Perante a diversão das miúdas, as adolescentes lá acabam por entrar na água e não tarda até ao primeiro mergulho. Chegam depois dois casais de cabelos brancos, eles de barriga proeminente, elas de passo lento, uma delas escondendo os cabelos sobre uma touca protectora. Vão para a parte mais próxima da parede de rochas, que separa a piscina do mar, e começam a nadar, até ao lado mais fundo, onde não há quase ninguém.
O nevoeiro não desapareceu durante toda a manhã, mas a maior parte dos que escolheram o dia para um mergulho na Piscina das Marés tentam não lhe dar grande importância. Os que circulam com uma pulseira negra, indicando que compraram o bilhete de apenas meio-dia, sabem que é agora ou nunca. Só ficam por ali até às 14h, por isso o melhor mesmo é aproveitar. Os de pulseira azul-clara, que podem ficar o dia todo, até às 19h, estão na expectativa da tarde. De preferência com sol e sem vento, mas não é por isso que vão deixar passar a manhã em claro.
Afinal, não é todos os dias que se mergulha numa piscina de água salgada, desenhada por um Pritzker e que é, desde 2011, Monumento Nacional. Inaugurada em 1966, depois de a construção ter sido iniciada em 1960, a piscina aninha-se entre as rochas naturais da costa, oferecendo tudo o que a praia tem de apelativo (a água salgada, o areal, o ruído do mar) sem os inconvenientes (para alguns) do mar nortenho (gelado e com forte ondulação). Tudo isto contribuiu para que Rosalina Sousa, 49 anos, e Sandra Sousa, 35 anos, pegassem nas crianças e as levassem até ali.
Chegaram de Gondomar e não há quem as arraste para fora de água. “É a primeira vez que cá estou, porque das outras vezes que tentei estava sempre com lotação esgotada”, diz Rosalina. Assim que os miúdos da escola saíram da água, o grupo dirigiu-se para a piscina. Rita, de oito anos, à cautela, até perceber como era a profundidade e até onde podia ir sem perder o pé. Mas, alguns minutos depois, já corria, satisfeita por todo o lado, e incitava Rosalina a outras aventuras: “Ó Lina, Lina, salta! Medricas”, brincava, enquanto a mulher entrava lentamente na água. “A piscina é boa, a água é salgada. Além disso é fixe, porque tem mais espaço que as outras”, sentenciava quando, ao final da manhã, se deixou guiar, finalmente, por alguns minutos até à toalha. Tem pulseira azul, vai ficar o dia todo, pode esperar pelo sol.
No grande tanque de água clara, continua o corrupio do entra-e-sai. Entra mais um casal de namorados, abeira-se um miúdo louro que fala castelhano, mas está com pouca vontade de se deixar molhar, meio encolhido com a falta de sol. Vem mais uma mãe de roupa enfiada, a acompanhar uma menina de biquíni, que salta entusiasmada para a água. E surgem mais três mulheres, a acompanhar um menino muito pequeno, apetrechado com braçadeiras azuis, unidas no peito por uma espécie de almofada, onde está desenhada uma tartaruga sorridente. Ele saltita e ri-se, em antecipação. Está quase a entrar na água e o rosto está pintado de felicidade.
Uma das mulheres (a mãe?), num biquíni cor-de-rosa, entra na água fazendo caretas à temperatura e estende-lhe os braços. Ele acede, mas cola-se a ela como uma lapa. Nada de ficar sozinho. Regressa à beira da piscina e, pouco depois, nova tentativa de o enfiar na água, novo rosto sorridente e expectante, novo agarrar apertado ao pescoço de quem o segura. À hora do almoço, ainda tentavam convencê-lo a saltar para a água, mas ele não estava pelos ajustes. Mas havia tempo. O grupo tinha pulseira azul e talvez o sol da tarde o animasse a deixar-se ir.