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C.MAX/LAC ANNECY TOURISM

Annecy, a princesa do lago azul

Por Paula Oliveira Silva

Lago com águas azuis turquesa, montanhas com picos cobertos de neve. O charme de Annecy, em França, com um centro histórico desenhado à volta de canais.

À beira do segundo maior lago de França, com um comprimento que pode chegar aos 14,6 km e uma largura máxima de 3,1 km, nasceu uma cidade digna de postal ilustrado. Os seus 52 mil habitantes sabem o tesouro que têm em mãos – o lago mais puro da Europa – e fruem da sua companhia como nós portugueses usufruímos do oceano. 

De Verão tomam banho nestas águas translúcidas que chegam a atingir os 23°C, fazem mergulho à procura de vestígios arqueológicos, aproveitam as correntes de ar da montanha para praticar desportos à vela e passeiam de barco. Isto para não falar da pesca, actividade muito apreciada. A estrela da companhia, que até tem honras de aparecer no brasão da cidade, é um peixe. Pensa-se que seja uma féra (Coregonus lavaretus), mas há quem jure que é uma truta salmonada. Seja como for, poderá provar ambas as especialidades à mesa dos restaurantes locais.

O lago serve ainda de cenário ao maior espectáculo de pirotecnia do Velho Continente, no primeiro sábado do mês de Agosto. Uma audiência de cerca de 200 mil espectadores reúne-se nas suas margens para assistir a mais de uma hora de fogo-de-artifício acompanhado por luzes, música e efeitos especiais. 

Os parques verdes à beira da água – Pâquier, Champ de Mars e Les Jardins de l´Europe – são a sala de visitas da cidade e nem os residentes nem os turistas os vêem apenas como paisagem. As crianças brincam, jovens e adultos descansam na relva ou percorrem a ciclovia, num trajecto de mais de 40 quilómetros. Um percurso que até já foi contra-relógio do Tour de França. 

Deixar este cenário, só mesmo pelo que vai ver: o centro histórico. Atravesse a fotogénica Ponte dos Amores e siga parte do canal do Vassé, onde as pequenas embarcações bailam na água com os plátanos a fazer uma vénia. 

No abraço dos canais

Annecy tem apenas dois canais mas isso não chega a ser impedimento ao epíteto “Veneza dos Alpes”. A cidade dispensa semelhante comparação até porque, para além de ser bastante mais limpa, tem argumentos que valem por si só. 

O Thiou, saída natural do lago até ao rio Fier, foi o motor de progresso de Annecy. É ele o melhor guia para levar o visitante, a pé, a conhecer o centro da cidade. Não deixará de reparar como ela é florida. Os franceses conseguem tornar o que já é bonito ainda melhor, ao decorar as margens do Thiou com abundantes e coloridos canteiros de amores-perfeitos, lírios, narcisos, tulipas e muitas outras variedades de flores.

Um dos primeiros encontros é com o Palais de l’Isle, uma construção em forma de galera assente num rochedo natural no leito do Thiou. As partes mais antigas datam do século XII e na sua longa história já foi prisão, tribunal, asilo e casa da moeda dos condes de Genebra que, em tempos recuados, foram senhores destas terras. No século XIX, por sorte, escapou a um projecto de demolição. Hoje, mais virado para a cultura, é possível visitar o seu interior, que acolhe o Centro de Interpretação da Arquitectura e do Património de Annecy. Mas para isso terá de pagar 3,80€. 

Ouvem-se os sinos da igreja a chamar os fiéis. Logo ali nas imediações existem várias: a catedral de São Pedro, a Igreja de Nossa Senhora de Liesse e a Igreja de São Maurício, o mais antigo templo católico de Annecy (1422). Mas a que está mesmo ao pé é a igreja dos italianos, como é chamada pela população, ou de São Francisco de Sales. Noutros tempos abrigou os restos mortais do seu fundador (1567-1622) e da baronesa Jeanne de Chantal (1572-1641) que, juntos, fundaram a ordem religiosa da Visitação. Os túmulos foram repetidamente deslocados até terem encontrado, ao que parece, o seu destino: a basílica da Visitação (1930), situada num ponto alto desta cidade alpina. 

Por ter sido baluarte do catolicismo em Quinhentos e Seiscentos, numa altura em que se expandia a reforma protestante pelo centro da Europa, outra das alcunhas de Annecy é “Roma da Sabóia” ou “Roma dos Alpes”. 

Altos e baixos

Não tem que se desviar muito para chegar ao castelo, erguido numa colina a 477 metros de altitude. Uma subida ligeiramente íngreme e, voilà!, já está na antiga residência dos condes de Genebra e, posteriormente, quartel militar até 1948. Hoje o forte está transformado em museu com exposições temporárias de diferentes temáticas. Se visitar o interior, tome atenção às grandes chaminés da cozinha, ao mobiliário funcional que facilitava as deslocações da corte itinerante e às latrinas, tão raras neste período. Mas o melhor é mesmo a vista para o lago e para o casario. Contudo, nem que seja só pela panorâmica, terá de desembolsar 5,20€ pela entrada. 

De regresso à parte baixa da cidade, aproveite para deambular pelas ruas estreitas e pedonais, transpor as pontes que lhe surgirem no caminho e descobrir as lojas de comércio tradicional que vendem de tudo um pouco: gelados, bolos, decoração, artesanato, sabão, produtos regionais… Enfim, um mundo de guloseimas e de souvenirs para quem tem espaço no estômago e na bagagem. 

Se é fã do cinema de animação, saiba que Annecy organiza anualmente, em Junho, um festival que é já uma referência a nível europeu. No entanto, se não quiser esperar pelo próximo ano passe pelo museu de animação situado no Conservatório de Arte e História (18, Avenue du Trésum). A entrada é grátis. 

Nas imediações de Annecy poderá visitar La Tounette, a 2357 metros de altitude, um cume de montanha que é um autêntico ninho de águia com vistas fantásticas sobre o lago. E assim terminamos como começámos, pelo lago, o mesmo que inspirou o impressionista Paul Cézanne a pintar Le Lac Bleu em 1896. Só que as imagens com que fica quem visita Annecy nada têm a ver com os tons escuros e sombrios de Cézanne. Interpretações de artista.

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