Fugas - Viagens

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Uma praia no coração do Alto Minho e um mergulho para corajosos

Por Cláudia Lima Carvalho

Um manto verde reflectido na água cristalina. Uma praia que é muito mais do que um palco do festival Paredes de Coura. Eis o Taboão.

Se acha que a água das praias da Costa de Caparica é fria e que a água das praias do Norte como Caminha ou Vila Praia de Âncora é gelada é porque, muito provavelmente, nunca mergulhou no rio Coura. Diz-nos a experiência que não deve haver água mais fria do que esta. É que até estalam os ossos. Mas também nos diz a experiência que não há coisa mais refrescante e relaxante do que esta. A sério. Afinal, onde é que hoje em dia podemos estender a toalha à sombra de um carvalho numa imensidão de verde a ouvir a água a correr e os pássaros a cantar, sem termos de partilhar os metros imediatamente à nossa volta com outras pessoas? São cada vez mais raros lugares assim. Felizmente, a Praia Fluvial do Taboão, em Paredes de Coura, é um desses lugares. A multidão que a procura nos dias do festival de música que ali se realiza em Agosto é o contraste absoluto de um dia normal por aqui. 

Antes de continuar a escrever este prazer de Verão, uma declaração de interesses: cresci nestas margens e perdi a conta aos mergulhos. Chegava o calor e com isso começavam as fugidas para o Taboão. Os anos passaram e tudo se mantém igual. Um melhoramento aqui e ali, como a construção de balneários, mas a essência da praia fluvial mantém-se: água cristalina, árvores por todo o lado e uma infinidade de relva. Numa altura em que todos os segredos do nosso país se começam a revelar para os muitos turistas, nacionais e estrangeiros, aqui há mais espaço do que gente. E isso é bom. 

Não há trânsito nem parques de estacionamento lotados. Não se ouvem gritarias nem é preciso perder muito tempo à procura de um lugar para se estender a toalha, é decidir se é ao sol ou à sombra e já está. O rio está sempre à vista, a brilhar e a reflectir na água um vasto manto verde. À volta, muito poucas casas e alguns campos agrícolas — não se espante até se ao longe vir umas vacas a pastar.

“Isto é um sossego”, começa por dizer à Fugas Vítor Paulo Pereira, presidente da Câmara Municipal de Paredes de Coura desde 2013. “Sempre foi um lugar mágico, quando era miúdo era um espaço impenetrável, tinha muitos arbustos e matos muito densos e para chegarmos ao rio tínhamos de fazer covas e buracos por baixo da vegetação, era uma aventura”, conta, lembrando que só percebeu realmente a dimensão do espaço quando este foi tornado praia fluvial há mais de 20 anos. “De um momento para o outro um espaço mágico deu origem a um espaço maravilhoso”, continua. 

Foi a partir daí, conta, que nasceu a ideia de fazer qualquer coisa ali. E assim, de forma muito resumida, nasceu aquele que é hoje um dos festivais mais importantes no panorama da música e que este Verão acontece de 19 a 22 de Agosto com nomes como Tame Impala, TV On The Radio ou The War On Drugs.

“Eu sei que é um exagero mas muitas pessoas dizem que o sucesso do festival se deve muito ao espaço”, diz Vítor Paulo Pereira, um dos fundadores do festival Paredes de Coura. “Eu nem sei explicar mas a verdade é que aqui o ambiente é diferente e até os artistas sentem isso.” Lembramo-nos, por exemplo, de Erlend Øye, o músico dos Kings Of Convenience, que em 2011 não resistiu à paisagem e assim que chegou à praia fluvial pediu à organização uns calções de banho para que pudesse passar o dia no rio. Já no ano passado, o veterano do rock Seasick Steve decidiu passar o dia junto às margens com os milhares de festivaleiros, horas antes de subir ao palco principal. “Todos sentem a tentação de sair dos camarins para irem para o rio”, diz o autarca de 45 anos. 

Para Vítor Paulo Pereira este é um espaço onde se respira também nostalgia. “É uma magia tão grande que muitas das pessoas que vêm ao festival acabam por voltar depois para ver como é que isto é sem o festival. Cria-se nostalgia a uma certa saudade de dias felizes que aqui se viveram.”

Sem o festival, Vítor Paulo Pereira descreve a Praia Fluvial do Taboão como um lugar “quieto, calmo e muito bonito”. É para miúdos e graúdos. “Há espaço para se jogar à bola, fazer piqueniques, ler um livro à sombra, ir para água, é tão bom que dá para tudo”, diz, concordando com a nossa descrição da temperatura da água: “Nós por cá já estamos habituados mas quem vem de fora tem dificuldades acrescidas para entrar.”

Sim, um mergulho no rio Coura pode ser de facto um acto corajoso ao nível do desporto mais radical mas como qualquer descarga de energia vai valer a pena. Deixamos-lhe uma dica: há que mergulhar sem pensar, nada de molhar agora os pés, e depois mais um bocadinho do corpo e mais um bocadinho. A água é gelada mas vai saber bem, principalmente naqueles dias em que o calor aperta.

De qualquer das formas, se não é daqueles que gosta de mergulhar, no Taboão são várias as opções. Além de poder entrar ao longo da margem, através das várias escadas que o ajudam a chegar à água, há ainda mais dois lugares onde se pode refrescar, como se a mãe natureza tivesse pensado em tudo. Passando o rio para o lado de lá, por cima de um muro que forma uma pequena cascata, há aquela que ficou baptizada pelos courenses como a “praia”. Como o nome indica, é uma área de areia, não muito grande, à beira-rio — ideal para crianças. E há ainda outra zona, onde água lhe ficará apenas pelos pés mas onde se poderá deitar nas pedras onde corre o rio e imaginar que está numa espécie dejacuzzi. E depois há o espaço para os mais radicais, que até das árvores se aventuram a mergulhar. Há, no fundo, rio para todos os gostos. Lembre-se apenas que a praia não é vigiada. 

Se depois se quiser deixar ficar por aqui, tem o restaurante Abrigo do Taboão, onde poderá brindar ao dia bem passado. Este espaço, remodelado há pouco tempo, está dividido em dois, tem o bar/cafetaria que serve de apoio à praia e depois o restaurante que apresenta uma ementa moderna. “Pode comer tanto uma sandes como um prato mais gourmet numa esplanada a contemplar a natureza”, diz Vítor Paulo Pereira.

“Ainda há muito a fazer e estamos a pensar nisso mas já existem uma série de percursos pedestres que passam pelas margens, há um grupo de orientação aqui em Coura [Ori-Coura] que tem caminhadas a passar por aqui, por exemplo”, refere o presidente da câmara, contando que também há muitas escolas e clubes que têm vindo para o Taboão “fazer alguns desportos como escalada ou canoagem”. 

“Eu não quero dizer que é um espaço sagrado mas que é maravilhoso, isso é; e que tem um pulsar diferente, isso tem”, resume Vítor Paulo Pereira.

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