística de França e em Património Mundial da UNESCO. Porém, o seu carácter insular foi-se perdendo à medida que o mar recuava e a terra avançava, muito por interferência humana (construção de ligação a terra, de barragem e até de um parque de estacionamento aos pés da muralha) — o Monte Saint-Michel passou a estar totalmente cercado por água somente durante as grandes marés equinociais, ou seja, umas horas em apenas 53 dias por ano. Contudo, em 2015, o Monte Saint-Michel vai ser devolvido integralmente ao oceano, como culminar de um processo de obras que durou dez anos e que pretende restaurar o espírito milenar do local místico que atraiu multidões ao longo dos séculos.
Novamente ilha será, então, este pedaço de terra, local de culto desde tempos pré-cristãos e que desde o século VIII alberga espaços de culto católicos, dedicados ao arcanjo São Miguel. A “maravilha” que hoje forma o topo da ilhota começou por ser igreja pré-românica, foi igreja abacial românica e terminou como abadia gótica, que a fez crescer em altura e esplendor. Por esta altura, já a ordem beneditina se tinha instalado e a povoação se tinha começado a desenvolver. Hoje, ainda protegida pelas muralhas, a vila, com os seus numerosos edifícios classificados, e o complexo religioso, pousados na baía, permanecem uma visão do passado, recheada de pequenos museus, pequeno comércio e restaurantes típicos, cenário de perfeita harmonia entre o natural e o construído.
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Birmânia
Uma planície polvilhada de milhares de templos, mosteiros e pagodes: stupas e torres douradas imiscuindo-se com o verde até onde a vista alcança em panorama quase technicolor. É assim Bagan, é assim o principal cartaz turístico da Birmânia, que começa, finalmente a abrir-se ao mundo (a libertação de Aung San Suu Kyi, após 15 anos de prisão e exílio, deu o mote da abertura do regime e, entretanto, já foram libertados centenas de presos políticos) — e o mundo responde, voltando-se para (re)descobrir o país que um regime ditatorial manteve fechado a olhares curiosos durante décadas.
Apesar de o número de turistas ter aumentado exponencialmente nos últimos anos e a Birmânia estar a avançar pelo século XXI adentro, continua ainda a ser um recanto onde o velho oriente subsiste e onde a religião budista continua a ditar um modo de vida. E esta autenticidade é, indubitavelmente, um dos grandes trunfos da Birmânia face aos seus vizinhos asiáticos. Tal, aliado a um povo amável e com sede de outros mundos, faz com que descobrir a Birmânia seja uma aventura, quase como quando Rudyard Kipling, prémio Nobel da Literatura e viajante incansável, aí esteve e escreveu que a Birmânia era como nenhum outro país que havia conhecido.
Da antiga capital Rangum — continua incontornável, sendo o principal centro comercial do país, que tem espelho na baixa da cidade, com o seu charme colonial, e o coração espiritual, em volta da explosão dourada que é o pagode de Shwedagon — ao rio Irrawaddy, onde os barcos levam dias a completar viagens; do lago Inle, onde os pescadores remam com as pernas, aos vales do norte e às suas aldeias de minorias étnicas; dos campos de arroz aos mosteiros em topos de montanhas; dos budas em cavernas às praias do Golfo de Bengala, a Birmânia deslumbra a cada descoberta.
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