Fugas - Viagens

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Pão português, amor marroquino, figo-da-índia. Vamos a Mértola

Mas, “por muito interessantes que sejam estes projectos, as pessoas precisam de um centro de saúde [o único centro activo funciona de segunda à sexta-feira, das nove às 16 horas. A opção mais comum no restante horário é o hospital de Beja], de escolas [segundo os locais, tem sido uma luta para que a escola secundária se mantenha aberta] ou mesmo de rede de banda larga para se fixarem cá”, desce com os pés à terra dura o presidente da ADPM. 

A “marroquina”
É hora de respirar os ares fora das muralhas. Cláudia Melo espera-nos na sua casa de turismo rural à qual chamou Ecoland. De Mértola até Corte do Gafo de Cima (povo que fica a meio caminho do Pulo do Lobo – a escultura natural feita em lascas de pedra que torna este o ponto mais estreito do rio Guadiana) são uns quantos sobreiros e oliveiras. Ninguém imaginaria que depois daquela estrada chegaríamos às cores do Norte de África. É pelo menos essa a vontade de Cláudia, que decidiu aqui montar, há sete anos, “uma porção de Marrocos no cantinho da natureza”, mas que, apesar da opção pelo céu estrelado alentejano, para onde veio morar, se queixa da falta de tinteiros na vila e de um lugar para encadernar folhas soltas.

Criou a Ecoland, uma casa de quatro quartos com as cores de cidades marroquinas – o azul para Chefchaouen, o rosa-vermelho para Marraquexe, o verde de Fez e o amarelo de Tânger. É uma casa com um pequeno quintal, por isso, o espaço não espelha a amplitude das planícies alentejanas. A aposta está antes no passar do tempo em jeito personalizado, desde as refeições (a Fugas provou o tagine de cuscuz, vitela e ameixas) até aos passeios pelo rio (de canoa), em bicicleta ou a pé. Existem dez trilhos homologados no Parque Natural do Guadiana. Um dos mais interessantes vai desde a Mina de São Domingos, passa pelo antigo caminho-de-ferro e segue até à aldeia ribeirinha do Pomarão, pendurada às portas de Espanha. 

Não se pode ir a Mértola sem pisar a Mina de São Domingos e a sua praia fluvial, da Tapada Grande. É um daqueles lugares que nasceu da exploração mineral (particularmente de cobre e pirite) e que se monta num bairro operário branco. O grande fluxo de exploração na mina deu-se durante a industrialização, a partir de 1858. Até 1966, houve trabalho para todos. Foi mesmo esta a primeira aldeia do país a ter luz eléctrica, segundo a Wikipedia. Nesse ano, a mina esgotou. E o que se pode ver hoje é uma espécie de caldeira profunda escavada na pirite (a lavra fez-se até aos 120 metros de profundidade e existiam poços e galerias que iam até aos 400 metros), acompanhada do complexo mineiro, do Centro de Documentação da Fundação Serrão Martins e da Casa do Mineiro.

Na caminhada ao longo de passadiços de madeira, o silêncio bate como uma rocha inteira, mas, a poucos metros, a praia fluvial reequilibra a balança sonora. Há caravanistas, fogareiros em cantos atrapalhados, famílias à sombra de eucaliptos e em corridas a nado velozes a ver quem chega primeiro à ilha. Fala-se mais espanhol do que português, não fosse a fronteira a menos de 20 km. “Eh, niños! Quieren la pierna o la pechuga? [Eh, crianças! Querem a perna ou o peito [do frango]?”

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