Fugas - Viagens

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    Lisboa, Fronteira Daniel Rocha
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    Porto, Serralves Paulo Pimenta
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    Porto, Serralves Paulo Pimenta
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    Sintra, Regaleira Enric Vives-Rubio
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    Sintra, Regaleira Enric Vives-Rubio
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    Sintra, Montserrate Enric Vives-Rubio
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    Sintra, Montserrate Enric Vives-Rubio
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    Lisboa, Gulbenkian Daniel Rocha
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    Lisboa, Gulbenkian Daniel Rocha
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    São Miguel, Terra Nostra, jardim e piscina termal João Silva
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    São Miguel, Terra Nostra DR
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    Madeira, Jardins da Quinta do Palheiro DR
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    Mosteiro de Tibães Adriano Miranda
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    Quinta da Aveleda Nelson Garrido
  • Quinta da Aveleda
    Quinta da Aveleda Nelson Garrido
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    Parque das Pedras Salgadas DR
  • Parque das Pedras Salgadas
    Parque das Pedras Salgadas DR
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Jardins de Portugal, as mais belas paisagens verdes

Há um Portugal de jardins por descobrir. Fomos à procura de algumas das mais belas paisagens verdes do país.

Há um Portugal de jardins por descobrir: por portugueses, a quem falta a horticultura que impregna a maneira de ser dos anglo-saxónicos, por exemplo; mas mesmo por estes e outros turistas estrangeiros. Há já circuitos a fugir aos espaços urbanos da moda e a procurar essas ilhas, ora de inspiração mais formal, ora de traça mais romântica, mas quem vive e trabalha entre algumas das mais belas áreas verdes do nosso país percebe que este, o tal “jardim da Europa à beira-mar plantado”, é uma frase feita que chegou até nós de Tomás Ribeiro, no século XIX, mas ainda não entrou nos circuitos mundiais que arrastam milhares de pessoas por esse mundo fora. 

Há dois meses, a propósito da publicação, pela prestigiada Phaidon Press, de um imenso livro com quilos de paisagens de 250 jardins a não perder em todo o mundo, fixámo-nos um pouco nos cinco espaços que, em Portugal, tiveram direito a esse panteão de vida pujante, escolhido por gente tão importante como Madison Cox, norte-americano que tem assinado jardins para gente famosa. Em conversa com alguns paisagistas sobre este hall of fame dos jardins, o The Gardener’s Garden, percebemos como nesta aleatoriedade do gosto pessoal o roteiro da Phaidon acertara nas escolhas portuguesas — Serralves no Porto, Quinta da Regaleira, em Sintra, Palácio dos Marqueses de Fronteira, em Lisboa, Parque Terra Nostra, nas Furnas, e Quinta do Palheiro, no Funchal. Mas falhara também. Simplesmente porque cinco é pouco.

É pegar numa obra como Jardins de Portugal, de Cristina Castel Branco (edição CTT), e ver como o país está cheio de jardins de excelente desenho, impregnados de história, seja ela de séculos, como acontece no Mosteiro de Tibães, fundado nos idos da Reconquista, ou de poucas décadas, como é o caso dos magníficos, e classificados também, Jardins da Fundação Calouste Gulbenkian. E estes são apenas dois exemplos de cinco lugares que a Fugas decidiu (re)visitar — fomos ainda ao parque das termas de Pedras Salgadas, à Quinta da Aveleda e ao parque de Monserrate — para olhar para eles sob o prisma do seu património vegetal, acrescentando cinco escolhas nossas às escolhas da Phaidon.

São, obviamente, opções contestáveis. Porque um país que, só para lembrar outros cinco, tem jardins como os do Palácio da Brejoeira, em Monção, o do Solar de Mateus, em Vila Real, o do Paço Episcopal de Castelo Branco, a Quinta das Lágrimas, de Coimbra, ou o do Convento dos Capuchos — porventura um dos lugares menos conhecidos da exuberante paisagem cultural de Sintra, toda ela senhora para um circuito só — não pode satisfazer-se com tão pouco. Por aqui, continuando em múltiplos de cinco, há bem mais de uma centena de espaços a merecer uma visita demorada.

Um jardim é uma questão de persistência. Raramente os seus iniciadores vêem como ele ficará, na fase mais pujante da vida das suas plantas. É um trabalho de gerações, que se cruza com a história das pessoas que o moldam. E moldar a cultura de um povo, para o fazer apreciar este seu património verde, demora também. Em Ponte de Lima, há mais de uma década que, persistentemente, se organiza o Festival Internacional de Jardins, que este ano, ao abrir, no final de Maio, coincidirá com a realização, no concelho, do primeiro congresso da World Urban Parks e do 9.º Congresso Ibero-americano de Parques e Jardins Públicos. Será uma oportunidade para Portugal se mostrar a um mundo de especialistas nesta área e a partir daí, quem sabe, cair nas boas graças do comum apreciador de jardins. Que talvez não saiba o que anda a perder.

Serralves, uma ilha na cidade

Não estranhemos o facto de Serralves estar entre os 250 jardins que a Phaidon Press inclui numa das suas mais recentes, e enorme, publicação. O peso do autor do projecto paisagístico encomendado pelo segundo Conde de Vizela é enorme na história da arquitectura paisagística. Jacques Gréber, francês com trabalho conhecido no seu país em várias cidades da América do Norte desenhou, em 1932, os espaços verdes em volta da Casa de Serralves. Hoje integrada numa fundação e associada ao Museu de Arte Contemporânea, edifício com a assinatura de outro gigante mundial da arquitectura, Siza Vieira.

Se os nomes pesam, o seu legado não pesa menos, e olhando para o espaço, com a ajuda do director do parque, João Almeida, percebe-se o que nele atrai tantas dezenas de milhares de pessoas, anualmente. Desde logo, nesta quinta de 18 hectares em plena cidade do Porto há três áreas claramente definidas, a primeira mais próxima da casa, com a alameda de liquidâmbares, aqui colocados graças às suas rubras cores outonais, pela experiência americana de Gréber, concerteza, o parterre lateral de um lado, o jardim das tão portuenses japoneiras do outro, e o parterre frontal. Deste, vários patamares em saibro de cor salmão descem em direcção a duas tuias douradas que hoje, com as suas dimensões generosas, criam algum segredo sobre o que vem a seguir.

E a seguir é outro o ambiente em torno do lago, com um bosque denso e caminhos circulares, árvores imponentes, algumas delas assumidamente notáveis, como um pinheiro manso de um tamanho descomunal, claramente de quem quer, daqui, espreitar o mar, e que com outras faz parte de um roteiro próprio, para amantes de tão portentosos exemplares da flora mundial. Nesta área intermédia, há ainda algo de um ambiente romântico, embora pouco assumido, perceptível no empedrado ou num banco revestido a azulejos, à sombra de um ulmeiro. Espécie de arqueologia, exposta, do que Gréber ali encontrou quando chegou à então chamada Quinta do Lordelo.

É preciso descer ainda mais para, naquela que se chamou outrora a Quinta do Mata-Sete, descobrirmos já não um jardim, mas uma área agrícola, dominada pelo prado onde hoje, para educação das crianças, ainda temos animais vários a pastar, protegidas por um denso arvoredo que circunda toda a propriedade, e que naquela zona mais baixa deixa apenas ver, com destaque, uma torre com projecto de Souto de Moura na Avenida da Boavista, uma daquelas obras que, se fosse árvore, poderia bem ser considerada notável.

Com as suas mais de quatro mil árvores, de 200 espécies e variedades, o que tem Serralves de especial talvez seja precisamente essa capacidade de ser o que um jardim deve ser: ilha — de sossego, de beleza, de biodiversidade — num meio inóspito como é o urbano. Ainda que esta parte do Porto esteja pejada de casas com pequenos jardins, um parque com estas dimensões e estas características, a que se acrescentou entretanto o museu e um conjunto de esculturas contemporâneas, é um património que qualquer cidade decente invejaria, que o Porto soube preservar e que está, no caso, ao alcance de quem, simplesmente, tenha tempo para usufruir dele.
(Abel Coentrão)

Parque de Serralves. Rua D. João de Castro, 210. 4150-417 Porto. Tel.: 226 156 500
Horário: Segundas das 10h às 19h, entre Julho e Setembro; de terça a sexta, das 10h às 19 horas; sábados, domingos e feriados, das 10h às 20h. Encerra às segundas, entre Abril e Junho. 
www.serralves.pt.

Palácio dos Marqueses de Fronteira: Uma aula de História

Não importa que para lá dos muros esteja a selva de betão e que do lado de cá não fiquemos a salvo do barulho dos comboios que passam a escassas centenas de metros. Enquanto passeamos por entre arbustos, repuxos, estátuas de seres mitológicos e árvores centenárias deixamo-nos viajar no tempo. E aqui o tempo é longo.

O Jardim do Palácio dos Marqueses de Fronteira, situado numa encosta do Parque Florestal de Monsanto, na franja da urbe lisboeta, é uma autêntica aula de História ao ar livre. Juntamente com a casa, o espaço de 5,5 hectares — que não tem um mas sim dois jardins, uma mata e uma horta — reproduz a essência portuguesa dos séculos XVII e XVIII em elementos tão singulares como painéis de azulejos que retratam, por exemplo, as diferenças entre as classes sociais, as tarefas agrícolas para cada mês do ano ou o que então se sabia sobre os astros.

Mandada construir por volta de 1670 por Dom João de Mascarenhas, primeiro Marquês de Fronteira, a quinta começou por ser um refúgio de férias e um pavilhão de caça mas foi transformada em residência permanente para a família, depois de o terramoto de 1755 ter destruído a casa que tinham na Baixa. Desde então pouco mudou.

“Tentámos preservar a identidade do espaço e queremos que os visitantes recordem a experiência, mais do que a beleza dos jardins”, resume Filipe dos Santos, secretário-geral da Fundação das Casas de Fronteira e Alorna, criada em 1989 para gerir o palácio e o jardim, recentemente eleito um dos 250 mais belos do mundo pelos autores do The Gardener’s Garden.

“No dia a seguir à publicação da notícia, o telefone tocou mais”, admite Filipe dos Santos. A ideia, porém, não é ter multidões de turistas à porta — a localização afastada do centro ajuda.

Tanto a casa — parcialmente visitável e ainda habitada por Dom José Maria Mascarenhas (primo do marquês Fernando Mascarenhas, que morreu em Novembro) — como o jardim são “um hino” à Restauração da Independência de Portugal, pela qual o aristocrata lutou ao lado de D. Pedro II, conta o anfitrião. Isso explica a ausência dos três Filipes espanhóis na Galeria dos Reis, um corredor forrado a azulejos onde estão os bustos em mármore dos reis portugueses, até D. João VI.

A galeria, perpendicular ao palácio, possui dois grandes torreões em cada ponta acessíveis através de escadarias imponentes que desviam a atenção do Jardim Formal, ou Jardim Grande: um parterre de buxos de formas geométricas, arrumados em quadrados pontuados por roseiras. Parecem tapetes estendidos aos pés da fachada principal da casa. A guardá-los, 12 estátuas de chumbo erguem-se sobre pedestais de pedra.

Entre a galeria e o jardim existe um grande lago, onde se passeiam patos e carpas, limitado por uma parede azulejada — com imagens de 12 cavaleiros sobre os seus cavalos — e recortada por três pequenas grutas, onde um cisne solitário esconde as mágoas da viuvez recente.

No patamar superior, à esquerda do palácio, refrescamo-nos à sombra das frondosas magnólias, estrelícias, jacarandás e a enorme araucária do Jardim de Vénus. A estátua da deusa grega, acompanhada por um golfinho e tartarugas, simboliza o feminino, por oposição ao ambiente másculo do jardim de baixo.

Num dos cantos, ao fundo de um pequeno lago em forma de S, encontramos a jóia do jardim: a Casa de Fresco, uma gruta romântica revestida de um embrechado de conchas, búzios, pedras, cacos de vidros e de loiça — entre eles porcelana do serviço Ming. Reza a lenda que após a inauguração da casa, para a qual foi convidado o rei D. Pedro, se cumpriu o hábito de lançar a loiça à parede depois de a realeza a estrear.

Nesta quinta de recreio, classificada em 1982 como Monumento Nacional, os visitantes — sobretudo turistas, quase todos estrangeiros, e muitos estudantes — podem demorar-se a ler um livro, a conversar nos bancos de pedra ou até a dormitar ao sol e a ouvir os pássaros. Francisco dos Santos resume bem o espírito do jardim: “É um lugar de liberdade”.
(Marisa Soares)

Rua São Domingos de Benfica, 1, Lisboa. Tel.: 217782023 (ligar para visitas de grupo com mais de 10 pessoas). Visitas de segunda a sábado: 7 euros para o jardim e o palácio (com guia), 3 euros só o jardim. De Junho a Setembro: às 10h30; às 11h00; às 11h30 e às 12h00; Outubro a Maio: às 11h00 e às 12h00.

Como ir: O autocarro 770 da Carris pára à porta. A estação de metro mais próxima é a do Jardim Zoológico, que fica a um quilómetro, e é preciso atravessar a ponte pedonal sobre a linha ferroviária e a Radial de Benfica.

Quinta da Regaleira: Preparado para morrer e renascer?

Fetos arbóreos, carvalhos, castanheiros, camélias. Não faltam tons de verde ao cenário misterioso da Quinta da Regaleira, em Sintra. No entanto, mais do que a paisagem natural, o que prende o olhar dos visitantes são os vários recantos simbólicos, criados pelo arquitecto Luigi Manini a pedido de Carvalho Monteiro. É um jardim conceptual. O tema é a iniciação, explica o guia Rui Felizardo.

É uma obra “excêntrica” de Carvalho Monteiro, que comprou a quinta — hoje propriedade da Câmara Municipal de Sintra, gerida pela Fundação Cultursintra — em 1893 e a transformou. Apesar de ter como tema a iniciação, Felizardo garante que é redutora a ligação exclusiva que se faz sempre entre o espaço e a Maçonaria.

“Não tem que ver com nenhuma religião ou sociedade secreta em concreto, mas com todas. Há a tendência para se dizer que Regaleira é igual a Maçonaria, mas o baptismo também é um ritual iniciático. Claro que também terá uma interpretação maçónica. A maçonaria é um repositório de várias tradições ”, ressalva o guia, frisando que não se sabe ao certo se o proprietário foi ou não membro da organização. A orientação de vários locais emblemáticos da quinta será, aliás, segundo diz, um dos “poucos símbolos exclusivamente maçónicos” da Regaleira: “Vários sítios estão virados a Oriente.”

Mas tudo naquele espaço é “uma interpretação”, vai explicando Rui Felizardo: “Ninguém falou com o proprietário, o único documento que deixou foi a quinta.” Do que se sabe sobre Carvalho Monteiro, destaca-se não só a fortuna que tinha, como o facto de ter sido monárquico, conhecedor profundo d’ Os Lusíadas, obra que saberia de cor, para além de ter grandes colecções de livros, borboletas, conchas e relógios.

Começamos a visita no chamado “patamar dos deuses”, com nove figuras da mitologia grega e romana: “O nove simboliza o final de um ciclo e o início de outro. A iniciação é isso, implica sempre a morte e o renascimento”, diz Rui Felizardo, estabelecendo um paralelismo com os nove meses de gestação.

O jardim é uma viagem “interior”, de autoconhecimento, entre “a matéria e o divino” que nos leva de regresso “ao início, à origem”. O cenário, ilustra o guia, “tem drama, atmosfera, ilusão”. Há caminhos estreitos que nos convidam a andar e perdermo-nos sozinhos. Na Gruta do Labirinto, por exemplo, há um jogo entre sombras e luz, que nos desafia a “olharmos para dentro de nós”.

Em frente à Fonte da Regaleira, ou da Abundância, existe um banco em semicírculo com um trono no meio e uma mesa que parece um altar. O local sugere um tipo de reuniões que virá das ordens monásticas e um lugar de admissão de um novo candidato.

Deve visitar-se ainda o poço imperfeito, propositadamente inacabado. As escadas não vão dar a lado algum, o que sugere que, para chegar aos céus, o ser humano deve, em vez de subir, descer ao seu interior, explica Rui Felizardo. O coração da quinta — que teve no ano passado cerca de 400 mil visitantes — é, porém, o poço iniciático, para o qual se entra através de uma porta giratória de pedra. Tudo o que o guia foi descrevendo está ali simbolizado: “É descer ao interior da terra, de nós.” A saída do poço, que tem 139 degraus, é feita em direcção à luz e à água. Caminha-se sobre pedras, em cima da água: “É o renascer.”
(Maria João Lopes)

Quinta da Regaleira. 2710-567 Sintra. Tel.: 219 106 656; reservas: 219 106 650. www.regaleira.pt 
A Quinta da Regaleira tem várias modalidades de visita. A visita, sem guia e de mapa na mão, é gratuita apenas para crianças até aos oito anos. A partir daí, os preços oscilam entre os três e os 18 euros. Há ainda as visitas guiadas, que também têm diferentes modalidades — podem ser gerais, especializadas, temáticas, havendo ainda diferentes pacotes. Têm horários específicos, número mínimo e máximo de participantes e preços diferentes (podem ir de cinco euros até 100). A quinta tem uma programação cultural que inclui, por exemplo, espectáculos à noite. Se não quiser ir de carro, pode optar pelo comboio para chegar a Sintra. 

Parque Terra Nostra, um ex-líbris em São Miguel

Tem mais de 200 anos e é um dos ex-líbris de São Miguel, visita indispensável na maioria dos roteiros turísticos pela ilha açoriana. Foi criado por volta de 1775, quando Thomas Hickling, um abastado comerciante que tinha sido cônsul dos Estados Unidos naquela ilha, comprou uma pequena propriedade com pouco mais de dois hectares, onde construiu uma casa de madeira e, defronte, um tanque de água rodeado de árvores. Hoje, ainda é possível observar um carvalho inglês que terá sido plantado por Hickling e tomar banho no tanque com uma ilha no meio, entretanto transformado numa larga piscina de água férrea, quente e opaca.

O edifício, conhecido por Yankee Hall, foi substituído pela actual Casa do Parque em 1854, oito anos depois de ter sido comprado pelo Visconde da Praia, que aumentou os jardins com cursos de água, lagos, alamedas sombrias, tabuleiros de flores e espécies exóticas. Em 1935, o grupo Bensaude inaugurava o Hotel Terra Nostra e, pouco depois, adquiria o jardim adjacente, recuperando-o e expandindo-o para os actuais 12,5 hectares.

A entrada no jardim faz-se precisamente pelo hotel (restaurado há três anos). Ultrapassamos o lobby, cruzamos uma ponte de pedra (onde por baixo nascem vigorosos inhames) e, uns degraus depois, surge o tanque de água termal acastanhada, que pode jorrar a 40ºC, enquadrado pelo altaneiro edifício de fachada branca. É atrás da Casa do Parque que se estende depois o intrincado jardim, por entre caminhos serpenteantes, grutas e recantos escondidos. Há metrosideros e araucárias centenárias, compridos carvalhos, álamos, sequóias, ginkos, palmeiras, bambus e flores de mil cores, entre hortênsias, rododendros, azáleas, clívias e outras. Nos lagos, nadam patos serenos, no alto dos troncos há casas para morcegos e por todo o lado esvoaçam pássaros, borboletas e insectos.

Ao longo do parque, vão-se encontrando zonas temáticas, como o Jardim da Flora Endémica e Nativa dos Açores (onde estão reunidas várias espécies nativas de São Miguel) e colecções de plantas, entre as quais se destaca o vale das cycas (assemelham-se a pequenas palmeiras) — com 85 exemplares, algumas raras e consideradas fósseis vivos vegetais, protegidas por gaiolas de arame — e o Jardim das Camélias — com mais de 600 plantas de diferentes espécies e cultivares.
(Mara Gonçalves)

Rua Padre José Jacinto Botelho, 5, Furnas. São Miguel, Açores. Tel.: 296 549 090. www.parqueterranostra.com
O jardim está aberto todos os dias das 10h às 19h (exceptuando o período entre 1 de Fevereiro e 31 de Março, durante o qual encerra às 17h30). A entrada custa 5€ por adulto e 2,50€ por criança, sendo grátis para os hóspedes do adjacente Terra Nostra Garden Hotel ou com 20% de desconto para quem fizer uma refeiçãono restaurante da unidade hoteleira.  

Quinta do Palheiro Ferreiro, um cenário único sobre o Funchal

Uma jóia da Madeira e uma raridade da Europa. É assim que muitos classificam os jardins do Palheiro Ferreiro, já que à sua extraordinária beleza e encanto juntam a particularidade de reunir um leque muito diversificado de espécies botânicas oriundas dos quatro cantos do planeta e que ali florescem ao longo de todo o ano. As características de clima subtropical, com permanente calor e humidade, e a localização da ilha, no meio do Atlântico, em muito contribuíram para a consolidação deste paraíso florido com 13 hectares.

Inicialmente obra do primeiro Conde de Carvalhal (de seu nome João José Xavier de Carvalhal Esmeraldo de Vasconcelos de Atouguia Bettencourt Sá Machado), os jardins integram uma propriedade mais vasta, a Quinta do Palheiro Ferreiro, que passou depois para o domínio da família Blandy e na qual se mantém desde finais do século XIX. Inicialmente era uma estância de caça, que o conde concebeu há 200 anos com uma imponente entrada para carruagens ladeada por 200 plátanos e a plantação de árvores exóticas. Foi ele que deu origem à invulgar colecção de camélias, algumas das quais podem ainda hoje ser admiradas, mas foi graças ao carinho e dedicação de Milred Blandy e, actualmente, Christina Blandy, que os jardins acabaram por ganhar a grandiosidade e diversidade actuais.

Com a sua implantação a mais de 500 metros de altura, num planalto a meio caminho entre o aeroporto e a cidade e vistas soberbas sobre o mar e a baía do Funchal, os jardins desenvolvem-se actualmente em várias secções. Destaque para a colecção de camélias, Main Garden, Sunken Garden, Ribeiro do Inferno, Jardim da Senhora, a zona da Casa de Chá e o Roseiral, criado já em tempos recentes (2007) por Christina Blandy.

Plantas tão díspares como imponentes araucárias, entre as quais a angustifólia, a árvore dos candelabros do Brasil, enormes sequóias da Califórnia, o cedro-prateado-do-Atlas ou a volumosa a árvore de Natal da Nova Zelândia, que convivem com espécies locais como o loureiro, plátanos, azinheiras pinheiros ou acácias.

À profusão de cores, texturas e aromas juntam-se amplos relvados e até harmoniosos passeios em calhau rolado que dão corpo à típica e artística calçada madeirense. E se há zonas onde os geométricos canteiros floridos são delimitados por sebes de buxo criteriosamente aparada, já na zona do Ribeiro do Inferno domina uma lógica mais informal onde se destaca a variedade de fetos arbóreos e rododendros da região dos Himalaias.

Mais intimista e formal, o Jardim da Senhora tem uma estética dominada pelos lagos com nenúfares de formas irregulares e onde despertam particular atenção os canteiros de flores e os arbustos esculpidos com formas animalescas.

Um cenário único, cuja diversidade e beleza tiveram consagração em 2006 com a atribuição do prémio para o melhor jardim do mundo atribuído pela cadeia Relais & Châteaux, que reúne os mais distintos e requintados equipamentos em todo o planeta. Não é coisa pouca.
(José Augusto Moreira)

Palheiro Ferreiro. Caminho da Quinta do Palheiro, 32. São Gonçalo, Funchal. Tel.: 291 793 044
Os jardins são propriedade privada mas estão abertos a visitas todos os dias do ano, excepto 1 de Janeiro e 25 de Dezembro. Funciona das 9h às 17h30 com os seguintes preços. Adultos: 10,50€; crianças: grátis; jovens (15-17anos): 4€: Desconto de 10% para grupos (10 ou mais pessoas). Integram a Quinta do Palheiro Ferreiro, onde funciona o Hotel Casa Velha do Palheiro e um campo de golfe. 
A viagem desde o Funchal demora cerca de 15 minutos, havendo transportes públicos com duas a três partidas por hora, que saem do extremo leste da avenida marginal (Carreiras: 36, 36A, 37 e 47).

Venham mais cinco
Para quem tem tudo o que há em Sintra, e botânicos como os de Lisboa, de Coimbra ou do Porto, cenóbios como o Mosteiro de Tibães, em Braga, ou o convento da Arrábida, em Setúbal, santuários como os do Bom Jesus de Braga ou o de Nossa Senhora dos Remédios, parques urbanos como os do Porto, o do Mondego, parques termais reabilitados, palácios e solares de Norte a Sul do país, eleger cinco jardins portugueses é muito pouco. Fiquemos pelo menos com uma dezena de exemplos, acrescentando cinco casos notáveis aos notáveis cinco que mereceram tão importante e internacional atenção.  

Tibães: Um jardim beneditino

Não eram nada contidos, os monges que outrora habitaram Tibães. O mosteiro fundado ainda não havia Portugal, e que em 1080 tomou a regra beneditina, foi, é, um exemplo da importância desta Ordem Religiosa em Portugal, da qual o mosteiro de Braga chegou a ser, no século XVIII, casa-mãe. E essa pujança está longe de se ver apenas no revolteado barroco da sua igreja, na dimensão dos seus edifícios de apoio, para se notar na lonjura que, das suas janelas, a paisagem alcança.

São 40 hectares, de hortas, pomares, jardins, mata, recuperados, em mau estado, para o Estado, em 1986, e que desde então têm sido tratados — pedras e plantas — com um carinho tremendo por aqueles que ali vêm trabalhando e por outros que se envolveram na defesa deste património nacional. E o resultado está à vista, por muito que Maria João Costa, arquitecta paisagista que há 25 anos se envolveu no moroso trabalho de recuperação da cerca, se desculpe pelas imperfeições que vai detectando na visita guiada que nos fez.  

Tibães é fruto do que os monges planearam, metodica e engenhosamente, para este espaço. São deles a eira e o prado, os campos para o milho, os socalcos para os pomares e os caminhos entrecortando tudo isto, que bem podiam ser para se chegar ao trabalho, como poderiam também servir os propósitos espirituais da meditação. Para isso empenharam-se em semear fontes, concentrando, na beleza da pedra esculpida e no som da água caindo, uma espécie de agradecimento aos céus. E quando por Braga se  construía o jardim em escadório do Bom Jesus do Monte, eles também se atreveram a embelezar o seu caminho para o alto da cerca, onde pontuava, há muito, a capelinha de São Bento com magníficos azulejos nos contam episódios da vida do seu patrono.

O escadório dividido em sete patamares, cada um com uma fonte dedicada a uma das sete virtudes, guia-nos até esse ponto alto deixando ver as marcas do fim das ordens religiosas e da ocupação do mosteiro por privados, que durou século e meio. Faltam-lhe lages de granito, e os muros, outrora rebocados e pintados de branco, mostram a pedra nua, num ar romântico que até parece propositado. E lá em baixo, no primeiro patamar, uma enorme e florida azálea corta a simetria que os monges escolheram para este espaço. Mas cortá-la agora a ela seria esconder não apenas a sua beleza intrusiva, como apagar uma marca desses outros ocupantes que a plantaram, eles também senhores de uma parte da história deste lugar.

Ao subir até à capela, vemos que os socalcos desapareceram e dão hoje lugar a uma topografia estranha, montículo aqui, terra sobreelevada acolá. A densa mata, que serve de tampão, protegendo as vistas do crescimento urbano de Braga, disfarça, com o seu manto de vegetação morta e as plantas rasteiras, os escombros da exploração de volfrâmio durante a Segunda Guerra, da qual resta ainda a mina das Aveleiras, num dos troços mais frescos do caminho. A caça ao ouro negro mudou a paisagem de Tibães, mas não lhe roubou, felizmente, o lago, que alimenta na humidade circundante salgueiros e fetos reais e perto do qual o nosso pescoço se abre com dificuldade para atingir a copa de um pinheiro bravo imponente, senhor daquele lugar, memória viva do tempo dos monges e, por tudo isto, árvore classificada.

Cheio de sítios para parar, como se quer, ainda hoje, num bom jardim, Tibães é um lugar para se estar no mínimo um dia, dado que ninguém pode sair daqui sem uma visita à igreja, ao jardim da Fonte de São João e aos aposentos, também eles salvos da ruína nas últimas décadas. E a hospedaria que entretanto se construiu, numa ala que fora destruída por um incêndio, convida até que se prolongue a estadia e se explore, com uma calma de monge, este antigo cenóbio transformado em lugar de fruição.
(Abel Coentrão)

Mosteiro de São Martinho de Tibães. Braga, Mire de Tibães. Aberto de segunda-feira a domingo, das 9h30 às 18h. www.mosteirodetibaes.org
O mosteiro organiza e acolhe várias actividades ao longo do ano. É possível realizar uma visita sem acompanhamento (de forma livre, com áudio-guia ou através de QRcode) ou com o acompanhamento por um guia.

Quinta da Aveleda: Vénia à família Guedes

Esqueçam os vinhos e os queijos que lhes dão fama. A Quinta da Aveleda, nos arrabaldes de Penafiel, é tudo isso, mas se ali fomos desta vez foi para tentar deixar isso em segundo plano e apreciar um tesouro guardado pela família Guedes há várias gerações: um jardim romântico carregado de história, de árvores magníficas e plantas escolhidas a dedo pela beleza da sua floração.

O problema, percebemos em dois dedos de conversa, é que não podemos esquecer os vinhos. Na verdade, é graças a eles que tudo isto chegou até nós, como nos explica António Guedes, pai e tio dos actuais administradores e filho de um dos sete irmãos que, tendo decidido fundar uma sociedade agrícola, salvaram esta propriedade, e a empresa, de uma pulverização por herança que, muito provavelmente, nos roubaria a possibilidade de passearmos hoje pelo legado desta família.

A vénia aos Guedes começa por ser devida a Manuel Pedro Guedes, bisavô do nosso guia, que se esforçou, espírito do tempo, por dar um ar romântico aos jardins da quinta, recriando no interior dos seus muros ambientes que o século XIX nos legou por essa Europa fora. António Guedes, que aprendeu com a família e com quem o visita, lembra-se de um arquitecto paisagista lhe ter ter explicado que, num jardim, como na vida, é bom que a próxima curva do caminho nos mostre algo, um motivo de interesse, que nos dê forças, e curiosidade, para prosseguir. Parece um lema empresarial, mas é também uma forma interessante de se pensar um espaço verde com tanto caminho para percorrer.

Aqui não faltam, nas linhas de horizonte fechadas pela densa vegetação, surpresas. O ruído de uma fonte, um eucalipto que já era gigante quando o avô de António se deixou fotografar debaixo dele — e a imagem está ali, num placard, para que respeitemos ainda mais esta magnífica exótica —, a casa do porteiro, que parece saída de um conto dos irmãos Grimm, ou a casa de chá ao mesmo estilo, com telhado de colmo e pedra a imitar troncos retorcidos, construída sobre uma ilha artificial, num lado artificial onde foi plantada uma janela manuelina que já foi da Casa do Infante, no Porto, oferecida por Thomas Sandeman a Manuel Pedro.

Com amigos destes, e com o bom gosto que se nota ainda no que dele chegou até nós, Aveleda só podia ser o que é. Um jardim onde um cepo de uma árvore morta nos lembra que, há quinze anos, ela caiu com 167 anéis; onde duas sequóias prolongam nas suas alturas os nomes de Roberto e Fernando, pai e tio de António, denunciando assim, de outra forma, a passagem do tempo. Porque se é uma verdade que o jardim é o tempo no seu modo verde, em lugares como este se percebe que é preciso dar tempo ao verde.

Verde é também o vinho que aqui se faz, e uma das belezas da Aveleda é a forma como, descendo, o jardim se abre para a paisagem ordenada da quinta, onde a vinha deixou há muito de se estender em ramadas, modernização olige — mas nem por isso deixa de ser, também ela, regalo para os olhos. Tal como a planta Brunfelsia pauciflora, conhecida por “ontem, hoje e amanhã” pelas suas flores que começam por ser lilases e vão empalidecendo até se tornarem brancas, Aveleda conjuga esses três tempos. Que o amanhã estará garantido se a cuidarem como hoje o fazem. Para deleite de quem a visita. (Abel Coentrão)

Quinta da Aveleda. Rua da Aveleda, 2. 4560-570 Penafiel. Tel.: 255 718 200. Visitas por marcação. www.aveledaportugal.pt

Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian, a ordem no meio do caos

Alguns estão só de passagem, outros demoram-se a ler um livro à sombra das árvores ou deitados na relva ao sol. O traçado labiríntico das lajes que acompanham os declives do terreno, como se fossem passadeiras assentes sobre ele, tão depressa conduz a uma clareira cheia de luz como a um inesperado recanto escondido pela vegetação e ideal para namorar.

Um espaço de encontro e, ao mesmo tempo, de intimidade: é assim o Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian. Já não imaginamos Lisboa sem ele, qual oásis no meio de um deserto caótico de prédios, estradas, carros e aviões. Aurora Carapinha, arquitecta paisagista e autora de um livro sobre os jardins da capital, arrisca uma definição: “Este não é um jardim, é o jardim.”

O parque verde, que ocupa um espaço de 7,5 hectares no coração da capital, junto à Praça de Espanha, foi concebido em meados do século XX para envolver o edifício da fundação criada para gerir os bens do mecenas, Calouste Sarkis Gulbenkian.

O projecto do parque, dos jardins interiores e suspensos e dos terraços ajardinados foi entregue aos arquitectos paisagistas António Viana Barreto e Gonçalo Ribeiro Telles. Este último, considerado o “pai” da ecologia em Portugal, foi distinguido há dois anos com o Nobel da Arquitectura Paisagista, o Prémio Sir Geoffrey Jellicoe. O Jardim da Gulbenkian foi uma das suas obras-primas.

Os arquitectos conceberam “um projecto moderno mas ao mesmo tempo muito português”, observa Aurora Carapinha, que nos acompanha numa visita. O jardim foi pensado ao pormenor para se integrar perfeitamente na paisagem urbana e para “casar” três elementos fundamentais: os edifícios (sede e museu, aos quais se juntou entretanto o centro de arte moderna e o centro interpretativo), a biodiversidade típica da paisagem mediterrânica e o homem. Um casamento abençoado em 2010 com a classificação do jardim como monumento nacional.

A linha que separa o jardim do espaço urbano não se deve aos muros nem aos portões. “A orla foi definida logo de início, não para isolar mas para traçar bem a fronteira entre os dois mundos”, explica Aurora Carapinha, referindo-se aos arbustos que rodeiam o parque.

Os autores utilizaram três elementos fundamentais da paisagem portuguesa — orla, mata e clareira — para criar “salas de ar livre”, brincando com jogos de luz e sombra numa mistura de espécies autóctones (como eucaliptos, choupos, carvalhos e lódãos) e exóticas (como o bambu). “É um espelho da cultura portuguesa, também ela feita de universalismos”, comenta a arquitecta paisagista.

A água, proveniente de nascentes que existem na zona, é tão importante no jardim como a vegetação. O lago central (de onde sai a água para a rega), o sistema contínuo de pequenos lagos e o riacho que corre no meio do canavial de bambu dão abrigo a patos — que correm livremente pela relva a fugir das crianças mais afoitas —, tartarugas e peixes, e servem de bebedouro às aves, algumas exóticas.

Tudo nos convida a sentar e a parar o relógio. Desde os bancos de betão aos degraus do enorme anfiteatro exterior, passando pelas “dunas” improvisadas na relva e pelas esplanadas das cafetarias.

Só no ano passado, segundo as estimativas da fundação, passaram pelo jardim perto de 714 mil pessoas, 60 mil por mês. Abril, Maio, Junho e Julho são os meses mais cheios — aos fins-de-semana o jardim chega a receber 4000 visitantes por dia. Aurora Carapinha reconhece: “É um jardim com uma carga muito grande. Só uma instituição com grandes recursos seria capaz de o manter.” (Marisa Soares)

Avenida de Berna, 45 A, Lisboa. Tel.: 217823000. www.descobrir.gulbenkian.pt
O jardim tem entrada livre e está aberto todos os dias, encerrando à noite. A estação de metro de São Sebastião (linhas azul e vermelha) fica a 100 metros da entrada junto ao Centro de Arte Moderna e há vários autocarros da Carris (716, 718, 726, 742, 746 e 756) que param perto. A Fundação organiza diversas actividades ao ar livre, sobretudo nos meses de Verão. Na próxima quarta-feira há uma visita guiada para desvendar os segredos do jardim (custa cinco euros por pessoa e dura 90 minutos, mínimo de oito pessoas, máximo de 25). No próximo sábado, 23, estão previstas várias actividades (oficinas, observação de aves, teatro) para celebrar o Dia da Biodiversidade.  

Parque das Pedras Salgadas: O parque que nasceu da água

Na estrada entre Vila Pouca de Aguiar e Chaves, apesar da intensa mancha florestal que cobre as encostas por onde ela corre, é fácil perceber onde se encontra o parque de Pedras Salgadas. Para lá do casario, vemos um conjunto arbóreo característico nas formas e nas cores que o compõem e que lhe dão uma unidade distinta do que a rodeia. Não sabemos que árvores são aquelas, mas percebemos imediatamente que foi mão humana que as plantou.

Maria José David, manager do Pedras Salgadas Spa & Nature Park há-de confirmar: “Isto eram campos”. Até que se “descobriram” oficialmente as propriedades medicinais da água que brotava da nascente do Penedo. Foi em 1871: de fonte a balneário termal foi um salto, acompanhado pela plantação de um parque que já passou o centenário e, sabemos, com a idade só ficará mais encantado(r). A sequóia-gigante, aqui conhecida como “árvore da borracha” por ser tão macia (demasiado para seu bem: está bem descascada na parte inferior), vai crescer ainda mais, assim como os liquidambares, os plátanos, as nogueiras-pretas, os salgueiros, as tílias, os teixos, o sândalo branco, o lariço europeu, a tulipeira da Virgínia, as magnólias, os negrilhos, os vidoeiros, as sorveiras-bravas, os pinheiros, abetos, cedros, castanheiros, choupos, faias, freixos vários, que são alguns dos exemplares que compõem esta sinfonia verde exótica. Alguns estão assinalados, outros não, mas nada se perde neste conjunto monumental de copas frondosas.

É iniludível que nos encontramos numa estância termal: os edifícios de rigor austro-húngaro, que ladeiam a alameda principal, integralmente restaurados, transportam-nos para estes ambientes idiossincráticos de um certo tempo e sociedade e também as Pedras Salgadas viram a sua dose de alta sociedade — e de realeza. D. Fernando, D. Maria Pia e D. Luís foram presenças reais quando as Pedras Salgadas davam os primeiros passos e os dois primeiros deram até nome a duas nascentes das cinco fontes do parque — a de D. Maria Pia a mais original, uma pequena gruta bem ao estilo romântico encerrada por portão de ferro em forma de troncos de madeira que se entrelaçam; as outras em estilo neo-clássico.

É para além da alameda, uma espécie de passeio público dos tempos áureos do termalismo, que o parque se desenvolve quase como se fosse natural. Com excepções para os jardins desenhados, como o roseiral e os que rodeiam o antigo casino (nunca chegou a ter concessão de jogo, apesar do nome), pintado de cor de ferrugem, e para o lago, artificial. Este recuperou a sua forma original pelas mãos de Siza Vieira, depois de décadas “partido” para integrar as piscinas da estância — aqui vivem carpas koi mas devido ao mau tempo recente a camada de folhas não nos permite vislumbrá-las; ao contrário, um dos patos que aí também habitam e que gostam de passear pela alameda, sendo especialmente assíduos na esplanada da casa-de-chá, surge lançando-se na água como que reclamando o seu espaço.

Há muretes à laia de ameias cobertos de hera e até uma torre se ergue ao lado de uma larga escadaria, mas para mergulhar no parque temos de afastar-nos destes espaços mais delineados e caminhar entre árvores, onde as eco e tree houses do Spa & Nature Park se dissimulam. Os espaços parecem selvagens mas a vegetação guarda gilbardeiras, madressilvas, pilriteiros, verónicas menor dos prados, spireias do Japão, cardos das vinhas e até bambus dourados. Se aparecer um esquilo ou outro é normal e o pica-pau-malhado-grande, a cegonha-branca e a garça real são comuns por aqui — mais circunspecta, a garça-branca-pequena também pode aparecer. O entorno é propício: podia ser a “floresta encantada” de Sophia de Mello Breyner Andresen, com anões a viver nos troncos e tudo. Andreia Marques Pereira

Parque Pedras Salgadas. 5450-140 Bornes de Aguiar. Tel.: 259 437 140. www.pedrassalgadaspark.com/pt
O parque tem entrada livre, está aberto todos os dias e encerra à noite ao público em geral. Fica a pouco mais de uma hora do Porto seguindo pela A3, logo pela A7, a A24 e finalmente pela EN206. 

Parque de Monserrate: Pelos caminhos “sinuosos” de uma “floresta encantada”

Quando passamos o Arco de Vathek, no Parque de Monserrate, em Sintra, a guia, Joana Macedo, faz questão de fazer uma pausa: “Parece que estamos a entrar num mundo à parte, imaginário, numa floresta encantada”. Mandado construir pelo escritor William Beckford, o arco de pedra tem, ao lado, dois pinheiros. Passar pelo arco simboliza a “entrada dos homens” naquela floresta, passar pelos pinheiros simboliza a “entrada na natureza”.

É, continua a guia, um jardim “onde existe exaltação dos sentidos”: o som da água, as cores, os cheiros das flores, as texturas dos troncos das árvores — o toque da cortiça é mais suave do que o do castanheiro ou do carvalho, por exemplo.

As dedaleiras venenosas, as camélias, flores emblemáticas de Sintra que vieram do Japão, os sobreiros virgens aos quais nunca foi retirada cortiça. Os lagos cobertos de sagitárias e nenúfares. Os caminhos perfumados por glicínias e jasmim. Os fetos rastejantes e arbóreos, os plátanos. Uma araucária com cerca de 56 metros. Outra que dá pinhas de 10 quilos e que, em certas alturas, obriga à criação de um perímetro de segurança no jardim. Medronheiros de tronco retorcido. Azevinho e rododendros.

O Parque de Monserrate tem espécies de todos os continentes que sobrevivem graças ao microclima húmido de Sintra. “Este é um jardim romântico ou à inglesa, plantado para parecer uma floresta. Os românticos gostavam de ruínas e de se perderem em caminhos sinuosos”, vai dizendo Joana Macedo sobre aqueles cerca de 35 hectares que passaram por diferentes mãos.

No século XVI chegou a ser habitado por frades — o nome vem precisamente de uma peregrinação que um deles fez a Monserrate. Passou, depois, para as mãos da família Mello e Castro, seguindo-se o comerciante inglês, Gerard de Visme e, mais tarde, o escritor William Beckford. Até finalmente chegar, no século XIX, ao milionário inglês Francis Cook — a quinta esteve nesta família quatro gerações. Ainda chegou a ser adquirida por um português, Saúl Saragga, mas, vai contando a guia, em 1949 passa a ser, como é ainda hoje, propriedade do Estado. A administração pertence à Parques de Sintra-Monte da Lua, S.A..

O público é muito variado: recebem várias excursões, marcações de escolas, turistas. Fazem actividades para miúdos, como caças ao tesouro. É preciso estar em boa forma para conhecer todos aqueles hectares (embora também seja possível fazê-lo num carro). Não deixe de passar, no vale mais a sul, pelo Jardim do México, um sítio de “sol escancarado”, ilustra Joana Macedo, onde também há espécies oriundas de Cabo Verde e da Madeira. Ou de ver o roseiral, com 200 variedades de roseiras. Num dia de sol, depois do passeio, pode sempre descansar à sombra da gigante araucária e aproveitar o imenso relvado.

Merece ainda visita a capela, uma falsa ruína criada por Francis Cook a partir daquela que tinha sido antes edificada por Gerard de Visme. E, claro, visitar o Palácio de Monserrate. Construído em 1856 para residência de Verão da família Cook e com projecto do arquitecto inglês James T. Knowles, teve por base as ruínas da mansão neogótica mandada fazer por Gerad de Visme no século XVIII. Maria João Lopes

Parque de Monserrate, 2710-405 Sintra. Tel.: 21 923 73 00. www.parquesdesintra.pt
Neste momento, se quiser conhecer o parque, o horário disponível no site inclui visitas entre as 9h30 e as 20h (os bilhetes devem ser adquiridos até ás 19h). Já o palácio pode ser visitado entre as 9h30 e as 19h (último bilhete às 18h15). Quanto aos preços, variam entre os oito euros (bilhete adulto, dos 18 aos 64 anos); e os 6,5 (dos seis aos 17 e para maiores de 65). Aos domingos, até às 13h os munícipes de Sintra estão isentos de pagamento nos parques e monumentos da Parques de Sintra, mediante documento que comprove a residência. Para chegar ao parque, pode optar pelo comboio ou de carro. 

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