Há um Portugal de jardins por descobrir: por portugueses, a quem falta a horticultura que impregna a maneira de ser dos anglo-saxónicos, por exemplo; mas mesmo por estes e outros turistas estrangeiros. Há já circuitos a fugir aos espaços urbanos da moda e a procurar essas ilhas, ora de inspiração mais formal, ora de traça mais romântica, mas quem vive e trabalha entre algumas das mais belas áreas verdes do nosso país percebe que este, o tal “jardim da Europa à beira-mar plantado”, é uma frase feita que chegou até nós de Tomás Ribeiro, no século XIX, mas ainda não entrou nos circuitos mundiais que arrastam milhares de pessoas por esse mundo fora.
Há dois meses, a propósito da publicação, pela prestigiada Phaidon Press, de um imenso livro com quilos de paisagens de 250 jardins a não perder em todo o mundo, fixámo-nos um pouco nos cinco espaços que, em Portugal, tiveram direito a esse panteão de vida pujante, escolhido por gente tão importante como Madison Cox, norte-americano que tem assinado jardins para gente famosa. Em conversa com alguns paisagistas sobre este hall of fame dos jardins, o The Gardener’s Garden, percebemos como nesta aleatoriedade do gosto pessoal o roteiro da Phaidon acertara nas escolhas portuguesas — Serralves no Porto, Quinta da Regaleira, em Sintra, Palácio dos Marqueses de Fronteira, em Lisboa, Parque Terra Nostra, nas Furnas, e Quinta do Palheiro, no Funchal. Mas falhara também. Simplesmente porque cinco é pouco.
É pegar numa obra como Jardins de Portugal, de Cristina Castel Branco (edição CTT), e ver como o país está cheio de jardins de excelente desenho, impregnados de história, seja ela de séculos, como acontece no Mosteiro de Tibães, fundado nos idos da Reconquista, ou de poucas décadas, como é o caso dos magníficos, e classificados também, Jardins da Fundação Calouste Gulbenkian. E estes são apenas dois exemplos de cinco lugares que a Fugas decidiu (re)visitar — fomos ainda ao parque das termas de Pedras Salgadas, à Quinta da Aveleda e ao parque de Monserrate — para olhar para eles sob o prisma do seu património vegetal, acrescentando cinco escolhas nossas às escolhas da Phaidon.
São, obviamente, opções contestáveis. Porque um país que, só para lembrar outros cinco, tem jardins como os do Palácio da Brejoeira, em Monção, o do Solar de Mateus, em Vila Real, o do Paço Episcopal de Castelo Branco, a Quinta das Lágrimas, de Coimbra, ou o do Convento dos Capuchos — porventura um dos lugares menos conhecidos da exuberante paisagem cultural de Sintra, toda ela senhora para um circuito só — não pode satisfazer-se com tão pouco. Por aqui, continuando em múltiplos de cinco, há bem mais de uma centena de espaços a merecer uma visita demorada.
Um jardim é uma questão de persistência. Raramente os seus iniciadores vêem como ele ficará, na fase mais pujante da vida das suas plantas. É um trabalho de gerações, que se cruza com a história das pessoas que o moldam. E moldar a cultura de um povo, para o fazer apreciar este seu património verde, demora também. Em Ponte de Lima, há mais de uma década que, persistentemente, se organiza o Festival Internacional de Jardins, que este ano, ao abrir, no final de Maio, coincidirá com a realização, no concelho, do primeiro congresso da World Urban Parks e do 9.º Congresso Ibero-americano de Parques e Jardins Públicos. Será uma oportunidade para Portugal se mostrar a um mundo de especialistas nesta área e a partir daí, quem sabe, cair nas boas graças do comum apreciador de jardins. Que talvez não saiba o que anda a perder.