Sara e Pedro
Uma longa lua-de-mel “de bina” pelas Américas
Sara e Pedro Marques de Sousa planeavam uma grande viagem de bicicleta, mas esta rapidamente se transformou numa aventura muito maior e especial: casamento e lua-de-mel, pedalada durante dois anos pelo continente americano. Trocaram alianças em Dezembro de 2012 e cinco meses depois trocavam tudo o resto, menos o amor um pelo outro: a casa, o carro e os empregos por uma tenda, duas bicicletas e o início de um casamento durante o qual já “viveram tanta coisa” que “não é fácil resumir”, confessam à Fugas, a partir do Brasil.
Depois de seis meses a pedalar os Estados Unidos, que elegem como o melhor país para viajar de bicicleta, viveram largas semanas no México, um dos preferidos até agora “pela alegria e amabilidade do povo, pela cultura, arte, arquitectura, história e fantástica comida”. De seguida, foram percorrendo os países da América Central até novo ponto alto da viagem: “a ligação de veleiro até à América do Sul”. “Passámos cinco dias no barco, três dos quais no arquipélago de San Blas [no Panamá], umas ilhas paradisíacas, de coqueiros, recifes e pouco mais”, contam. Depois de três meses na Colômbia, dos desafios de altitude no Equador e de uma breve passagem pelo Peru, Sara e Pedro pedalam agora pelo Brasil em direcção ao Uruguai e depois à Argentina, onde, no final de Fevereiro, terminará o romântico périplo.
De todo o percurso destacam sobretudo “o simples contacto com a população local”, que se torna mais “intenso e único” por viajarem de bicicleta, e “a amabilidade e hospitalidade da maioria das pessoas”. Agora, a um mês do voo que marcará, simultaneamente, um fim e um novo início a dois, reina “alguma ansiedade no regresso a casa”, misturada com o “receio do que será voltar às rotinas normais do dia-a-dia”, depois de uma “vida nómada e de muita liberdade”. Nos planos está procurar novos empregos, regressar à universidade e ter filhos. O que não desaparece é a vontade de novas aventuras, nem que seja “por períodos mais curtos”.
Rita e Leandro
No caminho pela sustentabilidade, um rebento muito especial
Quando partiram na Amarela, uma autocaravana que adaptaram para se mover a óleo de fritar usado (combustível mais ecológico), Rita Bragança e Leandro Fans planeavam correr 50 países dos cinco continentes durante um mínimo de dois anos. O prazo estabelecido passou sem que chegassem além da Turquia. É que a “estrada de tijolos verdes” — nome que a portuguesa e o uruguaio deram a este projecto itinerante e sustentável — revelou-se “muito mais longa” do que pensavam e “uma excelente descoberta” que se tornou, acima de tudo, um “estilo de vida”.
Depois de sete semanas em Salento, no Sul de Itália, atravessaram para a Grécia, rumo a uma quinta em Monte Pelion, passando por um ecocentro no Peloponeso. “Ao subir a montanha, eu colada ao vidro fascinada com as montanhas e o Leandro colado ao volante fascinado com as curvas e contracurvas da estrada, percebemos logo que aquele lugar era especial”, conta Rita. A visita de três dias passou a quatro meses, primeiro, e agora a um regresso que durará mais de um ano, depois de uma ida a Pelion e à Turquia.
É que, no Verão, um inesperado e especial rebento surgiu no caminho, levando a “nova alteração de planos”. Estavam no calor grego, a planear a ida à Ásia, quando começaram os enjoos, primeiro atribuídos a “qualquer coisa que a Rita tinha comido”. “Uns dias depois descobrimos que afinal era um miniviajante a dizer olá”, recordam, contando que, “para grande frustração das famílias e amigos”, querem que o sexo do bebé “seja surpresa”. Um luso-uruguaio que vai nascer na Grécia, portanto, entre o final de Fevereiro e o início de Março.
Viajar grávida, conta Rita, tem sido “bastante mais fácil do que a maior parte das pessoas pensa” e a única complicação é mesmo “subir com a barriga enorme para a cama da Amarela”. “Sempre quisemos ter filhos e estamos a viver experiências que queremos partilhar com eles”, afirma. “Há muito para aprender sobre viver de forma ecológica e imensas coisas a acontecer pelo mundo. Isso mantém-nos determinados a seguir por esta estrada fora, agora ainda mais com este miniviajante a caminho.”
greenbrickroadproject.wordpress.com
Natali e João
Volta ao mundo num veleiro para dois
João é português e sonhava desde pequeno com uma volta ao mundo em veleiro. Natali é brasileira e sempre quis viver a bordo de um barco. Os sonhos uniram-se na noite em que se conheceram, através de um amigo em comum, em Alfama. Nesse mesmo dia “surgiu a ideia desta viagem” e “a partir daí já não conseguimos fugir”, confessavam à Fugas há um ano, a partir de Cabo Verde.
Desde então já realizaram a primeira travessia oceânica até ao Brasil, fundearam na Guiana Francesa e no Suriname e em Trinidad e Tobago fizeram a primeira grande manutenção do Babilé, o veleiro de casco amarelo que lhes leva o amor pelo globo. Pelo caminho, nunca se cansam do “céu estrelado no meio do mar” nem das “pessoas que têm conhecido”, não só os muitos estrangeiros que, como eles, largaram o emprego para velejar o mundo, mas também as amizades que vão criando com locais.
Agora, contam, andam num périplo pela “água transparente dos ancoradouros” das ilhas nas Caraíbas. No Dia de São Valentim deverão estar em Martinica ou Dominica e, apesar de ainda não terem planos, vão “provavelmente passear por algum sítio bonito em terra, dar uns mergulhos e ter um jantar especial à noite”.
O percurso continuará mais tarde pela Jamaica e por Cuba. “De seguida vamos para a América Central em busca de refúgio durante a época dos furacões, depois passamos o Panamá, cruzamos o Pacífico, o Índico e retornamos a Portugal pelo Atlântico”, descrevem. Uma volta ao mundo a dois que vai navegando sem pressas, ao sabor de ventos e marés, com um final marcado “lá para 2017/18”.
Anabela e Alexandre
VagaMundos num caminho de amor
Foi uma paixão arrebatadora: conheceram-se em Novembro e em Agosto compravam uma casa juntos, um ano depois casavam. Desde então que andam “sempre colados”, confessam, e todas as decisões que tomam têm apenas esse objectivo: estarem “os dois juntos e o mais próximo possível”. Por isso, quando o blogue de viagens de Alexandre passou a ser escrito a quatro mãos, as Crónicas de “Um” VagaMundo ganharam apenas as aspas. “Porque somos dois mas é como se fossemos um só.”
No entanto, para isso Alexandre teve primeiro de contagiar Anabela com o bichinho das viagens. É que ela antes “tinha muito medo”, contam. “Para me começar a amaciar levou-me primeiro a Itália: Florença, Roma e Veneza.” Uma triologia “mais calminha e romântica, como convém”, riem-se. Depois, “a grande reviravolta” dá-se na lua-de-mel: um mês de backpacking pela América do Sul. “Foi a nossa primeira grande viagem a dois e fora da Europa e foi aí que ela ficou completamente rendida”, conta Alexandre. O objectivo era terminar na Patagónia, fascínio partilhado pelo casal, mas as datas coincidiam com o Inverno chileno e “já não se via nada”. “Falha” que esperam colmatar este ano, com o regresso à América Latina para celebrar dez anos de relacionamento. Uma segunda lua-de-mel, de seis meses, desde o México “até ao fim do mundo”, na tão esperada Patagónia.
Entretanto, somam no currículo dezenas de destinos pelo globo e um livro publicado: Caminho do Amor, lançado no final de 2014. Depois de percorrerem pela primeira vez um caminho até Santiago de Compostela, a partir de Valença do Minho, decidiram repetir a caminhada, numa empreitada de 800km desde Saint-Jean-Pied-de-Port, no Sul de França. “Foi uma viagem interior muito mais intensa que todas as outras” e “tocou-lhes” tanto que, que quando terminaram de a descrever no blogue, sentiram “que faltava ali qualquer coisa”. As pessoas, as reflexões, as lições e os sentimentos passaram então para livro, baptizado de Caminho do Amor por ali o terem encontrado “em todas suas manifestações”, por ali terem descoberto que o que os “motivava mais era o amor um pelo outro”. Da viagem saiu o mote para a vida: “Com amor e pequenos passos lado a lado conseguimos alcançar grandes objectivos”.
Sofia, Quentin, Gabriela e Tiago
Uma família sobre rodas
Estavam “um bocadinho cansados de viver em Inglaterra” e queriam mudar-se para outro país durante algum tempo. Porque não Portugal? A ideia não agradou no princípio a Quentin, mas acabou por ficar. A portuguesa Sofia queria mostrar ao marido francês e aos dois filhos nascidos em Inglaterra — Gabriela, de cinco anos, e Tiago, de dois —, o país onde tinha nascido e crescido. Juntou-se a cadela recentemente adoptada, Aloha, e a autocaravana, Maria do Mar, e assim nascia o projecto Pais com P Grande, que se fará às estradas lusas a 9 de Fevereiro para correr Portugal de ponta a ponta durante um mínimo de seis meses.
Um dos objectivos da viagem — que entretanto cresceu para livro e workshops solidários em parceria com a Casa do Gil — é desmistificar e incentivar o turismo em família, provando que é possível passear com crianças pequenas. “Para mim até é mais fácil quando estamos a viajar do que quando estamos em casa”, confessa Sofia. O que é preciso é “planear os dias de acordo com as rotinas deles” e ter alguma imaginação na hora de entretê-los, geralmente com canções, jogos e tardes passadas ao ar livre. “Sempre gostámos de viajar e nunca nos passou pela cabeça mudar o nosso estilo de vida por causa dos nossos filhos, antes pelo contrário”, conta. Tornam-se crianças “mais flexíveis”, “mais abertas a conhecer novos lugares” e “aprendem a valorizar outra coisas”, enumera.
“As melhores viagens foram, sem dúvida, as que fizemos todos juntos”, diz. E em todas elas, garante, “deu para namorar”. “Os miúdos vão para a cama muito cedo, então geralmente é à noite que temos tempo para nós, para podermos ver filmes, fazer um jantar especial ou abrir uma garrafa de vinho.” “Há sempre tempo para namorar em viagem, desde que se queira”, defende.
Agora, o amor pela família e pelas viagens faz-se sobre rodas pelo país, mas se tudo correr bem, Portugal passará a ser “apenas a base”. “O mundo está lá fora à nossa espera.”